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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

NEM DENTRO DA SACRISTIA SE DÁ AO RESPEITO


Mas nisto, saliento, a Igreja tem as suas culpas. Desde 1974 que deixa o marfim correr e que se assume, directa e indirectamente como o catalisador das sucessivas maiorias absolutas do PSD. Na inauguração de uma igreja permitiram-lhe que se dirigisse do púlpito aos fiéis. Não falou, no adro, aos jornalistas, mas do púlpito. Lembro-me, numa outra inauguração, que havia "bancos" para o poder e "bancos" para a oposição, num espaço onde devemos ser todos iguais. A Diocese está, por múltiplas razões, infelizmente, amarrada pelos subsídios, pelos interesses e pelo insensato e cúmplice posicionamento relativamente ao Jornal da Madeira.


Tenho pela Jornalista Marta Caires uma grande consideração  e estima. Acompanho, desde 1993, o seu excelente percurso profissional. Só um homem, fora de si, absolutamente descontrolado no campo político faz uma cena daquelas, ainda por cima, na sacristia da Igreja do Monte e perante tantas autoridades civis, militares e religiosas. O Senhor Bispo que, momentos antes, no decorrer da Homilia, tinha falado da "crise de valores", passados uns momentos teve ali a expressão mais acabada dessa tal crise que, sublinho, não é apenas no sentido que quis dar, mas de valores de educação e de respeito. E um homem político que não se dá ao respeito, não reúne condições para ser o condutor de uma sociedade que é muito mais vasta do que o núcleo alaranjado a que preside.
Mas nisto, saliento, a Igreja tem as suas culpas. Desde 1974 que deixa o marfim correr e que se assume, directa e indirectamente como o catalisador das sucessivas maiorias absolutas do PSD. Na inauguração de uma igreja permitiram-lhe que se dirigisse do púlpito aos fiéis. Não falou, no adro, aos jornalistas, mas do púlpito. Lembro-me, numa outra inauguração, que havia "bancos" para o poder e "bancos" para a oposição, num espaço onde devemos ser todos iguais.  A Diocese está, por múltiplas razões, infelizmente, amarrada pelos subsídios, pelos interesses e é, por isso, que o  presidente do governo diz sempre que teve os Bispos que quis e que mais interessavam à Madeira, digo eu, à sua política. Tenho presente, por exemplo, o insensato e cúmplice posicionamento da Diocese relativamente ao Jornal da Madeira. Trata-se, apenas, de um caso. 
Assumo que sou católico, mas não me revejo nestas atitudes cúmplices que esmagam os madeirenses e porto-santenses. Quando falo de subsídios estou a falar de milhares de euros para novos templos, não estou a falar dos subsídios destinados a funções sociais a que a Igreja se dedica. Não esqueço que são as paróquias e todos os movimentos da Igreja que esbatem a fome nesta terra. E nesse aspecto a Igreja cumpre o seu importante papel de solidariedade. Não porque entenda que o problema da pobreza por aí se resolva, mas no quadro a que chegámos, o seu contributo é decisivo. E neste aspecto a Diocese não tem nada a agradecer e não tem nada que se curvar ao poder. Apenas cumpre uma das suas funções.
Espero que esta oportunidade seja aproveitada para que a Diocese do Funchal comece a se distanciar deste poder político que lhe rouba espaço, inclusive, dando-se ao "luxo" de insultar uma jornalista em plena sacristia, mais, com a ameaça de chamar a polícia. Inacreditável.
Ilustração: Google Imagens.  

8 comentários:

Isabel Aguilar disse...

Também tenho pela Jornalista Marta Caires a maior das considerações,e, juro que fiquei atónita e sem palavras ao ler este seu post..ao ponto que já chegámos!!!

António Trancoso disse...

Meu Caro André Escórcio
A Igreja "tem as suas culpas"!?!
Não, meu Caro Amigo. A Igreja,com especial relevância para o, seu ultra-reaccionário, precursor Santana e seus sucessores,Doutorados em Hipocrisia,foi,nesta terra, a grande responsável pela ribalta em que colocou um seu Testa de Ferro, Cabeça de Turco, sem Princípios nem Valores. Usando, sem pejo nem vergonha,as convicções religiosas de um povo, carente de tudo - económica e culturalmente falando - manipula,e continua a manipular,escandalosamente,as "livres" opções de Vida Terrena.
Se o actual bispo fosse - como deveria ser - o apóstolo de Cristo, teria expulso do Templo o Fariseu. Não o fez,nem nunca o fará; a Igreja criou um Monstro que já não controla...nem quer,sabida e interesseiramente,controlar.
Meu Caríssimo Amigo, há dois que,por razões opostas,devem estar a dar saltos nas respectivas tumbas: Salazar e Pombal.

André Escórcio disse...

Obrigado pelos vossos comentários.
Caríssimo António Trancoso, aprendo e reflito com os seus comentários. Tem toda a razão: "a Igreja criou um monstro que já não controla".

José Luís Rodrigues disse...

A Madeira inteira criou e alimenta este estado de coisas, que era bom para todos até para a oposição. A parte de responsabilidade dos bispos não se deve tirá-la, concerteza, mas digam-me ou não se todas as emprezas, tascas, partidos políticos e tudo o que mexiam na Madeira se não beneficiou com os saborosos subsídios? - A meu ver a Madeira inteira é responsável, por isso, não se sacrifique só uma das partes, porque seremos injustos.

André Escórcio disse...

Caríssimo Padre,
Eu subscrevo o seu comentário. Longe de mim reduzir esta questão das dependências da Igreja a uma questão de subsídios. Até porque, se a Igreja recebe também tem uma contrapartida social muito significativa, aliás, como salientei. A questão parece-me ser mais profunda. Trata-se de alinhamentos partidários de base cultural, de convicções assumidas e de uma clara captura dos Bispos (não tanto da Igreja)pelo poder político hegemónico. Descondicionar e libertar seria melhor para todos. É a minha convicção.

António Trancoso disse...

Permitam-me,Caros Senhores Padre e Amigo, Autor do blog,que,aqui,manifeste a minha discordância a algumas das afirmações feitas no comentário do Primeiro e subscritas pelo Segundo.
"A Madeira inteira criou e alimenta este estado de coisas(...),e,"inteira é responsável,"(...).
Não,meus Caros Senhores,INTEIRA,não!
A Madeira maioritária,alienada e culturalmente recuada,SIM.
A questão é,de facto,muito mais profunda;decorre de uma "habilidosa" luta ideológica,sem quartel,fruto de um "saber" e de uma experiência acumulada,de 2 000 anos,avessa a toda e qualquer mudança que coloque em risco a situação de privilégio alcançada. Refiro-me,obviamente à Instituição,que Não É a do Homem Bom e Simples que Jesus foi. HOMEM,que nada possuindo,deu o que tinha,em favor dos desprotegidos:o Exemplo e a Própria Vida.
A Traição,é a única palavra que me ocorre para classificar os que,assumindo-se como seus "lídimos" representantes,O desautorizam,sem recato nem vergonha, com o fausto e a insídia dos seus comportamentos. A subsídio-dependência,não é causa;é efeito.
Os meus cumprimentos.

Anónimo disse...

empresas é com s e não com z.
lapso no teclado.
quanto ao assunto em si, a verdade é que devemos ouvir sempre as 2 versões dos dois envolvidos.
por outro lado, o PS e o GP do PS-M recebem muito dinheiro do orçamento, tanto que até assusta!

André Escórcio disse...

Obviamente que desde há 55 anos que sei que empresa se escreve com S. Sou dou tempo de fazer 50 vezes as palavras difíceis.
Quanto ao ouvir os dois lados, obviamente que foram ouvidos e isso consta do texto publicado no DN.