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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

MAIS OU MENOS...


Não sei se isto é comum em outros países e em outras populações. Mas, connosco, sempre me causou uma certa impressão, quando questiono alguém e a resposta, invariavelmente, é esta: "mais ou menos". Podem estar mal, com os mais variados problemas até ao pescoço, mas conservam, rotineiramente, o "mais ou menos". Ninguém ou poucos assumem que estão bem ou que estão mal; poucos dizem, com frontalidade aquilo que invade e caracteriza a sua vida. Até com a saúde é o "mais ou menos" que sai. É espontâneo. Enraizou-se. Mesmo que lhes roubem nos salários e aposentações, mesmo que cortem, severamente, nos direitos sociais, particularmente, no acesso à saúde e educação; mesmo que eles olhem de esguelha para a sua condição de idosos, como se fossem um peso para a sociedade, todos ou quase todos dizem o tal "mais ou menos". 


Isto significa e tem significado que quando se pergunta pelo estado da política, também saia o "mais o menos". Mesmo quando tudo está mal, quando pagam uma dupla austeridade, quando sentem que os filhos e netos estão a passar por dolorosas privações, o "mais ou menos" anda de boca em boca. Aquela expressão indefinida, que não é uma coisa nem outra, traduz-se numa acomodação ao jeito de uma outra expressão que também me causa uma espécie de urticária: "que não venha pior". E todos os dias vem pior e todos os dias reclamam "não venha pior". Sempre na lógica da tabuleta "amanhã fia-se, hoje não". Poucos assumem nesta sociedade acomodada que isto, desculpem-me, está numa "merda". Imaginem que eu escrevia: que isto está num cocó. Há contextos em que as palavras devem ser ditas sem receio, pois elas exprimem o peso da realidade e o que nós, de facto, sentimos. 
Ninguém pode estar "mais ou menos" quando vê o roubo, quando assiste a um conjunto de sacripantas de mão enfiada nos nossos bolsos, como se o povo fosse responsável pelo estado do país e pela sua contínua degradação. O povo não é culpado, porque, ao contrário do que impingem, não viveu acima das suas possibilidades. Procurem os muitos "salgados", julguem-nos e talvez um dia este Povo possa dizer "estou bem, obrigado".
Ilustração: Google Imagens.  

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