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segunda-feira, 18 de junho de 2012

MAIS UMA IGREJA... MAIS UM MILHÃO DE EUROS!



É evidente que se percebem as razões deste substancial apoio. No essencial, pensará o governo: pega lá estes milhões, mas isso terá de traduzir-se em votos nas urnas. Futebol (eu diria uma significativa parte do associativismo desportivo) e Igreja têm sido aliados de peso do presidente do governo. Cada um no seu espaço, ao longo de décadas, construíram a teia que interessou a uma política. Mas esse parece-me ser um chão que deu uvas! Todo o desporto está falido, as dívidas são na ordem dos milhões e muitos dirigentes olham com desconfiança para o sistema para o qual foram empurrados; relativamente à Igreja, são conhecidos os desconfortos de muitos dos seus membros que não se coíbem de dizer em alta-voz o que na alma lhes vai.




Está explicado o silêncio do Senhor Bispo D. António Carrilho. Mais um milhão de euros dos impostos para uma igreja, a juntar, no mesmo sentido, a tantos outros milhões. Isto num tempo de graves dificuldades financeiras e de crescente pobreza que se adivinhavam e que, infelizmente, se concretizaram. Um milhão é muito dinheiro que bem serviria para fazer crescer a economia, gerar empregos e combater a pobreza. Os espaços destinados ao culto e a outras actividades complementares, inclusive, no âmbito da solidariedade, não necessitam de uma qualquer "monumentalidade". Isto é, primeiro, está o extenso rol das prioridades (sistema educativo, sistema de saúde, sistema empresarial, entre outros), depois, neste caso, o apoio à edificação de novos templos. Ainda há pouco tempo assistiu-se à Dedicação da igreja de Santa Cecília, uma obra que levou 2,6 milhões de euros. Ora, perante tanto milhão, será que estou errado? Ou será que o dinheiro de todos os contribuintes, uma vez entrado nos cofres públicos torna-se elástico e multiplicador?
Não bastassem outros factos para o silêncio da Diocese, refiro-me, por exemplo, aos três a quatro milhões por ano para o Jornal da Madeira, juntam-se outros que, certamente, implicam a necessidade de boca calada. A Atouguia, na Calheta, terá uma nova igreja paroquial e será inaugurada com pompa e circunstância com a presença do Senhor Presidente do Governo. O povo, esse, continuará em desespero. Espero que o Senhor Bispo não lhe conceda o púlpito para falar aos fiéis, aliás, como já aconteceu! 
É evidente que se percebem as razões deste substancial apoio. No essencial, pensará o governo: pega lá estes milhões, mas isso terá de traduzir-se em votos nas urnas. Futebol (eu diria uma significativa parte do associativismo desportivo) e Igreja têm sido aliados de peso do presidente do governo. Cada um no seu espaço, ao longo de décadas, construíram a teia que interessou a uma política. Mas esse parece-me ser um chão que deu uvas! Todo o desporto está falido, as dívidas são na ordem dos milhões e muitos dirigentes olham com desconfiança para o sistema para o qual foram empurrados; relativamente à Igreja, são conhecidos os desconfortos de muitos dos seus membros que não se coíbem de dizer em alta-voz o que na alma lhes vai. 
Não deixa de ser curioso que o governo assuma que a "construção da Igreja Paroquial da Atouguia, é indispensável à comunidade paroquial e ao serviço sócio-caritativo aos mais necessitados da Calheta", o que testemunha a existência de bolsas de pobreza, aspecto sempre negado ou abafado. Trata-se de um paradoxo, simplesmente porque a fome não pode esperar por amanhã e a sua solução não depende da dignidade das infraestruturas. E nisto andamos, de milhão em milhão, vivendo das aparências e dos interesses ao serviço da manutenção de uma política. E o povo é que viveu acima das suas possibilidades, dizem. E a culpa é de fora, do Sócrates, do Passos Coelho, da Maçonaria e outros tantos que, salientam, criam problemas à Madeira. O problema nunca está aqui, na responsabilidade política de quem governa. Despedem-se pessoas, retira-se 15% às escolas privadas, aumenta-se desmesuradamente os encargos por ter filhos nos berçários, jardins-de-infância e creches, aplicam-se taxas moderadoras, reduzem-se 120 turmas (para já) o que significará despedimento de educadores e professores, há milhões por pagar nos sistemas de saúde e educativo, há empresas a fechar, há pobres a aumentar, e onde não é prioritário, gasta-se apenas com fins eleitoralistas. Até porque, por aquelas bandas, já existia uma igreja. Poderiam melhorá-la no que concerne às instalações adjacentes. Mas, não, uma nova foi a decisão. 
Que fique claro, nada tenho contra a Igreja Católica, muito menos contra o Senhor Bispo e todo o Clero. Respeito-os. Se escrevo é apenas porque há coisas que não batem certo. Apenas por isso. 
Ilustração: Google Imagens.

4 comentários:

Fernando Vouga disse...

Caro André Escórcio

Portugal é um país laico e a religião não é um serviço público.
Nesses termos, quem não é cliente de nenhuma religião não tem nada que pagar a religião dos outros. Quem a quiser que a pague.
Usar dinheiros públicos nessas actividades é, pura e simplesmente, uma execrável extorsão.

André Escórcio disse...

Caríssimo,
Concordo, em absoluto. Outra coisa é apoio social a muitas paróquias que visam a educação e o esbatimento das carências mais sentidas. Não fosse esse trabalho que muitas associações voluntárias fazem, o drama ainda seria maior.

Fernando Vouga disse...

Caro André Escórcio

Se a Igreja Católica quer brilhar fazendo obras de caridade, que o faça. Mas com dinheiros próprios ou que consiga angariar. Mas nunca com dinheiros do Estado. Quanto mais não seja, para acabar com a promiscuidade.

André Escórcio disse...

Também é defensável a sua posição, todavia, no quadro de uma sociedade que sobrevive na dependência, embora eu seja visceralmente contra a caridadezinha, aceito que as instituições da Igreja Católica e outras, possam (neste momento) atenuar um problema que ao Estado compete, em primeiro lugar, solucionar ou, no mínimo, esbater.