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sábado, 21 de abril de 2012

ESCOLA A TEMPO INTEIRO - A EXCELÊNCIA DE UM DEBATE NECESSÁRIO


A necessidade da escola se afirmar como um espaço mais inclusivo não obriga, necessariamente, a que haja mais escola, mas melhor escola" (...) Se necessário é, por outro lado, que a escola funcione segundo uma racionalidade pedagógica diferente, é necessário, por outro, salvaguardar a existência de outras oportunidades e espaços educativcos que permitam outros tipos de experiências sociais e culturais". Isto implica assumir, sublinhou o Professor, que "as crianças têm de ter espaços e disponibilidade para explorar, brincar, descobrir, relacionar-se, produzir e apreciar" (...) o que conduz ao estabelecimento de um princípio: "as crianças não deverão ser adultas antes do tempo e que é um equívoco pensar que se educa hoje para agir amanhã".


Participei numa sessão do "LABORATÓRIO DE IDEIAS" do PS-Madeira, subordinado ao tema: A Escola a Tempo Inteiro. Foram dois dias de exposição e debate que catalogo de excelentes. Fazia falta este debate, já que, em 2010, o PSD-Madeira chumbou, na Assembleia Legislativa, um Projeto de Resolução que visava abrir o debate de natureza multifatorial. O convidado foi o Professor Doutor Rui Trindade, doutorado em Ciências de Educação e investigador, que alimentou a plateia com uma importante exposição, sobretudo na parte onde considerou os aspetos alternativos ao atual modelo.
É evidente que nesta sessão muito ficou por desenvolver, mas emergiram múltiplos pontos para reflexão e aprofundamento. Registei as seguintes passagens do Professor: "A escola é um espaço educativo que se pode afirmar através da oferta e desenvolvimento de projetos de educação formal e não-formal, sem que tal possibilidade constitua, inevitavelmente, um modo de subordinação dos segundos face aos primeiros" (...) " As funções e os compromissos sociais da escola afirmam-se em larga medida pelo modo como esta assume as suas funções e compromissos educativos" (...) A necessidade da escola se afirmar como um espaço mais inclusivo não obriga, necessariamente, a que haja mais escola, mas melhor escola" (...) Se necessário é, por outro lado, que a escola funcione segundo uma racionalidade pedagógica diferente, é necessário, por outro, salvaguardar a existência de outras oportunidades e espaços educativcos que permitam outros tipos de experiências sociais e culturais". Isto implica assumir, sublinhou o Professor,  que "as crianças têm de ter espaços  e disponibilidade para explorar, brincar, descobrir, relacionar-se, produzir e apreciar" (...) o que conduz ao estabelecimento de um princípio: "as crianças não deverão ser adultas antes do tempo e que é um equívoco pensar que se educa hoje para agir amanhã".
Ora, este conjunto de pressupostos conduzem à necessidade de uma profundíssima reflexão sobre a organização social que dispomos onde se incluem, entre outros, a família, a (re)organização do mundo do trabalho e a coresponsabilização de toda a sociedade no processo educativo. Pessoalmente, entendo que se trata de um processo que levará, em trabalho setorial e integrado, quatro a cinco legislaturas para o corrigir face à multiplicidade de variáveis em causa. Uma coisa é certa: tarde ou cedo, depende das políticas e da vontade política, deverá deixar-se de falar em Escola a Tempo Inteiro, mas apenas em ESCOLA e dela o que se pretende que seja, em uma perspetiva onde não se fale apenas de acesso, mas de sucesso.
Aliás, são muitos os autores e investigadores a questionarem o atual modelo e a reclamarem a necessidade de debate. A Professora Maria José Araújo, autora do livro "Crianças Ocupadas" questiona: "fará sentido que na sociedade contemporânea as crianças "trabalhem" mais do que as 40 horas que achamos razoáveis para os adultos? Fará sentido prolongar de tal modo as suas ocupações que não lhes deixamos tempo para brincar e descansar"? O Psiquiatra Daniel Sampaio escreve contra uma escola transformada em "armazém de crianças"; o Psicólogo Clínico Eduardo Sá sublinha que "as crianças passam cada vem mais horas na escola, o que não é adequado, sobretudo porque, como ela está a ser vivida, pode significar menos infância" e que os "pais estão enganados ao pensarem que mais escola significa mais educação"; o Dr. Paulo Guinote admite que "a defesa da Escola a Tempo Inteiro é a admissão de um fracasso, de uma derrota e não o seu contrário", naturalmente porque pasamos a ter pais a meio tempo!
Daqui resulta, em síntese, que o atual modelo responde, natural e eficazmente, às exigências sobretudo do mundo do trabalho, cujos pais precisam de um espaço onde os filhos possam estar em segurança. Trata-se de um pressuposto absolutamente defensável, mas com custos elevadíssimos pois constitui uma resposta social à desorganização da sociedade. É possível uma reorganização da sociedade que permita mais tempo para as famílias, mais tempo para ser criança, com os mesmos educadores e professores e com melhores resultados. Se, trabalhar muitas horas não significa melhor trabalho, isto é, maior produção, também mais escola não significa melhor escola.
Estão, portanto, de parabéns os líderes do Laboratório de Ideias, a Professora Liliana Rodrigues, o Professor Paulo Cafôfo e a responsável pelo setor da Educação, Professora Adelaide Ribeiro. Gostei. 
Ilustração: Google Imagens.

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