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domingo, 15 de julho de 2012

VENDER GATO POR LEBRE


Para além das palavras envoltas em mel, há que olhar para a questão ideológica, para os princípios e valores que defendem e para a história que os amarra. Vou ser mais claro: haverá alguma diferença substantiva entre o PSD e o CDS/PP? Se diferenças alguém encontrar, munido de uma lupa de dez aumentos, certamente que são marginais e que não influenciam o comportamento político genérico. São aves de roupagens idênticas, de bicos semelhantes e de olhar de águia para o que interessa. São aves que sabem esperar, são pacientes e que meticulosamente sabem como avançar para as presas. O que eu lamento é que comentadores existam que se deixam enredar pelas aparências e não pelas questões de fundo, isto é, pelas razões ideológicas que sustentam determinados discursos. Talvez, porque também tenham de fazer pela vida. Ora, quando leio a propapanda sobre as 100 propostas para a mudar a Madeira, obviamente, que solto uma gargalhada. Não basta assumir a existência de 100, 200 ou 300 propostas, interessa perceber o que se esconde, no plano ideológico, para lá do palco da comunicação. É fácil subir ao púlpito e dizer coisas que soam bem ao ouvido das pessoas. Outra coisa é a prática que deriva, não dos constrangimentos financeiros, mas da conceptualização do desenvolvimento e das prioridades estabelecidas.

Diz a voz popular que cada um tem de fazer pela vida. Nos partidos políticos o mesmo se verifica. Trata-se, muitas vezes, de uma questão de sobrevivência que conduz, na mor das vezes, à venda de gato por lebre. É por isso que se torna imperioso que o cidadão tenha consciência do que se esconde por detrás das palavras pretensamente cândidas, quase imaculadas, de uma pureza que parece não deixar dúvidas, palavras de pendor social e magnânimas. Tudo dito de uma forma convincente, mas escondendo que por detrás dessas palavras existe um pano de fundo ideológico, com uma longa, severa e implacável história de interesses. Não será necessário ir muito longe. Basta olhar e tomar consciência do que recentemente se passou, aqui mesmo ao lado, em Portugal e em Espanha. Sócrates e Zapatero foram colocados no cadafalso político e sacrificados em nome de interesses que estão para além das palavras. Sócrates tinha feito recuar o défice superior a 6% para menos de 3% e Zapatero, no primeiro mandato tinha apresentado um superávit nas contas públicas. Mas tudo serviu para os mudar. Não coloco em causa a necessidade das mudanças periódicas, mas o processo que a elas conduziu. Passos Coelho, Paulo Portas e Mariano Rajoy assumiram o poder, juraram lealdade e projecto político no sentido do bem-estar, mas o que estão a fazer é a prova evidente que venderam gato por lebre. As dificuldades e insucessos, deduz-se dos seus discursos políticos, agora, não são da sua responsabilidade, mas da crise internacional, pasme-se! E se formos um pouco mais atrás, qualquer cidadão atento, sabe que a crise internacional foi despoletada pelas políticas de direita que acabaram por varrer o mundo. Não foi a esquerda política a responsável primeira pela hecatombe económica e financeira. Poderá ter algumas culpas, mas não as essenciais. É por isso que, para além das palavras envoltas em mel, há que olhar para a questão ideológica, para os princípios e valores que defendem e para a história que os amarra.
Vou ser mais claro: haverá alguma diferença substantiva entre o PSD e o CDS/PP? Se diferenças alguém encontrar, munido de uma lupa de dez aumentos, certamente que são marginais e que não influenciam o comportamento político genérico. São aves de roupagens idênticas, de bicos semelhantes e de olhar de águia para o que interessa. São aves que sabem esperar, são pacientes e que, meticulosamente, qual jogo de xadrez, conhecem o momento de como avançar para as presas ou xeque-mate. O que eu lamento é que comentadores existam que se deixam enredar pelas aparências e não pelas questões de fundo, isto é, pela História e pelas razões ideológicas que determinados discursos escondem. Talvez porque também tenham de fazer pela vida.
Ora, quando leio a propapanda sobre as 100 propostas para a mudar a Madeira, obviamente, que solto uma gargalhada. Não porque tais propostas, aqui e ali, não sejam válidas, mas porque não são inovadoras nem acrescentam nada ao conhecido. Bastaria que a memória não fosse curta, que não se deixassem ir na voragem da notícia que existe no instante, mas olhassem e tivessem presente, por exemplo, as 187 páginas das "Bases Programáticas do Programa de Governo do PS-Madeira", um documento apresentado para a Legislatura de 2011-2015. Não sendo um programa acabado, uma bíblia, eu diria que estão lá, desenvolvidas, não cem, mas centenas de propostas para cada sector, área e domínio da governação, elaboradas ao longo de um ano de outras centenas de reuniões e audições. Lembro, ainda, a alguns comentadores da praça, que quando a candidatura do PS assumiu, em cartaz, que "A Madeira Faliu", quanta crítica teceram e quanto desprezo alguns manifestaram pela equipa técnica e política apresentada como alternativa. E, no entanto, pelos estudos efectuados, sabia-se a que Região estava e está falida. Esquecem-se, com total ligeireza, de todo o trabalho parlamentar realizado e não reconhecem que há muito boa gente habilitada no plágio político. Um exemplo: dominar o dossiê económico-financeiro, assunto basilar na Madeira, é uma coisa; outra, bem diferente, é andar a reboque.
Mas é assim, estas movimentações e empurrões não têm nada de estranho. O Jornalista Jorge de Campos citou Ben Baddikian no livro A Caixa Negra, onde a páginas tantas diz que eles "criam, processam, refinam e presidem à circulação de imagens e informações que determinam as crenças, as atitudes e os comportamentos" esperados. No fundo, porque interessa manter a memória bem curta, "quando produzem, deliberadamente, mensagens que não correspondem à realidade da existência social (...), acabam por se tornar gestores das mentes". Ora bem, não basta assumir a existência de 100, 200 ou 300 propostas, interessa perceber o que se esconde no plano ideológico, para lá do palco da comunicação. É fácil subir ao púlpito e dizer coisas que soam bem ao ouvido das pessoas. Outra coisa é a prática que deriva, não dos constrangimentos financeiros, mas da conceptualização do desenvolvimento e das prioridades estabelecidas. Oiço, por aí, a defesa do Serviço Nacional de Saúde, mas chegados à cadeira do poder, o que se verifica é que o conceito de serviço público torna-se restrito, é subtilmente empurrado para a negociata das seguradoras, ao mesmo tempo que cortam o apoio medicamentoso; oiço, por aí, a defesa da Escola Pública, depois lá vão deslizando, suavemente, para a escola privada. São, apenas, dois exemplos, entre muitos que testemunham as tais palavras cândidas que escondem outros interesses que se filiam em pressupostos ideológicos. Porque a questão é tão simples quanto esta: se é bom para o sector privado, porque não será para o sector público, enquanto sectores que constituem direitos constitucionais?
Estou numa fase da minha vida que, cada vez mais, me permite o distanciamento necessário para uma observação aos comportamentos políticos. Não abdico das minhas convicções político-partidárias, mas olho e reconheço pelo bulir dos lábios e pela práxis política que a direita é doutora apenas com recurso à análise do seu vastíssimo currículo. A direita, qual metáfora, é um caso Relvas que diz ter, mas não tem! Ao assumirem, tal como ainda ontem li, que é preciso pensar na geração seguinte e não na eleição seguinte, pressuposto que diferencia bem o estadista do mero político, a direita, pela sua postura ideológica, quer exactamente dizer o contrário. Quer adormecer os demais. E se assim não é, basta olhar com um mínimo de atenção para as atitudes que assumem nos diversos quadrantes da vida política em toda a Europa. Democraticamente, respeito-os, mas, à luz da História, o povo deve dispensar comprar gato por lebre.
Ilustração: Google Imagens.

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