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quarta-feira, 11 de maio de 2011

PARA CATROGA A FUNÇÃO PÚBLICA TEM DE TER MOBILIDADE TOTAL


E isto sai da boca de um homem de cabelos brancos. O tempo que leva de vida parece que nada lhe ensinou. Os seus olhos não conseguem ver que é a estrutura social que tem de ser reorganizada de alto a baixo em defesa do Homem e dos seus direitos, direitos esses, amplificados, apenas, quando dá jeito. Pelo contrário, parece que a sua experiência de vida conduziu-o a um pensamento totalitarista, em que uns poucos deliberam sobre a vida dos demais. Parafraseando, e família, pá?


Há dias escrevi sob o título "Cat(d)roga de ex-ministro". E hoje volto a referir-me a esta figura a propósito de uma sua entrevista ao Jornal de Negócios. A páginas tantas ele defende a mobilidade total dos trabalhadores da função pública. E deu um exemplo: um professor de Setúbal pode ser convidado a trabalhar nas Finanças no Porto. Nem mais. Se dúvidas tivesse sobre o posicionamento deste PSD de Passos Coelho, ultraliberal, sem uma noção que esta lógica organizacional da(s) sociedade(s) tem uma raiz perversa e, portanto, condenada a prazo, por revolta das próprias pessoas, com esta entrevista as eventuais dúvidas dissiparam-se.
Já dou de barato essa "fúria privatizadora" que o Dr. Jacinto Serrão ontem falava, e bem, a propósito da Caixa Geral de Depósitos. Coisa que, estou certo, nunca acontecerá, apesar dos avassaladores apetites, todos sabemos porquê. Mas já não dou de barato o desprezo que o Dr. Eduardo Catroga, mentor do Dr. Passos Coelho, evidencia pela função pública. No fundo, a leviandade com que fala, como se as pessoas fossem objectos ou, simplesmente, números. A leviandade, como se as pessoas não tivessem direito à estabilidade, à proximidade da família e até, ao seu círculo de amigos. Ora, este que está em Setúbal, oferecemos-lhe um lugar no Porto (senão vai à vida), ou, então, aquele que está em Bragança, por uma questão de mobilidade (total) e de rendibilidade, vai para Faro. Dir-se-á que, para o Dr. Catroga e, logo, para Passos Coelho, neste princípio orientador, a família não conta, a mulher ou o marido não contam, muito menos, os filhos contam. Tudo sacrificado em nome da mobilidade. Hoje, com os funcionários públicos, amanhã, com todo o sector empresarial privado.
E isto sai da boca de um homem de cabelos brancos. O tempo que leva de vida parece que nada lhe ensinou. Os seus olhos não conseguem ver que é a estrutura social que tem de ser reorganizada de alto a baixo em defesa do Homem e dos seus direitos, direitos esses amplificados, apenas, quando dá jeito. Pelo contrário, parece que a sua experiência de vida conduziu-o a um pensamento totalitarista, em que uns poucos deliberam, de forma cega, sobre a vida dos demais. Parafraseando, e família, pá?
O meu posicionamento não é estático, obviamente, mas sei também que tudo tem um limite. A direita ultraliberal sacrifica tudo em função do deus mercado. Resolve o problema dos que muito têm, mas não resolve o problema dos que, em cada mês, falta mais mês. Os mandatários desta direita ultraliberal têm o seu problema de família, por exemplo, resolvido, à custa do dinheiro que dispõem e do bas-fond político e social onde se movimentam. Já os outros, a esmagadora maioria, com posicionamentos como os do Dr. Catroga, cada vez mais são empurrados para a desregulação no trabalho, para os horários intermináveis, o não pagamento de horas extraordinárias e para o trabalho, em casa, depois do trabalho. Os filhos, esses, são metidos no armazém escola, isto é, nessa paradoxal "escola a tempo inteiro", onde lá ficam todo o santo dia, enquanto a sociedade estimula "pais a meio tempo". Repito o que há dias escrevi: "Cat(d)roga de ex-ministro!"
Ilustração: Google Imagens.

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