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domingo, 31 de janeiro de 2016

A IRRACIONALIDADE DA GANÂNCIA


Há muito que me é doloroso seguir um telejornal. Angustia-me uma grande parte das notícias e sobretudo aquelas acompanhadas de imagens. Vivemos um mundo em ruptura, em permanente guerra, não apenas com armas convencionais de destruição e matança indiscriminada, mas também de outras situações que ofendem a dignidade do ser humano. Normalmente coincide com a hora de jantar e aí ainda mais penosa se torna a situação. O conflito, a bomba que explode, o negócio das armas, o drama dos refugiados, as crianças famintas e desorientadas, a morte semeada sem piedade, a violência gratuita, a riqueza de uns poucos à custa da extrema pobreza de quase todos os seres humanos, os donos da engrenagem financeira que consideram "lixo" um país quase milenar, a sistemática mentira política, dita sem pejo algum, que ofende, quando estamos a ver o filme da aldrabice, a permanente submissão a "Tratados" pacientemente armadilhados para que, a prazo, não possamos fugir do esmagamento (Berlim já avisou que "as regras são para se cumprir"), enfim, para onde caminhamos, é a pergunta.


Caminhamos, a maioria sem rumo, vivendo o dia-a-dia, enquanto alguns, marcham seguros dos seus passos que a ganância lhes impõe. Tornaram-se insaciáveis e escravos de si próprios. Que lhes interessa saber da morte de tanto inocente, se falta água potável, alimentos e escola para milhões, que só em Portugal, em 2014, 1218 pessoas, por desespero e crise, se suicidaram (números que pecam por defeito, sabe-se, afora os casos de tentativa), isto é, a cada oito horas há um ser humano que põe termo à vida, repito, que lhes interessa as causas desta dura realidade, quando nadam em um oceano de milhões. Um grande Amigo meu, há uns anos, integrou uma missão profissional ao Brasil. Foi recebido e jantou na casa de um magnata. Uma casa de revista, mas de onde se avistava uma das grandes favelas. A páginas tantas, a sensibilidade social desse meu Amigo, levou a questionar, com natural elegância, a situação dos que vivem na margem social. Respondeu-lhe de forma seca: "eu não sei nada de pobreza". E a conversa ficou por ali. Esta narrativa, muito localizada e específica, é certo, diz bem do sentimento de muitos que ainda não perceberam que para estarem bem e seguros, necessitam que todos os demais têm de gozar de um mínimo de dignidade. 
Vamos acabar muito mal. É uma mera convicção. Desde logo, esta nossa Europa, cada vez mais doente e desnorteada, sem força e sem soluções, sem lideranças fiáveis, prisioneira dos interesses, submissa aos "mercados" e vergonhosas agências de rating, irá claudicar mais cedo do que se possa pensar. Não há quem aguente tanta incompetência, actos contraditórios e tanta insegurança nas decisões. E por tudo isto e muito mais, o receio invade-me porque da evidente instabilidade e desconfiança generalizada podem resultar indesejáveis situações de conflito. A teia está cada vez mais complexa e cada vez mais preocupante.
Ilustração: Google Imagens.

sábado, 30 de janeiro de 2016

CONTRADIÇÕES OU COMO GASTAR SEM SER RESPONSABILIZADO



Factos:
1. "Maria João Monte (presidente da Sociedade Metropolitana de Desenvolvimento (SMD) recordou, na comissão de inquérito à obra da Marina do Lugar de Baixo, que estudos feitos depois de várias intempéries que levaram à destruição do quebra-mar revelaram que a onda real, no local, é de 8 a 9 metros e de 20 segundos de frequência, muito superior ao do projecto inicial." Segundo o governo aquele espaço é para ser definitivamente encerrado (abandonado). (DN-Madeira)
2. "O antigo presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim, afirmou, esta manhã, no Funchal, que a Madeira "nunca mais consegue ir em frente" e criar emprego se continuar "sobrecarregada com a dívida" pública, pelo que defendeu que a dívida regional deve ser paga pelo Governo de Lisboa. "O Estado deve assumir dívida da Madeira, porque a Madeira é parte do Estado português (...)".
Perguntas (entre outras):
1. Quem fez os estudos visando a construção da Marina do Lugar de Baixo, não é responsabilizado?
2. Quem autorizou não fica sob a alçada da Justiça uma vez que estão em causa dinheiros públicos?
3. É lícito e natural que outros paguem os gravíssimos erros de planeamento, adjudicação e construção, só pelo facto da Região ser parte integrante do Estado português?
4. O que significa possuir um Estatuto de Região Autónoma dotada de órgãos de governo próprio? Ser autónomo não significará ser responsável?

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

POLÍTICA SOCIAL ENTRE A REALIDADE E A ALDRABICE DO DISCURSO POLÍTICO



O debate de ontem na Assembleia Legislativa da Madeira, sobre a problemática da protecção às pessoas idosas e indefesas, não passou de um paleio gasto, requentado e sobretudo irritante pela clara ausência de soluções políticas. O que ouvi e li assemelha-se a um disco muito antigo, um vinil riscado de tanto tocar sem um mínimo cuidado, uma melodia que fere os tímpanos, uma letra gasta, mentirosa, aldrabona que devia ser expedida para a Meia-Serra. Lançaram números, o habitual, e generalidades do tipo "a vocação natural do apoio aos idosos é reforçar o apoio domiciliário. É indiscutível que a melhor forma de apoiar os idosos é mantê-los no seu ambiente". Obviamente que não seria necessário um debate para esta tão "brilhante" conclusão. Da mesma forma assumir que "temos de ser realistas e não podemos dizer que vamos resolver isto de um dia para o outro". Pois, apenas com um pormenor, é que já lá vão quarenta anos de responsabilidades que não podem ser divididas com outros protagonistas políticos, imputadas a erros de estratégia política de partidos que nunca ocuparam a cadeira do poder. 


E tantos que foram e têm sido os alertas. Basta consultar o "Diário das Sessões" da Assembleia para verificar quantos analisaram, quantos apresentaram propostas consistentes, quantos textos foram produzidos no sentido de gerar uma sociedade menos desequilibrada e dependente. Ninguém pode dizer que a oposição política não fez o seu trabalho de alerta, não de bota abaixo, mas propositivo e de uma forma necessariamente integrada. Não me refiro, apenas, ao complemento solidário no quadro das pensões mais baixas que, na Região Autónoma dos Açores é pago, mensalmente, há vários anos e integrado no Orçamento Regional. E não me refiro, sequer, ao apoio que é prestado aos mais vulneráveis para que não deixem no balcão das farmácias os medicamentos que mais necessitam. Falo, sobretudo, de políticas laborais, das políticas de emprego, das políticas de família, das políticas de mentalidade, das políticas educativas e dos direitos sociais sucessivamente usurpados que conduziram à degradação. Quarenta anos são, grosso modo, 14.600 dias de opções políticas que transformaram a paisagem, é verdade, mas que não transformaram o ser humano que aqui habita. As margens da sociedade aumentaram na mesma proporção de muita aparência de "gente feliz... com lágrimas", a fome aumentou e a fuga para longe retornou, os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais na miséria, os que mais têm sabem como fugir às responsabilidades tributárias, enquanto os outros são esmifrados e batem à porta das paróquias e das instituições de solidariedade social. Pais e avós aguentam filhos e netos, as dívidas dispararam, as insolvências individuais também, enfim, assiste-se a uma degradação social e a uma violência (de etiologia vária) sem fim à vista. E perante esta realidade ouve-se a conversa de treta do presidente do governo. Um exemplo: segundo um deputado do CDS, são 463 os casos de alta problemática entre idosos (...) o que significa um valor superior a 60% relativamente ao de 2012. A este propósito disse o presidente que há famílias que "vão de férias para Canárias e deixam os idosos nos hospitais", levianamente, generalizando o que é do domínio certamente pontual, para além de provar a ausência de controlo institucional. Mas não falou de um sistema de saúde onde falta de tudo um pouco. Há dias um médico denunciou tudo o que o sistema padece. E há dias, também, soube-se do encerramento do bloco operatório (não é a primeira vez) devido "à ruptura do stock de componentes de aspiração" (DN). Apenas um exemplo da degradação dos serviços que cada vez mais denuncia estar fora de controlo político.
Se há sector ou área social que o governo deveria andar com o rabinho entre as pernas, em penitência permanente, é, exactamente, na política do idoso. Oh diacho, não se lembraram que as obras megalómanas seriam finitas, até pela própria dimensão das ilhas e que outras prioridades sustentáveis se justificavam no quadro de uma sociedade mais equilibrada, justa e tendencialmente feliz? Não era óbvio que outras teriam de ser as políticas, quando a pergunta central de um qualquer planeamento é a de perceber quais os efeitos futuros de uma decisão tomada hoje? Entre outros, quais os seus custos e quais os seus benefícios! Quantos milhares de milhões foram gastos, inutilmente, para gáudio dos presentes nas inaugurações e que, sabendo, deixaram tantos na mais profunda miséria? Sinceramente, choca-me quando os políticos não assumem o erro (coisa cada vez mais impossível) mas pior, ainda, quando não apresentam saídas políticas e de natureza orçamental capazes de visualizarmos uma solução. Mesmo que a prazo longo.
Ilustração: Google Imagens.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

DEMOCRACIA E EDUCAÇÃO


Afirma John Dewey com muita propriedade e autenticidade: "(...) Cem gramas de experiência valem mais que uma tonelada de teorias, porque só com a experiência uma teoria tem um significado vital e verificável. Uma experiência, mesmo que uma experiência muito humilde, é capaz de gerar e de conduzir qualquer quantidade de teoria (ou conteúdo intelectual), mas uma teoria separada de uma experiência não pode ser definitivamente compreendida nem como teoria. Tende a tornar-se numa mera fórmula verbal, um conjunto de palavras-chave utilizadas para tornar o pensamento ou a teoria genuína desnecessário e impossível. Devido à nossa educação, empregamos as palavras pensando que são ideias para colocar questões e ao fazê-lo, estamos, na realidade, simplesmente a obscurecer a percepção que nos impede de ver a dificuldade mais aprofundadamente" - in, Democracia e Educação, Plátano Editora, 2007), citado por Emanuel Oliveira Medeiros, em um artigo publicado na Página da Educação, edição de Inverno.


Pois, "cem gramas de experiência valem mais que uma tonelada de teorias". Trago isto à colação porque face a tantas, nobres e verificáveis experiências em políticas de educação, inclusive, em Portugal, os governantes continuam a transportar e a acreditar em toneladas de teorias que nada valem na prática. Tenhamos presente a polémica gerada com a abolição dos exames no ensino básico, com muita gente contra, desde os partidos da oposição, a pais e até alguns professores! São "toneladas" de insustentáveis teorias. Da mesma forma, e aqui está o fulcro da questão, é a teimosa manutenção das características que enformam o actual sistema educativo, como se nenhuma alternativa existisse. Como se as tais "cem gramas" de experiência de nada valessem. A persistência no erro, as tais "toneladas" irracionais e infundamentadas, conduzem a que essa "teoria separada de uma experiência não possa ser definitivamente compreendida nem como teoria".
Ontem, por exemplo, o secretário regional da Educação foi a uma escola entregar livros, levou a comunicação social atrás de si, produziu declarações, cumpriu o número político para que conste que está a fazer alguma coisa (!), todavia, aquilo que seria fundamental, isto é, colocar em causa a teoria que enquadra o sistema, isso aí, não, pois se sempre foi assim, por que raio é que havemos de fazer diferente? Entregou livros diversos. Logo livros! Mais valia que entregasse apenas um que colocasse todos a reflectir sobre o sistema que temos e o sistema que deverá ser projectado. 
Ilustração: Google Imagens.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

PARAFRASEANDO... PRÉMIOS HÁ MUITOS!



O secretário regional da Educação mostrou-se muito feliz pelo facto de alguns alunos (e escolas) arrecadarem prémios nacionais. Segundo o governante tal advém da "qualidade dos nossos projectos e do empenho das nossas escolas e dos nossos professores". Há prémios na "ciência", no desporto, em textos literários, no canto, no teatro, o que não faltam são prémios na sequência de uma prova ou concurso. Há que felicitar, obviamente que sim. Só que isso, porque são excepções, não deve servir para apagar ou tornar translúcido o pobre sistema educativo que dispomos. É porque ao lado desses louváveis e naturais destaques, a Madeira regista, também, taxas de abandono escolar e de insucesso que a todos nos envergonham. Um "pódium" de "medalhas" pela negativa! Da mesma forma que existe uma ausência de financiamento do sistema educativo e uma acção social educativa que continua a ser indecorosa. Ao lado dos "prémios", orgulho do governo, a fome existe, face à qual, tantas direcções executivas desdobram-se para esbater as privações com efeitos extremamente negativos no processo ensino-aprendizagem. Mas isso  parece que pouco interessa!


O secretário disto não fala, nem programa político de combate apresenta. Fica-se pela visita a uma escola que obteve um prémio! Se eu fosse um dos professores envolvidos dispensava esses elogios envenenados. Só pessoas distraídas ou governantes com manifestos desejos políticos de aparecerem por algum motivo é que ligam às palavras que traduzem uma mão sobre o pêlo dos professores, quando, em tantas e tantas situações, não só não são ouvidos como são ostracizados. Há professores, há que dizê-lo, que fazem das tripas coração para terem algum sucesso. 
Ainda anteontem aqui deixei uma entrevista ao Professor Joaquim Azevedo, Doutorado em Ciências da Educação. Pessoalmente e, estou certo, milhares de professores ficariam felizes por saber que o secretário pretendia mudar este sistema educativo que é anterior ao Século XVIII. Os "prémios", esses, atravessaram estes três séculos. Provavelmente, ficariam muito mais entusiasmados pelo anúncio de uma mudança de paradigma susceptível de garantir, não mais um prémio, mas o grande prémio de uma Escola concordante com as necessidades deste novo tempo. Este governo fica-se pela "terminação", não almeja o prémio maior. Infelizmente. É que, depois de mais de quarenta anos de luta por um sistema que torne feliz toda a comunidade educativa, dou comigo a ler um texto sobre um "prémio" que, no máximo, deveria contar com a comunidade educativa daquela escola e não com a presença do principal governante do sistema. Ao governante estão cometidas outras funções, bem mais importantes do que a fotografia da sua promoção.
Ilustração: Google Imagens.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

A EXCELÊNCIA DO PENSAMENTO PARA A EDUCAÇÃO


"Se há mais de 20 anos se concluiu, a nível internacional, que o modelo escolar está esgotado, por que não se faz uma reforma profunda em vez de mudar pormenores, instabilizando alunos, professores e famílias? O especialista cita os exemplos do ensino na Finlândia e nos jesuítas catalães. - Entrevista com Joaquim Azevedo, investigador e professor da Universidade Católica, doutorado em Ciências da Educação.


Tem havido discussão à volta da questão dos anos dos exames. Essa questão é central na educação?
A questão central da educação, de facto, não é essa, não passa por aí. É ser capaz de fazer que as novas gerações adquiram o conhecimento codificado que vem do passado e ajudá-las a desenvolver-se e a tomar conta do seu destino e da comunidade. Hoje, isso é feito cada vez com mais dificuldades, não cá em Portugal mas em todo o mundo. O modelo escolar vem do século XVIII - até vem de antes, mas desenvolveu-se mais a partir de então - e tem imensas dificuldades em adaptar-se à nova realidade. O mundo mudou muito.
Porque é global e todos temos acesso a informações de todos os lados?
Exatamente. E um acesso a conhecimento muito mais organizado, por causa de todo o investimento em inteligência artificial. É um mundo onde a tecnologia permite às crianças manipularem artefactos técnicos muito evoluídos, desenvolvendo uma capacidade mental diferente da das gerações anteriores. Mas quando se chega ao 1.º ano, a escola age mais ou menos como há 30 ou 40 anos. A cabeça com que as crianças vêm está moldada segundo outros modelos, já não é a mesma coisa. As dificuldades de ensino e aprendizagem são muito mais vastas do que as do passado. Há uma inadaptação da escola ao novo. Trabalho muito com escolas e no dia-a-dia. Até recentemente, os professores atribuíam o insucesso às famílias. Ainda ocorre muito essa justificação.
E é verdade?
Isso é uma premissa. O trabalho da escola tem de ser feito a partir daí, seja lá qual for o contexto. E isso é difícil, claro. Agora as queixas são sobre a desmotivação e a indisciplina, dois aspetos que estão associados. Por outro lado, revelam que a capacidade de captação da atenção que a escola antes produzia hoje é muito difícil. Os miúdos estão profundamente dispersos, com a atenção captada por realidades fora do contexto escolar que os motivam mais. A motivação, que é uma função escolar por excelência, tornou-se um pré-requisito. E isso é revelador da dificuldade da educação escolar em lidar com os tempos novos. Se esse pré-requisito existisse, a desigualdade social ainda seria maior. Se as crianças têm de chegar motivadas à escola para poderem aprender, se isso não é um trabalho escolar...
Que tipo de decisão é necessário que o Ministério da Educação tome para combater esse problema? Não estamos a falar de decisores e professores que não têm o mesmo tipo de "cabeça" que os alunos trazem?
Sim.
O que significa que é preciso intervir, primeiro, nos professores?
Sim.
É preciso fazer uma reforma a sério em vez de alterações pontuais? Rever todo o modelo?
Como, não sei, mas que o modelo precisa de revisão profunda, isso está claro. Nos anos 1990, quando representei Portugal num organismo da OCDE que trata da inovação e educação, ano após ano dávamo-nos conta de que o caminho não pode ser este. Este modelo está esgotado. Há um bloqueio, não avança. Como nós - de 31 ou 32 países - nos dedicávamos à inovação e educação, percebíamos que no mundo iam surgindo dinâmicas de mudança. Ao fim dos cinco anos em que lá estive, uma das perguntas que mais me fazia era: se toda a gente percebe, por que é que isto não muda?
E porquê?
Vivemos ambientes democráticos e é muito difícil que um partido se disponha a propor mudar o modelo escolar. Ninguém aceitaria, seria uma ótima forma de perder as eleições dizer, por exemplo, que queria mudar as disciplinas, os horários, os grupos de turma e os professores e a forma de trabalhar dos professores. Porque o que está em causa é que todo o modelo de organização pedagógica da escola tem de ser mudado. E isso não sei se vem de cima ou se vem de baixo.
É necessário um acordo de regime?
Sim. Pelo menos um entendimento entre algumas forças sociais e políticas. Aliás, o que revela esta geringonça da avaliação, por exemplo - para usar um termo na moda - é que tem muito que ver com isso. Vamos às escolas, trabalhamos com as famílias e o que mais pedem é: "Entendam-se, por favor!" O povo quer que os dirigentes políticos se entendam e os dirigentes políticos preferem fazer da educação um campo de batalha política. Isto é dramático!
É pôr pensos rápidos nos sítios onde a pessoa tem uma doença grave?
Exatamente. Há um sintoma. Mas nunca se ataca a doença.
As experiências inovadoras, na Finlândia e na Catalunha, mudam o quê?
Mudam a forma de organizar o ensino e a aprendizagem. O modelo escolar tradicional é alterado. É muito importante o passo que está a ser dado na Finlândia.
Por ser aplicado a nível nacional?
Por isso e porque é fruto de uma decisão política nacional. É a primeira vez. Há um país que dá o primeiro passo para aquilo por que há 20 anos ansiávamos.
No caso da Catalunha, não é o ensino do Estado, é particular. O Estado tem mais dificuldade, pela necessidade de um acordo entre os vários partidos?
Exatamente. Mas a Finlândia veio abrir caminho, já é possível recorrer a uma externalização para justificar. É a Finlândia, o centro do mundo neste campo, que faz a mudança, e isso faz toda a diferença.
E na Fundación Jesuitas Educación, uma rede de colégios da Catalunha?
Ainda não estão todos os colégios envolvidos, porque tiveram de fazer alterações físicas brutais. A dinâmica que está em curso na Catalunha demorou 15 anos a ser preparada. Desde a primeira reflexão, a primeira estruturação, até à questão dos recursos. Criaram um fundo entre as escolas todas para construir.
E é seguro?
É muito seguro porque já está a ser experimentado. Como o modelo é muito descentralizado e municipalizado, a cidade de Helsínquia já o tem aplicado em larga escala. Quando a decisão foi tomada já estava trabalhada e consensualizada, em termos políticos. As instâncias que refletem sobre estes temas já produziram muitos documentos. Quando, no próximo ano letivo, o modelo tiver aplicação nacional, já há muito trabalho feito e há segurança. É um passo importantíssimo. Tenho um texto sobre os casos da Catalunha e da Finlândia, que se chama Há uma brecha no dique. Essa brecha só pode alargar.
É irreversível?
Nunca mais se vai voltar para trás.
O que é diferente no novo modelo?
Na Finlândia, a mudança é ao nível da organização do trabalho escolar, que tem repercussões muito idênticas à Catalunha. O ensino passa a ser organizado por projetos... chamam-lhes fenómenos ou temas. Os professores, antes do início do ano letivo, organizam-se e estruturam uma boa parte do currículo - não é necessariamente a totalidade do currículo, porque é muito difícil fazer isso. Mas, por exemplo, 60% do currículo, é estruturado em torno de grandes temas agregadores, tendo em conta os interesses dos miúdos nas idades respetivas e a experiência que os professores têm com eles.
E que tipo de tema pode ser esse?
Por exemplo, há um problema da comunidade, uma necessidade que é preciso estudar, ou um tema que interessa aos alunos, ou um assunto em torno da natureza que mobilize conhecimentos nesses domínios. Os saberes de todos os anos letivos, organizados por pequenas unidades curriculares - de ciências, de língua materna, de matemática, de inglês - são mobilizados para os projetos. E há conteúdos que são dados em aulas tradicionais. Isto permite que os pro- fessores trabalhem interdisciplinarmente e em equipa.
Há diferenças entre os dois modelos, o finlandês e o jesuíta?
Os jesuítas da Catalunha vão mais longe porque agregam duas a três turmas. Isto obriga a deitar abaixo as paredes das escolas. As nossas escolas, incluindo as acabadas de construir pela Parque Escolar, onde se investiram centenas de milhões de euros, são para a educação escolar do século XVIII. Ninguém pensou em perguntar: "O futuro é este?" Estamos a construir hoje escolas que dentro de 5, 10, 15, 20 anos vão ter de ser alteradas, porque não é possível mais lecionar e organizar a escola em termos de grupos de 25 ou 30 alunos. Organizam-se grupos de 75, por exemplo, há dois ou três professores na sala que exploram os temas com diferentes grupos, com diferentes dinâmicas. E há uma mudança profunda na organização dos horários. Porque os alunos, numa parte importante da sua vida, vêm para a escola para continuar a pesquisa para o projeto. Até desse ponto de vista o vir à escola ganha outra...
...motivação?
Exato. E assim estamos a responder às questões de fundo: motivação, interesse, ser capaz de captar a atenção dos miúdos. Os professores queixam-se imenso, hoje, da dificuldade de ter os miúdos concentrados no que estão a fazer.
Há um grande medo da mudança. É preciso preparar um país para uma reforma destas?
Cada escola tem de ir criando condições para dar este salto. Aí temos muito a percorrer, porque pode haver também redes de escolas a fazer cooperativamente as mudanças. Em Portugal, temos uma grande experiência de trabalhar com projetos integradores, sobretudo nas escolas profissionais do ensino secundário em imensos sítios. São casos exemplares. Nós já fazemos o que a Finlândia quer fazer. Constroem mesmo um projeto integrador. Por exemplo, existe um problema para resolver na comunidade e os professores juntam-se. O ensino aí funciona por módulos. E então os professores verificam que módulos podem ser mobilizados. Desenvolvem o projeto em conjunto e aplicam--no. Na minha universidade, vamos fazer um um e-book só com exemplos destes. Trabalha-se muito bem a esse nível, em Portugal.
Portanto, é perfeitamente possível?
É possível em qualquer sítio.
Porque é que, no ensino básico, as pessoas têm medo?
Mas também têm no secundário. Isto faz-se minoritariamente. Têm medo porque este passo não é simples. Estamos a tentar fazer isso no interior norte do país, numa escola TEIP [programa Territórios Educativos de Intervenção Prioritária] com muitas dificuldades e está a ser muito difícil. Há muita resistência porque é uma nova metodologia que obriga os professores a trabalhar mais cooperativamente. Para uns é pacífico, para outros não. Implica, um modo de ensinar e uma forma de aprender que não são tradicionais. No contexto de algumas escolas profissionais, desde a raiz, isso conseguiu-se, mas é mais difícil passar à generalidade do sistema, porque nunca houve uma perspetiva integradora e flexível para trabalhar em projetos. A questão é passar de um sistema rígido a um sistema flexível. E não há nada na lei que diga que isso não pode ser feito.
Com a nossa legislação, seria possível começar?
Perfeitamente possível! É uma questão de organizar a escola. A principal dificuldade que encontramos, no caso que referi, é nos professores, na capacidade de formular a nova maneira de trabalhar. "Como vou integrar este saber com aquele?" Também há mil problemas com o facto de trabalharem em conjunto uns com os outros. Propomos esta dinâmica e muitos professores ficam motivados, porque sabem que isto vai motivar imenso os alunos. Mas depois: "Como avalio? Numa dinâmica de grupo, como traduzo isto em avaliação individual?" São estas as questões que emperram...
E como se faz a avaliação nesse novo modelo?
A avaliação pode ser mobilizada quer em termos individuais, quer em termos de equipa. Isso tem é de ser clarificado antes. Na formulação do projeto, têm de estar os objetivos a atingir, a maneira de lá chegar e as regras de avaliação: como é que cada um deles vai ser avaliado. E há imensas formas de fazer isso numa dinâmica formativa e não só. Para produzir a classificação, é mais simples. Mas é uma lógica de avaliação formativa: "aprendeste, não aprendeste", "se não aprendeste, porquê? Como dar a volta?" Essa dinâmica, como implica o processo de avaliação formativa, mexe mais com os professores. Diz-se muito agora: "Nós não queremos exames, queremos é avaliação formativa." Eu trabalho nas escolas, os professores classificam. Os professores sabem é classificar. O governo pode dizer que vai, sobretudo, haver avaliação formativa, mas isso não diz nada. O grande trabalho a fazer em Portugal é escola a escola, a tentar dar estes passos com consistência, com tempo. Isto demora muito a mudar. Na escola de que falei, estamos a caminhar há meses e há uma vontade enorme de fazer melhor. Os professores têm uma dedicação que, em muitos casos, é desmesuradíssima. Por vezes estão a fazer o que está provado que não resulta, mas trabalham loucamente, do ponto de vista profissional.
É preciso parar para olhar?
Pois. Refletir. Isto não pode ser assim.
As escolas superiores de educação não devem também espelhar isto tudo?
Deviam. Uma das coisas mais em causa é a formação inicial dos professores e a formação contínua, porque uma grande parte dos professores já está no sistema. Dentro de 10 ou 15 anos haverá uma grande oportunidade porque vão sair muitos milhares. Vem aí uma nova vaga que já devia chegar à esco-la com esta nova mentalidade. É também um problema político, porque está em causa o acesso à profissão. Eu tenho-me batido por isso e publicado pequenas coisas: é preciso dignificar mais a profissão docente, do ponto de vista da sociedade em geral. Tenho sugerido que a média de acesso aos cursos de formação inicial de professores tenha o mínimo de 16. E isto é uma decisão política.
Para que os melhores sejam professores?
É uma medida política! Não custa nada! É só publicar um decreto-lei, não tem interferência em coisa nenhuma a não ser nos cálculos para o acesso, que se podem colocar no computador. E pode dizer imenso. Se fizéssemos isso e revíssemos as regras de acesso à profissão docente e a formação inicial e contínua, podíamos estar a preparar os verdadeiros alicerces de uma educação diferente daqui a 20, 30 anos. Era isso que devíamos fazer. O que é que estamos a verificar? Nos últimos 20, 30 anos, acede à profissão docente um número razoável de jovens competentes mas também um número enorme de jovens que têm péssimas notas. E são professores. Entram com médias de 10, 11 ou 12... são pessoas com muitas dificuldades. A disputa que aqui se faz em torno da medicina, na Finlândia é em torno de ser professor, e o acesso à medicina fica a anos-luz do acesso à profissão docente.
Isso é estruturante?
É um trabalho que a Finlândia faz há 30 anos. Começou a investir na profissão docente, a mudar a formação inicial, a mudar as regras de funcionamento da profissão. E a pedir muito em troca. Por cada coisa que se dá, tem de se pedir muito em troca, do ponto de vista profissional e de exercício de responsabilidade: muita autonomia, mas muita responsabilidade. A realidade da Finlândia é essa. Nós temos agora essa oportunidade. Como temos um nível etário muito elevado, uma média de mais de 40 anos, dentro de 15 anos, no máximo, vamos ter a possibilidade de substituir um volume muito importante da geração dos professores.
A questão não se coloca, como dizem muitas pessoas, entre a permissividade e a disciplina?
Isso é uma conversa estafada. Essas tensões existem mas o problema não é esse. É uma mistificação, porque um sistema com exames pode ser altamente permissivo. Ficam bem os que ficam bem no exame. E os outros? Em Portugal, aumentou imenso, nos últimos anos, a retenção no 2.º ano. Porquê? Pelo efeito do exame. Mas aprende-se melhor? Temos de ir um bocadinho mais atrás, mais longe. Esse tipo de discussão cansa-me, não conduz a nada. Vivemos num mundo de faz de conta: faz de conta que escola funciona bem; faz de conta que os exames são bons para os alunos aprenderem; faz de conta que os professores ensinam bem; faz de conta que a legislação que o ministério põe cá fora é eficaz e que os professores e as escolas a seguem, faz de conta que existe avaliação formativa.
E depois trata-se o ranking das escolas como se fosse o grande objetivo?
Ou como se fosse tudo. E não é. Eu coordenei a equipa que pôs os exames em Portugal no 12.º, em 1993. Pela primeira vez, depois do 25 de Abril, criámos exames. Duvidámos e discutimos muito se se devia fazer. Porque sabemos o lado positivo e o lado negativo dos exames. Mas no caso do 12.º ano, creio que era mais ou menos inevitável. E tinha que ver também com o modelo da certificação e com a desigualdade de critérios de avaliação, porque havia escolas que davam notas inflacionadas internas. Foi preciso calibrar para ter a certificação final do percurso escolar antes do ensino superior. No 9.º ano, pode fazer sentido ter exames para avaliar o percurso de todo o ensino básico. Mas o investimento tem de ser no processo do ensino e aprendizagem. O problema está ali. Em educação, o processo é o produto, é o processo que conta. A avaliação externa e os exames são importantes, têm o seu papel. Mas isso não invalida que a questão central tenha de ser outra. Ter mais uma prova disto ou daquilo é irrelevante.
Qual é o caminho, então?
Nas escolas onde trabalho, a minha preocupação é se os professores estão a perceber os processos pedagógicos que eles próprios mobilizam. Refletem sobre isso? Sabem os que são eficazes e os que não são? Otimizam os que são eficazes? Estes é que são os núcleos. "Então sugerem-nos metodologias novas?" "Sim, com certeza. Há estas, estas, estas, vamos por este caminho, vamos por aquele". E as escolas mudam. E as pessoas, depois, agarram-se e prendem-se. Há aqui um problema de software, claramente. Hoje o problema é de software".
Ilustração: LEONARDO NEGRÃO / GLOBAL IMAGENS.
NOTA
Entrevista publicada na edição de hoje do DN-Lisboa, conduzida pela jornalista Ana Sousa Dias.

domingo, 24 de janeiro de 2016

DE CATAVENTO A PRESIDENTE


O meu candidato perdeu. Venceu quem eu não desejava, o Doutor Marcelo. Venceu quem teve uma exposição mediática durante vinte e tal anos e ao colo foi levado. Respeito, obviamente, os resultados, mas não me convencem. Não fui eu que disse, mas Pedro Passos Coelho, que ele era um catavento. Por algum motivo assim desabafou, embora, mais tarde, tivesse pedido o voto no seu candidato. Caso para perguntar, qual deles o melhor? Mas quem sou eu para questionar o voto dos portugueses. A única coisa que depreendo é que não têm emenda. Queixam-se, manifestam-se contra a austeridade, atiram-se ao PSD/CDS pela vergonhosa política perpetrada ao longo dos últimos anos, mas continuam a votar em quem, pela prática, não merecia o seu voto. Há um certo masoquismo político, deduzo, em tudo isto. Quanto mais me bates, mais de ti gosto! Parece-me ser uma inclinação natural de um povo que, embora desta vez tendo tanto por onde escolher, acabou por dar o voto à figura que faz parte do grupo que o espezinha, dentro e fora do país.


Mas esta é, apenas, uma posição. Eu que me encontro afastado das lides políticas, partidárias e outras, sinceramente, já nem quero saber. Mantenho-me, como cidadão atento, e nada mais do que isso. O povo quer assim, gosta que assim seja, detesta tudo o que venha da cidadania mais pura, depois queixa-se, lamenta-se, mas o que fazer, pergunto, quando se deixa enredar e tomar como certa a propaganda inteligentemente montada. Até o Tino, segundo escutei, chegou a estar à frente de Maria de Belém e de Edgar Silva. Espantoso.  
Conta-se pelos dedos de uma mão a paciência que tive, ao longo dos anos, para escutar os comentários de Marcelo Rebelo de Sousa. Não por ser uma destacada figura do PSD, mas porque nunca as suas posições me convenceram. Talvez porque tenho tido a possibilidade de ler outras análises e de cruzar muita outra informação, Marcelo, nas vezes que o escutei, sempre me deu a ideia de uma figura política superficial, um político plástico, com muito paleio e pouca consistência, de palavra fácil mas sem profundidade e independência política. Bastas vezes dei comigo a pensar sobre as suas posições de natureza social deste nosso país esfrangalhado e de pobreza crescente, e não me ocorre uma única posição pública de chamada de atenção e de combate à miséria. Dou comigo a pensar sobre a exploração que vai no mundo laboral, no desemprego e na emigração e nada trago em memória activa sobre posições claras e inequívocas sobre o combate a esses dramas. Dou comigo a reflectir sobre as dramáticas situações vividas nos sistemas de educação e de saúde, tentando descobrir alguma coisa que me tivesse ficado retido como posição estruturante do seu pensamento. Nada. Ficou-me aquele blá, blá de circunstância que não adianta e não atrasa. E a pergunta que deixo é esta: o que esperar deste novo Presidente da República, se no seu cardápio político o que sobra é uma montanha de palavras, mas vazias de conteúdo político, económico, financeiro, social e cultural? De qualquer forma, é sempre de bom tom cumprimentar os vencedores e Marcelo foi, indiscutivelmente, eleito. Da mesma forma que deixo muito claro que a posição do PS DESILUDIU-ME, completamente. Desde a primeira hora. Mas, enfim, estou fora.
Ilustração: Google Imagens.

sábado, 23 de janeiro de 2016

CHOCANTE DESIGUALDADE. PARA QUÊ TANTA GANÂNCIA?


Para quê tanto dinheiro nas mãos de tão poucos? Alexandre Costa (Expresso) escreveu: "As desigualdades não têm parado de se acentuar e os mais abastados (1% da população mundial) já possuem mais riqueza do que os restantes 99%, um cenário para o qual têm contribuído os paraísos fiscais, segundo indica o relatório da organização não-governamental (ONG) Oxfam, apresentado esta segunda-feira, dois dias antes do arranque de mais um Fórum Económico Mundial em Davos, Suíça. Os 62 mais ricos já detêm tanta riqueza como 3,5 mil milhões de pessoas, metade da população mundial. Ao longo dos últimos cinco anos, o nível de aumento da riqueza dos que estão no topo teve correspondência com o nível de empobrecimento dos que estão na metade inferior da escala. A riqueza desses 62 multimilionários aumentou 44% desde 2010, enquanto relativamente aos 3,5 mil milhões de mais pobres desceu 41%. "Nós não podemos continuar a permitir que centenas de milhões de pessoas passem fome enquanto os recursos que poderiam ser usados para os ajudar são sugados por aqueles no topo", acrescenta Byanima".


Para quê tanta exploração? Para quê tanta desmedida ambição? Li na edição de Inverno da revista A Página da Educação: "Mais de 2,4 mil milhões de pessoas continuam a não ter acesso a instalações sanitárias seguras (40% no sul da Ásia) e mais de 660 milhões a água potável (perto de metade na África subsariana); crianças mais pobres têm quase o dobro de probabilidades de morrer antes dos cinco anos de vida do que as dos agregados mais ricos e cinco vezes mais probabilidades de ficar fora da escola; raparigas mais pobres têm quatro vezes mais probabilidades de casar antes dos dezoito anos do que as famílias mais ricas. Perto de catorze milhões de crianças e adolescentes enfrentam, diariamente, a guerra, o conflito e as injustiças na Síria, no Iraque e no Afeganistão, aumentando o fluxo de refugiados e migrantes na Europa.
E apesar de tudo isto 1% da população mundial já possui mais riqueza do que os restantes 99%!
Ilustração: Google Imagens.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

A POUCAS HORAS DO ACTO ELEITORAL, ESTE TESTEMUNHO VALE A PENA SER ESCUTADO


As sondagens são um indicador, devem ser consideradas, mas não dizem toda a verdade. A revista Visão, ainda recentemente, questionava: "Podemos confiar nos estudos sobre intenção de voto? Menos disponibilidade dos inquiridos e desfasamento das bases de dados podem explicar a maior divergência de resultados, mas a verdade é que NINGUÉM VIGIA as empresas de sondagens". "Não há qualquer tipo de fiscalização efectiva", nota António Salvador, 57 anos, presidente do Conselho de Administração da Intercampus e ex-presidente da Associação Portuguesa das Empresas de Estudos de Mercado e de Opinião. Está tudo dito. Em dez candidatos querem fazer de um o vencedor antecipado. Já teve mais de 60% das intenções de voto, dizem que anda pelos 52% e acabará, é a minha convicção, em uma segunda e absolutamente NECESSÁRIA volta. Espero que isso venha a acontecer. Entretanto, ouçamos Pedro Barroso. É exactamente o que ele diz que me leva a votar em Sampaio da Nóvoa.

 

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

PRESIDENCIAIS E A NECESSIDADE DE UMA SEGUNDA VOLTA


Cada dia que passa, quanto mais oiço os candidatos, mais reforço as minhas convicções em Sampaio da Nóvoa. O seu passado, os grandes contributos dados à Educação e à Ciência, as marcas do seu discurso que definem a sua interpretação de um verdadeiro Estado Social, a sua opção europeísta, mas não a qualquer preço, a segurança, por um lado, e a humildade, por outro, o cidadão limpo de muitas teias e movimentos obscuros, tudo isto faz-me acreditar que há razões para um tempo novo. Votarei, como sempre o disse, em Sampaio da Nóvoa. Não quero na Presidência um qualquer de passado ziguezagueante, que utiliza as palavras em função das plateias e dos interesses, que nega hoje o que disse ontem. A Presidência é demasiado importante para entregá-la ao bas-fond da política e tudo o que se esconde para além da cortina do palco.


Por alguma razão três ex-Presidentes da República o apoiam; e por alguma razão é quase infindável a lista de nomes de todas as áreas do conhecimento bem conhecidos na sociedade portuguesa. Pessoas com sentido de análise, preocupadas com o nosso Portugal, que não se deixam ir na treta do comentário fácil, no ar folgazão e nos produtos que a televisão tenta vender. Há um desses candidatos que só me faz lembrar o "calcitrim". Milagroso! Eu, pelo menos, não o compro, mesmo que metralhado, diariamente, com as hipotéticas vantagens anunciadas por uma série de personagens de circunstância. Prefiro guiar-me por outros instrumentos, mais fidedignos, seguros e muito distantes da "banha da cobra".
Ademais, com dez candidatos, até por uma questão de segurança colectiva, desejo uma segunda volta. Julgo que isso irá acontecer. E quando sublinho, por segurança, é porque essa possibilidade garantir-nos-á um poder de escolha mais assertivo. Com dez, escolher à primeira, é como acertar no euromilhões. Com dois, em uma segunda volta, tudo ficará muito mais clarificado. Os debates voltarão a acontecer, as posições dúbias deixarão de ter eficácia e o povo poderá decidir em um dos dois que se apresentarem aos seus olhos. O julgamento das suas palavras, dos princípios e valores que os norteiam será, parece-me óbvio, mais consistente. Ganhará a democracia.
Ilustração: Google Imagens.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

UMA ANEDOTA POLÍTICA CHAMADA PAULO RANGEL E UMA OUTRA CHAMADA DAVID JUSTINO


Paulo Rangel, Eurodeputado do PSD, publicou, ontem, no Público, um artigo subordinado ao título "O grande desastre educativo". À medida que fui fazendo o esforço de leitura, lembrei-me do Filósofo Ortega y Gasset que defendia que um indivíduo só deveria permitir-se a uma opinião sobre um qualquer assunto, apenas depois de o estudar e de conjugar todas as variáveis. Não existindo esse esforço, as palavras tornam-se em paleio, digo eu. O que Rangel escreveu sobre o sistema educativo é, portanto, paleio "político" sem qualquer sustentabilidade, nem teórica, nem prática. É uma anedota! O seu artigo de opinião é um desastre conceptual quando cruzado com tantos que estudam e investigam o sistema educativo, entre outros que, no espaço próprio, na Escola, vivem, intensamente, novas e consistentes abordagens do ensino-aprendizagem.



Curiosamente, no dia anterior tinha folheado a A Página, edição de Inverno, a principal revista portuguesa sobre Educação. Quando me chega pelo correio confesso que a devoro. Centrei a minha atenção na entrevista ao Professor Manuel Rangel (1956/2015), a sua última entrevista já que faleceu semanas depois de dialogar com Maria João Leite. Na página 71, leio: "Nós estamos muito mais interessados nas perguntas dos miúdos do que nas respostas, e o ensino preocupa-se muito mais ao contrário: a resposta, o fechado, o tipificado, o estereotipado, o não questionar". Azar meu, ontem à noite, entra-me casa adentro, Medina Carreira e David Justino, qual deles Ortega y Gasset mandaria dar uma volta com a receita de uma tonelada de livros a propósito destas matérias! Foi um chorrilho de asneiras a propósito dos exames. Umas atrás das outras nem dando conta das sistemáticas contradições discursivas. 
Um dia que valeu pela entrevista ao falecido Professor Manuel Rangel responsável pelo projecto (privado) Escola Tangerina (Porto): "(...) nós não estamos aqui a trabalhar para o exame. A nossa preocupação vai muito mais longe (...) o que se tem dito nos últimos anos é que nas escolas onde os alunos estão contentes, alegres, felizes, não se aprende e os resultados baixam. Parece que para haver bons resultados é preciso ser tudo uma chatice". Depois desta entrevista, profunda e realista, foi a leitura de uma tristeza de conteúdo chamada Rangel. Destaco dessa verborreia: "(...) Pois bem, os alunos provindos de meios mais desfavorecidos, social e culturalmente, só têm uma oportunidade para aprender e para aprender a sério: a escola. Se esta for laxista e facilitista, eles não terão de se esforçar, não terão de competir e nunca superarão a diferença social e cultural com que arrancaram à partida. A escola facilitista, com a sua aparência de “inclusão”, com a sua recusa em graduar e avaliar, com o seu horror aos exames, é o maior meio de propagação e de reprodução das assimetrias sociais e culturais. É esse meio a que o Ministro e o Primeiro-Ministro acabam de prestar tributo". Terminei o dia com uma nova dose de ignorância altifalante com David Justino, que foi ministro da Educação ao tempo de Cavaco Silva (só lá esteve dois anos) a dizer disparates em catadupa. Até, em apologia dos exames, falou de um provérbio chinês que diz qualquer coisa como isto: "A educação tem raízes amargas, mas os seus frutos são doces". Frases, apenas frases. Que importa o contexto, a história individual, a história das famílias, o ambiente social, o desemprego, a emigração, as gritantes desigualdades, a falta de financiamento, a rede escolar transformada em armazém de crianças enquanto os pais são explorados até ao tutano, enfim, nada disso interessa, porque o exame, em síntese, resolve! E David fala, fala e nem apelo faz dos seus "conhecimentos" em Sociologia, sua área de formação. É uma versão de Rangel que nesse tal artigo, desanca no ministro dizendo que "não só não actuou em prol do interesse público da educação como acabou a deseducar. Alunos, pais e professores, escolas em geral, ficam a saber que não pode nem deve confiar-se no Estado. E que este pode caprichosa e intempestivamente mudar as regras do jogo. Um mau início, um péssimo começo". 
Ilustração: Google Imagens.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

ALMEIDA SANTOS A MORTE DE UMA REFERÊNCIA DA DEMOCRACIA


Morreu. O destino de todos nós não tem hora marcada. A vida é assim. Gostava de Almeida Santos, não apenas por ser um nome incontornável da história do Partido Socialista, pelo que representou para a Democracia, antes e depois de Abril, mas pelo seu sentido profundamente humanista. Fizeram bem alguns candidatos em suspender a campanha eleitoral e, se respeito existir, o debate desta noite deveria ser cancelado.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

SE A DECÊNCIA E O RESPEITO IMPERASSEM ESSES SENHORES DA "TROIKA" NÃO PASSAVAM DO AEROPORTO


Notícia de primeira página do Diário de Notícias de Lisboa dá conta que a famigerada "troika" "está a caminho de Lisboa com uma lista de dezoito exigências". Uma delas tornar, ainda mais, os despedimentos mais fáceis. Portugal deve dinheiro por uma crise que foi fabricada fora de Portugal. É uma terrível mentira que o nosso povo tenha vivido acima das suas possibilidades. Alguns viveram, estou certo que sim, a maioria não. Não foi o povo que faliu os bancos e não foram os quase três milhões de pobres e a dita classe média os causadores dos desequilíbrios. Da mesma forma que não foi o povo da Madeira responsável pelas megalomanias que estão a custar uma dupla e penosa austeridade. Impingiram-nos essa treta para a aceitação de dívidas geradas por irresponsabilidade dos tais "donos disto de tudo". Instalaram o sentimento de culpa e toca a pagar, enquanto os culpados continuam impunes.


Uma vez mais eles estão a caminho trazendo na pasta novas exigências, apesar da tal outra mentira da "saída limpa". Diz o Jornal I de hoje que o bem-estar nos locais de trabalho "é cada vez mais negro", mas não interessa, carreguem em cima deles. Ainda anteontem li uma carta de um leitor (DN-M) dando conta que "(...) a cadeia de supermercados Pingo Doce (...) está a pressionar os seus trabalhadores no sentido de assinarem um documento através do qual aceitam permanecer 10 horas no local de trabalho, impedindo deste modo que os supermercados daquela rede, presumo eu, contratem mais pessoal". 
Ora bem, se o respeito pela independência do Estado Português e a decência imperassem, esses senhores não passavam do aeroporto. Em Portugal devem mandar os portugueses. Uma coisa é ser sério e organizar-se para pagar o que é legítimo pagar, embora uma grande parte da dívida seja, claramente, ILEGÍTIMA, outra é virem cá dentro fazerem de nós gato e sapato! Sou europeu, mas não a qualquer preço. Raios os partam.
O próximo Presidente da República tem o dever de travar o espezinhamento de um povo que não vê hora de recentrar a verdadeira utilidade social da União Europeia.
Ilustração: Google Imagens.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

TODOS OS DIAS, MARCELO AFUNDA-SE!


Um dos primeiros gestos como Presidente da República será "para Ronaldo", disse-o Marcelo Rebelo de Sousa em campanha eleitoral na Madeira. É caso para dizer que este candidato, no plano político, não bate bem da bola. Todos sabemos o que representa a marca CR7 no mundo. Todos sabemos o que significa uma breve frase de Ronaldo no que concerne à promoção da sua terra de nascimento. E sabemos, também, o que isso significa para o turismo na Madeira. Mas não é disso que se trata. Poderia até fazê-lo, se lá chegar, claro, o que duvido, mas nunca deveria dizê-lo. Em visita à Madeira, as grandes questões desta terra não se resolvem com a marca CR7. Se assim fosse todos os problemas estariam resolvidos, se em conta tivermos todo o passado deste notável jogador. Ora, neste contexto, o candidato deveria posicionar-se sobre as questões da economia, sobre a pobreza, sobre a gigantesca dívida pública, sobre as questões laborais, a dupla austeridade, mas nada, nem uma palavra sobre os dramas que milhares de famílias estão a passar. Por exagero da minha parte, CR7 resolve!

Sampaio da Nóvoa, Presidente!

No Continente, Marcelo quer Passos e Portas longe da campanha, e conhecem-se as razões, mas aqui aceitou a presença e os contributos de propaganda de Jardim e de Albuquerque. Está no seu direito, obviamente, mas não deixa de ter uma leitura política. Mas não é isso que me preocupa. O que é inquietante é o silêncio de Marcelo perante os muitos e complexos dossiês da região AUTÓNOMA da Madeira, o seu Estatuto Político-Administrativo, sistematicamente violado pelo Tribunal de Contas e pelo Tribunal Constitucional, com muitas implicações constitucionais que mereciam uma cuidada e distanciada reflexão. Na Saúde e na Educação, por exemplo. Não se ficou a saber o que pensa. Vendeu a imagem, com beijinhos e abraços. O Porto Santo e a Madeira mereciam mais de um candidato. Mas isto é Marcelo, no seu habitual passeio entre a chuva sem se molhar, nem uma coisa nem outra, antes pelo contrário! 
Marcelo é bem o espelho de uma caixa de chocolate, embrulhada em fino papel de celofane, com um belíssimo laçarote, mas fora de prazo. Quem comprar arrisca-se, estou certo disso. Entendo que devemos eleger um Presidente da República de palavra, que cumpra e faça cumprir a Constituição, não um Presidente comprometido com todas as suas costelas partidárias.  
Ilustração: SNAP.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

NA PRESIDÊNCIA UM "GENERAL" QUE NÃO ABDIQUE DE ESTAR COM OS SOLDADOS RASOS


Não tenho o sentimento de medo, mas atormenta-me e muito receio que o povo se deixe ir no paleio de Marcelo Rebelo de Sousa. Um homem quase profissional da política, que vende o seu discurso baseado na sua "experiência" partidária, com sistemáticas, provadas e gravosas contradições. Marcelo não me engana, como Cavaco Silva nunca me enganou ao que vinha. Ainda ontem, em artigo de opinião no DN-Madeira, o Dr. Roque Martins escreveu: "(...) O que existe em Cavaco é má-fé, que é um sentimento racional e significa que a nossa posição está tomada antes de ouvirmos o argumento do outro. (...) "É pobre a democracia que se mede aos palmos. Como pobre a democracia que, nestes anos de chumbo, teve um Presidente constitucionalmente concatenado. O país destroçado e ele (PR) preocupado. Com o funcionamento regular das instituições quando é o funcionamento irregular das instituições que mais importa. Não é o nosso direito de voto que está em causa, é o sentido que ele retirou aos votos que lhe deram". Marcelo encaixa-se, perfeitamente, nesta análise.


Gostaria de ver na Presidência o Homem de Estado, o general que não abdique de estar com os soldados rasos. Dispenso, por isso, o homem providencial produto de jornais e revistas; rejeito um "Cavaco a cores" como alguém disse, que esvazie, ainda mais, a função presidencial. Eu quero sentir que ali está o fiel da balança, o bom senso, a respeitabilidade, a confiança, a competência, a sabedoria, a capacidade de diálogo e a persuasão. Mais, ainda, que o Presidente seja uma referência para todos os portugueses. Carecemos de referências como de pão para a boca! Precisamos de um Presidente que dignifique o País nos planos interno e externo, que não se submeta e faça da intriga político-partidária o "modus-operandi" da sua função. Desejo um Presidente de uma só palavra ao longo de todo o tempo e não de palavra conforme. Quero um Presidente que exerça o seu magistério de influência para que a EDUCAÇÃO seja o pilar fundamental do nosso crescimento e desenvolvimento. Estou com o Doutor Raimundo Quintal, Mandatário Regional: "(...) Aderi desde a primeira hora à candidatura do Professor Sampaio da Nóvoa, porque acredito que será capaz de semear a esperança, fazer crescer a dignidade e podar as desigualdades. Aceitei esta missão, porque estou convicto que este é o tempo de dar as mãos, o tempo de agir para que milhares de seres humanos, que têm sobrevivido vergados nestas ilhas, readquirem o direito de viver felizes. Participo neste projeto, porque, como sabiamente escreveu o Papa Francisco na Carta Encíclica LOUVADO SEJAS: “É fundamental buscar soluções integrais que considerem as interações dos sistemas naturais entre si e com os sistemas sociais. Não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise sócio-ambiental. As diretrizes para a solução requerem uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza”.
Ilustração: Google Imagens

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

"SÓ VALE A PENA SER PRESIDENTE DA REPÚBLICA SE FOR EM NOME DAS PESSOAS (...) E DAS QUESTÕES DE CONSTRUÇÃO COLECTIVA"


"(...) Do próximo presidente espera-se uma interpretação mais lata e criativa do teor e abrangência do formalismo constitucional. (...) Pode constituir-se em consciência crítica, atuante, alertando para as situações de mal-estar social. Um presidente capaz de remar contra a maré, alguém habituado à escuta do mundo, com consciência cidadã e um apurado sentido de justiça, de solidariedade e de respeito pelo outro, na raiz das ideias. Os tempos de hoje e de amanhã exigem comprometimento com as grandes questões das pessoas de todos os lugares deste país feito de urbes litorais superlotadas e caóticas, interioridades e insularidades doentes de isolamento, em crescente e inquietante processo de abandono, desertificação e desumanização. (...) O presidente não pode assistir impassível ao crescimento brutal do desemprego, do empobrecimento, dos baixos salários, da precariedade a que estão condenadas esta e as futuras gerações. O presidente não pode encolher os ombros e refugiar-se na cidadela de Belém, quando a fragmentação da sociedade pulveriza a coesão social e a unidade nacional. 


(...) É preciso voltar a colocar a cidadania - e não as questões financeiras - no centro do sistema político e restituir direitos inalienáveis de modernidade civilizacional às pessoas. Esta terá de ser a base de qualquer estratégia política de futuro. Não esquecer os 65% de seniores com pensões abaixo de 200 euros - a imagem da falha democrática do país - a maioria deles condenados ao abandono e isolamento; que a idade não é um problema de cronologia, mas de cidadania; que o aumento da esperança de vida é uma virtuosa consequência do desenvolvimento da humanidade à escala mundial e, sim, tem impacto na organização do Estado Social, no acesso aos direitos humanos, de que não podemos abdicar; que tudo no conjunto coloca novos problemas às famílias, à sociedade, à ação política, mas que urge compatibilizar com os valores da liberdade, igualdade e justiça. Ou não haverá democracia. (...) Há presidente para isto? Há. Alguém cujo posicionamento lúcido e crítico sobre o país, cujo percurso de rigor, de construtor de diálogo, congregador de diferenças, inspira confiança. (...) “Só vale a pena ser presidente da República, se for em nome de um conjunto de pessoas, de discussões, de temas, de questões de construção coletiva, em liberdade, sem medo…” De quem falamos? De Sampaio da Nóvoa, o candidato certo para Belém.
NOTA
Excertos de um importante artigo de opinião da Drª Júlia Caré, publicado na edição de hoje do DN-Madeira.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

MARCELO NEM DISFARÇA O QUE É!


"Eu acho que não se deve deixar para amanhã o que se pode fazer hoje" (...) "se se pode votar, decidir e definir (o Presidente da República) no dia 24", por que deixar para depois? Confesso que este tipo de declaração, conjugada com aqueloutra "(...) daqui a semanas sou presidente da República", enquanto cidadão deixa-me, não digo enervado, mas desapontado com a interpretação que Marcelo Rebelo de Sousa faz da Democracia, 40 anos depois de Abril. Para ele a eleição do mais alto Magistrado da Nação é coisa de somenos importância, é assunto de pescada (antes de o ser já o era), politicamente, transmite a ideia de ser adepto do prato à moda de tempos idos, de Américo Tomaz, por exemplo, cujo acto eleitoral constituía, apenas, uma confirmação do previsto na lei. Marcelo transmite o que lhe vai nas entranhas do seu pensamento e resvala, não se coíbe, é a rifa, tal como sublinhou o candidato Sampaio da Nóvoa "(...) votar em Marcelo é o mesmo que escolher uma rifa. Nunca se sabe o que nos irá calhar em sorte". Podia disfarçar, mas nem isso. Uma certa arrogância tolda-lhe a sensatez que deveria, no mínimo, transmitir. 


Marcelo não aprendeu nada em quarenta anos de democracia. Ou aprendeu tudo! Conhece a idiossincrasia de uma parte do povo que não domina e não sabe cruzar as realidades envolventes, sabe que uma parte do povo não aprende com as experiências passadas e sabe, também, que há interesses instalados ao mais alto nível, que não fazendo campanha directa, dispõem de instrumentos que conduzem ao comportamento que esperam dos eleitores. "(...) Os senhores da aldeia têm a sua própria agenda política e resistem a quaisquer mudanças económicas e sociais que não se ajustem aos seus interesses financeiros. Juntos eles exercem um poder homogeneizante sobre as ideias (...) presidem à circulação de imagens e informações que determinam as crenças e atitudes e, em última instância, o nosso comportamento (...) tornaram-se gestores das mentes" (Ben H. Baddikian). Marcelo sabe disso, é catedrático nos meandros e bas-fond político, daí que não estranhe esta forma de viver e sentir a democracia. Mas está enganado.
Se há uma parte do povo, por razões diversas, educacionais, culturais, entre muitas outras, anda alheada da realidade, uma outra parte é esclarecida e está a ver o jogo. Que entre esta atitude de quem se sente superior aos demais, que transmite sinais de prepotência e de desprezo pelos outros, e um candidato que coloca a democracia acima de tudo, que transmite ideias e deixa ao povo a decisão soberana de, em liberdade, escolher, estou convencido que optará pelo segundo. Se Marcelo Rebelo de Sousa apresenta, na montra, o que tem apresentado, pergunto, o que não esconderá no armazém?

domingo, 10 de janeiro de 2016

UMA SECRETARIA DA EDUCAÇÃO INEFICAZ E A REBOQUE!


Assim é fácil ser governante. O governo da República decide alterar o "Modelo integrado de avaliação externa das aprendizagens no Ensino Básico" e o secretário da Educação do governo autónomo da Madeira vem dizer que é a favor das medidas, porque "(...) no fundo vêm criar condições para podermos avaliar aquilo que são as aquisições de conhecimentos dos nossos alunos". Curiosamente, em Maio passado, aquando dos exames de 2015, o gabinete do titular da pasta regional assumiu que o governante "fez questão de acompanhar pessoalmente o desenvolvimento das provas em diversas escolas" (DN-Madeira 19.05.2015) o que pressupôs o seu interesse, acordo e comprovação das medidas do anterior ministério liderado por Nuno Crato. Mais, ainda: na edição de 17 de Junho de 2015, a propósito dos resultados, novamente o gabinete tornou público: "A SRE tenta perceber a importância da continuidade pedagógica no rendimento dos alunos, uma tese querida a Jorge Carvalho". Que continuidade pedagógica? Aquela que tem conduzido ao insucesso e ao abandono, conforme ditam as estatísticas? Ora, é isto que lamento em um governante, porque dá a entender que governa conforme a onda, por não ter uma opinião consistente e sustentada no que concerne a um caminho a seguir.



Desta vez, assumiu o secretário da Educação que importante "é manter mecanismos que permitam aferir as aquisições de conhecimentos dos alunos ao longo do seu percurso educativo". Que mecanismos, questiono, e através de que sistema organizacional de estabelecimento de ensino? Qual a sua posição sobre a actual dinâmica curricular, programática e pedagógica? Manter tudo como está ou, no quadro de uma Região Autónoma, com Estatuto próprio, partir para uma outra estrutura que, a prazo, ganhe na qualidade e no esbatimento do insucesso e do abandono? Nada disse e nada se sabe. Lisboa que comande, Lisboa que mande o dinheirinho, Lisboa que legisle e ordene. Entendo que é um erro ir por aí. 
É possível caminhar para um País com três sistemas educativos: Continental, Madeira e Açores. Porque nunca estará em causa a matriz essencial. O Português, a Matemática, a Geografia, a História, etc., pertencem à matriz de um Portugal do Minho ao Corvo. As questões que se colocam são outras, são as de pensamento e de políticas estratégicas, são as que se prendem com a organização geral do sistema no quadro da Autonomia. E sobre isto, ao longo de 40 anos, existe, por aqui, um ruidoso silêncio. Eu diria mais, uma demissão nas responsabilidades políticas. Das duas, uma: por fragilidade de conhecimento ou por incapacidade na negociação política. Ao contrário do que o secretário da Educação da Madeira referiu: "(...) aquilo que nos parece que seria importante é que estes processos (referia-se à avaliação) pudessem ter consensos alargados (...) e que não ficássemos aqui ao sabor do vento, em que se alteram os actores políticos e alteram-se também as lógicas e estratégias, eu acho que o sistema educativo, pela importância que tem merecia, efectivamente, que tivéssemos uma outra atenção e um outro compromisso"; eu contraponho, precisamos de alguém que, repito, no quadro autonómico, abane, altere, procure caminhos e modifique o sistema educativo. A Suíça tem 26 cantões e pela diferenciação das suas regiões linguísticas e culturais, desenvolve sistemas diferenciados de ensino e nem por isso, todos, deixam de convergir para a Confederação Helvética. A luta e o posicionamento político de um governo regional autónomo e de um secretário da Educação tem de ser nessa via e não no sistemático agachamento às medidas que são tomadas pelo ministério. Neste caso em particular, o dos exames, não deve andar ao "sabor do vento", guiando-se pelas estrelas, quando há tanto a fazer para que esta Região, com menos de 50.000 alunos, possa vir a ser um exemplo nacional e europeu. É o desafio estrutural que este governo tem pela frente, mas que pelo que se vê não chegará lá.
Ilustração: Google Imagens.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

PRESIDENCIAIS. DEPOIS DO DEBATE, CONCLUO: NEM UM NEM OUTRO!



Segui o debate. Marcelo sempre no seu registo de contrariar os seus posicionamentos anteriores. Disse, mas não disse! Maria de Belém, melhor, mais segura e propositiva. Marcelo continua a demonstrar insegurança. De qualquer forma, do meu ponto de vista, nem um nem outro revelaram condições para o exercício da Presidência. Sampaio da Nóvoa continua a ser o mais credível.

"AULA NÃO ENSINA. PROVA NÃO AVALIA"


Os deputados do PSD-M e do CDS-M na Assembleia Legislativa deram parecer negativo ao projecto de diploma oriundo da Assembleia da República que prevê a abolição dos exames no 2º e 3º ciclos do Ensino Básico. Segundo apurei, os partidos PS, JPP e BE deram um parecer positivo. E fizeram bem. Alegaram os deputados do PSD e do CDS que a realização de exames induz rigor, excelência e defesa do mérito. Nada de mais errado, o que explica, isso sim, ausência de rigor, excelência de conhecimento e mérito para ser deputado no que concerne ao sector da Educação. E se os deputados do PSD por aí alinharam é porque esse é, também, o pensamento do secretário regional. Absolutamente lamentável. Os pressupostos do Ensino Básico, repito básico, assentam ou deveriam assentar em outros princípios que não os da obsessão pela avaliação dos alunos. Senhoras e senhores deputados, leiam, estudem de forma integrada, perguntem, façam o favor de envolver investigadores e autores neste processo, porque assim poderão ficar mais elucidados. Estas são questões que não devem ser geridas partidariamente ou por meras convicções pessoais. Fico com o sentimento que, se sempre foi assim, até no tempo da outra senhora, por que razão terá de ser diferente, certamente questionarão! 


Não estamos em 1949 quando Tyler, considerado o mentor da avaliação na escola, considerou-a como um "processo de determinação da extensão com que os objectivos educacionais se realizam", na constante comparação entre os resultados dos alunos e as intenções previamente definidas. Os tempos são outros, passaram-se 66 anos, assistimos a uma revolução tecnológica que todos os dias nos surpreende, pelo que o conhecimento já não está, apenas, no manual, mas disperso por tantas fontes de informação e de comunicação. Sobre determinados assuntos, muito do que os alunos escutam (na escola continuam, genericamente, a ser mais receptores do que actores) fica ultrapassado pela visualização de canais temáticos e de outras fontes que a própria escola não acompanha. E sendo assim, circunscrever o extenso universo do ensino-aprendizagem a um momento de avaliação (exame) é incorrer no erro que mais importante do que o conhecimento que desencadeia processos de motivação para a sabedoria, lucidez, consciência, enfim, para a cognição, é sentá-los frente a um conjunto de perguntas. 
Ora, conduzir o aluno a PENSAR, só é possível quando o professor é um moderador e o aluno um actor do seu próprio processo de desenvolvimento. Quando o professor assume o papel de detentor exclusivo do conhecimento, que não "obriga" a pensar, mas apenas a repetir, "mecanicamente", o que está no manual, quando o aluno se torna em uma peça da máquina que reduz o professor ao cumprimento da tarefa da roda dentada da transmissão, é óbvio que não pode existir rigor e muito menos excelência. Uns safam-se, outros, a maioria, fica pelo caminho. É o que dizem as estatísticas.
A avaliação, portanto, no Ensino Básico, tem de ser realizada, mas não através de um processo enquadrado em um certo "darwinismo educativo". Há outras formas, muito mais complexas e que dão muito mais trabalho, simplesmente porque é o aluno que passa a constituir o centro da preocupação, desde a sua origem social. Ele deixa de o ser quando vive, semanalmente, a pressão dos testes, sumativos ou não. Melhor seria a compreensão dos fenómenos e não o débito no papel daquilo que terá decorado sem compreensão. Até pode possuir outra informação, mais profunda, porém, o que conta é o que está no manual e tudo quanto lhe foi transmitido. O Ensino Básico não é isto, senhoras e senhores deputados. É muitíssimo mais do que isso. Deveriam, isso sim, preocuparem-se com o estado deste sistema educativo que repete até à exaustão o erro, mesmo quando existe tanta documentação sobre esta matéria. Na lógica do rigor, excelência de conhecimento e mérito para ser deputado, pela função que exercem, aqui sim, julgo que deveriam fazer um "exame de consciência".Tal como David Justino, Presidente do Conselho Nacional de Educação, que pouco terá aprendido enquanto Ministro da Educação, face às suas recentes declarações sobre a matéria aqui desenvolvida. Ele quer exames no 6º e no 9º, aferições obrigatórias no 4º ano e mais um exame, o de "literacia científica", no 9º, como se todo o sistema estivesse articulado nesse sentido. Trata-se de uma doentia obsessão. O actual ministro, no meio deste debate, até porque a abolição dos exames não se encontra no "programa de governo" poderá ficar a meio caminho, nem no 4º nem no 6º, talvez no nono ano. É um primeiro passo.
Finalmente, deixo aqui seis deliciosos minutos com o Professor José Pacheco: "Aula não ensina. Prova não avalia". Apesar de referir-se ao Brasil, país que o acolheu e onde é reconhecido, muito do que assume está em linha com o que se passa em Portugal.
Ilustração: Google Imagens.