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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

MISSA DO GALO E OUTRAS MISSAS


Os fiéis saem "confortados" com a Palavra e dir-se-á que levam a "receita" para casa. Estive tentado a descer as escadas de acesso à Igreja do Colégio, "espetar" vinte euros em exemplares do Diário de Notícias, colocar ali ao lado do JM e esperar pela reacção. Bem me apeteceu, mas não o fiz. Prefiro ajudar quem precisa e da forma que posso. Agora, que é um descaramento, lá isso é. Na Madeira, um pouco por todo o lado, esta cena multiplica-se, tal como em qualquer regime ditatorial, o "jornal oficial", o jornal do regime é distribuído como forma de propaganda, com a anuência da Igreja. E a questão é esta: como pode um sacerdote, na Homilía, dissertar sobre uma série de aspectos de interesse colectivo, como pode apelar à solidariedade, quando, ali mesmo, na porta, os vendilhões servem-se do templo para vender a sua vergonhosa propaganda, paga pelos próprios fiéis através dos impostos?
 
Vendilhões do Templo
Eram 23:20 horas na noite de Natal. Entrei na Igreja do Colégio com a minha família. Logo ali, como primeira imagem, uma mesa com dezenas de jornais da edição de Natal do Jornal da Madeira. Fotografei. Logo atrás um prospecto com São João Evangelista na capa. Não como protector das letras escritas, obviamente.
Senti uma enorme repulsa, por três motivos essenciais: primeiro, o continuado descaramento do Senhor Bispo em permitir que ali, na casa que não tem partido político (dizem), o Jornal seja entregue aos fiéis, gratuitamente, no quadro da propaganda oficial, isto é, no quadro da promoção partidária do PSD-Madeira; segundo, porque aquele jornal é pago através dos impostos dos madeirenses e porto-santenses (51 milhões de euros nos últimos vinte anos), numa época difícil e onde todos apelam à solidariedade e o Senhor Bispo, particularmente, à caridade; terceiro, porque fora do espaço da igreja, na rua, sobre o passeio, o habitual ardina do DN-Madeira, sofrendo a desleal concorrência, lutava por vender por setenta cêntimos um produto fruto de muito trabalho que não é subsidiodependente.
Quando era muito jovem, à saída da Missa, vezes várias recebi um santinho; agora entregam o Jornal da Madeira. Os fiéis saem "confortados" com a Palavra e dir-se-á que levam a "receita" para casa. Estive tentado a descer as escadas de acesso à Igreja do Colégio, "espetar" vinte euros em exemplares do Diário de Notícias, colocar ali ao lado do JM e esperar pela reacção. Bem me apeteceu, mas não o fiz. Prefiro ajudar quem precisa e da forma que posso. Agora, que é um descaramento, lá isso é.
Na Madeira, um pouco por todo o lado, esta cena multiplica-se, tal como em qualquer regime ditatorial, o "jornal oficial", o jornal do regime, é distribuído como forma de propaganda, aqui com a anuência da Igreja. E a questão é esta: como pode um sacerdote, na Homilía, dissertar sobre uma série de aspectos de interesse colectivo, como pode apelar à solidariedade, quando, ali mesmo, na porta, à sua frente e nas costas dos fiéis, os vendilhões servem-se do templo para vender a sua vergonhosa propaganda, paga pelos próprios fiéis através dos seus impostos? Uma pessoa minimamente atenta será que é capaz de aceitar e de tolerar esta gritante incoerência? Ora, esta situação, tolerada pela hierarquia da Igreja, hierarquia que assobia para o lado, transporta o sinal de uma hierarquia claramente partidária, ao serviço de um poder que espezinha, que gera o desemprego e a pobreza, e perante ele mostra-se incapaz de impôr o que emerge da Palavra.
Curioso é que o Estatuto Editorial do JM assume o seguinte: "O JORNAL DA MADEIRA é um Diário de perspectiva cristã aberta a um são pluralismo ideológico, na fidelidade ao Evangelho e no amor da Verdade, visando a formação humana plena, que desperte os Homens para as suas responsabilidades e para a sua participação na construção do mundo contemporâneo, pelo que não está enfeudado a qualquer partido político, antes desenvolvendo uma visão crítica das realidades".
Não suporto esta hipocrisia que testemunha uma Igreja de joelhos perante o poder político-partidário. Mas, enfim...
Ilustração: Arquivo próprio.

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