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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

EM VEZ DE VISITAR UMA ESCOLA, VISITOU UM CLUBE. COMEÇA MAL!


Oh, senhor secretário, a Educação e a tal formação completa faz-se, fundamentalmente, na Escola. O clube tem uma vocação diferente, de desenvolvimento da qualidade. O clube não deve procurar a quantidade nem pode, por escassez de meios, responder, eficazmente, à missão que compete à Escola prosseguir. O clube também ajuda no processo educativo, mas a sua vocação/missão é diferente. É na Escola que se encontram os professores/educadores e é na Escola que a grande dinamização deve acontecer para que, ao invés de 8% da população escolar envolvida na prática desportiva regular, possamos dispor de uma percentagem acima dos 80%. Por tudo isto, a sua primeira visita deveria ser à Escola e não ao clube, por maior que seja a sua importância social.

O recém empossado Secretário Regional da Educação e Recursos Humanos, no seu segundo acto oficial (!), em vez de visitar uma escola, visitou um clube. Foi assistir a um jogo de futebol, na categoria de iniciados, dirimido entre o Nacional e o Marítimo. E disse: "(...) Esta visita é para tomarmos conhecimento da realidade e darmos um sinal que atribuímos importância a esta actividade nestas circunstâncias" (...) É importante que os atletas saibam também que nós atribuímos importância àquilo que eles fazem; importante para o desenvolvimento e crescimento das pessoas, principalmente nas categorias etárias em que eles se encontram neste momento" (...) o "trabalho muito importante na perspectiva da educação e na formação completa de todos os jovens" desenvolvido pelos clubes" (...) Os 12 mil jovens que praticam desporto são "números significativos e muito bons, que mais não é do que o reflexo do trabalho de um elevado número de clubes e associações" esperando que seja o corolário do "cumprimento da missão de educar os jovens" (...) e sobre a função da escola no processo de formação, assumiu: "Não acho que se deva fazer a escolarização de todas as dimensões da educação das crianças e jovens. Cada um deve trabalhar nas suas áreas, consoante os seus métodos e que a realidade da trilogia dos clubes: pais, treinadores e jogadores; é fundamental para a coesão".
Começa mal. Começa por dizer frases soltas que qualquer cidadão menos bem informado diria. A um titular da pasta da EDUCAÇÃO (com letras maiúsculas) exige-se muito mais pensamento político, educativo e gestionário. O caminho que defendeu nestas curtas declarações dá para perceber que, infelizmente, a Madeira terá mais do mesmo. Simbolicamente, ao dirigir-se a um clube e não a uma escola, como primeiro acto no campo do desporto, ofereceu a imagem que o desporto educativo escolar continuará a ser um parente pobre deste governo. Falou da "importância" do trabalho realizado nos clubes "na perspectiva da educação e na formação completa de todos os jovens" e que os 12 mil jovens que praticam desporto (federado) são "números significativos e muito bons" que mais não é do que o "cumprimento da missão de educar os jovens". Oh, senhor secretário, a Educação e a tal formação completa faz-se, fundamentalmente, na Escola. O clube tem uma vocação diferente, de desenvolvimento da qualidade. O clube não deve procurar a quantidade nem pode, por escassez de meios, responder, eficazmente, à missão que compete à Escola prosseguir. O clube também ajuda no processo educativo, mas a sua vocação/missão é diferente. É na Escola que se encontram os professores/educadores e é na Escola que a grande dinamização deve acontecer para que, ao invés de 8% da população escolar envolvida na prática desportiva regular, possamos dispor de uma percentagem acima dos 80%. Por tudo isto, a sua primeira visita deveria ser à Escola e não ao clube, por maior que seja a sua importância social. E deveria ser à Escola pelo infindável número de problemas que tem para resolver, desde uma nova concepção de escola com futuro e para o futuro, até aos milhares de facturas que estão por pagar, passando, obviamente, pelos problemas sociais. O desporto é, apenas, com muita boa vontade, a primeira das segundas necessidades. Isto para não falar do Estatuto da Carreira Docente, da Avaliação de Desempenho, do Regime Jurídico do Sistema Educativo Regional, enfim, um mundo de tarefas, qual delas a primeira.
Ademais, numa altura de crise, de queixas de todo o associativismo, de atrasos de quatro, cinco anos nas transferências para o associativismo, dos valores acordados através de contratos-programa com o IDRAM, era expectável que o secretário surgisse com um discurso novo, um discurso visando a paulatina e exigente mudança de paradigma. Mas não, surgiu, exactamente, com o mesmo discurso que já não se consegue ouvir. Nem seguiu as "recomendações" do seu companheiro de partido Dr. Miguel de Sousa que, ainda há dias, na RTP, disse que a Escola deveria ser o centro das políticas educativas do desporto. Uma insofismável verdade, numa Região pobre e dependente, que outros já defendem há mais de 30 anos, que o governo sempre combateu, sempre fez ouvidos de mercador e que conduziu ao desastre que hoje o desporto na Madeira configura: uma montanha de problemas por resolver, ausência de financiamento, instalações desportivas desaproveitadas, um desporto escolar pobre e uma taxa de participação desportiva global de natureza regular que não vai além dos 23%, na população compreendida entre os 15 e os 65 anos. Isto significa que mais de 70% não tem qualquer actividade física ou desportiva.
Com aquele discurso e com as prioridades invertidas, por mim, o retrato está feito. A EDUCAÇÃO continuará engatada em marcha atrás.
Ilustração: Google Imagens.

1 comentário:

António Trancoso disse...

Meu Caro Amigo
Não é agora que começa mal! Começou há muito tempo, fazendo o frete "sindical" de dividir os professores. Agora é "premiado".