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sexta-feira, 18 de abril de 2014

"UMA IGREJA MAIS CRISTÃ E MENOS CATÓLICA"



Estou certo que este não é o dia mais adequado face à solenidade Pascal, mas porque sou cristão não consigo ceder aos meus princípios. Simplesmente porque li o que o chefe da Igreja madeirense referiu na homilia de ontem: "(...) Caros sacerdotes, é necessário e urgente escutar o espírito de Deus que nos ungiu e consagrou para a missão. Ele suscita em nós um desejo sincero de renovação e maior atenção à realidade humana e social do tempo presente" (...) "Queria pedir uma atenção particular à presente conjuntura económica e social na descoberta das carências, necessidades e problemas do povo que vos está confiado. Nesse sentido, seria bom que, juntos, pudéssemos descobrir novos projectos e dar novo vigor àqueles que já existem e às vezes não são suficientemente valorizados". Tiro fora do alvo. Ainda mais, Senhor Bispo? Não fossem as instituições particulares de solidariedade social onde associo o notável trabalho de muitos párocos, que reúnem à sua volta centenas de pessoas que ajudam na solução dos problemas das famílias e teríamos uma catástrofe social. Ao invés, o grande recado não deveria ser para a generalidade dos senhores Padres, mas para um governo regional que não tem em atenção o que se está a passar na comunidade. O tiro do Senhor Bispo foi, repito, para fora do alvo. Ao não querer ser político acabou por sê-lo ao branquear a acção governativa. De resto, não é a primeira vez. A questão da pobreza e dos excluídos, obviamente que o Senhor Bispo sabe, não se resolve com atitudes de caridade, mas indo ao centro do problema e incentivando os poderes criados a terem em atenção as gravíssimas assimetrias sociais. É aí que se encontra o centro do alvo, doa a quem  doer!


A política visa isso mesmo. Não me levem a mal, porque não vou ser politicamente correcto, mas olho para o Papa Francisco e vejo o futuro, alguma esperança; olho para o Bispo Carrilho e vejo nele o passado. Mesmo que tente as peugadas de Francisco, com algumas citações, não chega lá. Eu compreendo a dificuldade. Há muita pedra no sapato, entre outras, três que são públicas e notórias: o Jornal da Madeira, que retira cerca de € 11.000,00 por dia que poderiam ser de apoio aos marginalizados; os défices de várias comissões fabriqueiras que edificaram um excessivo número de templos face ao quadro social em que vivemos; finalmente, a suspensão a divinis, assunto claramente político, que envolve o Padre Martins Junior e que não há maneira de ser resolvido. Nem o julga em Tribunal Eclesiástico nem o reintegra. Está ali, em lume brando, talvez à espera que Jardim saia do poder. São assuntos que impõem enervantes silêncios. Um Bispo deve, na minha opinião, assumir-se pela Palavra e ter essa capacidade de colocar os poderes políticos em sentido. Mas compreendo que assim não seja. Houve alguém que disse que teve sempre os Bispos que interessavam à Madeira. Pois, tal como o "omo", mais branco não há! 
Já tem uns anos, cruzei-me e mantive um diálogo com um Bispo que considero notável. Um Homem que teve o condão de mexer comigo, pelas sábias palavras e conceitos que me transmitiu. Simples, afável, directo, com um sentimento da importância da Igreja no contraponto com o poder político, disse-me, com palavras sem rodeios, aquilo que dizia no púlpito. A páginas tantas foi muito claro quando, olhando-me nos olhos, me disse que os madeirenses e portosantenses precisavam de "um bispo de cultura". Eu percebi a palavra cultura, no contexto em que falávamos, muito para além do significado da palavra. Entendi-a como a capacidade de alguém, que não dependendo de ninguém, sabe cruzar todos os dados, sabe elaborar sínteses e dizer em alto e bom som as fragilidades de que a sociedade padece. Mais tarde, telefonei-lhe no sentido de convidá-lo para um debate. Falámos de questões sociais, da Missão da Igreja, da importância desse encontro para ouvir e participar nos desencontros. Ficou de acertar a data em função da sua disponibilidade. Não chegou a realizar-se, mas tive pena. Nós precisamos disto, de uma "Igreja mais cristã e menos católica", frontal e envolvente, na esteira do que me disse um Padre desta Região, a quem me ligam laços de respeito,  consideração e Amizade, ele também apostado na solidariedade e na Palavra e que não precisa, como tantos outros, de ouvir recados de  apelo à caridade. Ademais, o povo não precisa de lengalengas que a nada conduzem, porque o disco está velho demais para um tempo que precisa de gente que não bata no peito ao Domingo e infernize a vida das pessoas ao longo da semana.
Ilustração: Google Imagens.

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