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segunda-feira, 22 de abril de 2013

O "PROJECTO FABULOSO"


Os 118 sem-abrigo são, por isso, fruto das políticas da "Madeira-Nova", políticas essas que tiveram em conta o aumento do fosso entre os riquíssimos e os que foram atirados para as margens. E no meio desta galopante pobreza, revolta-me, ver um secretário dos assuntos sociais e saúde, no Bairro da Nogueira, com a comunicação social em seu redor, a falar de um "projecto fabuloso", que irá garantir "melhores condições para viver bem aqui", porque "há necessidades que precisam ser satisfeitas". Ele foi ali fazer um número político, aliviar um pouco a má consciência política, simplesmente porque o drama social é muito mais profundo  do que disponibilizar espaços para uma agricultura de subsistência. O "projecto fabuloso" talvez signifique: peguem lá uns metros quadrados, plantem umas alfaces, umas batatas e o problema fica resolvido. Não fica, porque só há uma forma de romper com o círculo vicioso da pobreza, e essa é através da educação. E como assumiu o Doutor Bruto da Costa, o estado em que nos encontramos só se resolve "dando o peixe e ensinando a pescar". Queria ele dizer com isto que as pessoas precisam de apoio imediato e de educação. Até o dia que precisem só de educação. E uma situação e outra fazem apelo a "programas fabulosos" que estão muito para além do penso rápido! A ferida social é muito profunda e aquilo que sinto é que o governo não sabe por onde começar, fundamentalmente porque está envolvido numa cultura que olha a pobreza como uma fatalidade. E ela não é. Há processos que podem levar anos, e levarão certamente, mas quando não existe um caminho e uma saudável e consistente utopia, nunca lá se chega. Um problema também de prioridades pelo que gostaria de ter números certos dos dinheiros gastos em obras megalómanas e em apoios inconsequentes, para aí percebermos, com outro tipo de investimento se não teríamos dado "fabulosos" passos no sentido da erradicação da pobreza. 



A esperança dos 118 sem-abrigo estará na revisão constitucional apresentada pelo presidente do governo da Madeira? Obviamente que não. A Constituição, por mais voltas que se dê, não resolve uma questão que pertence à sensibilidade e às políticas sociais de quem tem a responsabilidade de governar. Tanto assim é que a actual Lei Fundamental, a tal que ele argumenta ser a origem dos problemas da Madeira, já consubstancia, no capítulo II (Direitos e Deveres Sociais), a segurança social e solidariedade, a saúde, a habitação, o ambiente e a qualidade vida, a família, a paternidade e a maternidade, a infância, a juventude, os cidadãos portadores de deficiência e a terceira idade. Isto para não falar dos direitos e deveres culturais, onde se inscrevem, entre outros, a educação, o ensino e a cultura. Estou também em crer que qualquer revisão, nesta onda liberalizadora onde o Estado tendencialmente tende a sacudir as suas responsabilidades, a única coisa que fará é a de coarctar, cada vez mais, tais direitos de raiz universal, porque ao Homem dizem respeito.
Os 118 sem-abrigo, com tendência para o crescimento do número, são, por isso, fruto das políticas da "Madeira-Nova", políticas essas que tiveram em conta o aumento do fosso entre os riquíssimos e os que foram atirados para as margens. E no meio disto, desta galopante pobreza, revolta-me, ver um secretário dos assuntos sociais e saúde, no Bairro da Nogueira, com a comunicação social em seu redor, a falar de um "projecto fabuloso", que irá garantir "melhores condições para viver bem aqui", porque "há necessidades que precisam ser satisfeitas". O tal "projecto fabuloso" reporta-se a hortas familiares e a lotes destinados à "exploração agrícola/empresarial", de modo a "dar oportunidade" a desempregados do bairro que ali "queiram desenvolver um projecto agrícola". Ele foi ali fazer um número político, aliviar um pouco a má consciência política, simplesmente porque o drama social é muito mais profundo (em toda a região) do que disponibilizar espaços para uma agricultura de subsistência. Isto para não falar da pomposa designação "exploração agrícola/empresarial" num bairro muito pobre onde muitas famílias contam cêntimos para resolver as necessidades diárias. O "projecto fabuloso" talvez signifique: peguem lá uns metros quadrados, plantem umas alfaces, umas batatas e o problema fica resolvido. Não fica, porque só há uma forma de romper com o círculo vicioso da pobreza, e essa é através da educação. E como assumiu o Doutor Bruto da Costa, numa passagem pelo Funchal, o estado em que nos encontramos só se resolve "dando o peixe e ensinando a pescar". Queria ele dizer com isto que as pessoas precisam de apoio imediato e de educação. Até o dia que precisem só de educação. E uma situação e outra fazem apelo a "programas fabulosos" que estão muito para além do penso rápido! A ferida social é muito profunda e aquilo que sinto é que o governo não sabe por onde começar, fundamentalmente porque está envolvido numa cultura que olha a pobreza como uma fatalidade. E ela não é. Há processos que podem levar anos, e levarão certamente, mas quando não existe um caminho e uma saudável e consistente utopia, nunca lá se chega. Um problema também de prioridades pelo que gostaria de ter números certos dos dinheiros gastos em obras megalómanas e em apoios inconsequentes, para aí percebermos, com outro tipo de investimento se não teríamos dado "fabulosos" passos no sentido da erradicação da pobreza.
Ilustração: Google Imagens.

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