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sábado, 23 de março de 2019

REGISTO INTEMPORAL!


Nota prévia
Quis escrever, mas não sabia como! No dia que foi conhecida a notícia do falecimento do Arcebispo D. Maurílio Quintal de Gouveia, comecei por digitar umas palavras. Desisti. Queria que não fossem de circunstância, em função de um Homem Bom, uma figura que tanto admirava e por quem nutria uma enorme consideração, respeito e estima. Desde o tempo que dirigiu o Jornal da Madeira onde, eu ainda muito jovem, trabalhei na redação e nos serviços administrativos, depois de uma passagem como revisor no antigo edifício da Fernão Ornelas. Um dia, no seu gabinete, no Largo do Colégio, mesmo ao lado do Museu de Arte Sacra, transmiti-lhe que tinha decidido continuar os estudos em Lisboa. Estávamos no final dos anos 60. Abraçou-me e disse: "não percas a oportunidade, é o melhor que fazes". A sua cordialidade, proximidade e amizade perdurou ao ponto de ter celebrado o meu casamento. Daí para cá cruzámo-nos poucas vezes, mas nunca uma distância foi tão próxima, face a tal admiração. Só hoje li um texto do Padre Martins Júnior. Deixo-o aqui. Obrigado Arcebispo Maurílio.

"Eremitérios há onde a Morte torna a Vida maior que ela. E é quando do silêncio da tumba emergem cânticos inauditos, à mistura com os crepes da saudade Outros dedicar-lhe-ão místicos salmos, elogios fúnebres, inspiradas loas de merecida apoteose na hora da largada para o Grande Oceano.


Da minha parte, anónimo entre as gentes, vou levar-lhe o ramalhete rubro-lilás que trago atado ao peito desde aquela manhã de 8 de Fevereiro de 2006, em terras eborenses.
Ao colega de Seminário, ao Coadjutor da minha freguesia, Machico, depois meu Professor de Teologia Dogmática, ao eminente Arcebispo, dedico e entrego o mesmo feixe de gratidão que nessa mesma data deixei sobre o féretro do seu - tão humano e generoso - predecessor, D. David de Sousa..
Jamais esquecerei o gesto nobre e corajoso quando me admitiu a concelebrar nas Exéquias Solenes de D. David de Sousa, o então centenário Bispo franciscano que na Sé do Funchal me ordenara Sacerdote em 16 de Agosto de 1962. Para quem se achava proscrito na própria ilha, o gesto de D. Maurílio, selado com um abraço amigo, teve todo o sabor de quem vê abrir-se a porta de uma prisão ingrata. Por isso, a mancheia de flores que lhe trago tem o vermelho dos cravos e o humilde, oloroso perfume das violetas.
Travessa da Saudade, nº 6, foi o seu berço, em Santa Luzia do Funchal, desde há 86 anos. E sereno ficará connosco para sempre no horto de uma Saudade, precursora do Reino da Felicidade."
19.Mar.19
Martins Júnior

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