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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A PALAVRA DO DEPUTADO... ENTRE O ESCRITÓRIO E A ASSEMBLEIA


Os dois advogados foram claros, precisos e concisos, ao testemunharem que a situação é grave. Ao ouvi-los pasmei. Oh diabo, o que se estará a passar para que estes senhores sejam tão frontais? É que, normalmente, todos eles, tentam disfarçar, rodear os assuntos, pintar de cores alegres o que toda a gente está a ver que é negro, enfim, esta assunção da verdade não deixa de ser curiosa. Pensei, aí está uma prova que o "vigia da quinta" já nem mão tem sobre os seus mais próximos. Faltará, agora, que os disparos não sejam feitos do interior do escritório e em uma confortável cadeira, muito mais rendível que a de Deputado, mas sim no espaço da Assembleia Legislativa, na tribuna, aproveitando os quase intermináveis minutos que dispõem para falar.


Há dias, no TJ da RTP-Madeira, acompanhei uma peça com interesse. Sinceramente, não consigo contextualizá-la, mas o que estava em causa, se bem me recordo, era a questão das insolvências e do crescente desemprego. Nesse trabalho informativo foram ouvidos dois advogados que são, simultaneamente, deputados do PSD-Madeira. Os dois advogados foram claros, precisos e concisos, ao testemunharem que a situação na Região é grave. Ao ouvi-los pasmei. Oh diabo, o que se estará a passar para que estes senhores sejam tão frontais? É que, normalmente, todos eles, tentam disfarçar, rodear os assuntos, pintar de cores alegres o que toda a gente está a ver que é negro, enfim, esta assunção da verdade não deixa de ser curiosa. Pensei, aí está uma prova que o "vigia da quinta" já nem mão tem sobre os seus mais próximos. Faltará, agora, concluí, que os disparos não sejam feitos do interior do escritório e em uma confortável cadeira, muito mais rendível que a de Deputado, mas sim no espaço da Assembleia Legislativa, na tribuna, aproveitando os quase intermináveis minutos que dispõem para falar. Insisto, naquele espaço, aproveitando o período antes da ordem do dia ou em uma declaração política semanal. Aí sim, aí é que é o lugar certo para assumir a realidade, aquilo que sabem em consequência da sua actividade diária no campo da Justiça. Aí sim é o espaço para, em abstrato, obviamente, sem trazer à colação casos, dizer o que sentem e o rumo da tragédia que esta situação política está a conduzir. Mesmo que o líder do grupo parlamentar do PSD não goste, sublinho! Mesmo que passem a ser ostracizados pela primeira fila. Um Deputado não pode ter duas faces: de manhã, a da consciência partidária que subjuga; de tarde, a da consciência profissional que liberta para a verdade. Por isso mesmo, seria desejável, todavia impossível, reconheço, converter as duas faces em uma só, aquela que transmite a efetiva defesa da população eleitora.
Mas este é, infelizmente, a prática política que temos,  a das faces que mudam conforme as circunstâncias, dos cáusticos desabafos no exterior do parlamento, mas a prática política de confronto e muitas vezes de ofensa quando em causa está o partido e o poder. Não só por estas razões, mas por um leque variadíssimo de motivos, a imagem que os cidadãos constroem sobre o que naquela casa acontece, encontra-se, desde há muito, em progressiva degradação. Hoje, ao invés do Deputado ser considerado uma figura com elevada notoriedade social, caminha-se para uma situação arreliadora para os próprios, porque sinónima de oportunista, vigarista e corrupto. Trata-se de uma imagem genérica que, óbvia e certamente, não atinge todos, mas que é sentida e assumida por largas camadas da população. É triste, mas é verdade. É a consequência de anos a fio a semear um ambiente e uma deplorável imagem. Ora, só com uma grande mudança da configuração política do Parlamento, paulatinamente, esta imagem poderá ser reabilitada. Até lá, pouco há a fazer.
Ilustração: Google Imagem.

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