Adsense

terça-feira, 12 de março de 2013

A FOME NÃO PODE ESPERAR


Em função da História dos comportamentos do governo, acredito mais no Ministério do que na treta justificada pelo Secretário. Sendo assim, um governo que desperdiça, em tempo real, mais de um milhão de euros no combate às necessidades primárias, não tem perdão.  O que se deduz da denúncia do Ministério é que preferem esconder a fome do que dizer que existe fome na Madeira. E perante isto, o povo que procura trabalho leva com mais um epíteto: "vadios". Já foram "cachorros" e agora "vadios que vivem sem trabalhar e à custa dos impostos" e ainda ousam vir para rua "fazer barulho". Há, naquelas declarações, qualquer coisa de povo errante, que anda por aí a ladrar, e a investir sem açaime, porque libertou-se do dono, fugiu porque conseguiu roer a trela que o senhorio colocou há muitos anos.  Quando ele se refere ao povo como gente que ladra e  vadios, só é possível contextualizar essa caracterização com aquele que, ao fim e ao cabo, é tido como o animal mais amigo do homem. E nem esse o quer. Ademais, os cães são aquilo que os donos querem que sejam, pelo que, neste caso, já nem reconhecem o "dono".


Não há fome, mas as pessoas fazem fila, expõem-se
por um cabaz que só resolve por poucos dias!
FACTO:
Li, na edição de ontem do DN-Madeira que, em 2012, foram atribuídos 1,2 milhões de euros para funcionamento das cantinas sociais e que a Madeira apenas aproveitou 8% dessa verba. Assumiu o Ministério: "(...) Por despacho de 27/06/2012 do secretário de Estado da Solidariedade Social, foi aprovada e definida para 2012, uma dotação de 1.281.582 euros para a Região Autónoma da Madeira no âmbito do Programa de Emergência Alimentar" (...) "A execução foi de apenas 100.000 euros sendo que a Madeira nunca solicitou em 2012 mais verba para além da executada". Ou seja, a Região executou apenas 8% do valor atribuído, salienta a Jornalista Sandra Cardoso do DN. Curiosamente, o secretário dos Assuntos Sociais da Madeira, tinha assumido, em Janeiro último, que a Região apresentou 11 candidaturas, mas que o Ministério apenas atribuiu 100 mil euros que davam para abrir três cantinas". Entretanto, hoje, vem o Secretário confirmar que até ao final de 2012, a Região não tinha recebido quaisquer outras verbas embora estivesse definido pela Secretaria de Estado que seriam entregues 1,2 milhões no total e que face à posição da Secretaria de Estado, a SRAS estranhava que fosse necessário que tal verba tivesse que ser solicitada pela Região, quando o valor da dotação já tinha sido aprovada pelo Governo da República. Ora, trata-se de uma desculpa esfarrapada, quando se sabe que, em outras situações, desde que cheire a dinheiro, ninguém neste governo pára enquanto o cheque não entra nos cofres.
COMENTÁRIO:
Em função da História dos comportamentos do governo, acredito mais no Ministério do que na treta do Secretário. Sendo assim, um governo que desta forma trata as necessidades primárias, não tem perdão. O que deduzo daquela situação é que preferem esconder a fome do que dizer que existe fome na Madeira. Na perspectiva do poder, assumir a realidade significaria demonstrar a total falência do sistema político que venderam durante trinta e tal anos. Não estão para aí virados. Quando li aquela peça jornalística e a resposta da Secretaria sintetizei que não existe outra aberração tão grave por parte de um governo do que tirar o pão da boca de quem nada tem. E das duas uma: ou este assunto é totalmente escalpelizado, sem desculpas esfarrapadas, ou o Ministro ou o Secretário não têm condições para continuar a governar. Doa a quem doer este é um dos assuntos que, politica e socialmente, não podem passar em vão. Os madeirenses e porto-santenses têm o direito de saber toda a verdade. Justifica-se, por isso, uma comissão de inquérito na Assembleia Legislativa da Madeira e torna-se, fundamental, que as instituições de solidariedade social questionem o secretário sobre esta pouca-vergonha. Agora percebe-se, entre outros exemplos, porque não queriam uma cantina social no Funchal. Não basta as instituições virem para a televisão e para os jornais dizerem que há cada vez mais pobres e que não sabem como combater as necessidades. Não basta pedir a solidariedade à porta dos supermercados, quando o governo, alegadamente, deixa deslizar mais de um milhão de euros em 2012, quando a fome não pode esperar. Alguém tem de ser julgado politicamente e alguém tem de assumir as responsabilidades.
Há que aguardar pelo desenvolvimento deste caso. O Ministério posicionou-se, resta agora determinar o grau de "verdade" do contraponto feito pelo secretário regional. Mas, um político que disse, em tempos, quando a pobreza já evidenciava uma expressão numérica muito grave, que, na Madeira, a respectiva taxa rondaria os 4%, não me espanta nada, rigorosamente nada, que evidencie uma continuada tendência para esconder a realidade.
Mas nada disto me admira. Já aqui o disse e volto a reafirmar que o círculo vicioso da pobreza só pode ser rompido com um investimento muito sério na Educação. E isso não aconteceu nem está a acontecer. Escolarizaram, por obrigação constitucional, mas não criaram os pressupostos necessários para que cada cidadão tomasse as rédeas do seu próprio futuro. Os indicadores não deixam margem para dúvidas, desde o analfabetismo (quase 17.000), às frágeis habilitações académicas de uma significativa parte da população, que impedem uma resposta adequada a este novo mundo, até ao preocupante abandono do sistema educativo, passando, até, pela posição que a Escola da Madeira, globalmente, ocupa no contexto nacional. Politicamente, eu diria que uma certa estupidificação do povo foi intencional: procuraram controlar o sistema de alto a baixo, impediram a autonomia dos estabelecimentos de educação e ensino, reduzindo-lhes a capacidade de manobra de inovação e criatividade, encurralaram-nos em dívidas, não se preocuparam nem definiram políticas relativamente a tudo o que acontece a montante do sistema educativo (nas famílias), apenas porque queriam uma população ignorante e dependente onde é mais fácil semear uma doutrina, tal como no tempo salazarista, cujo mentor apregoava: “pobre mas honrado”, máxima enquadrada na moral do regime de então.
E perante isto, o povo que procura trabalho leva com mais um epíteto: "vadios". Já foram "cachorros" e agora "vadios que vivem sem trabalhar e à custa dos impostos" e ainda ousam vir para rua "fazer barulho". Há, naquelas declarações, qualquer coisa de povo errante, que anda por aí a ladrar, e a investir sem açaime, porque libertou-se do dono, fugiu porque conseguiu roer a trela que o senhorio colocou há muitos anos.  Quando ele se refere ao povo como gente que ladra e  vadios, só é possível contextualizar essa caracterização com aquele que, ao fim e ao cabo, é tido como o animal mais amigo do homem. E nem esse o quer. Ademais, os cães são aquilo que os donos querem que sejam, pelo que, neste caso, já nem reconhecem o "dono".
Assuntos que esta manhã, na Assembleia, espero, que com o tempo ilimitado que o presidente tem para falar (que grande democracia esta!) não se esqueça de esclarecer a situação da fome e do desleixo em não aproveitar os fundos disponíveis.
Ilustração: Google Imagens.

Sem comentários: