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terça-feira, 18 de agosto de 2020

Mãos limpas ou mãos sujas, vai dar ao mesmo!


Não sei se se poderá designar por "operação mãos limpas", aproveitando a expressão que teve origem em Itália, nos anos 90, e que visou o esclarecimento dos casos de corrupção. "Mãos limpas" ou "Mãos sujas" vai dar ao mesmo, porque a questão essencial assenta no princípio da transparência e da licitude dos actos. Começa a ser enervante e até muito preocupante constatar sinais de comportamentos duvidosos sem que nada aconteça ou seja esclarecido. Não se trata de conversas de café, de historietas contadas na esteira de um eterno maldizer, mas da conjugação de inúmeras situações geradoras de dúvida que, por diversos canais, vão transpirando e criando duas sensações: a primeira, que há madeirenses abençoados e afortunados; a segunda, que a impunidade existe e floresce.



A construção de uma sociedade decente exige clareza, lisura e total distanciamento de todo o tipo de comportamentos, descarados ou tímidos, por parte dos cidadãos, tenham eles as funções que tiverem no corpo social. Esse entendimento está longe de constituir uma leitura global de boa aceitação do estado de funcionamento da democracia. Aliás, é muito mau, pois evidencia a existência de uma sociedade aprisionada pelos esquemas subterrâneos e capturada por poderes múltiplos, quando os cidadãos necessitam de vasculhar sítios da internet de "denúncias anónimas" para, peneirando os textos, tentar perceber o que se passa e que aos olhos escapa. É um mau sinal, pois parece provar que a sociedade não é devidamente escrutinada e a investigação falha. Ora, quando se assiste na comunicação social à concentração do poder financeiro, obviamente que esse é um outro sinal preocupante.

E assim se constrói uma sociedade desigual, de doce exploração, de perda de rendimento, de paz podre, de muitas particularidades, de senhores e de servos, de acumulação de riquezas e concentração do capital, algumas, muito mal explicadas, simultaneamente, de medos e de subtis perseguições aos que tentam levantar a ponta do véu. Portanto, não é estranho que sejam os pobres que fiquem mais pobres e dependentes, os que acabam por pagar os devaneios de um capitalismo selvagem. E assim sendo, sair do estado de pobreza acaba por ser uma miragem!

"Mãos limpas" ou "mãos sujas" pouco importa, repito. Importante, sem qualquer atitude persecutória, seria investigar para separar os honestos dos geradores de desonra. Para enaltecer uns e condenar os outros. Inclusive, os que permitem a agudização deste estado de crescente desconfiança e de miséria que a muitos conduz a estender a mão às migalhas da solidariedade. 

O problema está mais dentro da Região do que fora dela. Vociferar para longe é fumo! O julgamento dos comportamentos inadequados, de um tenebroso regime de teias e de deixa andar, não pode ser remetida, apenas, para os actos eleitorais. É no decorrer dos processos que faz sentido questionar as situações. O que me leva a deixar aos senhores, não sei se os deveria designar por novos colonos, a pergunta formulada por Almeida Garrett, em 1846, nas Viagens na Minha Terra: "E eu pergunto aos economistas, políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?" Respondam, analisando. Eu que nada tenho contra quem é rico. Enquanto cidadão apenas interessa-me perceber o percurso: se foi limpinho ou através de condenáveis processos. Tudo isto, por uma sociedade onde seja banida "a desgraça invencível" e mal vistos todos quantos norteiam de forma corrupta a condução na vida.

Ilustração: Google Imagens.

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