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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

A IGREJA PREFERE OBEDIÊNCIA E SUBSERVIÊNCIA


Escrevo este texto com a liberdade de pensamento que me assiste e sentido de responsabilidade, também, porque sou cristão. Escrevo a poucas horas da entrada do Bispo Nuno Brás na Diocese do Funchal. Escrevo sabendo que a figura central destas linhas me perdoará a ousadia dele falar. Escrevo com o sentimento que me vem das entranhas, depois de muito pensar e de vários escutar. Escrevo, quando uma só pergunta bastaria: porquê buscar um Bispo de fora quando Padres existem, aqui nascidos, que deveriam merecer tal ordenação episcopal, desempenhando as funções com obediência qb, mas sem subserviência.


A comunidade, estou certo, pelo que tenho lido de vários quadrantes, veria com bons olhos a liderança da Diocese nas mãos de um Bispo madeirense. Não seriam muitos os candidatos, mas existem. Porventura, se há mais tempo tivesse acontecido, não teria a Diocese tantos, graves e adiados problemas por resolver. Incompreensões e intolerâncias sem fim que estão à vista de todos. Até há um padre, o Martins Júnior, há 40 anos, inexplicavelmente, suspenso "a divinis"! 
No entanto, percebo que não interesse, porque a bajulação e a falta de independência  na Igreja têm andado de braço dado ao longo destes últimos 45 anos. 

A Palavra de Cristo pouco tem interessado, antes os desejos e compromissos políticos de outros que ordenam, sem ordenar, os formatos comportamentais. Sou claro e não me coloco com rodriguinhos: o poder político adora essa humilhação, de trazer a Igreja pela trela e, por seu turno, à Igreja, sempre lhe faltou a coragem necessária para mantê-lo em sentido. São muitas as dívidas de mútua gratidão. Um dia acertarão contas com o Divino!

O primeiro dos últimos três Bispos abriu a porta política, de uma forma absolutamente indecorosa; o segundo, agachou-se, completamente, servindo os  interesses da corte dominante e o terceiro quase nem demos por ele nas questões essenciais. Cantou a fé e a caridade e o poder, obviamente, bateu palmas porque essa não é tarefa sua (nem de programa de governo!!!), porque a história de denunciar a pobreza, a violência dos actos, os atropelos aos mais vulneráveis, entrar na esfera do mundo laboral, na precariedade, na desorganização social, na educação, na saúde, enfim, pregar e contextualizar a PALAVRA e o exemplo de Cristo, está quieto, nesse caminho, deverá ter pensado, não me atreverei. Infelizmente, Carrilho, descarrilhou semanas após ter aqui chegado. Percebeu o contexto.
Em contraponto, diz o Padre José Luís Rodrigues, da Paróquia de S.Roque, em mais um artigo de opinião: 

"(...) A organização da Igreja, o seu funcionamento, os seus hábitos e a sua maneira de se governar foram moldados numa época em que existia um Ocidente todo cristão. Tomar consciência de que este já não existe é, desde logo, difícil de admitir e tem como consequência a necessidade de repensar a organização, o funcionamento, os hábitos e as maneiras de governar. Por isso, como conceber uma Igreja diferente? – Pensar o governo da Igreja, mudar o seu funcionamento, mudar os hábitos, incluindo o governo, e inventar novos equilíbrios não são coisas fáceis de serem acolhidas por todos os cristãos católicos. Muitos não admitem isso e sofrem com a diminuição da influência da Igreja. As investidas contra o Papa Francisco são bem reveladoras. (...)" - Fonte: Funchal Notícias. Daí que, em um outro artigo, desta feita no blogue www.gnose.eu, o Padre José Luís seja peremptório: "A Igreja perdeu o inferno, o céu vai no mesmo caminho, dizem que os jovens não querem saber da Igreja para nada, os casais mandam às urtigas todas as directrizes morais que a Igreja lhes reclama, a sociedade em geral emancipou-se faz tudo sem a referência ao religioso, a cultura actual funciona muito bem sem a Igreja, a vida é possível sem a doutrina da Igreja (...)" E mais adiante: "ninguém deseja uma Igreja apenas zeladora do património, que se preocupa apenas com os bens deste mundo, qual senhor rico que se gasta com as transações do mercado e com as papeladas burocráticas que ditam a posse e o domínio da propriedade (...) Precisamos de encontrar uma Igreja aberta ao mundo, a este mundo concreto da nossa vida, onde o normal já não é o unanimismo da nossa fé (...)".

Perante tão experiente, sábio e acutilante pensamento discursivo (são tantos os divulgados no seu blogue, O Banquete da Palavra, as reflexões na sua página de facebook, no DN e em vários outros blogues de informação), pergunto, se será necessário um Bispo Nuno Brás, nascido no Vimeiro, Lourinhã, para liderar esta Diocese? Confesso que fiquei feliz pela ordenação e posterior nomeação do Arcebispo madeirense Tolentino Mendonça para altas funções no Vaticano. Pela qualidade da sua Obra e pelo Homem de convicções que sempre foi. Por isso, também, é-me difícil entender, enquanto leigo, claro, que, por exemplo, o Padre José Luís Rodrigues, o Homem culto que é, pelas posições que assume, pelos textos que deixa para memória futura, pela sua capacidade de transmissão da Palavra, repito, contextualizada com a VIDA, pela sua humildade e solidariedade, não seja um dos eleitos da Igreja! Poderia não desejar, presumo, poderia, julgo eu, prescindir, mas ele é a prova que existem sacerdotes, aqui nascidos, conhecedores da idiossincrasia deste povo e da Igreja que servem. O Padre José Luís bem poderia ser chamado a ir muito mais longe do que os rituais domingueiros e/ou festivos, repetitivos e enfadonhos. São suas estas palavras: "Sou sacerdote. Gosto muito do que faço. Ora bem, e o que se há-de esperar de quem é feliz! Assim, o que mais desejo neste mundo é que os outros também sejam muito felizes (...)". Não ouvi de nenhum anterior Bispo palavras no sentido mais profundo da felicidade de um povo. E a felicidade não se conquista, apenas, com "fé e caridade". Certo?
Ah, pois, existe, aqui, estou convencido, um mas... A hierarquia não deseja a felicidade. Uma coisa é a pregação, outra a práxis. A hierarquia prefere a doçura e ama quem não agite as águas. A hierarquia prefere quem compareça às inaugurações, faça da sacristia ou do Paço residência permanente, que faça o Te Deum de qualquer coisa, que diga generalidades e banalidades, que não apoquente instalados, que, vendo, assobie para o lado e que se entretenha a pregar a tal fé e a caridade! Pois é, enquanto o rabinho estiver preso, parece-me óbvio que, dificilmente, se cumprirá a Palavra de Cristo. 
Repito, finalmente, que me perdoe o Padre José Luís, de quem sou leitor assíduo, admirador e Amigo, mas não poderia, por falta de coerência para comigo próprio, não deixar aqui o meu pensamento. Que vale o que vale!
Que o Bispo Nuno Brás venha e contrarie as minhas palavras. Aí, curvar-me-ei! Como disse em tempos o director do DIÁRIO, com refinado humor, que esta não seja uma "Diocese à Brás".
Ilustração: Google Imagens.

1 comentário:

Anónimo disse...

Concordo em absoluto.