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quarta-feira, 18 de março de 2015

O PRÍNCIPE E O CAMPONÊS


Num reino não muito distante, havia um elegante e nobre príncipe que se sentia aborrecido no seu castelo. Desejando espairecer, montou a cavalo e foi passear pelos campos. Avistando um camponês procurou atenuar o tédio interpelando-o: “Sabeis quem sou?” O camponês parou o seu trabalho, olhou-o e respondeu: “Tal como sabeis que sou um camponês porque visto estes trapos e lavro a terra, também sei que sois um nobre, ou mesmo um príncipe, pelas vestes que envergais, pela pureza do vosso cavalo e por terdes vagar para passeios.” Surpreendido mas não convencido, e para continuar a afastar o seu pesado aborrecimento, o príncipe retorquiu: “Achais então que é somente a aparência que nos distingue? Troquemos de roupas e de lugar e observemos como reage quem passa”. E assim fizeram. O príncipe em trapos de camponês a fingir lavrar a terra e o camponês em finas sedas montado no belo cavalo do príncipe. Cada transeunte que por ali passava desfazia-se em atenções, cortesias e reverências para com o camponês em vestes principescas e ignorava por completo o príncipe em trapos de camponês.


Pois é! Numa sociedade como a nossa, em que cada macaco deve ficar no seu galho e os nascidos lagartixa não devem chegar a jacaré, o berço em que nascemos tenderá a ser um fator determinante do nosso sucesso, e isto porque a sociedade, seguindo apenas as aparências, não avalia verdadeiramente o valor de cada um de nós nem nos dá as mesmas oportunidades. Como diz Sérgio Godinho na canção “quatro quadras soltas”: “Quando se embebeda o pobre; Dizem, olha o borrachão; Quando se emborracha o rico; Acham graça ao figurão”. É este preconceito que continua a condenar os filhos do povo a servir os nascidos em berço de ouro. Tenho rejeitado essa fatalidade no meu percurso de vida e gostaria de ver a sociedade madeirense fazer o mesmo já no próximo dia 29 de Março. Nesse dia será definida a Madeira que teremos nos próximos anos e ser-nos-á dada a oportunidade, única, para afastarmos preconceitos e continuar a mudança que se iniciou em 2013. Depois de 40 anos monocolores, dominados por uma elite estranha à raiz da nossa sociedade e comprometida apenas com os seus próprios interesses, devemos à Madeira e ao nosso futuro a responsabilidade de fazer esta mudança.
NOTA
Artigo de opinião do Doutor Hélder Spínola, publicado no DN-Madeira.
Ilustração: Google Imagens.

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