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domingo, 21 de agosto de 2011

NO DIA DA CIDADE, JARDIM DEMONSTROU A SUA TOTAL FRAGILIDADE POLÍTICA


Jardim lida mal com a verdade, acha que os factos são apenas constrangimentos... insignificantes. Não é preciso conhecer muita ciência política para perceber que essa é a atitude típica do poder absoluto que assume a possibilidade de gerar factos de acordo com a conveniência do poder. Inventam-se adversários (como o DN) ou inimigos externos (Lisboa) e cria-se uma "verdade autêntica" e um "pensamento único" sobre os interesses da Madeira que ele próprio Jardim e o seu partido representam, sendo dever de todos os cidadãos e organizações seguir fielmente a verdade oficial. Quem sair da linha oficial é traidor, colaboracionista, vendido, não "ama a Madeira"! Esta tendência totalitária tem repercussões sociais e políticas graves...

Em 2006, o Dr. Maximiano Martins publicou, no DN, uma carta com um destinatário: o Dr. Alberto João Jardim. Há dias voltei a lê-la. Poderia ter sito publicada hoje. A história mantém-se, aqui e ali, com substanciais agravamentos na condução da política. Vale a pena regressar a esse documento, neste DIA DA CIDADE DO FUNCHAL, quando o Dr. Jardim fez um discurso onde demonstrou a sua total fragilidade.

"O cidadão Alberto João Cardoso Gonçalves Jardim tem qualidades e defeitos. A mim cabe-me relevar os seus defeitos, inúmeros defeitos. À História caberá julgá-lo e determinar o lugar que ele deve ocupar. Tenho a opinião - mas não a pretensão de me substituir à História - que o julgamento que dele se fará no futuro será substancialmente diverso daquele que Jardim espera. Porque quando se contar toda a história destes trinta anos e dos meandros do poder político e financeiro... para além das "obras" ficarão também os erros e os crimes políticos!
Primeiro defeito grave, muito grave: Jardim lida mal com a verdade, acha que os factos são apenas constrangimentos... insignificantes. Não é preciso conhecer muita ciência política para perceber que essa é a atitude típica do poder absoluto que assume a possibilidade de gerar factos de acordo com a conveniência do poder. Inventam-se adversários (como o DN) ou inimigos externos (Lisboa) e cria-se uma "verdade autêntica" e um "pensamento único" sobre os interesses da Madeira que ele próprio Jardim e o seu partido representam, sendo dever de todos os cidadãos e organizações seguir fielmente a verdade oficial. Quem sair da linha oficial é traidor, colaboracionista, vendido, não "ama a Madeira"!
Esta tendência totalitária tem repercussões sociais e políticas graves: molda a verdade de acordo com uma linha oficial, tem horror ao debate livre e ao contraditório e obriga a um controlo de toda a sociedade civil e à sua instrumentalização permanente. A fuga ao debate - sinal de cobardia e insegurança - e a distorção das posições dos adversários fazem parte desta estratégia. Exemplo claro deu-se na recente troca de cartas em público comigo. À minha carta aberta no DN, Jardim "respondeu" com outra carta no JM. Ou melhor face a argumentos (contestáveis certamente) "respondeu" com um ataque pessoal, com insultos e com falsidades - com as "verdades" que o regime entende dever forjar ou moldar. Eu disse: que "por detrás da fachada existe uma realidade de sofrimento e baixa qualidade de vida" no Funchal e na Região; que os indicadores de desenvolvimento social e humano da Região são desfavoráveis; que Jardim escondeu o Estudo que deveria ter determinado a posição negocial da Região e do país para o novo quadro comunitário daí decorrendo uma perda de 500 milhões de Euros; que os resultados ao nível da Educação na Região são uma vergonha para quem nos governa há trinta anos; que o discurso de Jardim é xenófobo e é insultuoso para os opositores mas também para as instituições do Portugal Democrático; que o endividamento da Região será penoso para as gerações futuras e que o esbanjamento e utilizações dos dinheiros públicos por Jardim são intoleráveis numa sociedade civilizada... Ao que Jardim respondeu: é um ressabiado, um ex-comunista, um vira-casaca, tem responsabilidades na descolonização e nas nacionalizações, pactuou com "os saneamentos, perseguições e prisões arbitrárias"... Nem um só contra-argumento e tudo falsidades com que não perco um minuto a contestar. Calúnia pura. Delírio.
A única constatação que merece ser feita é que nos tempos em que Jardim elogiava o salazarismo e exaltava a colonização eu militava em movimentos de oposição democrática, com graves riscos para a minha continuidade na universidade. Sou, de resto, alheio a tudo o que acusa. Estive na OCDE, em Paris, em 1979/1980 - não propriamente um "antro comunista" mas antes um clube de economias de mercado avançadas. Será que Jardim pode assumir as posições que foi assumindo durante todo aquele período? Mas Jardim titula o seu artigo de "temo pela sua saúde" jogando com ambiguidade numa expressão intimidatória, ao mesmo tempo que me imputa problemas psicológicos mal resolvidos. Cuide de si, Jardim, porque eu estou bem comigo próprio e não sou dado a temores! Vejo que a sua passagem pela "acção psicológica" militar deixou-lhe marcas...
Defeito ainda mais grave: Jardim roubou-nos as liberdades de Abril. Pela coacção "flamista" e depois pela chantagem de uma sociedade controlada e anestesiada (pelos empregos públicos, pelo investimento público, pelos subsídios...) e pela aniquilação sistemática dos adversários, Jardim não nos permitiu o gozo das liberdades, da expressão livre, do debate de ideias. Dir-se-á que trouxe desenvolvimento, visível nas acessibilidades e no parque habitacional. Mas não trouxe o progresso económico, social e humano que só as liberdades democráticas permitem. Nem trouxe sustentabilidade, como o futuro demonstrará. E deixará uma herança financeira penosa com um endividamento gigantesco.
Acuso-o, pois, de cultivar estes defeitos (entre muitos outros) nos limites do intolerável. De manipular e perseguir. De coagir. De irresponsabilidade na gestão da "coisa pública", na linha da gestão de Santana Lopes, que apoiou fervorosamente.... De falta de decência. De não prestigiar a Madeira e os madeirenses. De não estar à altura dos novos tempos.
Compreendo a sua preocupação em cuidar da sua imagem irreversivelmente degradada. Tal imagem não o prejudica só a si. Prejudica a Madeira.
Compreendo, por isso, a sua necessidade em fazer à imprensa nacional afirmações do tipo "magoa-me ser tratado como boçal" ou "não sou uma besta". Chamaram-lhe recentemente "tarouco" - o que significa, segundo o dicionário de língua portuguesa, apatetado, idiota, desmemoriado pela idade... Alguém o chamou também de "esse grande mestre do delírio político".
Por mim não me deixarei contagiar pelo seu delírio.
Gorbachov resumiu a sua obra extraordinária de alteração da geo-política mundial com uma frase surpreendente: "eu quero transformar a Rússia num país normal". Também nós devemos aspirar a uma Madeira normal, pacífica e de progresso".

Ilustração: Google Imagens.

4 comentários:

Fernando Vouga disse...

Caro amigo

Só quem pertencer ao "povo superior" é que não vê a desgraça e a carta do Dr. Maximiano Martins só peca por defeito. As tropelias de Jardim são tantas e tão poderosas que dão de sobra para um livro como o de Ribeiro Cardoso intitulado "Jardim a grande fraude".
À primeira vista, parece que chegou a altura de o eleitorado lhe dar o devido correctivo, derrubando o seu governo e deixar que o senhor vá fazer um ano sabático em Paris (está na moda...) na tranquilidade de um deus no Olimpo.
Mas não posso aceitar tal solução. Temos de o obrigar a manter-se no poder (devidamente controlado) para corrigir os seus erros e assumir o odioso das medidas duras a que vamos ser sujeitos dentro em breve.
Caso contrário, quem vier a seguir às próximas eleições é que vai pagar essa factura.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Eu compreendo a sua posição, mas 35anos é tempo demais. Depois mantendo-se no poder, poderia fazer uma passagem de testemunho dois anos depois, aliás, como está a acontecer no Porto Santo. Não se castiga eleitoralmente, no momento certo, e podemos estar a abrir as portas à eternização de um regime e de um sistema. Porque os que atrás vêm não são melhores. E hoje, claramente, está em causa uma mudança de políticas com rigor e competência.
Um abraço.

António Trancoso disse...

Caros Amigos Escórcio e Vouga
Qualquer uma,das vossas posições,é perfeitamente defensável.
A questão,porém,é outra. O Ditador criou uma teia tão densa que acabou por o aprisionar. Encontra-se de tal forma encurralado que,em pânico,sabe não ter outra saída que não a de esticar a corda...até o inevitável último suspiro. Afastar-se,ou ser afastado,do Poder,seria a sua condenação a uma série,infindável,de humilhações. Digo humilhações e não críticas,na medida em as segundas são-lhe,e continuarão a ser-lhe feitas pela Oposição,enquanto que,as primeiras lhe serão dirigidas,sem misericórdia, pelos actuais servis correligionários,insatisfeitos, e frustrados, pela não participação no "banquete principal" das negociatas. É isto que o apavora e o faz mover..."prá frente,sempre"!

Vilhão Burro disse...

Senhor Professor
Diz o Povo com razão que Deus escreve direito por linhas tortas.Neste caso foi pelo acento no PRÀ. Afinal não é para a frente; é para trás.Fugiu-lhe a escrita para a Verdade.