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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

O exercício da política não é um emprego


Participar politicamente constitui um serviço público, voluntário, à comunidade. Não é um emprego, mas há quem não o considere por vários outros motivos. Entre outros, os de natureza salarial, obviamente, em conjugação com um pressuposto estatuto social que advém do facto de ser qualquer coisa: governante, deputado, presidente câmara, de junta ou director disto ou daquilo! Mesmo sem nada se conhecer de algumas personalidades, em abstracto, apresentam-se, aceitam, sentam-se e mostram uma desmedida ambição que, hoje, de olhos mais abertos, nem notam que a maioria da população os vê com distanciamento.


A petição pública solicitando a demissão do secretário regional da Saúde, na sequência de uma reportagem da TVI, do meu ponto de vista, nem necessária seria se, perante factos, o titular colocasse o seu lugar à disposição do presidente do governo ou, pura e simplesmente, se demitisse. Ser secretário não é um emprego. Mesmo admitindo que, em consciência, o responsável pela pasta tenha presente que tudo, mas mesmo tudo tem feito, um facto, grave, com dimensão nacional, que tem natureza política, não pode ser escamoteado. A assumpção de responsabilidades POLÍTICAS parece-me óbvia. Seria o terceiro secretário da saúde a ser substituído neste mandato, paciência, é a vida! Essa é uma outra história.
Ademais, o caso da medicina nuclear do hospital Dr. Nélio Mendonça é, apenas, mais um da longa lista de fragilidades que o sistema de saúde apresenta. Quando falta dinheiro para o seu funcionamento, quando existem tantas prioridades, aliás, enunciadas com muita regularidade pelo DN-Madeira, o governo decide apostar, este é um mero exemplo, em um complexo sistema de videovigilância através da instalação de 60 câmaras digitais. Parece-me que fica quase tudo dito! Mais, ainda, quando 99 médicos de Medicina Geral e Familiar, afectos ao Serviço Regional de Saúde, mostram descontentamento, será necessária, pergunto, uma petição pública? 


Mas, atenção, embora seja inegável que o sistema evidencia sinais preocupantes, não é justo que se ignore tudo o que de bom acontece nos vários serviços hospitalares e nos centros de saúde. Há muita dedicação de médicos, enfermeiros e restante pessoal técnico que, apesar dos constrangimentos, salvam vidas que, permitam-me a expressão, ali se apresentam "pelas pontas", em situação extremamente debilitada e complexa. Pessoal que aufere muito menos do que seria justo ganhar. Enquanto cidadão aplaudo a dedicação e o rigor científico. Se há culpados não são eles, mas todo o quadro POLÍTICO que resvalou ao longo de anos. 

E sendo assim, é evidente que o culpado da situação a que se chegou não se chama Dr. Pedro Ramos. Existem lá para trás, 40 anos de erros acumulados que agora estão a rebentar nas suas mãos. Nas mãos dos últimos secretários. Mas a verdade é que ele é, para todos os efeitos, o responsável político "de turno". Desta feita, deveria considerar que o seu ciclo terminou, porque o exercício da política é, repito, um serviço público à comunidade. Sem dramas, porque é médico, porque lhe é reconhecida competência entre pares, porque tem uma carreira e não precisa da política para nada. É assim que deveria ser, mas, infelizmente, na política são raros os casos que colocam um ponto final nos compromissos. Em abstracto, genericamente, porque há uma imagem político-partidária a defender, os pedidos são tantos que as pessoas perdem a sua independência e ficam. Aliás, em tudo na vida, é tão bom sair pelos próprios pés. Talvez a política, um dia, corresponda às minhas preocupações. Por enquanto é o que se vê!
Ilustração: Google Imagens.  

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