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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

A OBRIGAÇÃO DE SER CLARIVIDENTE E DE DEIXAR DE OLHAR PARA O UMBIGO


Com eleições legislativas dentro de três meses, parece-me óbvio que a margem de manobra da oposição política regional é demasiado curta. Tantos alertaram, quando era possível, para a necessidade de contrapor, com pessoas e um programa, a previsível onda que as eleições internas no PSD-M iriam gerar. Nada aconteceu no que concerne ao contraponto forte e consistente à luta de galos entre aqueles que "venderam" a Autonomia e conduziram a Madeira à falência política e financeira. O PS alheou-se, fugiu a sete pés de umas primárias regionais, acreditando, penso eu, que o PSD sairia esfrangalhado dessa luta interna. Ignoraram o jardinismo enquanto polvo e que os interesses, pequenos ou grandes, tarde ou cedo voltariam a conjugar esforços, uma vez libertos do moribundo "chefe". Negou uma coligação abrangente e eclipsou-se da luta política alternativa. Um quadro face ao qual vou ser muito sincero: invade-me uma grande angústia política ao prever que o descalabro aconteça. Porque a questão não é ter um bom resultado, isso nem a mim nem à maioria da população para nada serve, mas uma vitória que altere o actual quadro político que vem, ininterruptamente, desde o século passado. Quem assim não vê apenas está a olhar para o seu umbigo e para a gestão de alguns lugares no hemiciclo da Assembleia. Defrauda, desta forma, a população e enterra a alternativa por mais uns largos anos. Restará saber por que razão o faz?


A margem de manobra é curta, repito, porque há uma dinâmica em curso dos mesmos de sempre, apostada em fazer esquecer o seu passado, os evidentes conluios e que alguma comunicação social aproveitou para potenciar. Por outro lado, sabe-se pela experiência e pela cultura que se enraizou, que as pessoas tendem a esquecer as lutas passadas, a pouca-vergonha, a governamentalização de todas as instituições, as ofensas e os erros estratégicos, centrando-se no presente. E que, tal como um qualquer novo produto do mercado comercial, no espaço político, são capazes de "comprar" o aparentemente novo se a figura demonstrar capacidade política e se o projecto tiver alguma credibilidade. 
Não é que a figura política que se apresenta pelo lado da continuidade reúna tais condições, bastará olhar para a situação em que foi deixada a cidade do Funchal, mas no vazio oposicionista, parece-me óbvio que o povo eleitor tenderá a votar no mal menor. O drama é esse, porque se corre o risco da história repetir-se, com umas pianolas de permeio, umas frases feitas e uma mudança de moscas para facultar a ideia que isto nada tem a ver com o passado. Mas tem e terá sempre, porque o jardinismo tem uma complexa mas evidente história de quarenta anos. Os vícios estão lá todos (os que se conhecem), as figuras são as mesmas e daí que os processos tendam a ser semelhantes. Perante isto, pergunto, o que fazer? Deixar andar? Julgo que não.
Embora o tempo escasseie há que ter respeito pelos eleitores. Por aqueles que apostaram na "mudança" nas últimas autárquicas, embora, aqui e ali, sejam sintomáticos alguns tiros nos pés que nada ajudam. Impõe-se, assim, que deixem de olhar para o umbigo, que tenham um momento de consciência e que abram espaço a uma alternativa abrangente, profundamente séria e liderada por alguém credível que possa acabar com um tempo que foi de massacre político, de omnipresença, de compadrio e medo, embora legitimado por regulares eleições. O PS da Madeira não pode ficar fechado na sua concha à espera de uma qualquer dádiva da população. As circunstâncias são tão graves que se pode estar na eminência de uma nova maioria absoluta de uma laranja que foi, continua e continuará a ser amarga. O PS-M, sozinho, não chega lá; o CDS-M pode ficar reduzido por força da imagem da coligação nacional (PSD/CDS) que se repercutiu na vida dos madeirenses e os restantes partidos, muito dificilmente consolidarão os seus eleitorados. Estarei errado? Presumo que não, embora respeite outras legítimas leituras partidárias.
Não é por acaso que o novo líder do PSD-M deseja eleições regionais o mais rapidamente possível. Ele quer fugir da onda das legislativas nacionais que poderá afectá-lo no plano eleitoral. É politicamente óbvio. Daí que nem José Manuel Rodrigues e muito menos Vítor Freitas tenham condições políticas para se imporem neste quadro absolutamente adverso. A bola, permitam-me a analogia, está nas mãos de Vítor Freitas. E neste aspecto só vejo uma saída possível: abandonar, rapidamente, a teimosia e procurar, com inteligência e humildade, uma saída para a situação, que possa conduzir os madeirenses a acreditarem, no pouco tempo que falta, que o novo ciclo de que se fala, não deve ser gerado a partir dos mesmos de sempre, mas a partir de um olhar sobre a sociedade, com novos protagonistas e programas, protagonistas oriundos das suas fileiras e com aqueles cujas qualidades técnicas e políticas a sociedade reconhece. 
Ilustração: Google Imagens.    

4 comentários:

Anónimo disse...

Ohhh sr prof, não seja opaco! Diga antes e de uma forma transparente o seguinte: "o sr Vitor Freitas deve abandonar o lugar e cedê-lo ao dr Carlos Pereira! É isto que eu (André) e outros ilustres socialistas madeirenses defendem".
Pronto.
Falando assim é claro; da forma que o fez é nebuloso!...

jv disse...

Será uma grande pena perder esta oportunidade. É verdade que uma coligação mais abrangente à esquerda do PS,acresce dificuldades de funcionamento pela especificidade de actuar destas forças. A solução mais óbvia seria uma grande abertura à sociedade civil, independentes de qualquer área e que possam ser realmente mais valias. Isto foi e ainda é experimentado com sucesso nos Açores. Pessoas com reconhecida capacidade técnica e sentido de cidadania que queiram abraçar um projecto que vaia de encontro às necessidades daquilo que a região mais precisa neste difícil momento.
Abraço. JV.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário (Anónimo). Sobre a minha eventual opacidade, tenho que lhe dizer que sobre esse assunto já manifestei a minha opinião. Não sei em que data, mas está neste blogue e no fb. Não tenha a menor dúvida, a minha aposta INEQUÍVOCA é que o Dr. Carlos Pereira é, neste momento, a única pessoa que pode fazer a diferença. Domina os dossiês da economia e das finanças como ninguém no meio político e este aspecto é de fulcral importância para o nosso futuro colectivo. Um abraço.

André Escórcio disse...

Caríssimo (JV), apenas duas palavras: nem mais.