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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

AI CAVACO, CAVAQUINHO!


Há pessoas que não têm noção de si próprias, da menor consideração política que o povo, hoje, por elas nutre; não têm noção que tudo tem o seu tempo e que, bem ou mal, já tiveram o seu, por isso, deveriam optar por se resguardar. É a inteligência do recato que assim determina. O Professor Cavaco Silva parece não ter essa noção. Os quase oitenta anos deveriam-lhe permitir essa reserva no outono da vida. Não sendo uma figura carismática, uma figura de referência europeia ou mundial, antes uma personalidade de dimensão nacional, sobretudo pelos cargos que ocupou, o Professor Cavaco Silva teima em querer manter-se na crista da onda, quando esta por cima de si já passou e o embrulhou. A prova está no facto de ter saído de Belém com o índice mais baixo alguma vez registado por um Presidente da República (12,9% negativos). 


O Professor Cavaco Silva regressou, pretensamente, para dar uma "lição política" aos jovens. O problema é de quem lá esteve a assistir, em Castelo de Vide. Pessoalmente, o que li (Expresso) é que, uma vez mais, me deixou perplexo. O Professor Cavaco arrasou a actual solução política encontrada no âmbito da Assembleia da República que evitou, claramente, quatro anos de instabilidade na governação; colou António Costa a Hollande e a Tsipras, sublinhando que "acabarão por perder o pio ou fingir apenas que piam" e, em sua defesa, foi buscar Macron, também de forma clara e deselegante, contra Marcelo Rebelo de Sousa, quando disse que "a palavra presidencial deve ser rara". Com toda a certeza não terá coragem de o dizer, directamente, a Marcelo aquando da realização de um próximo Conselho de Estado. Faltar-lhe-á coragem para assumir que é contra a sua "verborreia frenética". 
A "lição" conduziu-o a condenar as "ideologias": "(...) De facto, caros jovens, na zona euro a realidade acaba sempre por derrotar a ideologia" (...) "e os Governos podem começar com alguns devaneios revolucionários mas acabam sempre por se conformar com as regras da disciplina orçamental". Uma declaração que só tem uma leitura, a sua preferência pelo pensamento único mandando às malvas a DEMOCRACIA e a independência nacional mesmo no quadro da integração europeia.
A "lição" foi mais longe quando se referiu a uma eventual saída da zona Euro. Atacando os que "ideologicamente" não suporta, disse que em uma opção de saída: "(...) seríamos remetidos, talvez para a galáxia onde se encontra agora a Venezuela". Só ideologicamente esta declaração é possível. Admito, obviamente, que sublinhasse a sua posição favorável, justificando-a, mas também, prudentemente, evidenciasse a necessidade de estudos no sentido de serem apresentadas aos portugueses as vantagens e os inconvenientes de uma eventual saída. Deveria e não teve presente que só ao povo compete decidir. 
Concluo da sua "lição" que há uma diferença muito significativa entre um ESTADISTA e um político que sempre disse, pasme-se, não o ser. Já agora, ele que nega as ideologias, ele que disse algures que nunca se enganava, raramente tinha dúvidas e que não lia romances nem jornais, acabou por justificar o seu posicionamento ideológico na sua declaração final de apelo ao voto no PSD: "(...) os portugueses ainda preferem a verdade, a honestidade, o trabalho sério, a dedicação e a competência". Porque não lê jornais, ainda não se apercebeu do que os portugueses pensam de Passos Coelho, não se apercebeu das sondagens e até, no plano interno do seu próprio partido (lá está a ideologia), as desinteligências que o corroem. Ai Cavaco, Cavaquinho!
Ilustração: Google Imagens.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

VINHO EM TROCA DE VOTOS


Não lembra ao diabo, distribuir garrafas de vinho, como brinde de campanha eleitoral, quando a Madeira regista números preocupantes de consumo excessivo de álcool e respectivas dependências e co-morbilidades. Ininteligível, ainda por cima, iniciativa protagonizada por um candidato à reeleição de presidente da Junta de Freguesia de S. António - Funchal, freguesia onde está sediada, pasme-se, a Casa de Saúde de S. João de Deus, estabelecimento de Saúde na área da Psiquiatria, Saúde Mental, Dependências e Reabilitação Psicossocial. Já agora distribuam tabaco e bebidas brancas! O quadro ficará completo.


O DIABO VENCIDO PELA REALIDADE


A ideia de que o clima económico e a confiança cairiam para níveis históricos foi contrariada com indicadores de confiança a bater recordes e com o clima económico a revelar uma pujança nunca vista. Ao défice mais baixo da história da democracia portuguesa, junta-se agora o crescimento económico trimestral, em termos homólogos, mais elevado desde o ano 2000. Mas as boas notícias não acabam aqui: a taxa de desemprego também está a cair e no segundo trimestre de 2017 registou 8,8% em comparação com 10,8% no mesmo trimestre do ano anterior.


Aparentemente, há uma estranha irritação da oposição perante estes resultados. Em Maio deste ano, o PSD comentou o crescimento homólogo do primeiro trimestre de 2017, também de 2,8%, como sendo consequência das políticas do governo anterior. Há quem tenha suspirado de alívio pelo fim do discurso do anúncio da chegada do diabo, mas ninguém levou muito a sério os argumentos atabalhoados que as opções do passado, tomadas pelo governo da direita, são a origem do sucesso político do governo da geringonça. Em boa verdade, as opções políticas do passado fizeram o seu caminho e tiveram as consequências, abundantemente comentadas, durante 2011-2015: desemprego, recessão, emigração, défice e indicadores de confiança a bater no fundo. Com a chegada ao governo do PS, com o apoio parlamentar do BE, PCP e PEV, verificou-se uma mudança evidente nas opções políticas onde se deve destacar a decisão de devolver rendimentos aos portugueses, baixar a carga fiscal e criar todas as condições para assegurar o crescimento económico, aspecto determinante para a sustentabilidade da dívida e cumprimento dos compromissos orçamentais.
Foi com essas medidas, nem sempre consensuais, que o país mudou e que os bons resultados surgiram. A ideia que um governo, com a presença do BE e do PCP, limitaria a atracção de Investimento Directo Estrangeiro falhou, conforme revelam os dados de vários investimentos externos que entretanto surgiram em Portugal. A ideia de que o clima económico e a confiança cairiam para níveis históricos foi contrariada com indicadores de confiança a bater recordes e com o clima económico a revelar uma pujança nunca vista, traduzida em níveis de crescimento superiores à média europeia.
Por tudo isto pode-se concluir que, na história da democracia portuguesa, nunca uma oposição terá sido tão duramente desmentida pela realidade. O que é de estranhar é que, mesmo assim, ainda pensem que a culpa é da realidade!

NOTA
Artigo do Dr. Carlos João Pereira, Deputado na Assembleia da República e Presidente do PS-Madeira. O autor escreve segundo a antiga ortografia.
Ilustração: Google Imagens.

domingo, 27 de agosto de 2017

A PROPÓSITO DE UM PROCESSO SÉRIO, PRECISO E CONTINUADO...


Tem razão a secretária regional do Ambiente e Recursos Naturais, Drª Susana Prada: "(...) impõe-se que a gestão da água na Madeira seja um processo sério, preciso e continuado para benefício de toda a população". Digo eu, para além de tudo, porque se trata de um recurso cada vez mais escasso. O problema, no entanto, não está no quadro das declarações que são de interpretação lógica, pacífica e, portanto, entendível por todos. É fácil dizer, com efeitos chocantes, que o desperdício de água, só no Funchal, "dava para encher 9.745 piscinas olímpicas da Penteada". Fácil, dizer, também, que se trata de um "processo" que deve ser "sério", "preciso" e continuado". Porém, tal declaração conduz-me à inevitável interrogação sobre o que andaram a fazer as anteriores vereações de maioria absolutíssima do PSD na Câmara Municipal do Funchal. Alguém acreditará que este problema grave, muito grave, o do desperdício de água, é a consequência dos últimos quatro anos, quando outros tiveram ininterruptas responsabilidades durante 37 anos? A perda de 13 milhões de metros cúbicos, em 2016, terão um único ou uma única vereação responsável? É preciso ser "sério", "preciso" e "responsável" em análise política. Porque a política também é um "processo".


Sei, porque, politicamente, acompanhei, no tempo do anterior presidente, várias intervenções,  no sentido de limitar as perdas. Poucas, é certo, mas não seria correcto ignorá-las. As tais "obras invisíveis". Da mesma forma que tenho acompanhado, pela comunicação social, o trabalho desta vereação. O problema é que, lá para trás, nos anos cruciais, quando havia muito dinheiro, os investimentos não foram canalizados no sentido das prioridades estruturais, concordantes com uma cidade que crescia de forma rápida mas desordenada, que não teve em conta os aspectos das infraestruturas. Primeiro chegou a habitação, muitas de natureza espontânea, e, só depois, por essa cidade fora, as infraestruturas básicas.  E hoje, o Funchal, entre outros concelhos, está a pagar uma dolorosa factura. Daí que não me pareça sensato qualquer ataque político, com números chocantes (por exemplo, a água fornecida em alta daria para "abastecer uma população de 600.000 habitantes") e quando não há coragem para assumir a definição do investimento prioritário ao longo de toda a história pós-25 de Abril. Assumir esses erros dignificaria o exercício da política, dignificaria a Drª Susana Prada, e se apontasse medidas protocolares de colaboração entre o governo e as autarquias, ainda mais dignificante seria por parte de quem tem o mister de governar.
"Cantar e assobiar ao mesmo tempo não é possível". Ninguém consegue! E assim sendo, a pergunta que a Drª Susana Prada deveria fazer a si mesma, antes de qualquer declaração, seria esta: se eu tivesse assumido a presidência da Câmara, com mais de 100 milhões de euros de dívida, com problemas até ao céu da boca, com os devedores à perna, com menos receitas, com compromissos programáticos para realizar e com um governo regional que se nega a realizar contratos-programa, teria eu disponibilidade para investir na rede de distribuição de águas, melhorando-a, fugindo a tentação do remendo? Julgo ser esta a pergunta que lhe faltou fazer. Um certo acto de contrição. Mas eu sei, bem vistas as coisas, tal pergunta não poderia fazer, porque estaria a ir no sentido do confronto com o Dr. Miguel Albuquerque, figura que foi presidente da autarquia funchalense e que a convidou para o lugar que, hoje, politicamente, ocupa.
Regresso às palavras da Drª Susana Prada apenas para dizer que gosto da política enquanto "processo sério", "preciso" e "continuado". Detesto a subserviência política, a descontextualização política, a sonegação de dados que ajudem a compreender as causas, enfim, esse tipo de políticos e de política cada vez mais detesto. É tempo de aprenderem alguma coisa.
Ilustração: Google Imagens.

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

UM MONTE DE RAIVA


Um vazio pontiagudo com cheiro de morte e um rodopio que enche os ouvidos num barulho de desespero que silencia o resto de tudo. No instante seguinte, era muito pior que isto. Foram pessoas a estremecer de angústia, de dor, de desespero, de aflição. Era gente viva que num ápice, sem aviso, sem culpa, com fé em Nossa Senhora, foi apanhada num turbilhão onde nem o medo teve tempo de fugir! Esmagadas de dor pela árvore. Consumidas de sofrimento, nem os seus gritos eram audíveis, mas o barulho dos silêncios que invadiram o largo tornou-se a perturbação mais dura das famílias, dos amigos, dos fiéis, do povo, da nossa gente. Não há arrepios que suportem isto tudo.


O mundo acabou ali mas continuou de seguida. Um mundo diferente, vazio, como um poço fundo, escuro e áspero. Um poço que tem de ser preenchido pelo que foi perdido. Tem de ser alimentado de amor e carinho. O respeito por aquelas pessoas do Largo do Monte exige o empenho de quem tem responsabilidade de conter a dor, estancar a dúvida, sossegar a alma dos que ficam. Substituir o choque e o drama pelo amparo, o conforto das explicações que faltam.
O mundo das pessoas do Largo do Monte passou a ser de todos nós. É nosso dever deixarmos um bocadinho de cada um de nós ali, entregarmos as respostas todas, despidas de segundas intenções, para protegermos as pessoas. Não apenas as pessoas daquele largo, não apenas os familiares e os amigos das pessoas do Largo do Monte. Nada disso. É para todas as pessoas que precisamos ser grandes.
Mas nós, eu, tu o outro, todos os que ficaram distantes do Monte, não compreenderemos nunca o vazio que se abateu, que se agarrou à pele dos que sofrem duramente a cada minuto e a cada momento, por isso, como se faz isto tudo quando se recusa substituir o que ficou debaixo da árvore?!
Li por aí que isso resolve-se com luto, com a naturalidade das coisas banais, como o tempo para a recuperação face à perda, mas sabemos que, no contexto do Largo do Monte, há uma raiva furiosa e incontrolável de quem não aceita a banalidade de morrer assim. De perder assim, de sofrer assim, de ser esmagado assim.

NOTA
Artigo do Deputado na Assembleia da República e Presidente do PS-Madeira, Dr. Carlos Pereira, publicado na edição de  hoje do DN-Madeira.

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

CRÍTICA FÁCIL DE POLÍTICOS SEM ESPELHO AS OBRAS PÚBLICAS NÃO SÃO SEMELHANTES ÀS DO "QUERIDO, MUDEI A CASA"!


É óbvio que todas as obras realizadas em espaços públicos trazem naturais inconvenientes, na circulação pedonal ou no trânsito. Sempre foi assim. É evidente que as situações se tornam menos gravosas quando, de início, os responsáveis políticos denunciam preocupações de rigor no que concerne ao ordenamento dos espaços e das respectivas infraestruturas de suporte. Mais. Quando não deixam os espaços e as envolventes degradarem-se ao ponto cuja recuperação se torna mais complexa e demorada. Estas considerações são óbvias. Nada de novo, portanto.


Ora, isto a propósito das declarações do senhor secretário regional Dr. Eduardo Jesus sobre as obras em curso na Estrada Monumental, face às quais, disse, "revelam um descuido muito grande à cidade e às pessoas que ali passam" (...) porque revelam "insensatez e insensibilidade muito grande pelo momento inoportuno" (...) daí que "sejam reclamações de várias frentes (...)". Este tipo de crítica, do meu ponto de vista, não tem sentido, desde logo porque não sei, nesta cidade extremamente condicionada pela sua orografia, qual o período do ano mais oportuno? O da abertura dos estabelecimentos de educação e ensino e ao longo de todo o período escolar? No Natal? Na Páscoa?
O senhor secretário terá presente, independentemente de ser considerada necessária ou absolutamente dispensável, os constrangimentos pelas obras nas ribeiras do Funchal da responsabilidade do governo? E as anteriores na frente mar? E aquelas que, durante anos, tornaram a Madeira em um estaleiro? E a criação de espaços pedonais, antes abertos ao trânsito? E as do reperfilamento da Monumental na zona mais a oeste?
Regressando à Estrada Monumental e a toda a zona de incidência mais turística o problema tem, entre outras, uma causa estrutural: o desordenamento espacial e o seu parcial abandono durante muitos anos. Houve um governante com responsabilidades que, perante tanta crítica, disse mais ou menos isto: havia que sacrificar uma zona... foi a do Lido, ponto final. O problema está aí, no que significou o desprezo pelo planeamento e a concomitante exigência no rigor urbanístico. Isto, ao mesmo tempo que deixaram para depois os aspectos infraestruturais, os de natureza "invisível": águas, esgotos, comunicações, energia, etc.. Portanto, não faz sentido que se critique (seja lá quem for) por realizar obras necessárias, quando elas, por outro lado, são sistematicamente reclamadas. O Dr. Eduardo Jesus deveria ter presente que as obras públicas não são semelhantes às do "Querido, mudei a casa!"
Mas do Dr. Eduardo Jesus, sinceramente, o que eu gostaria de conhecer era a sua posição relativamente ao Savoy, nos seus impactos no turismo, obra inicialmente aprovada pelo Dr. Miguel Albuquerque. Ai gostaria, gostaria!
Ilustração: Google imagens. 

terça-feira, 22 de agosto de 2017

UM GOVERNO AO NÍVEL DO CADEADO


Notícia de hoje (DN-Madeira): "Logista rebenta com cadeado colocado pelo governo para impedir entrada no recinto". Em causa está o acesso ao miradouro do Pico dos Barcelos (Funchal) onde, no seu interior, existem, segundo li, cinco espaços de negócio. Desde logo tenho dificuldade em perceber como é que um miradouro se encontra sob a alçada do governo e não da autarquia. Aquilo é assunto de Junta de freguesia, não da Câmara, muito menos do Governo! O que significa, seja qual for a razão, que o governo está ao nível do cadeado.


Compreendo a necessidade de vedar a acessibilidade ao espaço durante a noite. Há muitas razões que aconselham redobrados cuidados. Mas, na sequência do que ainda hoje escrevi, existem competências atribuídas dificilmente compreensíveis. Basta ter presente o princípio da subsidiariedade, aquele que determina a transferência de responsabilidades para as instituições inferiores da hierarquia, mais bem vocacionadas para desempenhar e prosseguir uma determinada tarefa com eficácia. Ora, parece-me óbvio que alguma coisa está menos bem quando um governo desce ao nível do cadeado! Quando vejo muitos a pedirem mais Autonomia para a Região, possível com uma revisão da Constituição, não faz sentido que, cá dentro, o sistema não entenda a descentralização.
Ilustração: Google Imagens. 

POR ESTE ANDAR, NÃO SEI O QUE VAI RESTAR PARA O GOVERNO REGIONAL!


A época é fértil em promessas, eu sei. Se são para cumprir, logo se verá! Mas, haja bom senso, é o mínimo que se pede, para que não se saia do perímetro de responsabilidades das autarquias. Se assim não acontecer, pouco restará para o governo funcionar. A não ser que alguns queiram confirmar o que, em um determinado contexto, o Professor Marcelo Rebelo de Sousa, em Maio de 2010, então com outras responsabilidades, sublinhou: a Madeira é uma grande autarquia e o seu presidente uma espécie de "líder autárquico em grande". Não alinho, seja em que contexto for, nessa leitura, mas também não aceito que as autarquias se sobreponham às responsabilidades que devem pertencer ao poder regional autónomo. Cada um deve acomodar-se na sua esfera de competências e actuar na solução dos problemas estruturais quer sejam de natureza económica, financeira, social e cultural. Sem atropelos.


A proposta da candidata Drª Rubina Leal (PSD), ontem dada a conhecer, de criar uma rede de "cuidadores de idosos", no âmbito da autarquia, que dê resposta às necessidades da população, parece-me ultrapassar a esfera das prioridades do município, a capacidade financeira para tal, para além de sobrepor-se, de forma claríssima, às responsabilidades da secretaria regional da Inclusão e dos Assuntos Sociais, onde, até há pouco, a candidata foi responsável por essa importante pasta. Desde logo, questiono, qual é o papel da Segurança Social? E do próprio Orçamento Regional? Será esta uma via para descartar responsabilidades regionais que, por experiência vivida, sabe a candidata que o governo, ao longo dos anos, tem sido avesso ou ineficaz? Tratar-se-á de uma crítica directa ao governo de Miguel Albuquerque? Talvez. Não deixa, porém, de corresponder a uma intromissão em um espaço que não deve ser da responsabilidade autárquica. A não ser assim, não levaria muito tempo e teríamos as autarquias a pagar, por exemplo, um complemento de pensão a todos os que auferem de uma pensão inferior ao salário mínimo. Nos Açores é o OR que assume essa responsabilidade. Na Madeira esse complemento não existe. Ora, cada nível de intervenção deve, pois, assumir as suas responsabilidades: ao governo o que é da competência do governo; às autarquias a intervenção que o bom senso determina, no respeito pela hierarquia de responsabilidades e capacidade financeira de intervenção. 
A moda pegou nos livros escolares (o direito à Educação é Constitucional, Artigo 74º, pelo que se deve enquadrar nas políticas de governo) e já vai na rede de cuidadores de idosos (direito previsto na Constituição, Artigo 72º). Que "temos cerca de 108 idosos para cada 100 jovens" é da estatística conhecida e isso o governo deveria ter presente. Outra coisa, quanto a mim errada, é assumir que "o município tem de se preocupar com as políticas do envelhecimento". Essas são políticas da competência do governo regional e não da autarquia. Não é correcto, também, assumir que, se for eleita, a autarquia comparticipará na aquisição dos medicamentos a todos os cidadãos com mais de 65 anos. Essa não deve ser política da Câmara, mas do governo. Tal como nos Açores onde existe o COMPAMID (Complemento para a Aquisição de Medicamentos pelos Idosos) suportado pelo Orçamento Regional. 
Onde isto vai! Alguém consegue descortinar onde termina a responsabilidade do governo e começa a acção das câmaras municipais ou vice-versa?
É preciso ter presente que o Funchal estava "falido" em 2013 com mais de 100 milhões de responsabilidades financeiras. Hoje, segundo dados vindos a público, a dívida ronda os 60 milhões, o que, ainda assim, é muito limitador da sua capacidade de intervenção em múltiplas áreas e domínios que são da sua exclusiva competência. Por exemplo, o investimento na rede de distribuição de águas onde, historicamente, muita, mesmo muita, é perdida; a nova ETAR; a reabilitação urbana que custa muitos milhões e a requalificação das zonas altas da cidade, por erros cometidos, cuja intervenção levará tantos anos quantos os de democracia temos e à custa de muitos e muitos milhões! Apenas estas quatro preocupações para não enumerar muitas outras que levam recursos financeiros que não existem. Ora, o que a candidata Drª Rubina Leal não disse e nunca refere, sobretudo para que as propostas tenham credibilidade e sustentabilidade, é onde cortará ou onde irá buscar o dinheiro para desenvolver as medidas, mesmo aquelas que se sobrepõem ou "complementam" a (ir)responsabilidade do governo. Do meu ponto de vista, todas as propostas devem ser quantificadas para que sejam credíveis. Investirei x milhões aqui, cortando y e k acolá. Mesmo quando a candidata fala do IRS, tem o dever, com números, de dizer que, em média, o IRS vale x em receita e o investimento na sua proposta custa y. Por essa via, não existe outra, a candidata pode demonstrar conhecimento, por um lado, orçamental, por outro, a certeza da exequibilidade das propostas que faz. Não sendo assim, para além de assistirmos a duplicações entre governo (Segurança Social) e Câmara, as propostas deixam de ter qualquer sustentabilidade. Diria mais: VERDADE. Torna-se paleio eleitoral gasto e sem sentido nos tempos que correm.
Ilustração: Google Imagens.

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

DIA DA CIDADE DO FUNCHAL E AS RIVALIDADES...






Exortou o Senhor Padre José Fiel na Missa deste Dia da Cidade do Funchal: “devemos estar todos acima das rivalidades”. Absolutamente de acordo. Aliás, não apenas no exercício da política, mas em tudo na vida. Uma coisa é ter opinião diferente, salutar em democracia, outra é a rivalidade doentia, agressiva, musculada e sem sentido. Mas quando se opta, e bem, por exortar à decência do comportamento entre os mortais, também é óbvio que se deva olhar para as atitudes que a instituição a que se pertence também privilegia o princípio da não rivalidade doentia. E a Igreja, lamento, não tem oferecido o melhor exemplo. O Senhor Cónego José Fiel de Sousa, Vigário Geral da Diocese, pessoa por quem nutro consideração, sabe que a Igreja Madeirense mantém, há 40 anos, uma injustificável, eu diria, inqualificável, à luz da História dos factos, pena "a divinis" relativamente ao Senhor Padre Martins Júnior (paróquia da Ribeira Seca). Este é, apenas, um exemplo, entre outros, porventura menos relevantes.
Acredito na sinceridade e bondade do Senhor Cónego José Fiel, mas não basta fazer como Frei Tomás... 
Ilustração: DN/Rui Silva/ASPRESS.

sábado, 19 de agosto de 2017

E AO TERCEIRO DIA RESSUSCITOU!


A festa era em honra de Nossa Senhora do Monte, a Padroeira. Parafraseando, é caso para dizer, ao terceiro dia, aleluia, aleluia MP. Ressuscitou! 


No dia da tragédia, ao fim da tarde, ouvi que a Câmara do Funchal, de imediato, através de especialistas residentes e não residentes, investigariam, ao pormenor, as causas da queda do famigerado carvalho. Os trabalhos iniciaram-se e, ao terceiro dia, foram interrompidos. Quem ordenou está no seu pleno direito, obviamente. Enquanto cidadão apenas questiono, porquê ao terceiro dia? Por que não após a tragédia, com a necessária limitação na acessibilidade ao espaço? Falta de atenção, incúria? Não sei. O que terá acontecido para que assim tivesse sido decidido? Que razões levaram para, agora, falar-se, de uma fictícia compaginação de investigações, uma em curso da responsabilidade da Câmara e outra por uma nova equipa de peritos, tendo presente que o Senhor Procurador, entretanto, veio enaltecer que "o que vai valer é a nossa peritagem"? (Fonte DN-Madeira, edição de hoje) 
Tudo isto pode ter uma justificação plausível, mas aos meus olhos, é muito estranho e daí que devesse ser explicado ao povo, sobretudo o atraso, mas também aquilo que não é perceptível enquanto meros observadores. Os silêncios, muitas vezes, podem ser considerados comprometedores e à Justiça, pede-se o dever de total TRANSPARÊNCIA. Para que nela se confie, não podem restar dúvidas, entre outras e neste caso, sobre a oportunidade da decisão. É claro que é defensável que uns desconfiem dos outros, na lógica do apagamento ou da introdução de provas. Quais, não sei! Porém, a considerar essa hipótese tal é válida em qualquer sentido, da parte da Câmara ou de quem ressuscita ao terceiro dia. Bom, estas são divagações de uma pessoa que, de Justiça, apenas sabe o significado da palavra, mas que não tem dúvidas que não teriam lugar se tudo fosse muito mais claro. De resto, o que importa é que seja investigado, embora tudo isto, ainda muito a quente, evidencie sinais perturbadores. Eu que aprecio a transparência dos actos sinto-me pouco agradado com esta actuação do MP.
Entretanto, esta semana (16.08.2017), li um artigo de um Vice-Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira (PSD), onde são produzidas declarações geradoras de preocupação. Aqui, repito alguns excertos: "(...) O seu capataz político, financeiro e empresarial, o que ‘mamou’ sem escrúpulos nas suas barbas, e obviamente com o seu consentimento, é o porcalhão que ainda estrebucha para se vingar dos que se opuseram à pouca vergonha que orientou a sua conduta criminosa. Todos os negócios tinham de ser dele. Ou pelo menos dez por cento, se fossem grandes empreitadas. (...) O outro, o verdadeiro chefe, tão inteligente que ele é e nunca viu a permanente vigarice do seu braço corrupto. (...) O terror sobre as pessoas permitia tudo. Dava para ter imunidade total. O povo votava no líder amado e abria a caça ao tesouro por parte do Ali Babá do regime. (...)" Hoje, é o terceiro dia. Neste caso, não houve mortos, mas fala-se de corrupção e de 10% de vantagens em concursos. Será que o MP ressuscitará ao terceiro dia para uma investigação, uma vez que isto é muito mais do que palavreado político? Ou estarei desenquadrado neste comentário, porque a investigação já decorre desde  o dia 16?
Ilustração: Google Imagens.  

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

"GOVERNO REGIONAL LOUVA VÁRIAS ENTIDADES E EXCLUI A CÂMARA DO FUNCHAL"



A peça assinada pelo jornalista Jorge Freitas Sousa, publicada na edição de hoje do DN-Madeira, que destaca o facto do secretário regional da Saúde, com a tutela da Protecção Civil, ter destacado o meritório trabalho de todas as instituições e pessoas envolvidas no socorro às vítimas da tragédia do Monte, deixando de fora a Câmara do Funchal, demonstra, claramente, a politiquice que não há maneira de se esbater com o tempo. É muito lamentável que um governante confunda pessoas com instituições. Alegadamente, pelo que se percebe, ao querer atingir o presidente da Câmara e toda a sua Vereação, onde se incluem vários partidos, o governante atingiu dezenas de trabalhadores da Câmara, desde cantoneiros aos técnicos que, tal como os outros, deram, certamente, o seu melhor naquele dia de sofrimento. Poderia o secretário ter feito um agradecimento generalizado, evitando que alguém ficasse de fora, mas não, foi intencional, o que não lhe ficou bem. Diz muito da histórica politiquice e muito pouco da seriedade e distanciamento que um governo deve ter em relação a tudo o que é menor. E se alguém pensa que o povo não vê, esqueça, porque lá diz o ditado popular: "gato escaldado, da água fria tem medo". 
Ilustração: Google Imagens.

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

UM ARTIGO QUE TEM MUITO QUE SE LHE DIGA, PORQUE ATINGE 40 ANOS A FERRO E FOGO


O blog do regime fedorento
Era tudo dinheiro para o partido. Só que o partido está falido e o homem está rico

Por MIGUEL DE SOUSA, Deputado do PSD-Madeira, publicado na edição de hoje do DN-Madeira e aqui transcrito com a devida vénia.


Não sei se é o criador, o mentor, o escritor, o escrevinhador ou tudo isso.
Mas é dele e da cambada de gajos que ficaram de fora por falta de carácter e utilidade, dedicando-se apenas ao trabalho sujo que um regime, findo a sua validade, precisa fazer depois de se aguentar quase quarenta anos sem que alguém pudesse sequer piar. Até um simples e inexplicável soluço fora de tempo podia terminar com uma carreira promissora. O azar de um opositor se sentar na mesma mesa do Apolo ou se cumprimentarem num arraial popular. Pior era ter um qualquer primo na oposição.
Mesmo que ele não seja o escritor gosta ou, pelo menos, aceita o que é escrito, e possivelmente até incentiva e dá as principais orientações. Mas tenho para mim que ele é o autor ! Ninguém escreve assim todos os dias na sua vida!
De qualquer modo é a covardia do regime cessante. Elogiar pela frente, zurzir por detrás. Sem respeito pelos próprios, familiares e amigos.
O seu capataz político, financeiro e empresarial, o que ‘mamou’ sem escrúpulos nas suas barbas, e obviamente com o seu consentimento, é o porcalhão que ainda estrebucha para se vingar dos que se opuseram à pouca vergonha que orientou a sua conduta criminosa . Todos os negócios tinham de ser dele. Ou pelo menos dez por cento, se fossem grandes empreitadas.
Não dava entrevistas, não aceitava perguntas e tratava, abaixo de cão, quem ele achava que não pactuava com o seu estilo bruto e soez. O regime era seu. Até o chefe se atirava ao filho para atingir o pai.
Agora, o seu objectivo único é conseguir a sucessão dinástica para a situação presente. Mesmo com a distância táctica do infeliz sucessor, naturalmente morto com tal histórico familiar. Muito terá de fazer para apagar essa chaga.
O outro, o verdadeiro chefe, tão inteligente que ele é e nunca viu a permanente vigarice do seu braço corrupto. Do dono do blog. Nada ! O terror sobre as pessoas permitia tudo. Dava para ter imunidade total. O povo votava no líder amado e abria a caça ao tesouro por parte do Ali Babá do regime.
Quer se queira quer não, um blog fedorento, que saúda o regime corrupto anterior e condena e critica toda a renovação e limpeza consequente, só pode ser feito por quem está a mal consigo próprio. Definha na angústia do desprezo, da inutilidade e das acusações de tudo o que a tirania e a corrupção permitiram , esta mesmo que não directamente dele mas a mando do seu abutre mais directo.
Onde anda essa ave de rapina ? Fugido ? Escondido ? Auto-destruído ? Á beira do suicídio ? Só aparece no blog ? Ou anda a trabalhar para novos ataques e crimes a coberto de soluções políticas futuras que vem orientando ? Ainda não é tudo seu e, qual vampiro, certamente quer mais.
Como iletrado e covarde que é, põe alguém pago - foi assim com os discursos que berrou toda a vida - a escrevinhar um blog que espezinha quem teve a coragem de nunca ser cúmplice de tanta pouca vergonha feita. Um blog que agride quem ele odeia, os verdadeiros e honestos empresários da Madeira, a actual liderança do partido e do governo da terra, tudo sem direito a contraditório ou sequer defesa. O regime anterior tinha essa marca e, agora, vemos bem quem a promoveu.
Terá sido democrático um regime que tinha como coordenador e alma mater um bastardo tirano deste quilate?
Se há honra que sinto é desse bandido nunca me ter suportado porque sempre denunciei os seus abusos e golpes. Por isso a raiva de atitudes suas e agora do seu blog ! No anonimato do escrito sabujo e podre que o seu “chefe” de sempre, aquele que até lhe dava para ler textos manuscritos, não manda acabar.
Porque se não é o autor e se não está de acordo com o seu conteúdo execrável então imponha o seu estatuto e acabe ou mande acabar com aquela vergonha. Porque mesmo que não o escreva tem a sua cumplicidade ! Mancha o seu carácter. E toda a gente sabe que se não gostasse o mesmo já tinha acabado. Mas, também como todos pensamos, está na sua natureza. Ninguém muda com aquela idade ! E já não manda !
Afinal, este resquício escrito repugnante só mesmo produzido por aquele regime caduco banido pelo povo e orientado pelo cacique político que dizia o financiar.
Era tudo dinheiro para o partido ! Só que o partido está falido e o homem está rico !

COMENTÁRIO

Este artigo atinge o coração de um regime que, ininterruptamente, governa a Madeira há 40  anos. Mais do que qualquer alegada inimizade pessoal, trata-se de um texto perfeitamente identificável relativamente às pessoas em causa, e que clarifica, de dentro para fora, toda perversão democrática ao longo de sucessivos mandatos. Um texto a ter em conta.  

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

UM CRESCIMENTO ACIMA DA MÉDIA EUROPEIA



"O Produto Interno Bruto, em termos homólogos, aumentou 2,8% em volume no 2º trimestre de 2017, avançou esta manhã o Instituto Nacional de Estatística. A taxa é idêntica à verificada nos primeiros três meses do ano" - Expresso.
Enquanto isto, Passos Coelho, ontem à noite insistiu: o país está “adiado do ponto de vista estrutural e cativado do ponto vista orçamental” (...) “O Governo entendeu, este ano, fazer um aumento extraordinário das pensões, em Agosto, justamente a um mês da campanha eleitoral para as eleições autárquicas”. Aliás, há muito que estava acordado com a maioria parlamentar na Assembleia.
Ora bem, o País continua a crescer, demonstra alguma capacidade para ir ao encontro dos mais vulneráveis, embora de forma muito limitada, mas Passos parece continuar a preferir a AUSTERIDADE, melhor dizendo, o roubo na débil carteira dos portugueses.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

AS MARCAS IMPÕEM-SE PELA QUALIDADE



PRADA é uma marca que pode suscitar paixões junto de muitos. A mim nada me diz. Tenho muita consideração e respeito, apenas isso. Até o Papa, mito ou não, renegou os sapatos Prada, vermelhos, preferindo os seus, pretos e ortopédicos, sinónimo de igualdade. Mas há gente obcecada, acredito. O fatinho até lhes pode ficar mal, repuxado aqui e ali, mas o espelho não dá para ver, porque tem a etiqueta Prada. São leais à marca. Aliás, marca que se queira impor no mercado tem de trazer o novo, a arte, o desejo e a sedução. Imagine-se ficar nos idos 1913, ano da sua criação, ou apresentar-se com os mesmos argumentos dos anos 70, 80 ou 90? Morreria aos poucos. Acontece com as marcas e acontece com as pessoas quando, querendo estar em uma pressuposta moda, preferem vestir uma pele que não é a delas. Li que existem 27 regras sobre fatos e que todos os homens deveriam ter em conta. Descurá-las constitui um erro. Por outro lado, a marca Prada não critica as outras, não necessita de rebaixá-las para se tornar conhecida. Antes prefere a proposta inovadora, elegante, contida, sofisticada e com charme. Ora, quando uma marca, Prada ou qualquer outra, centra as suas preocupações nos outros, por muito leal que seja a sua intenção, e esquece-se de olhar para si própria, para a sua própria história, perde credibilidade e torna-se banal. Os clientes fogem e até o perfume se torna enjoativo.

NOTA
Qualquer semelhança com nomes e entidades políticas são meras coincidências.
Ilustração: Google Imagens.

domingo, 6 de agosto de 2017

POSSO AJUDAR? NÃO. NÃO PODE... PARA JÁ!


Confesso que embirro com certas formas de tratamento. Chefe, o que vai ser? Dona, mais alguma coisa? Ou, então, quando mal entro em um espaço comercial, um(a) solícito(a) jovem, aproxima-se e diz: posso ajudar? Ainda ontem aconteceu-me essa situação. Respondi, com delicadeza, mas frontalidade: não, não pode! Porque entendo que, em um espaço aberto e com tudo à frente dos nossos olhos, sou eu, se precisar, que me devo dirigir a alguém. O colaborador apenas deve estar atento para, eventualmente, escolher o momento da aproximação. Tal qual em um supermercado. Só que aqui, por vezes, quando peço ajuda, sou logo despachado: se não tem aí é que não há! Ainda questiono: será que no armazém... Tempo perdido. 


Agora, já tem algum tempo, uma outra virou moda: o tratamento por menino. Logo eu, de cabelo todo branquinho, na padaria, a empregada, provavelmente com algum problema ocular ou até, com boa vontade da minha parte, gentilmente, tratar-me por menino! Não bate certo.
Os cabelos do corpo encrespam-se, também, ao sentar-me em uma esplanada ou mesmo em um restaurante, ter o empregado à ilharga, com uma bandeja e um pano, limpando a mesa ao mesmo tempo que fala para o cliente ou, então, limpeza feita, ficar a olhar para o vazio. Dir-me-ão, mas isso são espaços de terceira ou de quarta categoria. Contraponho, é sobretudo um problema de educação, de formação, de capacidade organizacional e de exigência por parte de quem lidera. Jogar os pratos para cima de uma mesa como se fossem discos voadores, convenhamos, é revelador de uma aprendizagem que não foi feita no seu devido tempo. Primeiro, em casa, depois, na escola.
Mais, ainda, detesto, entrar em um serviço, tirar a senha, esperar e, quando chega a minha vez, o(a) funcionário(a) manter os seus olhos pregados no ecrã do computador e não em mim. Normalmente paro de falar, porque a via do silêncio faz despertar alguma coisa. No mínimo, pode funcionar como campainha de alarme. Compreendo que o atendimento canse, esgote e paralise, mas é um problema de educação e de cortesia.
Irrita-me quando, na escada rolante, alguns, ao invés de se colocarem sobre o lado direito, ocupam todo o espaço, impedindo a circulação dos mais apressados. Da mesma forma quando vejo um veículo a ocupar dois lugares. Vezes sem conta apeteceu-me deixar um bilhetinho sensibilizador. Para não falar de quem, todo lampeiro, sem uma sensível diminuição, seja ela de que tipo for, estaciona nos lugares destinados, entre outros, a portadores de deficiência e grávidas. 
No entanto, por paradoxal que pareça, temos a geração mais bem preparada de sempre. No conhecimento (!) enciclopédico, talvez. Não, em muitos casos, no saber estar e no relacionamento social. Como em tudo há muitas e boas excepções. Temos, portanto, um longo caminho a percorrer. Apenas um desabafo nesta manhã de Sábado.
Ilustração: Google Imagens.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

MOMENTOS DE VERÃO


Fiz uma pausa em documento que ando a ler e a "mastigar" a História e os conceitos. Desloquei-me para a piscina. Estendi a toalha e deitei-me de frente para o Sol. Uma temperatura agradável e uma ligeiríssima brisa a fazer do Sol uma carícia ao corpo. A alguns metros duas senhoras conversavam. Pela descrição o bolo deve ser uma delícia. Não decorei a receita, mas provei-o nas palavras ditas. Pela aparência das senhoras, certamente nada preocupadas com as dietas de Verão, devem ser especialistas na arte da transformação dos ingredientes. Um pouco mais ao lado, já na beira da piscina, uma mãe, de magreza a fazer inveja a outras das "passerelles", entretinha-se com três criancinhas. Aí começou o meu desconforto que nem aquela suave brisa atenuou. Joãozinho para aqui, Pedro para acolá, Francisco, cuidado, não mergulhes agora, amanhã não vêm, vão ficar de castigo, enfim, coitadinhas das crianças com aquela voz, ainda por cima, estridente. Resolvi entrar na água, porque sou muito sensível aos decibéis acima do tolerável!


Pior, ainda, uma outra jovem mãe. Chegou, com a pequena Maria, a filha, desejosa de pular para a água. Maria, aí não, olha, tens ali uma menina, brinca com ela, enquanto, agarrada ao telemóvel, com o seu dedo indicador, deu-me a sensação de andar, incessantemente, para a frente e para traz. Mamã, vem para aqui. Resposta célere: pergunta à menina se quer brincar contigo! Seguiu-se um longo telefonema e a criancinha ali. Só! Dei comigo a reflectir sobre este quadro de um fim de tarde de Verão: uma mãe de protecção absoluta, uma outra completamente desconectada com a filha e, pelo meio, uma receita de um bolo, pressuponho, delicioso, que, pela idade das personagens, bem poderia chamar-se: "bolo da avó". Talvez, apenas naquele momento, entre as duas mãezinhas, o preferissem.
Entretanto, regressei à água, passei pelo duche e fui-me embora, de volta à leitura. Ficou-me a "Corzinha de Verão", parafraseando "Os Deolinda".
Ilustração: Google Imagens.