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domingo, 18 de outubro de 2015

ARCO DA GOVERNAÇÃO, QUE DESIGNAÇÃO TÃO ESTÚPIDA!


"Sempre me perturbou a designação que por aí se ouve, desde políticos a jornalistas, passando por comentadores e eleitores em geral: "os partidos do arco da governação". Com o devido respeito pelas pessoas que utilizam, recorrentemente, aquela expressão, sublinho que a considero estúpida e sem qualquer sentido. É evidente que percebo o que querem exprimir, mas quando a utilizam estão, obviamente, a circunscrever a democracia a dois ou três partidos, passando todas as restantes correntes de pensamento a meros enfeites do processo democrático. É que a expressão induz no erro e influencia os comportamentos eleitorais. De tanto a repetirem, o eleitor pode ser levado a pensar que só A ou B podem ser poder político e que C ou D podem servir de bengalinha na lógica de que os "ovos não devem ser colocados todos no mesmo cesto". E isto tem conduzido, não podemos ignorar, a um pensamento político quase unanimista por toda a Europa, onde muitas vezes não se percebe onde terminam os princípios e valores de um partido político e começa o outro. 


Quando falam do "arco da governação" estão, pois, a afunilar o pensamento quase único. 
Jorge de Campos, in A Caixa Negra, cita Jacques Piveteau: "(...) o espectacular transformou-se numa droga cujos efeitos não podem acalmar-se senão através do consumo sempre acrescido de doses cada vez maiores". Se o espectacular assim é, também o é a repetição do pensamento. De múltiplas formas fazem promover uma e só uma verdade. E a este propósito, K. Popper e J. Condry, no livro Televisão – um perigo para a democracia, alertam, por exemplo, para o facto da televisão ser, hoje, "incapaz de ensinar o que é necessário à sua evolução" (desenvolvimento), talvez porque transmitem a verdade conveniente! Por seu turno, Umberto Eco, in Apocalípticos e Integrados, adverte que a "civilização democrática salvar-se-á se da linguagem da imagem se fizer um estímulo à reflexão crítica e não um convite à hipnose". O que porém acontece é que, na linha de pensamento de Aor da Cunha, servem para "moldar, esticar ou comprimir imagens com textos que reproduzam a vida política, social, cultural e económica à sua maneira, conforme os critérios ideológicos e particulares do momento não só dos jornalistas, mas também segundo os "proprietários" dos emissores (…)". Há como que uma lógica ditatorial do pensamento único. Daí o "arco da governação". E os outros pensamentos? Ora, temos a Europa e uma grande parte do Mundo que temos porque há gente que "não conta". Que apenas compõem o ramalhete. (...)"
Ilustração: Google Imagens.
NOTA
Texto, da minha autoria, aqui publicado em 12 de Dezembro de 2013. Neste momento alguns continuam a pensar,  inclusive o Presidente da República, que só o PSD, o CDS e o PS podem formar governo. 

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