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domingo, 28 de outubro de 2012

AS JORNADAS PARLAMENTARES DA MAIORIA


Não estamos no quilómetro 27 da maratona, estamos no início da corrida, senhor ministro, e a esmagadora maioria dos concorrentes já estão exaustos, estão cheios de "ácido láctico" tal o esforço que estão a fazer. Estão a ficar pelo caminho, completamente derrotados. Basta ver, diariamente, as reportagens junto das famílias, os desabafos de rua, as filas junto às instituições de emprego, o crescimento da pobreza, o esmagamento da classe média, a multiplicação da solidariedade social através de instituições e das cantinas sociais (não sei até quando). Basta ter presente o recente relatório da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, onde ficaram a nu a fome, os maus-tratos, a solidão, a falta de recursos financeiros e as condições habitacionais, situação que se multiplica por todo o País. Basta ter presente o que comentadores e analistas nos vários programas de televisão assumem, maioritariamente contra esta política. Mais, de patrões a sindicatos todos, por múltiplas razões, chumbam o Orçamento de Estado. Ainda ontem o Jornalista Nicolau Santos (Expresso) escreveu: "medidas que devastam uma economia são contraproducentes. Não perceber isto ou é fanatismo ideológico ou incapacidade em lidar com a realidade". Só esta troupe não vê!
 
 
Estes dois andam a brincar com o povo!
Começo por uma nota prévia e interessante que reaviva a memória. Tem dois anos, salvo erro. Era eu deputado e líder do grupo parlamentar do PS-Madeira. Por uma questão de contenção de custos e porque a Assembleia é a casa comum de todos os deputados eleitos pelo povo, comuniquei ao senhor presidente da Assembleia Legislativa da Madeira o interesse do meu grupo parlamentar em realizar, no espaço que é de todos, repito, de todos, umas jornadas parlamentares. Tal iniciativa não colidia com o funcionamento normal da Assembleia, pois estava agendada para um Sábado e Domingo, e, para além disso, nesses dias, apesar de encerrada, a Assembleia mantinha sempre um funcionário de serviço e um segurança de uma empresa privada. Recebi a resposta: não, não era possível por uma questão de princípio. Ainda questionei se aquela não era a casa dos deputados, dei como exemplo o que se passava na Assembleia da República e nos Açores, todavia, em vão. Tivemos de ir para uma sala de hotel e pagá-la à custa dos contribuintes. Essa decisão irritou-me, sobretudo porque ela transbordava de ausência de respeito pelo grupo parlamentar e ausência de sentido democrático, inserindo-se num quadro de quero, posso e mando por parte da maioria PSD naquele primeiro órgão de governo próprio. Ontem, na Assembleia da República, todos os deputados da coligação parlamentar (PSD/CDS), juntamente com o governo e convidados dos partidos, encheram os quase 250 lugares do hemiciclo para realizarem uma jornada de trabalho político conjunto. Seja para que efeitos tivesse sido, a verdade é que ninguém colocou entraves à realização dessa iniciativa. Aqui, certamente, continuaria a ser impossível. Porém, estou certo que mais cedo do que alguns pensam essas atitudes vão acabar. Mas adiante.
O encontro de ontem em S. Bento, sobretudo no que concerne a algumas declarações produzidas pelos ministros, ficou claro, muito claro, onde nos encontramos, com quem estamos e, sobretudo, o que nos espera. Um fala de "refundação" do programa de ajustamento (não sei bem isso o que é); outro de uma corrida de maratona e do quilómetro 27; outro sublinhou que o governo tem "rações de combate" para mais uma legislatura; uma outra salientou a necessidade serem "referências" pois sem isso, "dificilmente os portugueses aceitarão sacrifícios". Enfim, paleio, blá, blá, conversa de treta de uma ponta a outra, para consumo interno, como se esses disparos adiantassem alguma coisa.
Mas eles sabem que a situação real é bem diferente. Não estamos no quilómetro 27 da maratona, estamos no início da corrida, senhor ministro, e a esmagadora maioria dos concorrentes já estão exaustos, estão cheios de "ácido láctico" tal o esforço que estão a fazer. Estão a ficar pelo caminho, completamente derrotados. Basta ver, diariamente, as reportagens junto das famílias, os desabafos de rua, as filas junto às instituições de emprego, o crescimento da pobreza, o esmagamento da classe média, a multiplicação da solidariedade social através de instituições e das cantinas sociais (não sei até quando). Basta ter presente o recente relatório da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, onde ficaram a nu a fome, os maus-tratos, a solidão, a falta de recursos financeiros e as condições habitacionais, situação que se multiplica por todo o País. Basta ter presente o que comentadores e analistas nos vários programas de televisão assumem, maioritariamente contra esta política. Mais, de patrões a sindicatos todos, por múltiplas razões, chumbam o Orçamento de Estado. Ainda ontem o Jornalista Nicolau Santos (Expresso) escreveu: "medidas que devastam uma economia são contraproducentes. Não perceber isto ou é fanatismo ideológico ou incapacidade em lidar com a realidade". Outro, Miguel Cadilhe : "Não se trata de desistir do ajustamento da troika, mas de evitar o seu desaire". E o que dizer das declarações de Manuela Ferreira Leite (PSD) e de Bagão Félix (CDS), entre tantos que se têm pronunciado?
No meio disto leio o ignorante e oportunista Miguel Relvas, "licenciado" (até ver) que até teve "equivalências a cadeiras que não existiam" dizer no hemiciclo de S. Bento: "embora se assista a uma "crescente crispação em Portugal" e "a gritaria" tenha ocupado o debate público, não há "alternativa à austeridade e às reformas estruturais" do Governo (...) "Faltam 20 meses para acabar o programa de ajustamento. Portugal precisa de terminar a tarefa que iniciou" (...) "Fraquejar agora queria dizer que, na melhor das hipóteses, as instituições internacionais ficariam durante anos em Portugal. No pior cenário, adiávamos a cura da doença que arrastamos há demasiado tempo: a do atraso crónico, da inércia e da pobreza". Filho da mãe! É este sujeito que, ainda ontem, no "Eixo do Mal" (SIC), apelidaram-no de "vigarista", tem a lata de falar com uma total insensibilidade sobre o drama de um país que empobrece, que manda a juventude emigrar e que fala em "gritaria". Um oportunista que se tivesse um pingo de vergonha na cara há muito tinha ido embora.
Ontem foi mais um número de circo, mas, confesso, começo a ter muito receio dos próximos tempos. Manuel Alegre avisa: "isso dos brandos costumes é uma treta. De vez em quando este País passa-se". Não tenho a menor dúvida. E o Presidente da República, "por prudência", continua calado.
Ilustração: Google Imagens.

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