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sexta-feira, 27 de maio de 2011

SE ELE É ASSIM NA MONTRA, O QUE NÃO ESCONDE NO ARMAZÉM DAS CONVICÇÕES POLÍTICAS


Privatizações, cuidado com elas, pois se uma determinada área de intervenção é boa para o privado que razões justificam não ser boa para o sector público? Há actividades que tem uma natureza abosultamente pública e outras que pertencem à esfera do privado. Não contem comigo para desarmar o Estado das responsabilidades que lhe compete, pois isso significa desarmar o próprio povo que deve servir.


Será necessária uma bússola?

Um candidato que escancara as portas ao ensino privado é óbvio que nutre desconfiança pela Escola Pública, direito de todos. Nutre desconfiança porque o privado já existe, enquanto opção complementar ao sector público, de livre escolha das famílias. Quando se reforça a tecla do privado é porque o seu interesse político move-se nesse sentido. Interessa pois saber que razões sustentam essa preocupação. Quando um candidato escancara a porta ao sistema de saúde privado, significa que nutre desconfiança pelo sistema público. Ora, também aqui o privado já existe, mas complementar do sector público. Uma vez mais quando se coloca no centro do debate o sector privado é porque as suas opções vão nesse sentido, isto é, no desmantelamento do sector público. Parece-me óbvio. Quando um candidato defende o contrato de trabalho verbal, obviamente que está a defender, concomitantemente, a desregulação e a instabilidade laboral. Quando um candidato aborda a Segurança Social como foi o caso, parece-me óbvio que, por detrás dessa abordagem, estão os interesses bancários e das seguradoras. Quando um candidato aborda a privatização da Caixa Geral de Depósitos, isto significa, parece-me óbvio, que a sua opção vai no sentido, entre outros aspectos, o da especulação. Tudo isto e muito mais foi dito e defendido pelo candidado do PSD. É claro que, depois, apareceu sempre um qualquer porta-voz a dizer que não é bem assim, o que o candidato quis dizer foi isto e não aquilo, enfim, treta!
Eu sou pelos direitos alcançados. Entendo que o Homem tem direito à Saúde e à Educação gratuita e tem direito a uma Segurança Social que o proteja. A organização do país é que tem de estar pensada no sentido do colectivo e não um colectivo a trabalhar para alguns... para os mesmos de sempre. Utopia? Não. Realidade, sim. Um país (ou região) que não desbarata meios, que investe nos sectores produtivos e que gera riqueza, um país (ou região) que aposta, decisivamente, na Educação, é óbvio que, tarde ou cedo, redistribui a riqueza de forma justa e equitativa. O processo contrário já é conhecido, é o que se assiste em toda a Europa, no nosso País em geral e, na Madeira, em particular: riquezas obscenas à custa de uma maioria cada vez mais pobre. Portanto, privatizações, cuidado com elas, pois se uma determinada área de intervenção é boa para o privado que razões justificam não ser boa para o sector público? Há actividades que tem uma natureza absolutamente pública e outras que pertencem à esfera do privado. Não contem comigo para desarmar o Estado das responsabilidades que lhe compete, pois isso significa desarmar o próprio povo que deve servir.
Ora, neste pressuposto, o discurso do Dr. Passos Coelho é claramente ultraliberal. E ele sabe ou já percebeu no decorrer da campanha, que esse é o caminho que não colhe na sociedade. Daí que ontem tenha piscado o olho à Igreja e aos movimentos anti-interrupção voluntária da gravidez (IVG). Depois de ter votado sim à IVG, no referendo, e de ter dito que deveríamos ir longe nesta matéria, vem agora dizer que o tema deve ser repensado... nhe, nhe, nhe... e se houver algum movimento de cidadãos, porque não um novo referendo. Sobre esta matéria, adianto que considero que ela é muito delicada, envolve múltiplas variáveis, é dramática para quem vive uma situação dessa natureza e, portanto, tem um foro muito íntimo que deve ser respeitado. Pessoalmente, não seria capaz de aconselhar uma interrupção, excluindo, naturalmente, os casos graves previstos na Lei 16/2007. Mas sou visceralmente contra o aborto clandestino, inseguro, conducente à morte e criminalizador para a mulher. Considero essa situação aberrante. Até porque uma mulher não aborta "por dá cá aquela palha". É penoso, traumatizante e os testemunhos falam por si. E sei que a legislação tem levado à dissuasão de muitas mulheres que solicitam a IVG e desistem após as consultas, que não há registo de mortes de mulheres (segundo julgo saber), que a saúde da mulher foi defendida e que nenhuma foi presa por ter interrompido uma gravidez.Tudo isto para dizer que o País dispensa políticos inseguros. Se em campanha são assim (na montra) imagino o que serão no governo (o que escondem no armazém das convicções  ) políticas
Ilustração: Google Imagens.

2 comentários:

Fernando Vouga disse...

Caro amigo

Com todo o respeito e estima, já que abordou as eleições para a AR, sinto-me autorizado a falar nelas neste espaço.

Concordo inteiramente com o seu ponto de vista sobre a IVG. Também sou visceralmente contra toda e qualquer leviandade nesse assunto. E acredito que o problema pode e deve ser tratado fora da justiça. No fundo, até me parece simples. Há que combater as causas e minorar os efeitos.
No entanto, no que respeita ao candidato do PSD (de quem não me sinto minimamente obrigado a ser advogado de defesa), não me parece que as suas afirmações sejam objecto de tanta crítica. Quanto julgo saber, o assunto veio a lume apenas porque numa entrevista da RR (salvo erro) lhe foi colocada a questão. E as suas afirmações pareceram-me pacíficas. Ou seja, continua tudo em aberto como consigna a Constituição, porque não há assuntos tabu, como ele disse.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
É evidente que não existem assuntos tabu. Estou totalmente de acordo consigo. A democracia exige debate sério sobre todos os assuntos.
Todavia, distante de qualquer posição partidária, o que me pareceu relevante nestas declarações, foi o facto dele ter mudado de opinião, quando, da primeira vez, votou não e no segundo referendo ter votado sim, o que deixou transparecer um pouco de oportunismo. Ou será que a direita quer tentar mais um referendo a ver se o chega a uma maioria? Não sei, até politicamente, uma pessoa experiente, neste contexto eleitoral, tinha-se esquivado a qualquer resposta.
Admito que a minha leitura não seja a mais certa, mas, enfim, é no confronto das posições que os assuntos se debatem. Por isso mesmo estamos aqui, os dois, a reflectir.
Um abraço.