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segunda-feira, 20 de abril de 2020

Os jornalistas têm razão... eles não são o vírus!


Não costumo acompanhar as conferências de imprensa sobre o Covid-19, realizadas pelo governo da Madeira. Já tem umas semanas segui uma e considerei-a enfadonha. Prefiro as sínteses que os jornalistas preparam e divulgam. Porém, neste último fim-de-semana, na sequência do caso de Câmara de Lobos, pacientemente, fiquei a olhar para o televisor, pese embora a qualidade da imagem e sobretudo do som. Dei isso de barato, pois interessava-me o conteúdo. E em síntese, dois aspectos tornaram-se-me evidentes: primeiro, que os promotores da conferência de imprensa não gostam de eventuais "verdades inconvenientes"; segundo, não têm noção que uma conferência de imprensa deve ter um tempo próprio e cingir-se ao essencial do dia. Aquela lengalenga sobre o trabalho realizado, acompanhada da leitura de exaustivos números e de acumulados, ao ponto de os dividir em grupos de idade, evidentemente que, em texto, podem servir de apoio através de documento expedido às redacções, nunca para serem lidos da forma como é feito, simplesmente porque, isto é básico, quem escuta, no final, não tem capacidade para cruzar de forma sumária o transmitido. 


Ontem, no final daquela extensa lengalenga de quase uma hora, fui ao computador para ler outras notícias e dei com o texto de um comunicado do Sindicato dos Jornalistas, publicado pelo Dnotícias, cujo conteúdo já tinha sido objecto de um meu comentário. Repudiava o sindicato "qualquer falta de respeito para com os jornalistas em exercício das suas funções" no actual momento de crise pandémica. Mais adiante salientava o texto que "o jornalismo é feito por jornalistas, que respeitam uma carteira profissional e um código deontológico, desconhecidos por muitos dos que de diversas formas põem em causa o trabalho da Comunicação Social regional". Um tiro no centro do alvo, assumo, porque absolutamente concordante com a leitura que nestes dois dias tinha concluído. Há, claramente, uma atitude de falta de respeito, demonstrada no tom de algumas resposta, na subtileza do sorriso de escárnio e até na fisionomia de poucos amigos. 

Quem ali se senta, pela responsabilidade que tem de informar, não pode ignorar, desde logo, que todas as perguntas são legítimas. E que apenas lhe compete responder, de forma sucinta, clara e objectiva. Não pode haver lugar a perguntas "convenientes" nem a respostas que coloquem em causa o respeito e a idoneidade de quem as faz. O jornalista, por norma, deveriam saber, toca onde sangra, porque reúne dados junto de imensas fontes, portanto, ninguém deve sentir-se incomodado com isso. 

Neste pressuposto, das duas, uma: ou está preparado para uma resposta, ou assume, frontalmente, que não sabe e que logo informará. É mais sensato, humilde e gerador de confiança. É mau, perante as evidências e com formatos de alguma arrogância, dizer não dizendo, que o interlocutor é burro, não sabe do que fala e que a verdade é apenas aquela que interessa ao promotor da reunião. A verdade, excelentíssimos, é múltipla e assim sendo, o que se pede é que, serenamente, quem responde, seja honesto com a sua verdade.
Nas conferências de imprensa que assisti não vi jornalistas à procura do anormal. Vi-os empenhados e a colocar, respeitosamente, as questões. Aquelas que, inclusive, o povo gostaria de ver respondidas, as tais que parecem transportar a ideia que existe muito mais para além do conhecido. Vi jornalistas bem preparados, fazendo o enquadramento dos dados que exigem respostas. Habituem-se! 
Sei que o momento que todos estamos a viver é muito duro e problemático, que estamos a passar um tempo preocupante, que apavora, na saúde e na economia, portanto pede-se sensatez, verdade e serenidade, elementos estes susceptíveis de garantirem a confiança. O dramatismo do momento dispensa caras enjoadas e testas franzidas, porque são eles, os jornalistas e as empresas para quem trabalham, os responsáveis pela transmissão da verdade e da serenidade que todos precisamos.
Ilustração: Google imagens.

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