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domingo, 26 de abril de 2015

PELA AMOSTRA DO PANO COMEÇO A VER O FATINHO


Teve o condimento do "frete" aquela sessão evocativa do 25 de Abril, na Assembleia Legislativa da Madeira. Houve ali qualquer coisa parecida com uma injecção: a agulha entra, dói, mas logo passa. Dito por outras palavras, vamos deixá-los falar, o Adolfo faz uma redacção bonitinha e pronto, já está. Mostraram, assim, a fisionomia, para mim, anémica, da "renovação". Pelo menos da mentalidade. No decorrer da sessão, entre os membros do governo, desrespeitando quem discursava, uns falavam com os outros, o Presidente da Assembleia, sem tolerância, cronometrava, ao segundo, os tempos atribuídos aos partidos, borrifando-se para o que diziam, e pronto, ufa... está cumprido o número que o circo nos habituou e que os espectadores genericamente queriam. 


Dois factos correspondentes a duas fugas ficaram a marcar a dita sessão: a do líder parlamentar do PSD, Deputado Jaime Filipe Ramos ao não assumir o discurso da maioria e a outra, a do Presidente da Assembleia Legislativa, Tranquada Gomes (PSD) a quem competia encerrar a sessão comemorativa. Do meu ponto de vista, pelo menos a do presidente foi, politicamente, inqualificável. Aquando da tomada de posse, no dia 20, assumiu que "temos de privilegiar o diálogo entre nós" no âmbito de "consensos alargados". Ora, assim desejando e prometendo, uma primeira intervenção no plenário, na esteira dos princípios e dos valores de Abril, justificava-se, por ser um momento importante, para falar do passado, não digo em jeito de acto de contrição e de penitência, mas para abordar o futuro do primeiro órgão de governo próprio e da própria Região no contexto da República Portuguesa. E tanto que havia para dizer. Ao terminar, abruptamente, a sessão comemorativa, deixou transparecer que, tal como os chapéus, discursos de tomada de posse há muitos!
É evidente que, neste processo, compreendo que seja difícil, muito difícil, deixar a marcha atrás e engatar, no mínimo, a primeira. Engolir posicionamentos de vinte, trinta, quarenta anos, em seco, depois de tantos anos de negação, obviamente que é complicado. Mas é a vida. E a grandeza de um político também por aí se mede. Quem não quer ser lobo não lhe veste a pele. Ou, talvez, melhor dizendo, o Presidente aceitou vestir a pele, logo é o responsável pelos comportamentos. Deveria, por isso, ter passado uma imagem de verdade, de autenticidade e de transparência, assumindo o erro e demonstrando que está disponível para um novo tempo. Mesmo sem falar de Jardim, da submissão a que foram obrigados, o Presidente da Assembleia tinha o dever político de falar ao povo da Região. Para além do mais, porque Abril marca a Autonomia e essa, embora esteja em coma profundo, merece reflexão no sentido do seu resgate. Competia ao Presidente da Assembleia posicionar-se sobre esta e outras matérias. Mais ainda, ficou-lhe menos bem, repito, a habitual inflexibilidade regimental, a dependência do cronómetro, só vista neste parlamento, que nem deu para aceitar um minuto de silêncio pela morte do Jornalista Tolentino de Nóbrega. Esse jornalista que tantas vezes cobriu as sessões parlamentares e que foi, indiscutivelmente, um homem de Abril, mesmo antes de Abril. Senhor Presidente, a ideia que ficou é que há uma teoria sem prática. E pela amostra do pano, começo a ver o fatinho!
Ilustração: DN-Madeira, com a devida vénia.

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