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quarta-feira, 15 de junho de 2011

UMA ASSEMBLEIA QUE NÃO FISCALIZA E UM GOVERNO QUE FOGE ÀS RESPONSABILIDADES


Hoje, mais do que nunca, a Assembleia está configurada para a realização de “serviços mínimos”. Só no plano teórico pode ser considerada a “Casa da Democracia”. Quando é negado um debate de esclarecimento e busca de soluções para o desemprego, considerando que não é urgente, isto significa a consciência pesada e o medo da maioria ser confrontada com uma realidade que atinge perto de 20.000 pessoas. Quando não querem estudar a problemática da pobreza é porque, certamente, não estão dispostos à confrontação com os dramas sociais, por isso, escondem-na.


A Legislatura 2007/2011 está a chegar ao final. Independentemente de um exaustivo relatório que a seu tempo será do conhecimento público importa, desde já, reflectir sobre alguns aspectos que permitem dizer que a Assembleia Legislativa da Madeira não fiscaliza os actos do governo e o governo, por seu turno, foge às suas responsabilidades e deveres para com o primeiro órgão de governo próprio. Eis alguns exemplos:
  • Desde 2010 e repetidamente solicitado encontra-se por realizar uma interpelação com a presença do Vice-presidente do Governo sobre a “Operação das Sociedades de Desenvolvimento”.
  • Desde Janeiro de 2011 que se encontra por agendar uma interpelação ao governo sobre o processo de negociação com a União Europeia no quadro do envelope financeiro que a RAM poderá ter disponível para o período 2013/2020.
  • Mais recentemente, a 02 de Maio, foi requerido o agendamento de uma sessão plenária para formular perguntas ao Presidente do Governo Regional. Sem resposta.
  • A 18 de Maio foi solicitado um debate com carácter de urgência sobre o desemprego na Região. Na conferência de Representantes dos Grupos Parlamentares, o PSD inviabilizou, por não ser urgente.
  • Em Março de 2011, foi solicitada à Secretaria dos Recursos Humanos uma cópia do contrato de suprimentos ao Jornal da Madeira, constante da Resolução 192/2011, a qual não teve resposta.
  • A 01 de Fevereiro de 2011 foram solicitadas informações à Secretária do Turismo e Transportes e ao Vice-Presidente do Governo, sobre diversos aspectos que se prendem com a paragem das obras do ex-hotel Savoy e as suas consequências, a qual não obteve resposta.
  • O Grupo Parlamentar do PS continua a aguardar, há mais de dois anos, um pedido de reunião com a Administração do SESARAM, outro, há um ano, com a Segurança Social na Madeira, outro, ainda, há um ano, com a Direcção Regional de Estatística.
Nem querem debater nem respondem à formulação de perguntas relevantes e fundamentais para o exercício do mandato. Todas as propostas legislativas foram chumbadas, todos os projectos de resolução inviabilizados, 98% dos pedidos de audição a membros do governo foram chumbados em sede de comissões especializadas, todos os pedidos de inquérito parlamentar, sobre diversos assuntos, foram chumbados. Até um voto de pesar foi rejeitado. A pergunta que o povo tem direito a fazer é esta: afinal, para que serve a Assembleia? Servirá, apenas, para legitimar uma Autonomia de papel ao serviço de um só homem?
A verdade é que a Assembleia está sequestrada por um grupo político que não olha a meios para atingir os seus fins. O primeiro órgão foi capturado pelo PSD, em total desrespeito pelos princípios e valores do regime democrático. O próprio Regimento da Assembleia é alterado sempre que a oposição descobre uma forma de promover o debate; o Presidente do Governo foge da Assembleia como o diabo da Cruz, os Secretários não comparecem, o funcionamento das comissões especializadas constitui uma farsa e as comissões eventuais uma pouca-vergonha política como testemunham os inquéritos à Comunicação Social e ao Endividamento da Região.
E tanto assim é que o Presidente do Governo, nem com as perguntas formuladas antecipadamente, de acordo com o Regimento, se digna comparecer perante os deputados. Ali só vai, uma vez por ano, no debate do Plano e Orçamento, ao abrigo de um regimento que lhe possibilita falar a solo, não ser questionado e para desferir grotescos ataques à oposição.
Hoje, mais do que nunca, a Assembleia está configurada para a realização de “serviços mínimos”. Só no plano teórico pode ser considerada a “Casa da Democracia”. Quando é negado um debate de esclarecimento e busca de soluções para o desemprego, considerando que não é urgente, isto significa a consciência pesada e o medo da maioria ser confrontada com uma realidade que atinge perto de 20.000 pessoas. Quando não querem estudar a problemática da pobreza é porque, certamente, não estão dispostos à confrontação com os dramas sociais, por isso, escondem-na.
E perante isto, pergunta-se, como pode o Presidente da República e o Representante da República na Madeira ignorarem esta grave situação, fazerem de conta que as instituições funcionam de acordo com a normalidade democrática e não se dignam ao exercício das suas competências e ao magistério de influência que lhes pertence? Que cumplicidades existem e que medo têm essas entidades de fazerem ver que o exercício pleno da democracia e da liberdade estão em causa? Não basta referir que a Autonomia é "um instrumento dinâmico que, entre outros objectivos, visa o desenvolvimento económico-social e a promoção e a defesa dos interesses regionais", quando estão em causa os pressupostos em que assenta o princípio autonómico no quadro do regime democrático.

6 comentários:

Valdecy Alves disse...

Aqui no BRasil o POder Legislativo abre mão da autonomia, viola a Constituição, nada fiscaliza, porque os parlamentares trocam o seu sagrado dever por favores pessoais. PROSTITUINDO-SE POLITICAMENTE. Pelo que vejo a realidade é a mesma.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Caríssimo, que bom saber que me acompanha, no Brasil, nas grandes preocupações pela democracia e pela transparência.
Um abraço.

Anónimo disse...

Esta coisa sobre o delegado da CNE não será só um facto político inventado pelo PSD?
Por estar contente com o Delegado?
Ou para o fragilizar quando vier dizer que descobriu que o homem não é afinal desembargador*?

*106 Paulo Duarte Barreto Ferreira (1324) 23 anos, 3 meses e 8 dias 23 anos, 3 meses e 8 dias
Nascido a 1962-10-12, na Comarca de Funchal
.Tribunal da Relação de Lisboa Deliberação do Plenário do C.S.M.
2010-08-31 Juiz de Direito Auxiliar - Destacamento

Anónimo disse...

De facto, acabo de ver em

http://www.csm.org.pt/ficheiros/movimentos/movimentojudicial2011_relacoes_projecto.pdf

que o juiz de direito Jaime Pestana será daqui a uns meses o 3º desembargador madeirense no activo (além de Silvio Sousa e de Paulo Pereira Goueia). Paulo Barreto, da CNE, não foi promovido a desembargador, mantendo-se como juiz de direito.
Este PSD é mesmo esperto...

outra vez disse...

o sr anonimo a inveja é triste lol só para esclarecimento da sua ignorancia repare quemm está na quinta secção criminal do Tribunal da Relação de Lisboa? mas é desembargador auxiliar, se não fosse desembargador nem constava da lista de colocação.

outra vez disse...

http://www.trl.mj.pt/quadro_relacao/seccao.php