Adsense

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

OS DEPUTADOS NA REPÚBLICA ESQUECERAM-SE DA SUA FUNÇÃO FISCALIZADORA


Há políticos que dão a entender que avaliam os outros tomando como exemplo os seus próprios comportamentos; e há políticos que não conseguem se libertar dos mesquinhos jogos partidários. O "chefe" manda e a decisão fica tomada. Pouco importa a competência porque, primeiro, está a cega obediência, depois, ou talvez em simultâneo, a guerrilha política de bastidores. Bem fez o Dr. Carlos Pereira renunciar à indigitação do seu nome para vogal da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos. Não deixa de ser curioso o facto da CReSAP, a entidade que assegura a "transparência, isenção, rigor e independência, as funções de recrutamento e seleção de candidatos para cargos de direção superior da Administração Pública e avalia o mérito dos candidatos a gestores públicos", ter confirmado, em todos os itens, o nome proposto pelo governo, após exaustiva análise curricular, porém, uma comissão de parlamentares da Assembleia da República entendeu que não. Isto é, trocado por miúdos: o Dr. Carlos Pereira é competente para desempenhar tais funções, mas alto lá, pertence a um partido! 


O mais caricato desta situação é que todas as entidades reguladoras estão sob o permanente escrutínio político, quer por parte da Assembleia da República quer pela comunicação social. Significa, portanto, que os parlamentares, ao darem parecer negativo à sua indigitação, duvidam ou declinam a sua própria responsabilidade fiscalizadora. Associa-se a isto um outro aspecto: se a responsabilidade pela nomeação parte do governo, seja ele qual for, passará pela cabeça de alguém que qualquer outro indigitado, sem filiação partidária, se não pautar a sua vida pelo rigor e honestidade, não cederá às alegadas e eventuais pressões do governo? Isto não é ingenuidade, é sim "partidarite" em estado avançado.
Há uma outra parte curiosa deste processo. Os mesmos, refiro-me ao PSD e ao CDS, que tiveram responsabilidades na anterior governação, que enxamearam as instituições públicas de muita gente afecta aos seus partidos, são os que hoje têm, perdoem-me a expressão, a lata de chumbar o nome do madeirense Carlos Pereira, apenas pelo facto de ser deputado pelo PS. Interessante. Não é preciso ir muito longe e pergunto, na Madeira, todo o aparelho político não foi, ao longo de anos, tomado de assalto pelo poder maioritário?
Conheço o Dr. Carlos Pereira, trabalhámos juntos e defendemos causas comuns, e não pelo facto de sermos amigos, sublinho, deixo aqui testemunhada a sua competência técnica, a rara inteligência, a rapidez de raciocínio sobre os mais diversos temas da economia e finanças, o seu sentido do rigor e a notável capacidade discursiva e de argumentação. Nunca o vi defender um assunto por razões meramente partidárias, mas assentes no estudo e na defesa do Povo. É o tipo de pessoa que define objectivos e parte. Só que isso, nesta sociedade e no actual enquadramento político paga-se. Eu diria que para ele nada na sua vida é fácil. Tem muitos olhares enviesados em cima. Espero vê-lo, um dia, secretário de Estado ou Ministro, quando, ao longo da minha vida, tenho visto tanto medíocre lá chegar.
Parabéns Amigo Carlos pela atitude que tomou.
Ilustração: Google Imagens.

Sem comentários: