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terça-feira, 4 de abril de 2017

SUBIR PELAS ESCADAS E "TOMAR" MOVITOL NÃO CHEGA!


Acho piada (!) a certas campanhas que pela descontextualização que as acompanham, tornam-se ineficazes e até ridículas. Agora, surgiu o número de calorias perdidas em cada lanço de escadas do Hospital Central do Funchal. Com algum espalhafato, mais político que promocional da saúde, aconselham os utentes, os que podem, claro, a não utilizarem os elevadores. Pela saúde, dizem!  


É óbvio que os utentes vão continuar a utilizá-los. Também os próprios profissionais de saúde, por rapidez e por outras necessidades e circunstâncias. Enquanto utente, quando lá for, só utilizarei as escadas se os elevadores estiverem inoperacionais ou se estiverem muitas pessoas para os utilizar. Porque os elevadores constituem uma necessidade e não um luxo. Não é por aí que se resolve um problema que é gravíssimo, o da inactividade física. Eu, como tantos da nossa sociedade, quase diariamente, porque fui educado, estudei e eduquei-me para as vantagens, faço exercício, corro e tenho cuidado com  a alimentação. Mas isso implicou uma tomada de consciência que ficou a depender de muitos factores. Desde criança a adulto. Ora, as iniciativas isoladas, desinseridas de um programa a dez, quinze, vinte anos e continuadas no tempo, que deve começar na escola e se projectar na vida, estão condenadas ao fracasso. Alguns lembrar-se-ão da iniciativa "Movitol" - mexa-se pela sua saúde", preparada pelo ex-Instituto do Desporto da RAM/Secretaria da Educação (foto). Uma embalagem muito parecida com um medicamento, distribuída pelo correio, que aconselhava uma "toma" diária. Guardei a caixinha. Qual foi o resultado? Zero! Algumas pessoas chegaram a telefonar estranhando o facto da embalagem não trazer nenhum produto no seu interior! Era o "Movitol", portanto, deveria ser uma coisa parecida com a actual "depuralina". Lembro-me de ter equacionado o problema na Assembleia Legislativa, mas o resultado também valeu zero. Como vulgarmente se diz... entrou a 100 e saiu a 200! O "produto" ficou na "prateleira".

Isto para dizer que não se mobiliza uma população que regista 70% de pessoas sem hábitos de prática física ou desportiva regular (dos 15 aos 70 anos, nem todos são regulares), com todas as consequências daí derivadas, através de iniciativas isoladas, mas de programas vastos e, repito, continuados no tempo. Um exemplo, por mera comparação, é a percentagem de recolha selectiva de lixo já atingida. Valores que são muito relevantes da sensibilidade da população para a importância da separação e valorização dos lixos. Essa tomada de consciência começou na escola (e continua, felizmente) e projectou-se na sociedade através de importantes iniciativas sensibilizadoras. É uma batalha que não parou nem pode parar. Não tem fim, nem descanso! Com a prática física passa-se o mesmo. A consciencialização desse bem cultural, associado à educação alimentar, não se resolve com fotografias políticas ou embalagens de "Movitol". Resolve-se na combinação de múltiplos factores, devida e inteligentemente integrados e planeados. Desde a escola à aposentação, passando pela actividade laboral. E se a escola não se apresenta como factor mobilizador, então, há que questionar o que se passa. 
Poderia aqui deixar inúmeros exemplos, que constam da literatura especializada, de como organizar desde as cidades aos sítios. Certo é que há novos hábitos a aprender, no quadro de uma nova postura na mobilidade potencialmente geradora de melhores ganhos na saúde. Bastaria que os governantes respondessem a três perguntas básicas: onde estamos, onde queremos chegar e que passos temos de dar para lá chegar. Depois, seria uma questão de planeamento integrado.
Por tudo isto e muito, muito mais, subir pelas escadas e "tomar" Movitol não chega! 
Ilustração: Arquivo pessoal e DN-Madeira.

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