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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A "REFORMA LABORAL", A TROIKA E AS POLÍTICAS DE DIREITA


Está à vista de todos, se passarmos em revista os acontecimentos e se fizermos um necessário cruzamento das várias peças do puzzle, que houve um tempo de intencional e paciente conquista das pessoas, através das lógicas de um mercado sem qualquer supervisão. Foi o engodo em que milhões caíram, aplaudindo esse aparente bem-estar, mas sem dar-se conta da fatura que vinha, serenamente, cavalgando contra os próprios. Aliás, a direita política, no plano histórico, sempre foi assim, paciente, meticulosa, soube sempre colocar as peças, qual tabuleiro de xadrez, até ao xeque-mate. A direita política quer lá saber das lutas de Chicago, dos pobres, dos mais frágeis da sociedade! Interessa-lhe, fundamentalmente, o dinheiro, a riqueza de alguns à custa do espezinhamento dos demais.


Há gente sem rosto a dominar.
E o Primeiro-Ministro prefere a lógica
de Maria vai com as outras!
As minhas convicções políticas situam-se à esquerda. Na esquerda da liberdade, dos princípios e dos valores. Embora a matriz dos meus princípios e valores aí se situem, tal não significa ortodoxia na perspectiva de uma total inflexibilidade às mudanças. Quero eu dizer que uma coisa é a matriz do meu pensamento político, enquanto alicerce, outra a descoberta de novas soluções políticas que conduzam ao bem-estar da população. O que não gosto é de colocar em causa os princípios. Isto para dizer que olho com grande desconfiança para o essencial desta dita "reforma laboral".
Se, por um lado, considero admissível o debate que conduza a reajustamentos, por outro, entendo que tais reajustamentos não devem ir ao encontro da sistemática subtração de alguns dos direitos adquiridos. Não se trata de querer manter, na palavra do Primeiro-Ministro, a "zona de conforto", mas porque estas ditas "reformas" não trazem no seu bojo qualquer horizonte de esperança. Pelo contrário, há exemplos bastantes de degradação e de empobrecimento. Para mim é evidente o que esta Europa, marcada por uma direita política sem compaixão, muito mais próxima dos milhões dos grande senhores do que do pobre e humilde trabalhador, pretende, paulatinamente, construir. E está à vista de todos, se passarmos em revista os acontecimentos e se fizermos um necessário cruzamento das várias peças do puzzle, que houve um tempo de intencional e paciente conquista das pessoas, através das lógicas de um mercado sem qualquer supervisão. Foi o engodo em que milhões caíram, aplaudindo esse aparente bem-estar, mas sem dar-se conta da fatura que vinha, serenamente, cavalgando contra os próprios. Aliás, a direita política, no plano histórico, sempre foi assim, paciente, meticulosa, soube sempre colocar as peças, qual tabuleiro de xadrez, até ao xeque-mate. A direita política quer lá saber das lutas de Chicago, dos pobres, dos mais frágeis da sociedade! Interessa-lhe, fundamentalmente, o dinheiro, a riqueza de alguns à custa do espezinhamento dos demais. Para a direita política a pobreza resolve-se com atitudes de caridade, a fome resolve-se através das instituições de solidariedade. A direita política não se preocupa em olhar para a organização social, para os horários de trabalho, para as condições em que esse mesmo trabalho se concretiza. Tem um discurso de apelo à família, mas no plano da práxis política, o discurso social é inexistente. O dinheiro é que conta, mesmo que sujo, porque à custa da exploração e dos especuladores.
Ora, eu entendo que o mundo laboral deve ser exercido, em todos os sectores, áreas e domínios, privados ou de natureza pública, com exigência, com rigor, com disciplina no quadro de um largo conjunto de deveres. Mas não abdico que, ao lado dos deveres não se encontrem os direitos. Quando, tendencialmente, os deveres arrasam os direitos, quando deixa de existir um desejável equilíbrio potenciador de resultados, aí digo basta, o que me conduz à interrogação: por que será que são sempre os trabalhadores as vítimas do processo? E os empregadores, retirando os grandes grupos e marcas (nem todos) que níveis de escolaridade e de competências profissionais têm? Que capacidade criativa, inovadora e empreendedora demonstram? Que currículo bancário dispõem para poderem crescer e desenvolver as empresas? Não lhes pertencerá uma significativa parte do estado a que chegámos? Ainda ontem, Pedro Santos Guerreiro, Diretor do Jornal de Negócios sublinhava: "A nossa capacidade de gestão é genericamente fraca. Temos muitos chefes incultos, gestores que não imaginam como se motiva (...) empresários muito pouco exigentes em relação a si mesmos (...)". Ora, não é por mais horas ou dias de trabalho anuais que exportaremos na quantidade e qualidade desejáveis. Porventura, melhoraremos através da qualidade do trabalho e não de mais trabalho. Se os processos que sustentam a generalidade das empresas forem os mesmos, não me parece expectável que os resultados sejam diferentes.
Causa-me tristeza quando assisto à perda de direitos e ao intencional "empobrecimento" da população. Vejo o Primeiro-Ministro aplaudir o acordo, mas não o vejo preocupado com a reorganização social, com o sistema educativo que é determinante nas competências profissionais, não ouço uma palavra de simplificação burocrática, não escuto uma palavra no sentido de um regime fiscal que favoreça as empresas, uma palavra na defesa das famílias. O que resta do seu discurso característico da direita política é a simplificação dos despedimentos por motivos subjetivos, a redução das indemnizações, o aumento do desemprego, o banco de horas, o bloqueio às horas extraordinárias, etc. etc.. Enfim, vejo o Primeiro-Ministro de costas voltadas para Portugal e claramente rendido e deslumbrado com os "areópagos" europeus e ao deus Mercado. "Areópagos" que não são de sábios, mas de gente ao serviço dos interesses económico-financeiros dominantes.
Mesmo em uma situação de dependência externa penso que outro poderia e deveria ser o rumo, mais equilibrado e esperançoso. Não aceito, por um lado, que espremam o povo a um tal ponto, com medidas diárias quase sempre piores que as anteriores, por outro, bloqueados em um beco sem saída, esse povo trabalhador desprotegido tenha de submeter-se à mão de obra barata e escrava como solução para os seus problemas imediatos. Fazer dos trabalhadores os culpados da situação não é, genericamente, nem sensato nem justo. Olhemos, a título de mero exemplo, para o caso da Sicasal. Um incêndio levou parte das instalações. A administração veio logo dizer que os 650 postos de trabalho não estavam em risco. Uma semana depois já laborava a 80% da sua capacidade máxima com a ajuda dos trabalhadores. E na passada semana, comoveu-me a iniciativa de todos os trabalhadores numa sentida homenagem ao patrão da empresa. Ora, este exemplo demonstra que quando existe liderança, capacidade empreendedora, qualidade organizacional e bom desempenho profissional, os resultados aparecem.
Ilustração: Google Imagens.

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