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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

PRAZO DE VALIDADE ESGOTADO


Olho para aquele naipe de governantes da Madeira e fico arrepiado. Como é possível, quase quarenta anos depois, olhar, escutar e concluir que não conseguem alterar uma vírgula a um discurso com barbas maiores que as do "Pai Natal". Como é possível repetir o discurso de 2013, igual ao de 2012, este igual ao de 2011 e por adiante. O essencial é sempre o mesmo. Espreme-se e conclui-se o mesmo. A receita é sempre igual para problemas e contextos diferentes. Aldrabam com tez séria e compenetrada, ofendem a oposição que tem de ser, na sua concepção da democracia, dócil e submissa, atiram para Lisboa os erros estratégicos da responsabilidade de quem governou a Madeira, falam de um roubo que vem desde o Gonçalves Zarco e seus sucessores, para justificar o colapso financeiro pela "obrite aguda" dos últimos trinta e tal anos, fantasiam com os grupos económicos históricos da "Madeira Velha" e esquecem-se, propositadamente, dos grupos económicos que vivem à mesa do orçamento da "Madeira Nova", fazem discursos ocos, hilariantes, descontextualizados como se toda a plateia regional fosse inculta e incapaz de observar o que se está a passar, enfim, pergunto, como é possível aturar esta gentinha que faz do exercício da política as suas profissões?


Qualquer eleitor ouve-os e fica, se não estiver preparado e contextualizado, no mínimo, na dúvida, se não terão razão, tal a desfaçatez, a lábia e o tom dos discursos! Falam com uma tamanha superioridade e arrogância, quando aquela maioria está pregada com cuspo, face à expressão numérica da maioria face à oposição. Mas falam, apontam o dedo, tal como os senhorios no tempo da colonia. Não aprenderam nada com as eleições de 29 de Setembro, nas quais, de uma assentada, perderam sete das onze câmaras. Fazem-me lembrar um meu velho Amigo e distinto Colega de profissão, já falecido, que me dizia que estes sujeitos parecem "fidalgos, cheios de porcaria até ao pescoço, mas continuam a arrotar fidalguia, nobreza e sobranceria relativamente aos outros". Manifestam-se vestidos de smoking mas estão descalços. Continuam a pensar, e estes últimos dias no Parlamento assim demonstrou, que os meios mais abstrusos justificam os fins que se confinam na perpetuação no poder e na distribuição das benesses. 
Aceito a existência de muitos eleitores que continuam a acreditar que aquele naipe é a solução e não o problema. Respeito-os. Porém, o indicador das últimas autárquicas leva-me a prognosticar que em 2015 serão, implacavelmente, varridos, mesmo que aumentem para o dobro a edição diária do Jornal da Madeira, mesmo que o Senhor D. António Carrilho continue a falar de fé e a fazer de conta que nada se passa, mesmo que o Senhor Representante da República escolha no seu GPS político uma navegação segura e rente à costa. O discurso da ilusão, a astúcia e a manha têm os dias contados, porque, por mais que se esforcem, tudo tem um prazo de validade. Este já esgotou, a lata está aberta há muito tempo e cheira muito mal.  
O Orçamento foi aprovado na generalidade, as propostas de alteração na especialidade, como é habitual, serão, genericamente, chumbadas, passará uma ou outra inócua, enquanto excepção que confirma a regra. Entretanto, meter-se-á o Natal e o fim de ano, a faustosidade de uns (que não invejo) terá como contraponto a miséria de milhares (que me deixa irritado) e em Janeiro logo se verá! Mas que vai começar a dar coisa feia, penso que poucas dúvidas subsistem.
NOTA

Entretanto, a sessão de ontem ficou marcada pelo desprestígio da Assembleia. Tornou-se na Assembleia da Vergonha. Podem o Presidente da Assembleia e o Presidente do Governo argumentarem como quiserem e entenderem, mas o uso da força nada resolve. Os funcionários não são polícias, nem podem nem devem sujeitar-se a situações como aquelas que ofendem a sua própria dignidade. É sempre preferível suspender a sessão, convocar uma reunião de líderes, dialogar com os restantes partidos com deputado único, solicitar bom senso e retomar os trabalhos. Mesmo que a sessão tivesse de ser adiada para o dia seguinte. 
Aliás, diz-nos a história que as provocações rasteiras e as humilhações que não são do domínio público mas que ali se passam, têm um peso muito grande do lado da maioria política que se sente "dona" da Assembleia. Esse ambiente respira-se por todo o lado, desde o hemiciclo ao 2º andar. A Assembleia é dos eleitos pela Madeira e pelo Porto Santo e a quem, legitimamente, a preside compete anular as tensões, por um lado, porque é apenas um deputado igual a todos os outros, por outro, porque a defesa da imagem do primeiro órgão de governo próprio deverá estar sempre presente. Tanto assim é que, na oposição, todos ou quase todos repudiaram aquela atitude. 
Não comento a habitual e deselegante saída do governo quando alguns deputados falam (questão de democracia vs ditadura), como não comento a situação que daí derivou. Comento sim e lamento a imagem pública que uma vez mais foi dada em directo!
Ilustração: Google Imagens e Arquivo próprio.

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