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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

E A IDEOLOGIA, MEUS SENHORES?


Lista de candidaturas sorteadas e publicadas. Uma dúzia e mil e muitos “figurantes”. Partidos concorrentes dezassete, numa Região com 60% da população do concelho de Sintra. Isto, quarenta anos depois de Abril. Esta situação dá que pensar. Alguns interpretam a explosão de candidaturas como um sinal de oportunismo político. Em alguns casos, talvez, mas não vou por aí. Reconheço que é difícil caracterizar todos os interesses em jogo, quando, no essencial, os principais vectores programáticos não diferem de uns para os outros. Todos, certamente, desejam melhor sistema de saúde, melhor acesso e sucesso na educação, melhor proteção social, melhor economia geradora de emprego e, naturalmente, uma diminuição da carga fiscal. As estratégias, essas sim, podem assumir contornos distintos. Mas daí à proliferação de dezassete partidos interessados, bom, quarenta anos depois de Abril a análise exige outro cuidado. 


Uma das possíveis leituras entronca, porventura, nos longos anos de jardinismo. De uma democracia formal, enquistada, que começava e se esgotava no dia de eleições, à custa de muita manobra menos transparente, é possível que se esteja a verificar um desassossego entre os cidadãos, fartos e cheios da música que foi audível durante todos estes anos. Dir-se-á que as pessoas se cansaram e transportam, hoje, o sentimento que foram enganadas.
Aos poucos a canga colocada sobre os seus ombros, baseada na imagem do insubstituível, começou a ruir nas últimas autárquicas. O próprio construtor da sofisticada engrenagem, ainda recentemente assumiu a perversa ideia que “(…) a democracia é a arte de fazer o que eu quero, convencendo os outros de que estou a fazer o que eles querem” (AJJ, ao Diário Económico, 06.02.2015). Porém, doze candidaturas é obra! São legítimas, obviamente que sim, mas preferível seria, julgo eu, metade dos partidos ou coligações, devidamente enquadrados do ponto de vista ideológico. Sinceramente, tenho muita dificuldade em perceber, no espaço ideológico, questão essencial, qual o posicionamento desses partidos políticos? Terão uma sustentável ideologia? Qual é o seu espaço diferenciador, identificador e doutrinário? Porque não basta jogar para o ar umas frases, que não são de direita nem de esquerda, que apenas estão ao serviço do povo, que desejam ir ao encontro das pessoas para solucionar os seus problemas, que é balela se são mais verdes, vermelhos, monárquicos ou qualquer coisa já conhecida, ou, então, “avacalhar” o processo com a utilização de um pobre cidadão que assume, sei lá, pela boca populista de outros: “vendo meias, mas quando estiver a governar não me vou pôr com meias medidas”! A seriedade de um processo eleitoral, o dramatismo que envolve a situação económica e financeira da Região, os preocupantes quadros de pobreza persistente, entre uma mancheia de problemas por resolver, onde a dívida asfixia qualquer manobra, deveria merecer da parte de todos uma outra atitude que não aquela que se circunscreve a uma visão redutora e clubística. É sempre bom assistirmos ao movimento de cidadãos interessados na “coisa pública”, acabando com essa ridícula ideia de “partidos do arco do poder”, todavia, a questão que fica é se não é tempo de conjugar o surgimento de cidadãos na política activa, com novas e substanciais ideias, com a necessária qualidade, mas devida e ideologicamente enquadrados? É que eleger para governar constitui um assunto muito sério.
Artigo, da minha autoria, publicado no Funchal Notícias.

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