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sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

POLÍTICA SOCIAL ENTRE A REALIDADE E A ALDRABICE DO DISCURSO POLÍTICO



O debate de ontem na Assembleia Legislativa da Madeira, sobre a problemática da protecção às pessoas idosas e indefesas, não passou de um paleio gasto, requentado e sobretudo irritante pela clara ausência de soluções políticas. O que ouvi e li assemelha-se a um disco muito antigo, um vinil riscado de tanto tocar sem um mínimo cuidado, uma melodia que fere os tímpanos, uma letra gasta, mentirosa, aldrabona que devia ser expedida para a Meia-Serra. Lançaram números, o habitual, e generalidades do tipo "a vocação natural do apoio aos idosos é reforçar o apoio domiciliário. É indiscutível que a melhor forma de apoiar os idosos é mantê-los no seu ambiente". Obviamente que não seria necessário um debate para esta tão "brilhante" conclusão. Da mesma forma assumir que "temos de ser realistas e não podemos dizer que vamos resolver isto de um dia para o outro". Pois, apenas com um pormenor, é que já lá vão quarenta anos de responsabilidades que não podem ser divididas com outros protagonistas políticos, imputadas a erros de estratégia política de partidos que nunca ocuparam a cadeira do poder. 


E tantos que foram e têm sido os alertas. Basta consultar o "Diário das Sessões" da Assembleia para verificar quantos analisaram, quantos apresentaram propostas consistentes, quantos textos foram produzidos no sentido de gerar uma sociedade menos desequilibrada e dependente. Ninguém pode dizer que a oposição política não fez o seu trabalho de alerta, não de bota abaixo, mas propositivo e de uma forma necessariamente integrada. Não me refiro, apenas, ao complemento solidário no quadro das pensões mais baixas que, na Região Autónoma dos Açores é pago, mensalmente, há vários anos e integrado no Orçamento Regional. E não me refiro, sequer, ao apoio que é prestado aos mais vulneráveis para que não deixem no balcão das farmácias os medicamentos que mais necessitam. Falo, sobretudo, de políticas laborais, das políticas de emprego, das políticas de família, das políticas de mentalidade, das políticas educativas e dos direitos sociais sucessivamente usurpados que conduziram à degradação. Quarenta anos são, grosso modo, 14.600 dias de opções políticas que transformaram a paisagem, é verdade, mas que não transformaram o ser humano que aqui habita. As margens da sociedade aumentaram na mesma proporção de muita aparência de "gente feliz... com lágrimas", a fome aumentou e a fuga para longe retornou, os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais na miséria, os que mais têm sabem como fugir às responsabilidades tributárias, enquanto os outros são esmifrados e batem à porta das paróquias e das instituições de solidariedade social. Pais e avós aguentam filhos e netos, as dívidas dispararam, as insolvências individuais também, enfim, assiste-se a uma degradação social e a uma violência (de etiologia vária) sem fim à vista. E perante esta realidade ouve-se a conversa de treta do presidente do governo. Um exemplo: segundo um deputado do CDS, são 463 os casos de alta problemática entre idosos (...) o que significa um valor superior a 60% relativamente ao de 2012. A este propósito disse o presidente que há famílias que "vão de férias para Canárias e deixam os idosos nos hospitais", levianamente, generalizando o que é do domínio certamente pontual, para além de provar a ausência de controlo institucional. Mas não falou de um sistema de saúde onde falta de tudo um pouco. Há dias um médico denunciou tudo o que o sistema padece. E há dias, também, soube-se do encerramento do bloco operatório (não é a primeira vez) devido "à ruptura do stock de componentes de aspiração" (DN). Apenas um exemplo da degradação dos serviços que cada vez mais denuncia estar fora de controlo político.
Se há sector ou área social que o governo deveria andar com o rabinho entre as pernas, em penitência permanente, é, exactamente, na política do idoso. Oh diacho, não se lembraram que as obras megalómanas seriam finitas, até pela própria dimensão das ilhas e que outras prioridades sustentáveis se justificavam no quadro de uma sociedade mais equilibrada, justa e tendencialmente feliz? Não era óbvio que outras teriam de ser as políticas, quando a pergunta central de um qualquer planeamento é a de perceber quais os efeitos futuros de uma decisão tomada hoje? Entre outros, quais os seus custos e quais os seus benefícios! Quantos milhares de milhões foram gastos, inutilmente, para gáudio dos presentes nas inaugurações e que, sabendo, deixaram tantos na mais profunda miséria? Sinceramente, choca-me quando os políticos não assumem o erro (coisa cada vez mais impossível) mas pior, ainda, quando não apresentam saídas políticas e de natureza orçamental capazes de visualizarmos uma solução. Mesmo que a prazo longo.
Ilustração: Google Imagens.

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