Adsense

sábado, 12 de abril de 2014

CUNHA E SILVA, O ESPELHO DA "EVOLUÇÃO NA CONTINUIDADE"


Quando um membro do governo, legítimo candidato à liderança do seu partido político, assume como frase-chave mudar "o que deve ser mudado", conduz a que, de imediato, lhe seja feita uma pergunta: por que não mudou estando há tantos anos, desde o século passado, no centro da decisão política? Ora, o Dr. Cunha e Silva apresenta-se como uma espécie de Marcelo Caetano, que sucedeu a António de Oliveira Salazar, ao procurar construir uma política de "evolução na continuidade". Só que, nesse tempo, os militares e o povo não foram nessa. Das suas palavras infiro que se propõe mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma. O seu elogio a Jardim prova-o, inequivocamente. Mas, muito mais curioso do que as suas palavras de circunstância, foi a foto que vi e aqui publico (blogue: fenixdoatlantico), onde a assistência, de cabisbaixo, mais parecia assistir a um velório, neste caso político! Também aqui duas perguntas me assaltaram: primeira, em função de tantas baleeiras, será esta a que devo entrar?; segunda, o que dirá o "chefe" do meu posicionamento, uma vez que, alegadamente, apoia outro candidato?


Tenho vindo aqui a expressar que o PSD-M precisa de uma longa cura de oposição. E cada vez estou mais convencido disso. O que por aí anda é um claro assalto ao poder na perspectiva de garantir a continuidade das políticas e dos lugares daqueles que se abrigaram sob as teias desse tentacular poder. Não existe nada de novo, quer entre os mais velhos, quer entre a geração defensora da "Autonomia XXI". Todos trazem no seu repertório a mesma letra embora com melodias aqui e ali ligeiramente diferentes. Mas a canção continua a ser perfeitamente identificada, pois roda há quase quarenta anos. Como é possível apresentar-se aos eleitores (internos ou externos) com uma imagem de credibilidade política, quando não foram capazes de criar as condições geradoras de um governo "ágil, eficiente, desburocratizado e próximo dos cidadãos", quando sempre foram a referência máxima de que a "obra" física estava primeiro que as pessoas? 
"Para nós, são as pessoas que contam", disse o candidato. E não foram as megalomanias das sociedades de desenvolvimento, por exemplo, que potenciaram a colossal dívida (impagável), o desemprego e a pobreza na qual mergulharam desde os jovens a uma grande parte da classe média? As pessoas contaram(?) quando o governo a que pertence o candidato mandou a maioria chumbar todas as propostas da oposição que visavam atribuir, tal como nos Açores, um complemento de pensão mensal (€ 50/60,00) e cujo objectivo era o de atenuar as dificuldades sentidas? Ser, agora, "solidário com os mais fracos" não traz no seu bojo uma atitude de tons hipócritas? Como é possível acreditar naquele paleio, quando estamos todos a pagar uma dupla austeridade por obras desnecessárias, já não falo da marina do Lugar de Baixo, mas de tantas outras desajustadas da realidade, algumas ao abandono, que apenas serviram para alimentar certos lóbis que, entretanto, fizeram fortuna? Como acreditar na promessa de respeito pelos "adversários da oposição”, com quem pretende manter "relações institucionais democráticas e úteis", quando toda a práxis foi sempre, mas sempre, contra qualquer tipo de diálogo institucional? Que razões levaram a que nunca se tivesse disponibilizado para ir à Assembleia responder a mais de 400 questões sobre as sociedades de desenvolvimento, apresentadas pelo PS-Madeira? É evidente que poderá dizer que essa era a política do "chefe"! Pois, e porque não se demarcou, não saiu, não assumiu a diferença conceptual? 
No meio daquela sessão, li uma frase com algum significado político, quando o candidato disse ter como preocupação "recuperar a crise que assolou o mundo e regressar aos níveis que já tivemos no seio da UE". Tem significado político porque Sócrates sempre foi apontado como o homem do colapso. Deu jeito que assim fosse, aquela permanente busca de um inimigo externo, de um bode expiatório. Agora, a responsabilidade parece ser da conjuntura internacional, em geral, e da União Europeia em particular. Por omissão, Sócrates parece que, afinal, foi o salvador da Região com a implementação da Lei de Meios, pois se tal não tivesse acontecido o colapso da Madeira teria sido mais cedo e mais estrondoso. Por mais que me custe dizer, porque o 20 de Fevereiro foi terrível, o governo, politicamente, sobreviveu, exactamente porque houve o 20 de Fevereiro!
Em suma, há muito Francesco Schettino a tentar sacudir a responsabilidade e, "acidentalmente", a cair na baleeira que o leve para longe do navio da governação, sentando-se no rochedo para falar, agora que os calos estão a doer, de um partido "aberto, distendido e democrático" (...) "identificado com os madeirenses" (...) "jovem e sem paternalismos" (...) "um partido que fale claro e de assuntos que o povo entenda e tenha que ver com a vida dele". Para acreditar nisto eu tinha de esquecer tudo o que sei.
Ilustração: http://fenixdoatlantico.blogspot.pt/

Sem comentários: