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sábado, 28 de fevereiro de 2015

CRIANÇAS EMPANTURRADAS EM CONHECIMENTO SÃO CRIANÇAS QUE PENSAM MENOS


“Hoje não vou à escola!”, quantas vezes já ouviu o seu filho dizer isto, logo pela manhã, acabado de sair da cama? No início de mais um ano letivo, o psicólogo clínico e psicanalista Eduardo Sá lança um livro cujo título toma emprestado o protesto infantil. A ideia é explicar que as crianças saudáveis são afoitas, curiosas e que, às vezes, não têm vontade de ir às aulas. “Hoje não vou à escola!“, da editora Lua de Papel. Porque “a família é mais importante do que a escola e brincar é, pelo menos, tão importante como aprender”, Eduardo Sá fala dos excessos cometidos no ato de educar uma criança e aponta o dedo tanto a pais como a professores. Defende que, depois de um longo dia de trabalho, é obrigatório que a criança brinque (em vez de se lançar aos trabalhos de casa ditos “XXL”). E, antes de um pai exigir boas notas, deve ensinar ao filho valores como honestidade e humildade.

A crítica às escolas é clara, ao Ministério da Educação também: “Os diversos governos, desde há vários anos — e com todo o respeito — têm gozado com os pais. Fala-se de uma educação para todos e os jardins-de-infância conseguem ser mais caros do que as universidades privadas”. Mas também destaca os longos períodos de aulas e a pouca importância que é dada a disciplinas como educação física e musical. A solução passa, pois, por criar, em conjunto, um sistema educativo onde as crianças fujam para a escola em vez de fugir dela.
Mas o também professor da Universidade de Coimbra e do ISPA, além de autor de livros virados para a saúde familiar e educação parental, deixa ficar ainda o aviso: os pais não devem viver em função da agenda social dos filhos. A consequência pode resvalar para um divórcio a prestações, até porque o mais importante na vida, diz, são as relações pessoais. “Pais mal-amados, por melhores pessoas que sejam, são sempre piores pais”.
A escola é, como diz no livro, “o mundo secreto onde os nossos filhos habitam”. O que quer dizer com isso?
Eu tenho medo que estejamos a fazer das crianças uma super produção dos pais, mais do que propriamente dar espaço para elas possam crescer. Preocupa-me, em primeiro lugar, que não tenhamos uma ideia precisa da mais-valia que representa o jardim de infância. Que os pais imaginem que se trata de uma espécie de atelier de tempos livres, das 9 às 17h, e não o vejam como instrumento indispensável a todo o crescimento: tem mais-valias a nível do corpo, da sensibilidade, da expressão… Um bom jardim-de-infância é meio caminho andado para uma escolaridade tranquila. Depois, as crianças não precisam de estar tanto tempo na escola para aprenderem. Mais tempo de escola não é, obrigatoriamente, melhor tempo. Pelo contrário, as crianças precisam de muito mais tempo de recreio. Crianças mais empanturradas em conhecimento são crianças que pensam menos. Temos de perceber o que queremos, efetivamente, da escola. Se queremos, ou não, uma linha de jovens tecnocratas de sucesso. Acho ótimo que possamos ir por aí, mas jovens assim não são pessoas singulares, são produtos normalizados. E era muito bom que as pessoas percebessem que aquilo que se fala aí pomposamente como mercado vai escolher as pessoas singulares, criativas.
Trata-se de conhecimento em detrimento do pensamento?
Continuamos a favorecer um sistema educativo que premeia fundamentalmente os miúdos que repetem aos que recriam. É um bocado esquizofrénico, quase, porque nós castigamos os que copiam e premiamos os que repetem como se as duas coisas não fossem faces de uma mesma moeda. Temos de pensar muito bem que tipo de estratégia queremos para que as crianças, ao mesmo tempo que aprendem, sejam capazes de ser afirmativas e sensíveis. Depois, é fundamental que se perceba que a família é mais importante do que a escola e que brincar é, pelo menos, tão importante como aprender.
Que equilíbrio sugere entre brincar e trabalhar?
A partir do momento em que as crianças chegam a casa, estão obrigadas a brincar. Brincar faz bem à saúde e é obrigatório brincar todos os dias. É natural que, se as crianças chegam tarde a casa, os pais queiram despachar os trabalhos e utilizem a fórmula “primeiro fazes os trabalhos de casa, depois brincas”. Devia ser ao contrário, porque assim descontraem.
Qual o papel do pai na aprendizagem de um filho?
Os pais deviam ser a verdadeira entidade reguladora das escolas. Há pais que se anulam perante algumas atitudes muito pouco sensatas de professores, seja em relação aos trabalhos de casa, a comentários ou até estratégias pedagógicas. Não gosto de pais que se intrometem de forma abusiva na vida da escola, mas também parece grave que haja aqueles que se anulem. É importante que nós assumamos que a escola tem um tempo que deve ser gerido, no essencial, pelos professores e deve ter nos pais uma entidade reguladora fantástica. Depois, é preciso fazer o resto: porque à parte de todos aqueles tempos, para além do razoável, muitas vezes as crianças chegam a casa e ainda têm não sei quantas atividades extracurriculares; muitas têm trabalhos de casa em formato XXL.
É uma crítica tanto ao professor como ao pai?
Também. Trabalhos de casa em formato XXL, que se fazem entre o banho e o jantar, já com as crianças muito cansadas…pergunto-me qual será a mais-valia ou o objetivo deles. A maior parte dos trabalhos de casa são uma forma rápida para que as crianças passem a ter um ódio de estimação pela escola. Não sou radicalmente contra os trabalhos de casa, mas era bom que o trabalho fosse ir ao supermercado com a mãe, ou com o pai, e fazer os trocos (e outras coisas do género). Ou seja, trazermos a escola da vida para dentro da escola. Acha que as crianças vão aprender com os trabalhos de casa aquilo que não aprenderam na escola?
Nestas circunstâncias, o que pode um pai exigir de um filho?
O pai deve começar por exigir que o filho seja honesto e humilde, algo que, muitas vezes, não o faz. A humildade é uma coisa que faz muito bem à saúde, porque ajuda-nos a aprender com os erros. Tenho medo que estejamos a criar um mundo francamente batoteiro, que torna as crianças debilitadas em relação à frustração. Nós, às vezes, somos poucos tolerantes para com os erros das crianças e esquecemo-nos que errar é aprender. Depois de as crianças serem honestas e humildes, acho importante que elas sejam afoitas, mas que, ainda assim, estejam autorizadas a errar. Uma criança que não erra não é um bom aluno, é uma criança que se vai fragilizando à conta de boas notas.
O que seria, então, uma escola ideal?
Não é preciso ser uma escola ideal. Uma escola onde as crianças tivessem, sobretudo, aulas de manhã, seria uma boa escola (somos animais com ritmos biológicos muito precisos e aprendemos em função deles; somos mais inteligentes de manhã do que a seguir à hora de almoço). Uma escola que tivesse, inevitavelmente, recreios maiores e onde a parte da tarde fosse preenchida com atividades que ajudem as crianças a serem expressivas, como educação física ou expressão dramática. Se as crianças não forem expressivas, não sabem pensar. É muito bom que as pessoas tenham noção disso, que vivemos num mundo estranho onde o número é mais credível do que a palavra; a nossa saúde mental depende do bom uso que fazemos da palavra.
Eu adoraria que nós fossemos capazes de, em conjunto, organizar um sistema educativo onde as crianças fugissem para a escola. Os diversos governos, desde há vários anos — e com todo o respeito — têm gozado com os pais. Fala-se de uma educação para todos e os jardins-de-infância conseguem ser mais caros do que as universidades privadas. E os livros, os livros, custarem aquilo que custam… Só governos que andam absolutamente distraídos face à realidade e que não têm noção do que é ter filhos entre os zero e os dez anos.
Por que razão escreve que os bons filhos não são os que tiram melhores notas?
As crianças saudáveis não têm 5 a tudo. Ao contrário do que os pais pensam, as crianças saudáveis são acutilantes, curiosas, têm a vista na ponta dos dedos e perguntam “porquê”. É tão estranho que as crianças, até entrarem nas escolas, estejam constantemente na idade dos “porquê” e, assim que entram, parecem sair precipitadamente dela — a escola devia ser quem mais incentiva o “porquê”. Os pais devem, no fundo, ter a noção de que as crianças saudáveis podem não perceber de uma matéria, gostar dela ou até não gostar de um professor. Eles não podem aceitar a ideia de que crianças saudáveis são as que têm sempre um comportamento irrepreensível. Isso não é razoável, nada na vida é assim. Os bons filhos são aqueles que nos trazem problemas, porque nós aprendemos à medida que os resolvemos. Às vezes, os pais parecem criar os filhos na expetativa que estes não lhes deem problemas — crianças que não o fazem são, invariavelmente, adultos infelizes. Não tenho nada contra os alunos que tiram boas notas, mas gostava que os pais fossem igualmente exigentes. Isto é, que quisessem muito que os filhos tivessem boas notas na escola, como filhos, como colegas, irmãos, netos…
Costumo dizer, tentando ser provocatório, que tornamo-nos pais com o segundo filho. Com o primeiro mistura-se tudo: a infância que tivemos e a que queríamos ter tido. Os filhos mais velhos passam sempre muito, porque, às vezes, os pais colocam expetativas exorbitantes sobre eles — mais parecem viver confinados a um guião. Se calhar não é por acaso que os filhos mais velhos são os “certinhos oficiais” de uma família e os mais novos são os rebeldes. Preocupa-me que não se dê espaço para ser-se filho e ser-se criança. É inquietante e estúpido. Crescer é uma receita razoavelmente simples: dar o mais possível de colo, um q.b de autoridade e o mais possível de autonomia.
As crianças estão cada vez menos autónomas?
Sim, estão. E as crianças autónomas são expeditas, afoitas, sentem, pensam e fazem. Passividade e paixão não casam.
Os pais sofrem por antecipação pelo facto de os filhos irem para a escola?
Sofrem, porque eles dão mais importância à escola do que esta merece. A escola é fantástica, mas os pais têm de perceber que é fantástica por vários motivos: pelo que se aprende nas aulas, no recreio e no caminho para a escola. Há pais que, cada vez mais, preferem que os filhos entrem na escolaridade obrigatória aos sete anos para que os meninos tenham mais um ano para serem crianças; acham que a infância acaba quando os filhos entram na escola, o que diz tudo. Portanto, as crianças saudáveis são aquelas que, às vezes, se levantam e dizem “hoje não vou à escola”.
Qual a importância da vida social para uma criança?
Acho uma delícia quando os pais recomendam aos filhos (mais velhos) para ter cuidado com os namoros. Primeiro está o namoro e, depois, a escola. A vida ocupa espaço. Namorar é das coisas que ocupa mais tempo, bem como as relações de amizade; aquilo que é importante na vida são as relações pessoais. É ótimo que os pais deem importância à vida social dos filhos, mas que não se intrometam nela. É grave quando os pais, à custa da vida social dos filhos, não tenham fins de semana. Mais importante são as relações amorosas dos pais. A agenda social dos filhos ajuda a que, muitas vezes, estes se divorciem. E pais mal-amados, por melhores pessoas que sejam, são sempre piores pais.
Há pais que se anulam neste processo?
Há. Claro que a fatura vem logo a seguir. Isto é como na política, nunca há almoços grátis. Há pais que prescindem de uma vida para serem unicamente pais. É um divórcio a prestações.
Voltando à sala de aula, o que é uma criança hiperativa?
Acho que a Direção-Geral de Saúde devia fazer uma campanha pública porque parece existir uma epidemia atípica. Acho importante que constatemos as dificuldades das crianças, mas que não nos ponhamos a medicar com mão leve como se elas tivessem de ser irrepreensíveis. Uma criança com várias horas de aulas, poucas de recreio e pouca atividade física é seguramente mais distraída. Isso significa que ela tenha algum defeito ou que, na sua ingenuidade, os pais e os professores, pela má gestão que fazem, vão contribuindo para essa dificuldade? Preocupa-me muito que, em Portugal, as crianças tenham cada vez menos atividade física e preocupa-me ainda mais que haja ministros da Educação e ministérios que achem que a educação física seja uma disciplina de classe B, quando comparada com a matemática ou o português — não me choca nada que se possa reprovar o ano com negativa a educação musical e a educação física. Acho que estas pessoas não deviam ser ministros da Educação. O Ministério da Educação, nestas circunstâncias, devia fechar para balanço. As crianças que têm mais atividade física pensam melhor e são mais atentas. Há turmas em colégios de Lisboa em que se contam pelos dedos das mãos as crianças que não estão medicadas, como se isto não tivesse efeitos secundários.
Que tipo de consequências estamos a falar?
Aquilo que parece uma mais-valia, a longo prazo é uma limitação.
Do site: Mãe.me.quer.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

GRANDE LIÇÃO DO PROFESSOR JOSÉ PACHECO. O SECRETÁRIO REGIONAL DA EDUCAÇÃO FALTOU!


A organização pertenceu ao "Núcleo Madeira da Educação Viva" (Ilha Verde - Educação em Liberdade). Foram três horas de conversa com o Professor José Pacheco que passaram num ápice. Eram 21:30 e ainda o anfiteatro estava cheio de professores ávidos de mais histórias e mais conteúdos entre a escola velha que temos e uma escola nova que todos ansiamos. José Pacheco é o mentor da criação da Escola da Ponte, na Vila das Aves, única no País e que tem servido de paradigma para outras experiências em outros países. Na Finlândia e no Brasil, por exemplo. A perseguição por parte do Ministério da Educação tem sido vergonhosa, não pelos resultados dos estudantes, mas porque o paradigma de escola sai fora dos cânones definidos. Trata-se de uma nova escola onde todos aprendem muito mais do que no ensino tradicional, através de um grande sentido de pertença dos seus professores. Ali, naquela escola pública, o paradigma é diferente das outras: não existem turmas, horários formais, toques de entrada e de saída e aulas leccionadas de forma tradicional. Ali existe vida, vivência, convivência e aprendizagem estruturada. Já não é o que era, porque o Ministério continua a preferir as práticas metodológicas do Século XIX, com Professores do Século XX embora os alunos sejam do Século XXI. É muito difícil romper com uma mentalidade assente em rotinas de toca-entra-toca-sai, do professor que debita, cumpre o programa e os alunos, passivamente, assistem. 


A propósito, aqui deixei, em tempos, uma frase do Professor João Barroso, da Universidade de Lisboa. Ainda ontem, no meio da conversa com José Pacheco essa frase bailou-me na cabeça. Cito-a de cor: já não faz sentido aquela escola onde tudo se passa nos mesmos lugares, ao mesmo tempo e da mesma maneira. A escola não pode ser uma colecção de salas de aula e o ensino uma repetição de actividades pré-formatadas e iguais para todos. É contra essa Escola vazia de significado que o Professor José Pacheco luta há quarenta anos. Hoje, vive no Brasil onde é acarinhado e respeitado.
O mais dramático é sentir a existência de uma sala cheia de professores, que pagaram para ouvi-lo, que "aguentaram" três horas de conversas e histórias profundas, o que significa que esses professores não estão acomodados, mas sentir que aqueles de quem dependem as mudanças tivessem primado pela ausência. O secretário da Educação e os directores regionais responsáveis pela Educação na Madeira, não se dignaram ouvir quem sabe por experiência vivida e quem tem uma proposta que rompe com a actual escola divorciada das questões da diversidade, da desigualdade e do conhecimento. Absolutamente LAMENTÁVEL. 
Obrigado aos organizadores (Ilha Verde) pela oportunidade que me deram de escutar o Colega José Pacheco.
Ilustração: Google Imagens.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

O "SEGREDO DE JUSTIÇA" E A NOTÁVEL ENTREVISTA DO PROFESSOR DIOGO FREITAS DO AMARAL


Elina Fraga, Bastonária da Ordem dos Advogados, foi desafiada pela procuradora-geral da República a "dizer quem violou o segredo de justiça" no caso Engº José Sócrates. Respondeu a Bastonária com promessa de entregar ao Ministério Público cinco mil cópias de notícias onde, alegadamente, o segredo de justiça pode ter sido violado por magistrados ou polícias. E desafiou, na quarta-feira, a procuradora-geral da República a dizer quais os advogados que também o violaram.


Segui uma grande parte da recente entrevista à Senhora Procuradora Geral da República e fiquei com a sensação das suas múltiplas fragilidades conceptuais e que estão muito para além das questões meramente jurídicas. Curiosamente, ontem, acompanhei uma outra entrevista, agora com o Professor Doutor Diogo Freitas do Amaral. Sereno, incisivo, profundo, sem rodeios, o Professor colocou muitas reticências ao desempenho da Senhora Procuradora, analisou, friamente, a actuação do Ministério Público e aquela prisão preventiva como uma atitude muito pouco sensata (prender para investigar?), dizendo a páginas tantas, que Portugal não podia se transformar em uma "República dos Juízes". Assumiu o Professor de Direito: "(...) o Ministério Público e o Tribunal de Instrução Criminal actua como se estivéssemos em ditadura (...) o poder decidiu está bem decidido (...)".
Entretanto, hoje, li um artigo do Dr. Brício Araújo, da Ordem dos Advogados na Madeira, que me deixou apreensivo, uma vez que o texto não me pareceu sustentável e de bom senso, é oposto à posição da Bastonária e porque contém passagens próprias de um acusador público: "(...) A posição assumida pelo Ministério Público poderá agora ser determinante na decisão do Juiz de Instrução Criminal, essencialmente por duas razões: Desde logo, e em primeiro lugar, porque o Ministério Público apresenta efectivamente resultados concretos da investigação recente, e depois porque esses resultados parecem legitimar a medida de coação inicialmente decretada (...)". 
Ora bem, pessoalmente, não quero viver numa "República dos Juízes", não quero sentir a existência de poderes discricionários, nem gosto de assistir a declarações que não são geradoras de confiança. 
Link para a entrevista do Doutor Freitas do Amaral: 

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

SENHOR MINISTRO DA EDUCAÇÃO, DEMITA-SE! JÁ FEZ MUITOS ESTRAGOS!


Há um estudo, publicado na revista “Science”, elaborado por Deborah Stipek, da Faculdade de Educação de Standford. Um estudo transversal realizado ao longo de 35 anos. A editorial da revista coloca em título: “A Educação não é uma corrida”. A investigadora é clara: “o sistema de exames produz especialistas em provas enquanto prejudica vidas que poderiam ser promissoras” (…) O sistema actual, baseado no desempenho em testes pode prejudicar muito a formação de grandes pensadores” (…) “Este ensino promove um verdadeiro extermínio de grandes mentes” (…) A maneira como a Educação está estruturada faz com que potenciais vencedores do Prémio Nobel sejam perdidos antes mesmo do final da educação básica”. Complementa o Professor José Pacheco acerca de Deborh Stipek: entre milhares ou milhões de homens e mulheres, "Ghandi, Picasso, Einstein, deixaram-nos um legado valiosíssimo, seguindo caminhos muito diferentes". Isto quer dizer que a Educação na escola não constitui a única forma de aprender. E se a Escola é importante, e é, o seu pensamento estratégico não pode quedar-se pelo pensamento de ontem. Andamos a trabalhar nas consequências e não nas causas, simplesmente porque predomina uma agenda e, mais do que isso, uma atitude política redutora que muitas vezes desconstrói alguns bons passos que são dados.  

Eh pá... estiveste bem, só que não acredito no que disseste!
Se é assim tão bom, por que razão não fizeste
quando foste Ministro da Educação?

Vem isto a propósito do Professor David Justino que foi deputado da Assembleia da República entre 1999 e 2002 e, depois, assumiu as responsabilidades de ministro da Educação do XV Governo Constitucional (2002/2004). Actualmente é assessor para os Assuntos Sociais da Presidência da República e Presidente do Conselho Nacional de Educação. Foi esta figura, com este curriculum que, em nome do Conselho Nacional de Educação, veio há dias se posicionar contra a retenções de alunos, porque constitui "uma má solução", uma vez que "(...) a retenção sanciona, penaliza, não se reconhecendo o seu carácter pedagógico" (...) e "potencia comportamentos indisciplinados, fruto de uma baixa auto-estima e desenquadramento em relação à turma de acolhimento, o que dificulta ainda mais a aprendizagem". Sendo assim, conclui o CNE, que existe uma "manifesta ineficiência e ineficácia" do designado chumbo. Assume, ainda, o presidente do CNE, como alternativa ao chumbo, que sejam diagnosticadas mais precocemente as dificuldades dos alunos, para que os apoios comecem logo no pré-escolar e nos primeiros anos do primeiro ciclo. A diversificação dos currículos e percursos educativos, a criação de programas menos extensos e a reorganização do ensino básico são outras das recomendações, leio no Expresso através de um trabalho de Joana Pereira Bastos.
Ora bem, se este não fosse um assunto muito sério, de uma importância vital para o País, estas declarações, produzidas treze anos depois de ser ministro da Educação, conduziria a uma sonora gargalhada. E porquê? Simplesmente porque, questiono, que passos deu este político enquanto responsável pela Educação? É que este tema da formação básica já se encontra estudada há muitos anos. Não é uma questão recente. A Professora Ana Benavente quando foi Secretária de Estado bem lutou por uma avaliação contínua numa escola portadora de futuro. Daí para cá, terminando nesta equipa liderada pelo ministro Nuno Crato, a destruição do sistema tem sido evidente. O pensamento de Nuno Crato baseia-se em exames em todos os ciclos de ensino, pelo que está contra o CNE, como se este fosse um caminho para o sucesso. Ele nunca quis saber que o princípio da tal meritocracia, aplicada à Educação, em que assenta este sistema, traz consigo o princípio da exclusão. Nunca quis saber,  também, que está completamente errado que em idades que os alunos devem fazer perguntas, o sistema exige-lhes respostas. Logo a partir do primeiro ciclo, com os exames, ao contrário de uma avaliação de base estruturalmente contínua e sujeita a outras variáveis.
E apesar da voz tardia de David Justino, Crato continua a dispensar os professores, com a falácia, repito, falácia da natalidade. A este propósito, no início de Fevereiro, fui orador convidado de umas Jornadas Pedagógicas na Escola Básica e Secundária Gonçalves Zarco. A páginas tantas sublinhei: "(...) Dispensam professores ao invés de uma actuação logo aos primeiros sinais de perturbação na aprendizagem, só possível com uma organização diferente de escola e uma atitude pró-activa na escola e a montante da escola. Não é aos 10, 11 ou 12 anos que devemos actuar com aulas de apoio. Aí remediamos e mal o problema, até porque a história do aluno já está indelevelmente marcada. O sistema afasta os alunos da escola, mas para que alguns políticos estejam de consciência aliviada, facultam uns créditos de horas para apoio a alunos com dificuldades. Ora bem, vou colocar-me no vosso lugar: diga lá as soluções! Eu diria, em síntese: diminuam o número de alunos por escola e por turma. Não despeçam professores. Deixem os professores organizar a sua escola. Considerem a Educação como a única forma de romper o círculo vicioso da pobreza, pelo que deve ter orçamentos compagináveis. Retirem a tralha da escola, tudo o que é secundário e substituam por uma pedagogia cultural e social. Uma Escola de encontro, diálogo e afectos. Contrariem a mercantilização do direito à Educação, a mundialização do liberal. Reivindiquem uma formação inicial de professores mais condizente com a realidade. Criem políticas de família, dando o peixe mas também a cana. 
Hoje, em abstracto, olho para pessoas com 40/50 anos, que há 40 tinham entre os 4 e os 10 anos e interrogo-me: se a verdadeira cultura funcionou ou não; se a Escola deixou alguma coisa ou não ao nível da mudança de mentalidade, liberta de qualquer canga; o porquê de termos milhares desajustados nas qualificações profissionais. São estas as perguntas, entre outras, que não são formuladas e que nos deviam preocupar. Paulo Freire diz que a Educação sozinha não transforma a sociedade, mas que sem Educação a sociedade não muda. A Educação tem de ser transformadora. 
É evidente que, repito, não é tudo negro. Mas há uma mancha muito cinzenta sobre a sociedade. Se a base não é boa o edifício dessa educação transformadora tende a desmoronar-se. 
De facto, precisamos de uma “Revolução Integrada do sistema educativo” e não a “restauração saudosista da escola do passado”. A OCDE apresenta vários cenários, um deles a necessidade de RE-ESCOLARIZAÇÃO que, em síntese, passa por uma maior autonomia das escolas, maior descentralização e valorização do corpo docente. Passa por uma escola sem o permanente “Big Brother” de quem centraliza a educação. Difícil, muito difícil, porque a cultura também não funcionou a esses níveis. Uma coisa é o discurso de circunstância, outra quando essas pessoas estão sentadas na cadeira do poder. Eu sei que há rotinas de pensamento que são difíceis de ruir. É fácil dizer não a uma perspectiva que se abre, mas saber por que motivo se diz não, convenhamos que é sempre mais difícil. As pessoas estão agarradas ao passado. E, curiosamente, os que estudam, problematizam e abordam esta temática da Educação não falam de facilitismos e nenhum fala de ausência de rigor e de disciplina. Pelo contrário. Falam, sim, da necessidade de repensar o trabalho de ensinar e de aprender. Torna-se, assim, fundamental uma abordagem globalizante, com políticas em vários sectores e áreas de intervenção social. Não apenas na esfera da Escola, na sua organização e conteúdos, mas a montante da Escola, na cultura familiar e na organização e cultura do trabalho. Para que o abandono e o insucesso sejam residuais. 
Há um estudo, publicado na revista “Science”, elaborado por Deborah Stipek, da Faculdade de Educação de Standford. Um estudo transversal realizado ao longo de 35 anos. A editorial da revista coloca em título: “A Educação não é uma corrida”. A investigadora é clara: “o sistema de exames produz especialistas em provas enquanto prejudica vidas que poderiam ser promissoras” (…) O sistema actual, baseado no desempenho em testes pode prejudicar muito a formação de grandes pensadores” (…) “Este ensino promove um verdadeiro extermínio de grandes mentes” (…) A maneira como a Educação está estruturada faz com que potenciais vencedores do Prémio Nobel sejam perdidos antes mesmo do final da educação básica”. Complementa o Professor José Pacheco acerca de Deborh Stipek: entre milhares ou milhões de homens e mulheres, "Ghandi, Picasso, Einstein, deixaram-nos um legado valiosíssimo, seguindo caminhos muito diferentes". Isto quer dizer que a Educação na escola não constitui a única forma de aprender. E se a Escola é importante, e é, o seu pensamento estratégico não pode quedar-se pelo pensamento de ontem. Andamos a trabalhar nas consequências e não nas causas, simplesmente porque predomina uma agenda e, mais do que isso, uma atitude política redutora que muitas vezes desconstrói alguns bons passos que são dados. 
Urge uma nova concepção de Escola. Alexandre Quintanilha é um doutorado em Física. Um cientista. Tem uma frase espantosa: “EU VIVO PORQUE SOU CURIOSO”. O problema é que nós andamos a matar a curiosidade nas nossas crianças. No nosso sistema, uma criança que coloca muitas perguntas, genericamente, perturba o planeamento da aula! E não deveria ser assim. Há outras formas de organização. Li em “Professores para quê”, de Georges Gusdorf: “O mais alto ensinamento do Mestre não está no que diz, mas no que não diz”. E no meu relatório de estágio pedagógico, em 1971, escrevi no preâmbulo, uma frase de Bernard Shaw. Lembro-me como se fosse hoje: “Quem pode cria, quem não pode ensina”. Uma escola de receptores e de não participantes é uma escola condenada. E Bernard Shaw nasceu em 1856. Portanto, despertar essa curiosidade só é possível com uma ampla autonomia e com um outro enquadramento pedagógico. Não é com exames. Não há volta a dar. É nesta esteira que Ariana Cosme e Rui Trindade questionam: “Uma Escola que define a qualidade do seu ensino por uma visão enciclopédica de um conhecimento cuja utilidade se esgota nos testes, serve, afinal, para quê? (...)".
Actualmente, a taxa de retenção atinge 13%, uma das mais elevadas da União Europeia. Em 2013 (último ano em que há dados disponíveis), 165 mil alunos do ensino básico e secundário não conseguiram passar. Até aos 15 anos de idade, um em cada três estudantes já repetiu um ano. Isto corresponde,anualmente, a mais de seiscentos milhões de euros. Pergunto: há quantos anos é assumido por investigadores e pensadores que melhor seria investir esse dinheiro logo no pré-escolar e a montante do sistema educativo, junto das famílias, através de um processo global? Só agora é  que estão a chegar a isso? E, já agora, os exames no ensino básico vão continuar? Oh Senhor Ministro da Educação, demita-se. Já fez muitos estragos.
Ilustração: Google Imagens.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

PARA LER ALGUNS HISTORIADORES TENHO DE ESQUECER-ME DO QUE LI EM “JARDIM – A GRANDE FRAUDE”


Tive um professor que, logo no primeiro dia de aulas, disse que admitia a discussão sobre um qualquer tema, desde que o interlocutor fizesse, antecipadamente, um esforço de estudo e de compreensão sobre um dado conteúdo. Absolutamente correcto. Por isso, não entro pelo domínio da História, nem da sociologia, porque não fiz esse esforço e porque sempre segui o princípio de “cada macaquinho no seu poleiro”, mas entro pelo domínio do exercício da política onde a história é outra. Sobretudo no âmbito da História narram-se factos; na política existe sempre um ponto e um contraponto. A História rejeita a visão clubística, parcial e os olhos enviesados. Na política coexistem muitas verdades. É aqui que me situo. Ora, nos últimos dias tenho dado conta de posicionamentos de “historiadores” (e até de sociólogos e poetas) que parecem mais próximos do “omo ou do tide”, ao jeito de quem lava mais branco quarenta anos de atropelos, do que propriamente de uma leitura isenta que fique para a História. Daí este texto.


Sabe-se que quando há dinheiro, empreiteiros não faltam. E também que um historiador credível, aquele para quem se olha, lê e manifestamos confiança, é aquele que consegue manter um grande distanciamento ao mundo político-partidário, consegue fugir do espaço da verdade conveniente que interessa à política paroquial e dominante, permanecendo, assim, incólume à tentação de ser agradável seja a quem for. É isso, penso eu, que o cidadão comum pede a um historiador. Rejeito leituras quando o pensamento de alguém tende a rebolar deitado sobre a grande e viscosa bola do poder. Por exemplo, a história do “deve e do haver”, do meu ponto de vista, em função da sua finalidade primeira, política, não foi um tiro no pé, mas na própria cabeça do historiador. Simplesmente porque, no essencial, percorre tempos políticos que não podem ser comparados entre si. Mas essa é uma outra história, onde um trabalho de encomenda política acabou por ser colocado em uma prateleira, sem qualquer resultado prático no dirimir do debate político nacional. Foi um tiro de pólvora seca. A consequência do esforço valeu zero no plano político. E dessa prateleira não sairá. E se o objectivo maior não foi conseguido, ao madeirense em geral, no plano político, repito, quer lá saber, em suma, dos relatos, das circunstâncias e das contas ao longo de quinhentos anos. A sua preocupação centra-se na vivência do seu tempo, nas políticas que são assumidas e que podem ser geradoras de bem-estar económico, financeiro, social e cultural. 
Li declarações sobre as acessibilidades na Madeira e fiquei com o claro sentimento daquelas serem mais um hino de louvor ao paizinho partidário. Porque da mesma forma que quando há dinheiro, empreiteiros não faltam, também sabe-se que se tais obras não tivessem sido realizadas, em função dos gigantescos montantes em causa, com financiamento externo muito considerável, não seria um caso de política, mas de polícia. Portanto, o problema não se circunscreve ao domínio das acessibilidades enquanto marca do poder, numa visão unilateral e afunilada. Necessário se torna compreender o contexto, se à dita obra correspondeu a celebração do ser humano (a Madeira tem mais instituições de solidariedade social do que freguesias) ou se a "obra" foi apenas física e mais, se as prioridades foram ou não enquadradas nos doze princípios do desenvolvimento. Apenas um exemplo entre muitos (estudo de 2008): "a Noruega tinha o 3º PIB per capita do mundo e o segundo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), tem uma área de 307.000 Km2 e dispõe de 173 Km de via rápida; a Irlanda 70.000 Km2 e 176 Km de via rápida; a Madeira, com 780 Km2 e tinha 140 Km de vias rápidas".
A Noruega é rica e nós somos pobres! Na Noruega muitos túneis são “tenebrosos” (passei por dois, um de 16 e outro de 24 km) estreitos, de uma só pista com dois sentidos e menos bem iluminados, semelhantes aos antigos “furados” da Madeira, enquanto aqui, repito, numa Região pobre, assimétrica e dependente, pode-se encerrar um túnel e ali realizar um baile? Como justificar este paradoxo entre as políticas de um país rico e a pobreza de uma região de um país pobre? 
Eram necessárias novas acessibilidades, obviamente que sim, desde que muitas dessas acessibilidades fizessem parte de um rigoroso planeamento que não se esgotasse, apenas, em pontos de partida e de chegada. Que essas acessibilidades conduzissem a novos polos de economia e de desenvolvimento, mantendo a outra rede, manifestamente de interesse histórico e turístico. Mas o problema não foi apenas esse. A “fúria inauguracionista” como bem caracterizou o Deputado Edgar Silva, levou Jardim, ao mesmo tempo que mandava rasgar vias de circulação viária, a descompensar sectores determinantes do desenvolvimento sustentável. Ele, com as suas nefastas opções e falta de rigor no estabelecimento das prioridades, acabou por gerar duas dívidas: a dívida pública, para cima de seis mil milhões, que ninguém sabe como pagar e uma dívida social (onde se inclui  desastre da Educação com vergonhosas taxas de abandono e de insucesso) que levará algumas dezenas de anos a superar. 
Fico, assim, pasmado quando um historiador fala de Jardim como um político que "marcará a história do Portugal democrático pós-25 de Abril" (só se for de forma negativa, considero eu), um historiador que enaltece a sua “postura irreverente, combativa, frontal, que marcou uma forma muito própria de fazer política e de defender os interesses da Madeira” (quantos foram brutalmente ofendidos, espezinhados e afastados), como aquele que bateu recordes em termos de “longevidade como titular de cargos eleitos em processos eleitorais ganhos sucessivamente com maiorias absolutas" (à custa de quê e de quem? Será que o JM tem alguma coisa a ver com os resultados?), que “ficará na história da construção da União Europeia (…) e na memória coletiva da opinião pública e no meio político português da democracia contemporânea". Ao ponto de passar uma imagem onde a mais conhecida postura combativa deste líder (...) dá lugar ao perfil do 'gentleman', culto, simpático, acolhedor e com grande sentido de humor" (lembro-me daquela tirada, digna de um "gentleman", aos jornalistas: há para aí uns bastardos para não lhes chamar filhos da p...). Para ler isto tenho de fazer um “resert” a tudo o que li no livro “Jardim, a grande fraude” e a tudo o que vi e escutei ao longo dos últimos 40 anos. Se aquilo é História, vou ali e já volto!
Ilustração: Google Imagens.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

E A IDEOLOGIA, MEUS SENHORES?


Lista de candidaturas sorteadas e publicadas. Uma dúzia e mil e muitos “figurantes”. Partidos concorrentes dezassete, numa Região com 60% da população do concelho de Sintra. Isto, quarenta anos depois de Abril. Esta situação dá que pensar. Alguns interpretam a explosão de candidaturas como um sinal de oportunismo político. Em alguns casos, talvez, mas não vou por aí. Reconheço que é difícil caracterizar todos os interesses em jogo, quando, no essencial, os principais vectores programáticos não diferem de uns para os outros. Todos, certamente, desejam melhor sistema de saúde, melhor acesso e sucesso na educação, melhor proteção social, melhor economia geradora de emprego e, naturalmente, uma diminuição da carga fiscal. As estratégias, essas sim, podem assumir contornos distintos. Mas daí à proliferação de dezassete partidos interessados, bom, quarenta anos depois de Abril a análise exige outro cuidado. 


Uma das possíveis leituras entronca, porventura, nos longos anos de jardinismo. De uma democracia formal, enquistada, que começava e se esgotava no dia de eleições, à custa de muita manobra menos transparente, é possível que se esteja a verificar um desassossego entre os cidadãos, fartos e cheios da música que foi audível durante todos estes anos. Dir-se-á que as pessoas se cansaram e transportam, hoje, o sentimento que foram enganadas.
Aos poucos a canga colocada sobre os seus ombros, baseada na imagem do insubstituível, começou a ruir nas últimas autárquicas. O próprio construtor da sofisticada engrenagem, ainda recentemente assumiu a perversa ideia que “(…) a democracia é a arte de fazer o que eu quero, convencendo os outros de que estou a fazer o que eles querem” (AJJ, ao Diário Económico, 06.02.2015). Porém, doze candidaturas é obra! São legítimas, obviamente que sim, mas preferível seria, julgo eu, metade dos partidos ou coligações, devidamente enquadrados do ponto de vista ideológico. Sinceramente, tenho muita dificuldade em perceber, no espaço ideológico, questão essencial, qual o posicionamento desses partidos políticos? Terão uma sustentável ideologia? Qual é o seu espaço diferenciador, identificador e doutrinário? Porque não basta jogar para o ar umas frases, que não são de direita nem de esquerda, que apenas estão ao serviço do povo, que desejam ir ao encontro das pessoas para solucionar os seus problemas, que é balela se são mais verdes, vermelhos, monárquicos ou qualquer coisa já conhecida, ou, então, “avacalhar” o processo com a utilização de um pobre cidadão que assume, sei lá, pela boca populista de outros: “vendo meias, mas quando estiver a governar não me vou pôr com meias medidas”! A seriedade de um processo eleitoral, o dramatismo que envolve a situação económica e financeira da Região, os preocupantes quadros de pobreza persistente, entre uma mancheia de problemas por resolver, onde a dívida asfixia qualquer manobra, deveria merecer da parte de todos uma outra atitude que não aquela que se circunscreve a uma visão redutora e clubística. É sempre bom assistirmos ao movimento de cidadãos interessados na “coisa pública”, acabando com essa ridícula ideia de “partidos do arco do poder”, todavia, a questão que fica é se não é tempo de conjugar o surgimento de cidadãos na política activa, com novas e substanciais ideias, com a necessária qualidade, mas devida e ideologicamente enquadrados? É que eleger para governar constitui um assunto muito sério.
Artigo, da minha autoria, publicado no Funchal Notícias.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

UM FENÓMENO POUCAS VEZES VISTO

Uma colagem de fotografias para juntar, certamente, a milhares que ao fim da tarde de ontem foi possível captar. Um fenómeno poucas vezes visto e que os especialistas naturalmente sabem explicar. Interessante o facto da luz de fim de tarde ter possibilitado um contraste entre a parte mais baixa da nuvem relativamente ao seu contorno geral. Face à situação, parei o carro e fotografei.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

CONTRADIÇÕES



Ontem, na Assembleia da República, no decorrer do debate quinzenal, o primeiro-ministro Passos Coelho, a propósito das recentes declarações do Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Junker, que considerou que a austeridade atentou "contra a dignidade dos cidadãos gregos, portugueses e irlandeses", disse que dignidade dos portugueses nunca esteve em causa com o ajustamento, leia-se, com as políticas da troika. Curiosamente, ou talvez não, no mesmo dia, o ministro Mota Soares anunciou o reforço de 50 milhões para a rede de instituições sociais. Em que ficamos? Atentou ou não contra a dignidade? É verdade ou mentira que temos de recuar aos anos 60 para encontrarmos os valores da actual emigração? Existem ou não 700.000 desempregados? Um em cada quatro portugueses está ou não em risco de pobreza e quem recebe o salário mínimo ganha ou não menos 12 euros do que em 1974? Por aí fora...
Ilustração:  Google Imagens.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

OLHA QUE APANHAS SE VOLTAS A DIZER AQUILO!


Esta nossa Europa está mesmo de pantanas. Jean-Claude Junker penitenciou-se porque ele e todos os outros "pecaram contra a dignidade dos cidadãos gregos, portugueses e irlandeses". O alemão Schäuble, diz exactamente ao contrário e quer um acordo seco e curto. Servil e hipocritamente, Cavaco Silva, Passos Coelho, Paulo Portas e Maria Luís Albuquerque pensam como o alemão e estão contra o Presidente da Comissão Europeia. Entretanto, no FMI, confrontamo-nos com a Senhora Christine Lagarde, uma senhora tipo conforme: umas vezes contra a austeridade, outras a favor, mas mandando sempre os seus técnicos apertarem o pescoço, neste caso o dos portugueses. Junker diz que  (...) "é preciso aprendermos com as lições do passado". Durão Barroso anda caladinho. E António Costa veio ontem sublinhar que "(...) A declaração do presidente Juncker é sábia". Sábia em quê? Então ele não foi Comissário Europeu numa pasta que ajudou a impor a troika e a sua estratégia orientadora? Penitenciar-se, agora, depois de ter ajudado a conduzir a Europa para um pântano? Que dirá Christine Lagarde de tudo isto, depois de tantas vezes avisada? Qual a sua posição política, não apenas relativamente à Grécia, mas também junto de todos os povos que têm sido encostados à parede? 

Olha que apanhas se voltas a dizer aquilo!
E não deveria, António Costa, no plano político, exigir uma posição clara do Presidente Cavaco Silva e do Primeiro-Ministro? Há quanto tempo andam tantos a sublinhar que esta austeridade é o melhor caminho para a ruína? E vem Paulo Portas, vice-primeiro-ministro, com aquela conversa de treta, com uma no cravo outra na ferradura, colocar-se ao lado de Jean-Claude Juncker e de costas para o PSD, dizendo que a chegada da troika foi mesmo um "vexame" e que houve "hipocrisia" por parte do FMI? E o que dizer de Passos Coelho que, através do seu porta-voz, Marques Guedes, assume que a posição de Junker foi "infeliz"? Expliquem, no essencial, onde está o sucesso através das políticas de austeridade, quando Portugal passou de 96,2% de dívida pública (2009) para 128,9% em 2014? E a Grécia de 126,8% para 176,3%?
Por favor, desamparem a loja, sejam honestos. Ou a Europa regressa aos princípios pensados por Schuman e Monnet, o que me parece completamente improvável, ou caminha para a sua falência, o que será tragicamente lamentável. Um aspecto parece certo: o cidadão europeu dificilmente aceitará este jogo vergonhoso do grande capital que esmaga sem piedade os mais débeis. Será uma questão de tempo. Porque, hoje, há cada vez mais a consciência que o problema foi criado externamente e que as grandes somas disponibilizadas destinaram-se, não a salvar os povos, mas para salvar a banca desacreditada. Entretanto, tenhamos consciência que Tsipras visitou ontem uma fragata chinesa no porto de Pireu e deixou-se fotografar junto às bandeiras da China e da Grécia. Que significado político terá este quadro?
Ilustração: Google Imagens.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

WOLFGANG SCHÄUBLE PORTUGAL É "A MELHOR PROVA" DE QUE OS PROGRAMAS DE AJUSTAMENTO FUNCIONAM



Ao mesmo tempo que este senhor assume como destino a gravosa e penalizadora austeridade, Junker diz que "pecámos contra a dignidade dos cidadãos gregos, portugueses e irlandeses" (...) e que "é preciso aprendermos com as lições do passado". Junker vai ao ponto de criticar, severamente, os dez anos de Durão Barroso. O curioso disto é que Cavaco Silva, Passos Coelho, Paulo Portas e Maria Luís Albuquerque pensam como o alemão Schäuble.
Com todos os erros internos que possam ser imputados à Grécia, a verdade é que a austeridade nada resolveu num País com 35% da população em risco de pobreza. Pavloupolos, eleito Presidente da República grega, exclamou: "(...) Se isto não é uma crise humanitária, é o quê?". E em Portugal, a situação não é também dramática? Como iremos pagar a dívida, insisto, fabricada externamente? Através de uma contínua austeridade que rouba? Cavaco Silva e seus pares deveriam ter a percepção da realidade e de não alinharem nesta loucura destruidora da esperança, em consequência de uma partidarite aguda.
Ilustração: Google Imagens.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

E SE PASSOS COELHO E MARIA LUÍS ALBUQUERQUE APRENDESSEM COM PAUL KRUGMAN?


Paul Krugman, Prémio Nobel da Economia de 2008, no seu blog do New York Times: "(...) Não havia qualquer possibilidade de que Tsipras e companhia assinassem esta declaração, que nos faz questionar se os ministros do Eurogrupo sabem o que estão a fazer. Acho que é possível que sejam loucos – que não compreendem que a Grécia de 2015 não é a Irlanda de 2010, e que este tipo de pressão não funciona. Em alternativa, e creio que é o mais provável, decidiram empurrar a Grécia para o abismo. Em vez de darem algum espaço, preferem ver a Grécia forçada ao default e, provavelmente, a sair do Euro, com os previsíveis estragos económicos a servirem de lição a qualquer outro que esteja a pensar em pedir um alívio. Quer dizer: estão a preparar-se para impor o equivalente económico da “Paz Cartaginesa” que a França pensou impor à Alemanha depois da Primeira Guerra Mundial (...)".



"Krugman diz que na Grécia há um genuíno governo de esquerda. O Economista afirma que ao contrário dos anteriores, o gabinete de Tsipras não irá humilhar-se abandonando as promessas de campanha em nome da “responsabilidade”, porque os seus membros não querem ficar nas boas graças do grupo de Davos e só respondem diante do povo grego". (in Esquerda.net). Porque raio, questiono eu, os gregos e outros países têm de submeter-se à ditadura financeira imposta por grupos sem pingo de sentimento humanista. Criam e refinam as situações, engodam os povos com propostas conducentes a um aparente bem-estar, têm a paciência de esperar e, depois, provoca-lhes, algumas vezes de forma subtil, outras, descaradamente, o cerco, espremendo-os até o tutano. E o que mais me custa em tudo isto é o contínuo resvalar dos partidos socialistas para situações contrárias aos interesses dos povos. Como entender, por exemplo, as posições dos socialistas, presidente do eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, e do Comissário Pierre Moscovici, dos Assuntos Económicos e Monetários na Comissão de Jean-Claud Junker? Difícil de entender, quando o próprio Moscovici assumiu no "exame" para Comissário "(...) tratar todos os Estados-membros, grandes e pequenos, da mesma maneira". Está à vista de todos que todos são iguais, mas há uns mais iguais que outros! Afinal, onde estão os princípios ideológicos e os valores que distinguem aquelas duas figuras centrais, de uma direita que a todos, pacientemente, empurrou para o crescimento de mais milionários à custa da pobreza da maioria? Em que se distinguem dos Barroso's e Junker's desta Europa em decadência? O que os faz impor à Grécia e a outros povos um modelo de austeridade impossível de cumprir, em muitos casos consequência de uma crise fabricada externamente? Modelo criticado e assumido por várias instituições como a resposta certa para um problema errado?  
Krugman, na imagem daqueles dois senhores, é, certamente, um perigoso esquerdista radical! Que tristeza, quando a Europa precisa de credibilização e de confiança. Quando ela precisa de uma nova ordem que assegure crescimento e desenvolvimento, mas nunca à custa do sofrimento de milhões de cidadãos empurrados para as margens! Quando derem por isso, face a tantos e graves problemas por resolver, entre os Estados membros e países vizinhos, poderá ser tarde.
Ilustração: Google Imagens.

"NÃO HÁ TEMPO PARA JOGOS NA EUROPA" - UM ARTIGO DE YANIS VAROUFAKIS


"ATENAS — Escrevo este artigo à margem de uma negociação crucial com os credores do meu país — uma negociação cujo resultado poderá marcar uma geração, e tornar-se mesmo um ponto de viragem quanto aos efeitos da experiência da Europa com a união monetária. Teóricos dos jogos analisam negociações como se elas fossem jogos de divisão de bolos em que participam jogadores egoístas. Por ter, na minha vida anterior, na qualidade de académico, estudado durante muitos anos a Teoria dos Jogos, alguns comentadores precipitaram-se a concluir que, na qualidade de ministro das Finanças grego, estava a conceber bluffs, estratagemas e outras opções, tentando obter uma posição de vantagem apesar de dispor de um jogo fraco. Nada podia estar mais longe da verdade.


Quando muito, o meu passado de Teoria dos Jogos convenceu-me de que seria uma completa loucura pensar nas actuais deliberações entre a Grécia e os nossos parceiros como um jogo de regateio a ser ganho ou perdido através de bluffs e subterfúgios tácticos.
O problema da Teoria dos Jogos, como eu costumava contar aos meus alunos, é o de assumir como dado adquirido os motivos dos jogadores. No poker ou no blackjack, esta premissa não é problemática. Contudo, nas actuais deliberações entre os nossos parceiros europeus e o novo governo grego, aquilo que se pretende no fim de contas é forjar novos motivos. Criar uma nova mentalidade que transcenda divisões nacionais, dilua a distinção credor-devedor em prol de uma perspectiva pan-europeia e que ponha o bem comum europeu acima da mesquinhez política, dogma nocivo se generalizado, e da mentalidade nós-contra-eles.
Como ministro das Finanças de uma pequena nação, com enormes restrições orçamentais, sem um banco central próprio e vista por muitos dos nossos parceiros como devedor problemático, estou convencido de que temos uma única opção: afastar qualquer tentação de tratar este momento decisivo como um ensaio estratégico e, em vez disso, apresentar honestamente os factos da economia social grega, apresentar as nossas propostas para que a Grécia volte a crescer, explicando os motivos pelos quais elas são do interesse da Europa, e revelar as linhas vermelhas que a lógica e o dever nos impedem de ultrapassar.
A grande diferença entre este governo grego e o anterior tem duas vertentes: estamos determinados a combater interesses para dar um novo impulso à Grécia e conquistar a confiança dos nossos parceiros e estamos determinados a não ser tratados como uma colónia da dívida que deve sofrer aquilo que for necessário. O princípio da maior austeridade para a economia mais deprimida seria pitoresco, se não causasse tanto sofrimento desnecessário.
Frequentemente, perguntam-me: e se a única forma de assegurar financiamento for ultrapassar as linhas vermelhas que estabeleceu e aceitar medidas que considera serem parte do problema e não da solução? Fiel ao princípio de que não tenho direito a fazer bluff, a minha resposta é: as linhas vermelhas não serão ultrapassadas. De outra forma, não seriam verdadeiramente vermelhas, seriam um mero bluff.
E se tudo isto trouxer muito sofrimento ao seu povo? Perguntam-me. Está, certamente, a fazer bluff.
O problema desta linha argumentativa é o de partir do princípio, de acordo com a Teoria dos Jogos, de que vivemos numa tirania de consequências. Que não há circunstâncias nas quais devemos fazer o que é correcto, não como estratégia, mas por ser…correcto.
Contra este cinismo, o novo governo grego irá inovar. Iremos cessar, independentemente das consequências, acordos que são errados para a Grécia e errados para a Europa. O jogo do “adiar e fingir”, que começou depois de o serviço da dívida pública grega não poder ter sido cumprido em 2010, vai acabar. Acabaram-se os empréstimos – pelo menos, até termos um plano credível de crescimento da economia para pagar esses empréstimos, ajudar a classe média a recuperar e resolver as terríveis crises humanitárias. Acabaram-se os programas de “reforma” que se dirigem aos pobres pensionistas e a farmácias familiares e mantém intocável a corrupção em grande escala
O nosso governo não está a pedir aos nossos parceiros uma solução para pagar as dívidas. Estamos a pedir alguns meses de estabilidade financeira que nos permita criar reformas que uma extensa camada da população grega possa assumir e apoiar, para podermos voltar a ter crescimento e acabar com a nossa falta de capacidade de pagar as nossas dívidas.
Pode pensar-se que esta retirada da Teoria dos Jogos é motivada por uma qualquer agenda de esquerda radical. Nem por isso. Aqui, a maior influência é Imannuel Kant, o filósofo alemão que nos ensinou que a saída racional e livre do império da conveniência é fazer aquilo que é correcto.
Como sabemos que a nossa modesta agenda política, afinal de contas a nossa linha vermelha, em termos kantianos, é a correcta? Sabemos, olhando nos olhos dos esfomeados nas ruas ou contemplando a pressão sobre a nossa classe média, ou considerando os interesses dos diligentes trabalhadores de cada aldeia, vila e cidade na nossa união monetária. No fim de contas, a Europa só recuperará a sua alma quando recuperar a confiança das pessoas, pondo os interesses delas na linha da frente."
Yanis Varoufakis é o ministro das Finanças da Grécia. Publicado no New York Times
Traduzido no blogue AVENTAR

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

PROTOCOLO É UMA COISA, JANTAR, OUTRA!


A Senhora Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal estará na Madeira em visita de trabalho. Óptimo, porque há muito a ver e apreciar relativamente aos serviços do Ministério Público na Região. Trata-se, portanto, de uma visita de trabalho, repito. E embora as regras protocolares devam ser respeitadas, há que não esquecer que a Procuradora ocupa o 10º lugar na lista de precedências, enquanto o Presidente do Governo Regional o 15º lugar nessa listagem do protocolo do Estado Português. Porém, justifica-se que a Drª Joana Marques Vidal, por cortesia, seja recebida pelo Presidente da Assembleia Legislativa e, depois, pelo Presidente do Governo Regional. Nunca ao contrário! O que já não é aceitável é que o Presidente do Governo, segundo noticia o DN-Madeira, ofereça um jantar, na Quinta Vigia, em honra da responsável máxima da hierarquia do Ministério Público.


Nem é a Assembleia Legislativa, enquanto primeiro órgão de governo próprio a ter essa iniciativa, mas o órgão executivo presidido por Alberto João Jardim. Isto numa altura que decorrem investigações no processo designado por "Cuba Livre" e que envolve alegadas suspeitas sobre membros dos governos por si liderados. 
Enquanto cidadão preferia ver a Senhora Procuradora distante desses ambientes. A história da "mulher de César...". Uma coisa é o protocolo, outra a convivência à mesa de jantar. Espero que os arguidos de tal processo não estejam sentados lado-a-lado com a Senhora Procuradora. Mas se tal acontecer, sinceramente, não ficarei espantado. Alberto João Jardim é, politicamente, hábil e provocador, tantas as vezes já o demonstrou!
Jantares que têm servido para salamaleques, discursos de circunstância, elogios e para a entrega de "lembranças". Espero que não sirva para amolecer o que cada órgão tem por missão fazer. Aliás, há momentos que se justifica um jantar de boas-vindas, em outros, por diversas razões, directas e indirectas (há uma investigação em curso) a imagem de independência deveria ser totalmente preservada, não querendo com isto dizer que a Senhora Procuradora da República seja influenciável. Mas que não deveria se expor a leituras colaterais, parece-me óbvio. No mínimo, deveria saber o que a casa gasta!
Ilustração: Google Imagens.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

UMA EUROPA EM DECADÊNCIA



Este senhor Jeroen Dijsselbloem (à esq), presidente do Eurogrupo, o tal que disse ter um mestrado que, afinal, não tem, em conjunto com muitos dos seus parceiros que alinham no designado "masoquismo económico e financeiro", dá-me a entender que está a esticar o elástico até ao limite. Na reunião de hoje dos ministros das Finanças da zona euro, realizada em Bruxelas, a Grécia rejeitou uma proposta de compromisso face à qual o governo grego teria de prolongar e concluir o actual programa de assistência financeira. Uma fonte do governo grego considerou "absurda" e "inaceitável" tal proposta. A austeridade é o caminho, muito embora tal caminho já tivesse sido condenado por tantos economistas e políticos. Os próximos capítulos serão muito complexos e a Europa corre o sério risco de entrar em colapso. Como mero observador penso que não estão a ver o filme todo. Será apenas paleio ou a aproximação à China e à Rússia é uma hipótese em cima da mesa? Em todo este processo europeu há uma figura que tem passado entre a chuva sem se molhar. Refiro-me a Durão Barroso que presidiu aos destinos europeus durante dez anos. Não serão estas, também, consequências das suas políticas?

FAÇAM ALGUMA COISA... MEXAM-SE!


"Falei da DRAC, mas a Câmara Municipal do Funchal também não deve alhear-se das suas responsabilidades e está ainda a tempo de fazer alguma coisa. Poucas cidades deste país podem orgulhar-se de ter um "filho" com a craveira cultural e intelectual de António Aragão. António Aragão, para além do artista, historiador e homem de letras que foi, dirigiu uma instituição, o Arquivo Regional, a que devemos muito da organização da documentação da nossa história. Apetece-me dizer: porra, falam tanto de autonomia, mas esquecem os homens que emprestaram valor reconhecimento e prestígio à sua afirmação nacional". Texto de Danilo Matos, deixado  na minha página de facebook.


Caríssimo Amigo Danilo, será uma questão de dinheiro ou de insensibilidade? Não sei. Factos que demonstram a insensibilidade através da destruição de património, existem muitos. Nos últimos vinte anos, no Funchal, contam-se dezenas de casos. Tenho elementos que provam-no. Será pela falta de dinheiro? Não, não creio que seja por isso. Portanto, estou mais inclinado para a insensibilidade, esquecendo-se alguns que a cultura é geradora de economia. Sei quanto pago para visitar museus e até catedrais. 
Cada um na sua dimensão, obviamente, tive a felicidade de visitar muitas casas de figuras que nos deixaram inquestionáveis legados. Três exemplos, entre muitas casas que tive o ensejo de visitar: a casa e os jardins de Claude Monet, em Giverny, a norte de Paris; a casa de Shakespeare, em Stratford-upon-Avon ou a de Mozart em Salzburg. Tenho presente os cantos e recantos desses espaços. De tempos em tempos a elas regresso através do vídeo ou das fotografias. Amigo meu com quem viajei durante muitos anos, disse-me tantas vezes: há filas para entrar num estádio de futebol, mas veja aqui, no Louvre, a fila e o tempo que temos de esperar. O mesmo me disse junto aos museus do Vaticano, no Prado ou na Reina Sofia em Madrid, no Van Gogh em Amesterdão ou nas catedrais de Colónia ou de Ulm, na Alemanha. Por todo o lado sente-se que a cultura cada vez mais vende. Tive a felicidade, repito a palavra felicidade, de visitar, por duas vezes, a Galeria Uffizi, em Florença e, com bilhete na mão, esperei mais de quarenta e cinco minutos para lá entrar. Ou, então, o tempo de espera junto à majestosa catedral da Sagrada Família, em Barcelona. Portanto, Caríssimo Danilo, faltou e falta em sensibilidade o que em dinheiro abundou! E que ainda existe. Está é muito mal distribuído, como se sabe. Falo de sensibilidade. Eu visito porque considero importante, para conhecer e aprender (o mesmo se passa com tantos milhões de turistas), embora, no meu caso, não seja, nem minimamente, uma pessoa com a necessária formação para interpretar tanto que as oportunidades me possibilitaram.
Vivi ao lado da casa de António Aragão, na Calçada do Pico. Ele no 35 e a minha família no 37. Conheci o Dr. António Aragão e a sua mulher Estela, recentemente falecida. Julgo que aquela casa poderia ser aproveitada para enquadrá-la no roteiro histórico de S. Pedro, nela figurando a sua obra a par das aquisições por ele realizadas. Dispenso e lá nunca entrarei nessa futura "casa-museu" de Alberto João Jardim, mas não dispensaria ver o essencial da casa de Aragão. E para quem tiver dúvidas sobre a figura que, na expressão do Escultor António Rodrigues, "vai a leilão", deixo um link do blogue do Advogado e Historiador Rui Nepomuceno. Façam uma visita e leiam-no. Entretanto, façam também alguma coisa... mexam-se em defesa das nossas memórias e referências.
http://ruinepomuceno.blogspot.pt/2010/02/antonio-aragao-e-o-experimentalismo.html
Ilustração: Google Imagens. Trabalhos de António Aragão.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

COM MIGUEL ALBUQUERQUE O DESEMPREGO CRESCERÁ


Em entrevista ao Económico TV, o candidato do PSD, Miguel Albuquerque, a propósito da tão badalada "reforma do Estado" disse muito claramente: "(...) Não deve haver ilusões" (...) "É despedir funcionários públicos, não vale a pena estar com ilusões, 78% da despesa do Estado é com pessoal". Para o candidato do PSD-M, o Governo da República devia ter criado um fundo ou uma bolsa fora do quadro do Orçamento do Estado para pagar os despedimentos e nessa altura "tirava 10, 15, 20, 30, 40 mil pessoas" e fazia a reforma do Estado. Entretanto, o seu secretário-geral divulgou um comunicado que nada desmente, pelo contrário, por outras palavras confirma. E com a subtileza que se trata de uma medida "que não será aplicada na Madeira". Como se a Autonomia ainda existisse e como se, face às conhecidas fragilidades económicas e financeiras, Passos Coelho/Paulo Portas não obrigassem a uma aplicação na Região. Numa aproximação à "batalha naval", o que Miguel Albuquerque disse corresponde a um tiro certeiro em um submarino!


Miguel Albuquerque ao invés de falar de mudança na política económica visando a criação de empresas e de trabalho, fala de despedimento, quando ele sabe, ora se sabe, o que resultou do despedimento de médicos e de enfermeiros (sistema de Saúde), de professores (sistema Educativo), da não contratação de funcionários no sistema de Justiça, enfim, em todos os sectores da actividade da Administração Pública. Os dados estão aí e não vale a pena ignorá-los. Dir-se-á que lhe fugiu a língua para a verdade que alimenta o seu pensamento. E há quem vá nisto. 
Ora bem, o Dr. Miguel Albuquerque tem um "professor" que se chama Passos Coelho. Existe ali um indesmentível cordão umbilical, umas algemas e uma pulseira electrónica que acabam por definir que o caminho da Região é o caminho do País. Ponto final. Tudo o resto é paleio, são fait-divers, são visitas de circunstância aqui e ali para tentar, repito, tentar, dizer que isto agora será diferente. Com ele, não será. Aliás, não se sabe o que Albuquerque pensa das políticas para o sistema de saúde, sistema educativo, sistema empresarial, para o sistema social de combate à pobreza que alastra, do facto da Madeira ter mais instituições de solidariedade social do que freguesias, sobre o que fazer aos 22.000 desempregados, sobre as questões ambientais, sobre as políticas de agricultura e pescas, sobre a dupla austeridade, sobre a gravosa política fiscal, sobre a dívida criada pelo seu partido no governo, superior a seis mil milhões, em síntese, qual o seu pensamento estratégico que arranque a Região da falência em que se encontra. O que é público é que o piano toca a mesma música. Os dedos procuram os mesmos sons. E não é depois das eleições que estes assuntos devem ser conhecidos. Como Passos Coelho o fez, dizendo uma coisa antes e fazendo o seu contrário após o acto eleitoral. Andar de concelho em concelho em visitas para a fotografia é chão que deu uvas. De todos espera-se que digam o que pensam e que se comprometam, porque isto já não vai com campanhas de beijinhos. 
Ilustração: Google Imagens.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

O ESPÓLIO DO DR. ANTÓNIO ARAGÃO. PEÇAS QUE NUNCA DEVERIAM SER LEILOADAS


São mais de 700 peças que vão a leilão. Assume o leiloeiro que este será “(...) um dos leilões mais mediáticos em virtude de 70% das peças serem peças de museu, peças para coleccionadores”. Leio no DN-Madeira, um trabalho da jornalista Paula Henriques: "são pedaços da vida do conhecido pintor, escultor, poeta, historiador e investigador madeirense, uma figura de relevo das artes e da cultura (...) arte figurativa, abstracta, pinturas do séc. XVII e XVIII, arte sacra com peças desde o séc. XVI. No conjunto há verdadeiros tesouros, como um original de Vasarely – a peça mais mediática do conjunto (...)". Sabia deste leilão e lamento, profundamente, que a Região, através do Governo Regional, não se tivesse posicione.


Não faço qualquer juízo de valor, mas sei que a Região Autónoma da Madeira, salvo erro em 2002, adquiriu um palacete do século XIX, para albergar as memórias de vida de João Carlos Abreu, ex-governante. E não faço, também, qualquer juízo de valor a Alberto João Jardim que herdou a casa da mãe, falecida em 2006, alienando-a à Fundação Social-Democrata por € 140.000,00, que por sua vez está a transformá-la num museu dedicado ao seu antigo proprietário, presidente do Governo Regional da Madeira. A ideia, li algures, é a de "colocar na casa-museu uma exposição das placas, medalhas e outros objectos oferecidos ao governante madeirense (...) recriando o mais fiel possível, a vida e a obra do homem que dirigiu os destinos do arquipélago da Madeira". Percebem-se as razões políticas.
Ora, com o devido respeito pelo percurso de vida destas duas figuras, o de António Aragão é singular. E o governo, moita! Sepulcral silêncio. Aquelas 700 peças deveriam constituir um espaço de memória desta importante figura madeirense. É caro, muito caro, pois é. Mas é um madeirense, nascido em S. Vicente (1921/2008), ex-director do Arquivo Distrital do Funchal (agora Arquivo Regional da Madeira). A sua produção artística não deveria ficar espalhada por aí. A cultura agradecia e seria uma forma de perpectuar a sua memória. O historiador Doutor Rui Carita recordou-o como "(...) uma das grandes figuras da cultura portuguesa do século XX". E a Região da Madeira, moita!
Quando fui Vereador da Câmara Municipal do Funchal, muito antes da sua morte,  propus a Medalha de Mérito Municipal Ouro da Cidade ao Dr. António Aragão. O presidente da autarquia de então, Dr. Miguel Albuquerque e a sua equipa chumbaram a proposta. Ficou-se pela designação de um arruamento. Não fiquei admirado. E, neste momento, estou quase certo que não vou assistir a um movimento que trave este leilão. Fico com pena. Para mim é claro que para a Região a cultura conta muito pouco. Importante é ter futebol profissional e túneis, inclusive, na cabeça das pessoas. (ler aqui um texto do Dr. Rui Nepomuceno)
Ilustração: Google Imagens.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

ALUNOS UNIVERSITÁRIOS DESPEM-SE PARA AJUDAR ALUNOS CARENCIADOS


Ao ponto que isto chegou! A necessidade de alunos da Universidade do Minho (entretanto parece que, rapidamente, a iniciativa se espalhou por todo o país), deixarem-se fotografar em nu discreto, a fim de produzirem calendários que visam angariar fundos para atenuar as dificuldades financeiras dos colegas. Não tenho qualquer preconceito relativamente à iniciativa. O nu pode ser artístico e, portanto, de acordo com o que vi, a qualidade supera aquilo que poderia ser considerado uma mera irreverência dos jovens. O que me preocupa é uma outra coisa: é o que a Constituição da República sublinha e aquilo que o governo faz.


Artigo 73.º
Educação, cultura e ciência
1. Todos têm direito à educação e à cultura.
2. O Estado promove a democratização da educação e as demais condições para que a educação, realizada através da escola e de outros meios formativos, contribua para a igualdade de oportunidades, a superação das desigualdades económicas, sociais e culturais, o desenvolvimento da personalidade e do espírito de tolerância, de compreensão mútua, de solidariedade e de responsabilidade, para o progresso social e para a participação democrática na vida colectiva.
O que o governo faz é exactamente o contrário. Alinha no Processo Bolonha, reduzindo as Licenciaturas para três anos (por um lado, desresponsabiliza-se do financiamento, por outro, ajuda ao pensamento único), aplica uma propina anual aos estudantes, a qual ultrapassa os € 1.000,00, reduz os apoios da Acção Social e explora os Mestrados com propinas absolutamente disparatadas. Pelo meio cresce o financiamento aos privados e reduzem, substancialmente, as verbas para a investigação científica. 
Tenho um Amigo de provecta idade que, ainda ontem, me dizia no meio da nossa longa cavaqueira: apetece-me dizer-lhes tudo terminando em "uta". De facto, ao ponto a que isto chegou. Na Educação é assim e, na Saúde, decorre um banco farmacêutico para recolha de medicamentos visando a entrega em instituições de solidariedade social. Um governo "uta", cuja caracterização máxima está na declaração da ministra das Finanças: "Não se pode ter tudo"! Já agora uma sugestão: que todos os membros do governo se dispam. Homens e mulheres. O problema, certamente, é que ninguém comprará os calendários.
Ilustração: Google Imagens.