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terça-feira, 3 de junho de 2014

UM TEXTO DE AMOR E MEMÓRIA


Batalhámos por mais salários. Foste tu quem impulsionou a aplicação do primeiro salário mínimo (3.300 escudos) na Madeira. Lutámos pelo direito à reforma para todos(as) os(as) que trabalhavam, pelo direito à habitação e pelo fim das furnas e das barracas, por melhores acessos e estradas, por um serviço regional de saúde ao serviço do utente que dele necessitasse, por uma segurança social mais solidária com os mais necessitados, por um melhor ambiente contra a especulação imobiliária e pela proteção do nosso litoral, pela defesas de políticas de igualdade onde a mulher ocupasse o espaço que é seu por direito, etc, etc… Acreditámos sempre que a nossa intervenção na política era uma missão por causas públicas para melhorar sempre as condições de vida das pessoas. Ao defender estas e outras causas nunca perguntámos aos beneficiados(as) qual era o partido em que votavam. Sabemos mesmo que a maioria votava em partidos opostos ao nosso. Mas sentíamos que estávamos a fazer o nosso dever e a nossa consciência estava sempre muito tranquila. Gostávamos de andar na rua de cabeça levantada.

Senhora D. Guida Vieira

Conheço o Paulo Martins há muitos anos. Tenho por ele uma grande consideração e estima, embora  a nossa convivência tivesse ficado por encontros pontuais e pela nossa participação enquanto deputados na Assembleia Legislativa da Madeira. Em Dezembro último visitei-o quando ele se encontrava hospitalizado e em recuperação. Disse-me que dali não saía sem estar recuperado. Espero que rapidamente aconteça. Entretanto, ontem, li um texto de amor e de memória política, escrito pela Guida Vieira, sua companheira de sempre e grande lutadora pelas causas sociais. Não fiquei insensível ao texto e aqui o deixo:
"Faz precisamente este mês 36 anos que legalizámos a nossa relação de casal. Agora que estás doente, acho que te devia dedicar este artigo porque sei que a situação política que estamos a viver sempre te preocupou, talvez demasiado, e que, se conseguisses escrever, continuarias a ser aquele Paulo que todos(as) aprendemos a respeitar e a ouvir e a ler com muito respeito e atenção. Lutámos toda uma vida, mais de 40 anos, para que as pessoas no nosso País e na nossa Região tivessem direito a viver com a dignidade que lhe tinha sido negada pelo fascismo. Agora que tudo começa a ruir, com a ação destes governos sem escrúpulos e sem consideração pela luta desencadeada ao longo de décadas, é bom relembrar, e tu mereces isso, que muita gente trabalhou e batalhou para que o futuro fosse mais feliz para as novas gerações.
Lutámos e conquistámos muitos direitos que dignificaram quem trabalhava e quem se reformava. Sei o quanto lutaste pelos direitos cívicos e políticos e que sempre te bateste para que a Assembleia Regional, onde foste um digno Deputado durante 26 anos, tivesse uma lei de incompatibilidades, que separasse claramente a atividade política de outros interesses económicos. Sempre foste contra a promiscuidade de interesses e dedicaste-te de corpo inteiro ao exercício da política na defesa de causas públicas.
Lutámos juntos por direitos políticos para todos(as), por uma Autonomia regional ao serviço dos(as) madeirenses, com impostos mais baixos que compensassem os custos da insularidade. Combateste ao lado dos Caseiros pelo fim da colonia, e tiveste uma intervenção social nessa luta da qual, ainda hoje, há gente que se recorda. Foste pioneiro em levar ao Parlamento regional as leis das bordadeiras de casa, que lhes deram muitos direitos que, até então, nunca tinham tido. Convenceste, com os teus argumentos para estas causas, todos os restantes parlamentares, que mesmo sendo adversários políticos, reconheciam o mérito dos teus argumentos.
Batalhámos por mais salários. Foste tu quem impulsionou a aplicação do primeiro salário mínimo (3.300 escudos) na Madeira. Lutámos pelo direito à reforma para todos(as) os(as) que trabalhavam, pelo direito à habitação e pelo fim das furnas e das barracas, por melhores acessos e estradas, por um serviço regional de saúde ao serviço do utente que dele necessitasse, por uma segurança social mais solidária com os mais necessitados, por um melhor ambiente contra a especulação imobiliária e pela proteção do nosso litoral, pela defesas de políticas de igualdade onde a mulher ocupasse o espaço que é seu por direito, etc, etc…
Acreditámos sempre que a nossa intervenção na política era uma missão por causas públicas para melhorar sempre as condições de vida das pessoas. Ao defender estas e outras causas nunca perguntámos aos beneficiados(as) qual era o partido em que votavam. Sabemos mesmo que a maioria votava em partidos opostos ao nosso. Mas sentíamos que estávamos a fazer o nosso dever e a nossa consciência estava sempre muito tranquila. Gostávamos de andar na rua de cabeça levantada.
 A política sempre esteve em ti, tão natural e legítima, que, quando todo o mundo dos direitos começou a ruir, tu sofreste como poucos, e desta vez em quase silêncio. Apenas te restavam os artigos de opinião, que agora ainda não consegues recomeçar a escrever, mas que o DN, gentilmente, te continua a indicar datas.
Quem viveu a política como uma causa pública e nunca dela se serviu para seu interesse pessoal, como tu o fizeste, merece estar presente nas nossas recordações, até porque são fontes inspiradoras para não desanimar e continuar a pensar que o futuro pode ser sempre melhor. Mesmo para ti, pois a esperança ainda se mantém de que nos poderás voltar a brindar com as tuas lúcidas análises.
Um dia pedi no meu mural no facebook que se formasse uma forte corrente de apoio, para te transmitir energia positiva para saíres da situação de perigo em que te encontravas. Essa corrente foi enorme e fez-me pensar que muita gente, felizmente, ainda se recorda que tu serás sempre um digno representante da verdadeira intervenção política, ao serviço das pessoas e das suas causas. Peço que essas pessoas continuem a te transmitir energia positiva, para te dar força neste momento difícil."
Ilustração: Google Imagens.

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