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quarta-feira, 30 de maio de 2012

O ESTREBUCHAR DO SISTEMA


No plano político, porque as eventuais questões criminais pertencem ao foro da Justiça, a esta gente que governou a Madeira com pulso de ferro e de dentes e língua afiados, prevê-se uma longa peregrinação de penitência pelo que fizeram e pelo que não fizeram. Se o povo sofre e continuará a sofrer, porque o que está em causa não se resolve em poucos anos, parece-me óbvio que, maioritariamente, não vai perdoar a quem os conduziu para o abismo. E neste quadro não se trata da substituição deste por aquele ou aqueloutro. O que está aqui em causa é, antes demais, uma questão ideológica, de escolha, entre procedimentos, princípios e valores na construção de uma sociedade mais justa e democrática. E esse novo tempo não pode ser construído por partidos e pessoas que, no essencial, leram a mesma cartilha. Partidos e pessoas que produzam acertos marginais, mas que, no fundo, defendam a mesma coisa e que, previsivelmente, conduzirão a sociedade pelos mesmos caminhos que levaram à actual situação. 

O caso JSD-Madeira onde a respectiva Comissão Política conduziu à demissão do seu líder, em minha opinião, permite uma reflexão que está muito para além do acontecimento em si mesmo. É pública e notória uma grande turbulência no partido social-democrata. Eu diria que há mais desencontros que encontros. Há uma sensível fractura nas hostes que, antes, vivia sob a batuta de um só homem. E isso permite dizer que, hoje, esse é um homem só! Já não tem mão sobre o processo político, sobre o partido, sobrevivendo, ainda, no meio das águas revoltas, pela bóia do silêncio, por um lado, dos Órgãos de Soberania e, por outro, de um conjunto de pessoas que andam expectantes a ver para que lado é que a balança pende. A história das facadas nas costas, ainda ontem repetida junto dos alunos da Escola Básica do Curral das Freiras, tem muito que se lhe diga. É um sinal concreto de um homem que sente no pântano e que olha à sua volta e não vê quem lhe lance uma corda. Ora, pode constituir especulação teórica da minha parte, mas estou em crer que a tomada de posição maioritária dos elementos da comissão política da JSD-M contra o seu líder, este apoiado pelo presidente do PSD, Dr. Jardim, tenha dedo de gente graúda, de pessoas que estão a correr por fora, de gente que está não estando, de políticos que estão a amanhar o terreno no sentido de fazer rebentar a mina ao nível dos seniores. Cautelosamente, a ideia que fica, mais do que um saco de gatos (tantas vezes disseram isso do PS) é a estratégia que corrói docemente a estrutura até que, pela porta pequena, o "chefe" acabará por sair assumindo que não tem condições face à inúmeras facas afiadas. E outros saltarão, naturalmente. 
Seja como for, repito, esta é uma mera especulação em função dos dados que vão sendo conhecidos, o PSD-M está ferido de morte. A confusão está instalada, há vários galos para o mesmo poleiro, as comadres estão visivelmente zangadas e descobrir-se-ão as verdades. Não só as verdades internas, mas sobretudo as verdades da governação. Há, certamente, muita coisa escondida. As facturas que não foram pagas e a dívida oculta entretanto detectada são, apenas, a ponta do icebergue. Depois de 36 anos de poder absolutíssimo parece-me natural a existência de muitas páginas de confidenciais e de reservados. Tal como no Vaticano, algum mordomo encarregar-se-á de trazê-los ao conhecimento público. 
Daqui se infere, no plano político, porque as eventuais questões criminais pertencem ao foro da Justiça, a esta gente que governou a Madeira com pulso de ferro e de dentes e língua afiados, uma longa peregrinação de penitência pelo que fizeram e pelo que não fizeram. Se o povo sofre e continuará a sofrer, porque o que está em causa não se resolve em poucos anos, parece-me óbvio que, maioritariamente, não vai perdoar a quem os conduziu para o abismo. E neste quadro não se trata da substituição deste por aquele ou aqueloutro. O que está aqui em causa é, antes demais, uma questão ideológica, de escolha entre procedimentos, princípios e valores na construção de uma sociedade mais justa e democrática. E esse novo tempo não pode ser construído por partidos e pessoas que, no essencial, leram a mesma cartilha. Partidos e pessoas que produzam acertos marginais, mas que, no fundo, defendam a mesma coisa, e que, previsivelmente, conduzirão a sociedade pelos mesmos caminhos que levaram à actual situação. 
Os dados parecem-me lançados: por um lado, o avassalador descrédito de quem, a todo o custo, quer manter-se "presidente da junta", por outro, um crescimento de uma alternativa sustentável que não deve ser entregue a pessoas que lá andaram, ou outros que, pela proximidade ideológica, mesmo que infelizes, são capazes de um casamento por conveniência.
Ilustração: Google Imagens.

2 comentários:

Fernando Vouga disse...

Caro André Escórcio

Não é necessário ser-se um Nostradamus para se saber que o que se está a passar já não é o começo do fim do jardinismo. É mesmo o fim do fim.
Ao longo da sua prolongada e irresponsável administração, AJJ serviu-se dos colaboradores como se fossem meros cães de fila. Porém, como as coisas agora lhe estão a correr mal, não lhes perdoa e abandonava-os à sua sorte, como se fossem eles os culpados.
É Jardim tem que andado a espetar facas nas costas e não o contrário.
A pouco e pouco foi acumulando ressabiados, que só se calaram por medo de perderem a côdea de que viviam. Mas agora está chegar a hora da vingança. Não se pode humilhar assim tanta gente que, ainda por cima lhe aparou as fantasias.
O caso do chefe da jota é paradigmático. Abandonou-o às feras e lavou as mãos, afirmando que não tem nada a ver com essa gente (isto dito pelo homem que manda em tudo e em todos é no mínimo estranho...). O pobre do imbecil, invertebrado e acéfalo viu-se de um momento para o outro espezinhado pelo seu deus. Chorou como uma Madalena arrependida. E não foi por acaso que esse malogrado rapaz manifestou a intenção de vir a ser o futuro presidente do PSD-M. Vingança do chinês, mas vingança!
Vem ainda a propósito a tristíssima figura que Guilherme Silva fez ontem na televisão a defender o indefensável. Por quanto tempo continuará a prestar-se a tal humilhação?
E já que se fala de facadas, lembro que as últimas palavras de César Agusto foram: "até tu, meu filho Brutus".

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu excelente comentário.
Oxalá que os muitos que por aqui passam, abram os comentários e que o leiam.