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sábado, 2 de janeiro de 2016

DISCURSO DE ANO NOVO OU DE PRESIDENTE DE ANO VELHO?


O Presidente Aníbal Cavaco Silva, na sua última mensagem de Ano Novo, classificou como "dever" de todos nós, a defesa do "modelo político, económico e social" que "trouxe paz, desenvolvimento e justiça" a Portugal. Considerou, também, muito importante a necessidade de que seja renovado "o contrato de confiança entre todos os portugueses" e lembrou que "ao longo da História muitos milhares de portugueses partiram para o estrangeiro em busca de melhores condições de vida", sublinhando aquilo que foi considerado como o fenómeno dos "retornados". Falou, também, de um Portugal onde "os portugueses que o estão a fazer querem viver numa terra de paz, de solidariedade e de progresso", para o que "é fundamental combater as desigualdades e as situações de pobreza e exclusão social que afectam ainda um grande número de cidadãos". Exemplificou: "os idosos mais carenciados, os desempregados ou empregados precários, os jovens qualificados que não encontram no seu país o reconhecimento que merecem."


Ainda bem que foi o seu último discurso de ano novo. Porque já não há pachorra para escutar este político que tenta passar por não político. Depois de uma vida quase inteiramente dedicada ao exercício da política (dez anos como primeiro-ministro e dez como presidente da República) este discurso, a par de outros, denunciou que não percebeu que foi este modelo "político, económico e social" que nos conduziu ao estado no qual mergulhámos. Cerca de meio milhão de emigrantes, desemprego estrutural, pobreza, roubo aos reformados e pensionistas, corte nos direitos básicos sociais, enfim, nada disto mexeu e mexe com a sua consciência de presidente de todos os portugueses. Comparar a emigração de hoje com a situação dos "retornados" (palavra que não gosto) seja a que título, contexto e pretexto for é, no mínimo, uma infelicidade política, mas diz bem do seu pensamento. O mais curioso, porém, é que ao mesmo tempo que defende e incentiva este "modelo político, económico e social", também vem assumir, qual paradoxo, "as desigualdades e as situações de pobreza e exclusão social que afectam ainda um grande número de cidadãos". Dificilmente se percebe. Ou percebe-se. Uma coisa, porém, percebi: a ausência de referência explícita ao que se passou e ao que se passa na banca. Essa ausência de comentário, directo ou indirecto, tem a sua razão de ser. Percebe-se, claramente!
Ilustração: Google Imagens. 

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