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segunda-feira, 20 de julho de 2015

ENTRE A POLÍTICA E A POLITIQUICE


Há uma grande diferença entre o exercício da política e o exercício da politiquice. A política é nobre; já a politiquice entra nos domínios do miserável. Estava eu a ler o artigo do Padre José Luís Rodrigues, publicado no Funchal Notícias, quando me assaltou aquela síntese que não tem nada de inovadora. Li: "(...) a situação de pobreza acentuada e com alguns focos de miséria tem responsáveis, tem nomes que deviam ser escarrapachados na praça pública e deviam passar pelo crivo da consciência de todos os cidadãos, para que na hora de decidirem o fazerem bem seguros do que pretendem e para onde desejam que o país siga. Mas o jogo situa-se antes no fazer passar índices, números, estatísticas que maquilham a realidade e escondem os responsáveis. Segue-se um jogo bem conjugado com todos os agentes, a quem interessa conduzir a sociedade ao adormecimento e os povos à pobreza indigente para que viva sem chão e de mão estendida à cata de esmolas. Não precisamos de muita imaginação para ver os dramas que se escondem debaixo dos números. Há uma procissão enorme de rostos tristes, desfigurados pela depressão que desfilam nas nossas ruas, batendo de porta em porta ou remexendo nos caixotes do lixo, como mendigos atrás do chão e do pão. Nunca quiseram esmolas, mas emprego. Há milhares de pessoas violentadas na sua dignidade, não passam pelo mundo, mas deambulam por aí ao deus dará da injustiça porque não há oportunidades, não "há vagas!". A chaga social maior dos nossos tempos é o desemprego, é o maior problema. É uma ferida que abre outras num ciclo vicioso que se chama pobreza interminável". 


Este quadro é consequência da politiquice e não da política. É consequência de termos políticos de interesses vários e não políticos estadistas. Aí está a grande diferença entre a política feita com verdade, seriedade, honestidade e portadora de futuro e a política do bate-boca, que nada acrescenta, que joga no campo dos interesses pessoais, da mediocridade e da indigência intelectual. Há quem faça ou deseje fazer política e há quem se fique pelos domínios da politiquice; há quem se aventure no campo da experiência prenhe de um sentimento de cidadania activa e há quem não passe do paleio egoísta e de circunstância; há quem prefira seguir o seu caminho ditado pela sua consciência, muito para além das lógicas partidárias, e há quem veja nos partidos a maldição que nada adianta; há quem entenda que todos somos entes políticos e há quem julgue que a política é para outros. Por aí fora, há sempre quem entenda que qualquer mudança que corresponda ao interesse da sociedade depende da sua participação nos processos  (um dos princípios do desenvolvimento é o da participação) e há toda essa legião do bota-abaixo que se entretém no comentário depreciativo e que induz o tal sentimento de que não vale a pena, simplesmente porque confunde a política com a politiquice.
Se a política funcionasse e isso depende de novos protagonistas, obviamente que as políticas sociais seriam outras, da educação à saúde, do emprego à pobreza. Como seriam diferentes as políticas de economia e de finanças. E como seriam diferentes as culturais susceptíveis de tornarem a democracia, não em um reduto dos outros, mas de todos nós. Por tudo isto, quando alguém jovem demonstra interesse na participação, apenas digo: segue em frente e cumpre o teu desígnio. Faço-lhe a apologia da política, não da politiquice. Parabéns Padre José Luís. Cada vez mais o estimo e considero, porque toca onde a ferida sangra. 
Ilustração: Google Imagens.

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro Professor.Politiquice é o que o seu partido sempre fez.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário "anónimo".
Mas seja quem for, não me leve a mal, lamento que não tivesse conseguido (ou eu não soube) enquadrar o problema da "política e da politiquice" fora dos partidos. Eu exprimi o que penso e esperava que outros, como é o seu caso, o enquadrassem no sentido da melhoria da democracia. Eu quero lá saber da "politiquice" do partido A ou B! Gostaria é que existisse mais POLÍTICA.