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sábado, 20 de abril de 2013

PESPORRÊNCIA EM ESTADO PURO


Mas se isto é doloroso, absolutamente indecorosa é a posição da Drª Bernardete Vieira, responsável pela Segurança Social na Madeira, quando disse ao DN que não comentava casos denunciados à comunicação social. Como se aquela família não tivesse direito de denunciar a sua situação e de pedir ajuda pública; como se alguém, ainda por cima com crianças, tivesse que colocar um adesivo na boca e silenciar a sua situação. Irrita-me esta pesporrência, quando do Orçamento Regional nem migalhas chegam a sair para o apoio aos que mais necessitam. Enquanto isto acontece, no meio de tantas famílias que passam fome, leio que o presidente do governo vai apresentar o "Deve e o Haver" dos últimos 500 anos(!) entre o Estado e a Região. Como se isso resolvesse alguma coisa. O que ele deveria apresentar, linha a linha, isto é, sem facturas escondidas, era o deve e o haver dos últimos trinta anos da sua governação.


A Jornalista Patrícia Gaspar assina, na edição de hoje do DN, uma peça chocante. Nada que não se saiba sobre os desconfortos que por aí andam, mas porque lendo e mastigando as palavras, elas acabam por tocar-nos, profundamente. Em discurso directo, o casal desemprego assume: "(...) Não sei como chegámos aqui: eu já não janto há quatro dias, o banco tomou conta do carro, os vizinhos ajudam no que podem, não sei o que será no futuro", desabafa Mariana. Na casa dos sogros, agora colocada à venda pelos herdeiros, o casal acomoda-se no sótão. Há três colchões distribuídos pelo chão, um velho berço e algumas peças de roupa. Num canto, jazem meia dúzia fraldas - as últimas - de tamanho seis -, um "ovo" emprestado para o bebé que se segue e uma alcofa cedida pela vizinha" (...). Mariana aguenta as lágrimas: "(...) Elas ainda não passam fome. Tenho massa, tenho leite, mas é doloroso quando me pedem uma bolacha ou uma papa e não tenho para dar". Este é o quadro de uma realidade que se multiplica por aí fora: desemprego, pobreza e crianças em sofrimento.
Mas se isto é doloroso, absolutamente indecorosa é a posição da Drª Bernardete Vieira, responsável pela Segurança Social na Madeira, quando disse ao DN que não comentava casos denunciados à comunicação social. Como se aquela família não tivesse direito de denunciar a sua situação e de pedir ajuda pública; como se alguém, ainda por cima com crianças, tivesse que colocar um adesivo na boca e silenciar a sua situação. Indecorosa, ainda, porque todos os apoios têm proveniência no Orçamento de Estado e não no Orçamento da Região (e mesmo que assim não fosse). O que deveria ter esclarecido é se essa família está ou não referenciada, se recebe ou não subsídios, se é acompanhada ou não a todos os níveis, inclusive, no direito à privacidade e no aconselhamento, uma vez que vem a caminho um terceiro filho! Irrita-me aquela pesporrência, quando do Orçamento Regional nem migalhas chegam a sair para o apoio aos que mais necessitam. 
Enquanto isto acontece, no meio de tantas famílias que passam fome, leio que o presidente do governo vai apresentar o "Deve e o Haver" dos últimos 500 anos (!) entre o Estado e a Região. Como se isso resolvesse alguma coisa. O que ele deveria apresentar, linha a linha, isto é, sem facturas escondidas, era o deve e o haver dos últimos trinta anos da sua governação. E lamento que um historiador, o Doutor Alberto Vieira, se preste a um número destes, que tem muito de oportunismo político-partidário e pouco de História. Mas, enfim, isso pouco me rala. Preocupa-me, sim, que enquanto uns vão discutindo o vazio, outros passem fome.
Ilustração: DN-Madeira.

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