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segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

O balão vai rebentar!


Preocupante. Ou talvez mais do que isso, porque tem traços de escândalo, a sequência de "acontecimentos" que a praça política vai brindando o povo. Parece que andam todos aos papéis, a governar a vidinha ou a "varrer os armários". Chegou a um ponto que nada parece causar incómodo, porque se perdeu a vergonha, a dignidade, o bom senso e diria mais, o sentido de responsabilidade do acto de governar ou de ser verdadeira oposição. É evidente uma transversal falência da qualidade política, uma inversão de prioridades e uma subversão de princípios e de valores. Há um registo de normal anormalidade, feito de palavras ocas e vergonhas sem fim, como se a comunidade fosse toda ela acéfala, incapaz cruzar os dados entre o que é dito e o que se passa nos corredores do poder e no daqueles que o desejam. Enfim, há um vazio de consequências bem previsíveis. Vai dar "erro"!


Quem governa denuncia que tem os olhos no imediatismo e na salvaguarda de interesses pessoais e de grupo. É esse o sentimento que prolifera junto dos cidadãos. Entre assuntos maiores e outros de menor destaque, basta interpretar os sinais produzidos pela comunicação social e toda a esfera informal. Ao correr do pensamento e sem qualquer sequência temporal, neste mês de Janeiro soube-se que: o governo "quer a totalidade do capital social da SDM para, depois, concessionar a privados a respectiva gestão" (?). Que embrulhada! Entre a montra e o que vai no armazém há uma substancial diferença a explicar; a saga do ferry continua a esconder a verdadeira história guardada nos bastidores; a ininteligível prescrição de 52 milhões de euros de contribuições para a Segurança Social. Como foi possível?; que 450 idosos fazem dos hospitais a sua residência, facto constrangedor por terem deixado resvalar os direitos e a solidariedade até este ponto; a "placa central" que ora é domínio público da autarquia do Funchal, ora do governo. Tem dias o assalto às competências; o Jornal Oficial que dá conta de uma "multidão" de nomeações políticas (250 até agora) para lugares rigorosamente desnecessários; as lutas no interior do sistema de Saúde que não param, com posições divergentes na coligação, demissões e reuniões de tonalidade maquiavélica, textos públicos de intriga palaciana, escritos a duas, quatro ou mais mãos, enquanto centenas aguardam por uma cirurgia ou por uma consulta; registei, também, a cobrança de 22 milhões à Câmara do Funchal, esquecendo-se os mesmos que hoje pressionam, sem dó nem piedade, que deixaram mais de cem milhões de dívidas por pagar e que se negam a assumir contratos-programa para obras necessárias; ontem foi tornado público, a criação de um "Conselho de Economia" que conduz à pergunta: para quê, quando existem várias instituições parceiras e de debate, entre outras, a Associação de Comércio e Indústria e o Conselho Económico e Social da Região. Não chega? Mais. A crítica aos dois novos secretários tem vindo a subir de tom, simplesmente porque, após cem dias de governo, denunciam não ter linhas programáticas orientadoras, ficando a ideia que apenas ali se abrigam por conveniência no equilíbrio político. Perderam o sentido crítico de outros tempos. Ah, o turismo, indústria determinante, apresenta uma queda preocupante com 214.000 dormidas perdidas em onze meses... e tão grave quanto tudo isto é ver gente de peito cheio, atirar-se para fora da Região com aquela peregrina ideia do "inimigo externo", não dando conta que a Região tem órgãos de governo próprio e que já poucos ligam àquela treta. Dei conta, ainda, da continuada e irracional história dos Açores receberem da República um pouco mais que a Madeira, paleio que, intencionalmente, esquece, por um lado, que a transferência de verbas está escudada na Lei das Finanças das Regiões Autónomas, válida para qualquer governo na República, por outro, como se fosse exactamente igual governar duas ilhas relativamente às nove do outro arquipélago. Li, finalmente, sobre o orçamento para 2020, que ele é um "orçamento social", porém, face a tanta pobreza ou risco (cerca de 80.000 madeirenses) os mesmos que defendem esse tal "orçamento social", mostram-se insensíveis para proporcionarem aos mais vulneráveis, a velhíssima reivindicação de um apoio suplementar regional de € 50,00 nas pensões mais baixas. Já agora, como acontece nos Açores. Só mais esta, que tem chancela de milagre, o Marítimo apresentou dois milhões de lucro, mas continua à mesa do orçamento. 
E a vida continua, a novela promete ser interminável e há que alimentá-la, até porque, amanhã, já ninguém se lembra do disparate feito ou dito hoje.
Ilustração: Google Imagens.

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