tag:blogger.com,1999:blog-28832207404597027662024-03-18T02:59:40.840+00:00COM QUE ENTÃO...!REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA
- UM LONGO CAMINHO PARA A DEMOCRACIA
André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.comBlogger6305125tag:blogger.com,1999:blog-2883220740459702766.post-43225401290827342102024-03-16T11:50:00.002+00:002024-03-16T11:50:50.095+00:00E agora, Sr. Presidente?<div class="separator"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por</div> <div style="text-align: justify;">Miguel Sousa Tavares, </div><div style="text-align: justify;">in Expresso, </div><div style="text-align: justify;">15/03/2024</div><div style="text-align: justify;"> <a href="https://estatuadesal.com/">A Estátua de Sal</a> </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><img src="https://ci3.googleusercontent.com/meips/ADKq_Namyq38v9fbt-kjG2B1JKh7TUBjzoysRsf2opqjPz4z9VhwdeCzJuDoljIIPlhPiFWCcam0Yvc7yVE6Ap-ZGeL-MjGezYByjn9LIi0euLXP3HqMDPNG=s0-d-e1-ft#https://estatuadesal.com/wp-content/uploads/2024/03/MARCELUS.jpg" /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i><b>(É por estas e por outras que tenho que trazer à ribalta muitos dos textos do Miguel Sousa Tavares. É dos poucos, com acesso à comunicação social de larga difusão, que tem a coragem de "chamar os bois pelos nomes", como neste texto em que escalpeliza brilhantemente o papel de Marcelo Rebelo de Sousa, no derrube do Governo de António Costa e na consequente ascensão meteórica da extrema-direita. Por isso mesmo, a ilustração acima - da nossa escolha, e não constante na publicação original -, é uma alegoria à sua junção às vazias acusações do MP contra o Primeiro-ministro cessante.</b></i></div><div style="text-align: justify;"><i><b>Estátua de Sal, 15/03/2024)</b></i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><h2 style="text-align: justify;"><b>E agora, Sr. Presidente, como é que nos tira desta embrulhada onde nos meteu? Como aqui escrevi há duas semanas, o rol de promessas eleitorais, associado à conjuntura internacional, torna Portugal ingovernável: ou porque não serão cumpridas e serão então cobradas nas ruas e nos serviços públicos, ou porque serão cumpridas e nos levarão à falência.</b></h2><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Como era mais do que previsível, acordámos segunda-feira com um país ingovernável. Era previsível para qualquer um, mas especialmente para alguém como Marcelo Rebelo de Sousa, que passou uma vida inteira a acumular fama e proveito como imbatível leitor e construtor de cenários políticos, capaz de ler nos astros o que o comum dos mortais ainda não tinha descortinado na parede em frente. Deixemo-nos, pois, de meias-palavras: Marcelo não tem desculpa. Estamos como estamos porque ele assim o quis.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No “Público”, e na esteira de vários outros, Manuel Carvalho escreveu que “o prenúncio desta degradante democracia liberal estava à vista quando uma maioria se extinguiu à luz dos indícios de corrupção”, pelo que “Marcelo fez o que a sua consciência lhe ditava e que o grosso da opinião publicada lhe exigia”. Pois, o problema é que o grosso da opinião publicada tomou por indícios de corrupção o que não leu com atenção ou não percebeu, e, no mais, um Presidente deve guiar-se por aquilo que, em cada momento, quer a opinião pública, e não a opinião publicada. Até porque, em contrário, há quem diga mesmo que foi Marcelo quem sugeriu a Lucília Gago que introduzisse no comunicado da Procuradoria-Geral da República o tal parágrafo que ambos sabiam que levaria à imediata demissão de António Costa. Eu não acompanho essa teoria da conspiração ou do maquiavelismo, mas continuo a perguntar-me o que se terá passado na conversa entre o Presidente e a procuradora-geral que antecedeu a demissão do primeiro-ministro: terá Marcelo exigido saber, como lhe competia, o que havia de sólido nas suspeitas em relação a António Costa? E, em face disso — que era nada, como concluiu o juiz de instrução —, conformou-se com a execução pública do PM às mãos da PGR e com a sua demissão? Isto feito, e mal feito, com que legitimidade constitucional optou por recusar o nome indicado por António Costa para lhe suceder na chefia do Governo ou, em alternativa, pedir ao PS que indicasse um nome, como se faz em todas as democracias normais? Quem disse a Marcelo que em 2022 os portugueses tinham votado apenas em António Costa, e não também no PS, e que, se por qualquer razão ele não terminasse o seu mandato, preferiam eleições antecipadas e desembocar na situação que temos agora? A que deve ele obediência: às suas inclinações partidárias, às suas interpretações políticas ou às regras da Constituição da República? E, já agora, para que lhe serviu a opinião de um Conselho de Estado rigorosamente dividido a meio sobre o caminho a seguir? Apenas para o desprestígio acrescido de ver dois dos conselheiros, por si nomeados e ligados à AD, votarem pela convocação de eleições e depois aparecerem a fazer campanha eleitoral pela mesma AD...</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><h3 style="text-align: center;">Não, Marcelo não tem desculpa. Trata-se de alguém que passou anos a defender o valor da estabilidade e da previsibilidade dos mandatos levados até ao fim. Que, nos últimos dois anos, disse e repetiu que nada poderia pôr em causa o ritmo de execução do PRR — a última grande oportunidade de financiar o desenvolvimento do país com dinheiros europeus —, chegando a dizer a uma ministra que não lhe perdoaria um só dia de atraso. E, afinal, manda tudo ao charco em duas penadas e cavalgando uma insustentável ficção processual do Ministério Público relativamente ao PM — que, isso sim, devia preocupá-lo, e muito. Interrompe uma governação antes ainda do meio do seu termo, paralisa o país durante meses, lançando o alerta em Bruxelas, e dá-se ao luxo de deitar borda fora aquilo que qualquer país europeu hoje mais preza: uma maioria absoluta de um partido dentro do sistema democrático. Hoje podíamos ter à frente do Governo alguém como Mário Centeno, o nome que António Costa levou a Marcelo e que este recusou: alguém que nem sequer era filiado no PS, que conhecia o Governo e as finanças, que tinha provas dadas aqui, conhecimento e prestígio lá fora. O país não teria parado, o PRR e os principais dossiês não estariam paralisados e, sobretudo, aqueles que ainda se esforçam por acreditar num futuro para Portugal não experimentariam mais uma vez a decepção de ver a vida a andar para trás, a sua e a de Portugal, porque lá em cima se anda a brincar com coisas sérias para satisfação de protagonismos ou de impulsos infantis.</h3><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mas não é apenas a instabilidade governativa que eu não perdoo a Marcelo. Mais ainda do que isso, o que não lhe perdoo é ter soltado a besta presa na cave, a besta da demagogia: o Chega. Por mais análises que me forneçam sobre as razões sociológicas e políticas do milhão e cem mil votos do Chega, algumas certamente pertinentes, há uma que desde logo o justifica: a compra de votos. O Chega comprou votos, comprou muitos votos, e comprou-os com uma campanha de demagogia despudorada e irresponsável. Contem-nos: nas forças policiais e respectivas famílias são 100 mil; nos reformados, a quem prometeu, pelo menos, uma pensão equivalente ao salário mínimo, mesmo para quem não contribuiu, serão uns 300 mil; nos professores, a quem prometeu tudo o que reclamam, dos 120 mil terão cativado uns 30 mil; nos agricultores outro tanto, e por aí fora, tudo junto somando metade do milhão e cem mil votos de André Ventura. Num país onde tantos se habituaram a exigir tudo do Estado e tão poucos se perguntam quem e como pagará, o discurso de Ventura está condenado ao sucesso, muito mais do que o racismo, a xenofobia, o autoritarismo e tudo o resto a que, por preguiça, gostam de o reduzir. O sucesso eleitoral de André Ventura chama-se demagogia à solta, e o pior de tudo é que, por competição e por sobrevivência, ele contagiou em larga medida todos os outros. Como aqui escrevi há duas semanas, o rol de promessas eleitorais, associado à conjuntura internacional, torna Portugal ingovernável: ou porque não serão cumpridas e serão então cobradas nas ruas e nos serviços públicos, ou porque serão cumpridas e nos levarão à falência.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Quando recusou a solução de estabilidade governativa que o país esperava e que ele próprio tinha apregoado durante tanto tempo, preferindo antes lançar o país numa aventura eleitoral desnecessária e de efeito previsível, Marcelo sabia ao que ia. Mas não se conteve, porque há muito que ele ia dando sinais de incontinência, aliás com ameaças explícitas. E não venham cá com o desgaste dos “casos e casinhos”, porque no mais grave deles — o caso Galamba, onde Marcelo entrou em choque frontal com o PM, exigindo publicamente a demissão do ministro — ainda estou para perceber qual é a responsabilidade de um ministro que demite um assessor que se recusou a entregar uns documentos exigidos por uma Comissão Parlamentar de Inquérito e depois, sem mais qualquer intervenção da sua parte, vê o assessor invadir à força o gabinete, roubar o computador de serviço e levá-lo para casa, só o devolvendo a um agente do SIS e por intervenção de outro membro do Governo. Mas, ainda que a razão fosse os “casos e casinhos”, a renovação do Governo com a indigitação de outro PM, e exterior ao PS, esvaziava o argumento.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não, a verdade é outra: o cargo deve ser profundamente aborrecido para quem gosta de viver a vida. O primeiro mandato presidencial acredito até que possa ser estimulante e apelativo: andar por aí a conhecer o país e as pessoas, dar beijos e abraços, ser recebido com a despreocupação de quem só pode prometer o bem e não fazer o mal, viajar lá fora e conhecer os grandes do mundo, escutar o hino com a herança de quase nove séculos às costas. Mas, isto passado, o segundo mandato é mais do mesmo e, sendo o tédio mau conselheiro, a tendência para a asneira torna-se inevitável. Mas nenhum resiste à tentação do segundo mandato, nem mesmo alguém como Mário Soares, que tinha tão mais vida do que aquela que cabia nas paredes de Belém. No primeiro mandato vimos o melhor de Marcelo, um contagiante suspiro de alívio depois dos anos de chumbo da majestade cavaquista; no segundo, estamos a assistir ao seu pior, à facilidade com que os grandes princípios degeneram numa absoluta vacuidade. Prejudicial ao país. Mas, enquanto o tempo não passa e isto não tem fim, fica a pergunta a que só ele tem obrigação de responder: e agora, Sr. Presidente, como é que nos tira desta embrulhada onde nos meteu? Dia 15 de Março, sexta-feira, cinco dias depois do acto eleitoral, ainda nem sequer sabemos quem ganhou as eleições e se quem ganhou quer mesmo governar.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i><b>Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia</b></i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2883220740459702766.post-81927080248953316922024-03-15T13:46:00.002+00:002024-03-15T13:46:59.904+00:00As eleições europeias 2024 estão aí<div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b><i>Por</i></b></div><div style="text-align: justify;"><b><i>João Abel de Freitas, </i></b></div><div style="text-align: justify;"><b><i>Economista</i></b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><h2 style="text-align: justify;"><b>Tememos, face ao que se passou nas recentes eleições nacionais, em que se falou de tudo menos dos problemas reais do País, que o mesmo venha a acontecer nas eleições para a UE.</b></h2><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-ohAbNJg14VCbkbe_yZdKrAZ5KWWfXAc19ZH77hFnIaFsSyncqSi2tR_04KmAAnED003AmfCtKDiQ5BpXDvrOWmLyGy1Rj7y41Tt_lps5zkN-Ua8b-MZ1lGr_iXnTbOdc9dEHpGex0mBADG5ARt_flqW7NLi9-1jkAvp6ehPGQ0VMUXTbUBWuYoX3jObd/s971/joao%20abel%20freitas.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="497" data-original-width="971" height="205" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-ohAbNJg14VCbkbe_yZdKrAZ5KWWfXAc19ZH77hFnIaFsSyncqSi2tR_04KmAAnED003AmfCtKDiQ5BpXDvrOWmLyGy1Rj7y41Tt_lps5zkN-Ua8b-MZ1lGr_iXnTbOdc9dEHpGex0mBADG5ARt_flqW7NLi9-1jkAvp6ehPGQ0VMUXTbUBWuYoX3jObd/w400-h205/joao%20abel%20freitas.png" width="400" /></a></div><br />A Europa em ciclo de empobrecimento</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em eleições passadas, os partidos portugueses, candidatos ao Parlamento Europeu, pouco de concreto nos informaram do seu pensamento sobre o que a União Europeia (UE) deve fazer como Instituição, no plano mundial e na relação com cada Estado-membro e, sobre o trabalho a desenvolver por cada partido no sentido de pressionar a UE a avançar no caminho que defende.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não foram capazes de ultrapassar as meras tricas internas e nada nos elucidaram sobre os múltiplos problemas que a UE atravessava e menos ainda se iriam com a nova representação ir além de uma mera presença no Parlamento.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Tememos, face ao que se passou nas recentes eleições nacionais, em que se falou de tudo menos dos problemas reais do País, que o mesmo venha a acontecer nas eleições de Junho próximo para a União Europeia.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Centrar as discussões no cerne dos problemas da Europa é determinante para Portugal e restantes Estados-membros, pois a Europa está numa encruzilhada muito perigosa, uma das mais complexas porque tem passado, um início de ciclo de empobrecimento e de potencial desaparecimento de empresas e indústrias estruturantes da sua economia, como o automóvel.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A União Europeia atravessa uma crise de desespero profunda, em vários domínios e vários países, graças a decisões e políticas profundamente desajustadas ao longo dos tempos ou por ausência de políticas e medidas nos devidos momentos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>A União Europeia a perder o pé</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">1. O mundo agrícola</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No mundo agrícola, a contestação é enorme. Os tractores nas ruas são a imagem perfeita, assistindo aos agricultores europeus múltiplas razões de raiva e protesto. A cedência que alguns governos têm feito vão no sentido de tentar baixar a chama e não de a apagar com a solução dos problemas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O presidente Macron, ainda recentemente, prometeu acabar com a suspensão dos direitos aduaneiros sobre o frango ucraniano que a UE decidiu, logo após a invasão da Rússia. Uma exigência do mundo agrícola francês, decisão essa que, aliás, só enche os bolsos do grande exportador de Kiev, Yuriy Kosink e dos grandes importadores franceses, prejudicando os médios e pequenos agricultores e o consumidor em geral, pelo aumento de preços.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Analistas referem que a principal razão desta tomada de posição é política, estancar a progressão de Marine Le Pen no “roubo” do voto do agricultor francês.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Já na Polónia o problema maior para os agricultores tem sido os cereais a preços muito inferiores, tanto assim que bloquearam na fronteira a entrada de mais de dois mil e quinhentos camiões.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E se saltarmos para outros países, estes e outros problemas estão na origem da contestação global dos agricultores europeus aos seus governos e à União Europeia. Para vários analistas, isto traduz um cansaço das pessoas face aos efeitos da guerra da Ucrânia e, pior, uma rejeição generalizada à sua entrada futura na UE, pelo temor da maior produtividade da agricultura de Kiev.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E o problema de fundo é esse mesmo. As sucessivas reformas da PAC poucas melhorias têm trazido a acréscimos de rendimento dos agricultores europeus. Daí que a PAC mereça uma profunda refundação.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>2. A desindustrialização</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Num outro domínio, o da industrialização, a Europa atravessa uma fase muito crítica, com vários setores em afundamento, já em curso ou a curto/médio prazo, como o automóvel.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O símbolo desse afundamento, como bem refere o jornal britânico, “The Times”, é o de um navio cargueiro a aportar em Vlissingen, na Holanda, em 21 de fevereiro de 2024: “A chegada de sua carga deve marcar a abertura de um novo capítulo na supremacia industrial da China ou o início de uma guerra comercial”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O cargueiro transportava “7.000 carros elétricos destinados aos mercados europeu e britânico”, diz o jornal. O navio pertence à BYD, a empresa chinesa que destronou a Tesla, ao se tornar o maior fabricante mundial de carros elétricos. A BYD ainda sofre de alguma falta de notoriedade na Europa, mas o grupo chinês tem vindo a trabalhar o mercado europeu, nos últimos meses, no sentido de o conquistar. E como está tecnologicamente à frente e o preço é imbatível, a remodelação da “paisagem europeia do automóvel” está à vista, reduzindo fortemente a sua produção.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">De novo com o “The Times”, como competir com os fabricantes chineses e, em particular a BYD, que “encontraram a receita para produzir mais e a um custo mais baixo do que todos os [seus] concorrentes?” (…) “Os modelos de entrada [da BYD] são vendidos na China por pouco mais de £ 8.000, enquanto os britânicos têm de pagar cerca de 40.000 libras pelo Tesla mais barato”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não vai ser fácil segurar uma indústria que representa na Europa cerca de 7% da economia e emprega 13 milhões de pessoas, quando a própria Europa decretou o fim das vendas dos veículos a combustão para 2035, sem antes ter colocado no terreno uma política sustentada de mudança.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não é com as denúncias de Bruxelas de subsídios ocultos pela China, em que tanto se empenhou a Comissão Europeia, em finais de 2023, que o automóvel europeu vai sair da crise em que está a mergulhar. Diferentes passos são necessários: acordos entre empresas europeias do automóvel e parcerias sólidas com países terceiros, sobretudo nos minerais críticos e baterias.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ouçamos o que nos disse Carlos Tavares, gestor português, CEO da Stellantis, grupo criado entre a italiana Fiat e a francesa PSA, à Bloomberg Television, em Fevereiro último: “Estou perfeitamente ciente de que, no futuro, as empresas que não forem capazes de resistir à concorrência chinesa se colocarão em dificuldade” e já antes avisara: a indústria automóvel europeia caminha para um “banho de sangue”, se não reagir a tempo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E aqui estamos de forma tardia e cada vez com menos meios para reagir, perante uma indústria essencial à Europa que, se falhar na sua reestruturação e entrar em recessão profunda, é um duro golpe na economia.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mas a desindustrialização não pára aqui. Temos a química em que sobretudo a Alemanha não está bem. Os seus grandes grupos estão em franca perda e a deslocalizar para fora da Europa. E aqui o grande problema é o custo da energia que subiu proveniente das sanções aplicadas à Rússia, tendo os empresários alertado os políticos para o embate de certas tomadas de decisão que estavam no horizonte próximo por pressão dos EUA. Como avançaram, sem alternativas, é o afundamento.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A Europa foi a mais atingida. O alvo, a Rússia, até melhorou, pois, diversificou os mercados de exportação e indiretamente continua a exportar para a Europa, agora em melhores condições de preços. A sua economia, segundo o FMI, até cresce no mundo, acima da europeia (3% em 2023, 2.6% em 2024 e 1.1% em 2025).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">São factos perturbadores a merecer um empenho de reflexão e o tempo até às eleições europeias de Junho parece-nos uma altura oportuna. A crise avança de forma lenta, mas persistente e precisa de ser estancada, sob pena de um afundamento a prazo da Europa.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i><b>P.S. 10 de Março. Com resultados parciais, a situação é bem complexa. AD ganha com margem estreita. Esquerda acusa uma profunda derrota, o que Marcelo sempre desejou, intervindo na campanha até ao fim nesse sentido. Finalmente, a extrema-direita instala-se no regime folgadamente. Instabilidade é o que nos espera.</b></i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b><i>O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.</i></b></div>André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2883220740459702766.post-86590437577246558172024-03-12T09:15:00.002+00:002024-03-12T09:15:09.267+00:00Quase 50 anos de 25 de abril versus quase 50 deputados do Chega!<div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i><b>Por </b></i></div><div style="text-align: justify;"><i><b>José Luis Santos, </b></i></div><div style="text-align: justify;"><i><b>in Facebook, </b></i></div><div style="text-align: justify;"><i><b>11/03/2024</b></i></div><div style="text-align: justify;"><i><b>estatuadesal</b></i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><h2 style="text-align: justify;"><b>Os partidos democráticos e fundadores da democracia só podem combater o populismo de André Ventura e reverter o crescimento exponencial do seu partido se fizerem uma introspeção e deixarem de apontar o dedo a André Ventura, ao Chega e aos seus eleitores.</b></h2><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><img height="266" src="https://ci3.googleusercontent.com/meips/ADKq_NYLFl9hXbNAGnGqf90f5AdU57S8XsUtz2aLGuD9oVTlY4vBIMPh2xPmtKFioe-0MIqZMHo40POzQhTPNvRgsWYIY_Iln-WTLrlQZYucXoj4Tps6zQ=w400-h266" width="400" /></div><br /></div><div style="text-align: justify;">Não foi o 25 de Abril que falhou, quem falhou foi uma série de políticos que sobrepuseram os seus interesses pessoais aos interesses do país e não olharam a meios para atingir os fins.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Desde logo, o 25 de Abril deu-nos a liberdade e não a libertinagem e a própria liberdade tem limites porque, como se costuma dizer, a nossa liberdade termina onde começa a dos outros. E uma das principais conquistas de Abril foi a liberdade de pensamento e de expressão.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Essa liberdade, que nos foi concedida pelo 25 de Abril e que demorou imenso a conquistar com o sacrifício de muitos, alguns dos quais pagaram com a própria vida a sua defesa, no que aos direitos políticos diz respeito, teve como objetivo principal permitir aos responsáveis políticos defenderem livremente as suas ideias e as suas propostas, sem qualquer censura e/ou perseguição.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Nos primeiros anos pós 25 de Abril, assim sucedeu e tivemos políticos, independentemente das suas convicções, que foram verdadeiros estadistas, tais como, Mário Soares, Álvaro Cunhal, Sá Carneiro e Freitas do Amaral, e a ordem é arbitrária.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Esses políticos sempre agiram, de acordo com as suas convicções, em prol do bem comum, ou seja, em prol do bem-estar e da qualidade de vida da população.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No entanto, a partir de determinada altura, a política passou a ser apelativa para muitos que viram nela uma forma fácil de ganhar dinheiro, sem grande esforço e trabalho.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Assim, a política deixou de ser a nobre arte de governar o país e as autarquias e passou a ser a nobre arte de alguns se governarem. Daí o crescimento da corrupção e do nepotismo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Na verdade, pessoas sem escrúpulos, sem vergonha, sem carácter, sem princípios e sem valores começaram a espalhar-se, qual gangrena, por vários órgãos do poder.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por isso, o descrédito na política e na generalidade dos políticos passou a ser uma realidade para grande parte da população, que se afastou, por completo, o que levou a grandes índices de abstenção nos diversos actos eleitorais.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Todos sabemos que o descontentamento crescente da população propicia o caldo fértil para alguns navegarem a onda do populismo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><h3 style="text-align: center;"><b>André Ventura, é um desses populistas, que fez parte do PSD por largos anos e que foi candidato desse partido em atos eleitorais, mas que fala como se nunca tivesse feito parte do sistema e diz aquilo que a generalidade da população quer ouvir. André Ventura promete tudo e mais alguma coisa, porque sabe que nunca será confrontado com a inexequibilidade das suas propostas. É possível prometer tudo a todos, mas não é possível cumprir essas promessas porque as receitas do Orçamento do Estado são limitadas.</b></h3><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">André Ventura tem consciência disso mesmo, mas como sabe que o seu eleitorado só se aperceberia da inexequibilidade das suas propostas se um dia o Chega fosse Governo e tivesse que passar das palavras à ação, vai prometendo tudo e mais alguma coisa a todos e vai prometendo aumentar a despesa pública e, simultaneamente, diminuir as receitas públicas, visto que promete descer os impostos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A generalidade do eleitorado do Chega não se apercebe da incongruência e da impossibilidade prática de aumentar substancialmente a despesa pública e, em simultâneo, descer significativamente os impostos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Seria o mesmo que achar possível uma família gastar muito mais, ou seja, fazer muito mais despesas, mas diminuindo consideravelmente o seu rendimento. Se isso sucedesse, essa família, gastando muito mais com um muito menor rendimento, ficaria, obviamente, endividada.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mas André Ventura, para além de prometer tudo a todos, também é aquele que defende uma coisa e o seu contrário. Por exemplo, numa primeira fase, defendeu o fim do SNS e da escola pública, mas, numa segunda fase, já se arvora no grande defensor do SNS e da escola pública.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Portanto, André Ventura tem um discurso que vai adaptando, sem qualquer pingo de vergonha, às circunstâncias e aos destinatários, em função do que estes querem ouvir, surfando a onda do descontentamento e do populismo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">É isto que tem de ser denunciado pelos partidos democráticos, nomeadamente, aqueles que estiveram na génese da democracia, e não o apontar o dedo ao eleitorado do Chega, porque, como afirmou, e muito bem, Pedro Nuno Santos, não há um milhão de portugueses xenófobos e racistas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Na minha opinião, a generalidade dos eleitores do Chega são pessoas descontentes com as práticas inaceitáveis acima enunciadas, que são transversais a todos os partidos. Daí a necessidade de esses partidos fazerem uma introspeção para analisar o que está errado e corrigirem-no, em vez de optarem por apontar o dedo ao eleitorado do Chega, acusando-o de tudo e mais alguma coisa.Na verdade, essa atuação só irá fazer crescer, ainda mais, o descontentamento e, consequentemente, a base eleitoral do Chega. Como diz o provérbio: "Apanham-se mais moscas com mel do que com fel".</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os partidos democráticos, nomeadamente, aqueles que estiveram na génese da democracia não podem ter assuntos tabus e não podem deixar de abordar certas temáticas, por mais inconvenientes que elas possam ser. Por exemplo: defender o controlo da imigração, não é ser xenófobo. Conceder mais direitos aos nacionais do que aos imigrantes não é ser xenófobo. Não pactuar com a ideologia de género, não é ser homofóbico. Defender os interesses nacionais e não ser totalmente subserviente a Bruxelas não é ser extremista e radical. Defender uma Europa forte e unida e não subserviente aos interesses políticos, económicos e militares dos EUA, não é ser pró-russo e antieuropeísta.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Há um longo trabalho que deve ser feito para reconquistar os insatisfeitos, os indignados e os revoltados, em defesa da democracia e do sistema democrático, e isso faz-se no plano das ideias e não no plano dos ataques pessoais. Faz-se demonstrando que, a nível das propostas e da sua exequibilidade, André Ventura tem uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma; não se faz apelidando-o de fascista, xenófobo e racista.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div>André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2883220740459702766.post-64935231999574394002024-03-11T19:33:00.001+00:002024-03-12T09:09:05.048+00:00Hoje, sim, devia ser "dia de reflexão" <p> </p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPtYLHilUgHCN-c0XYmpJAtgzpoJs6t8KqXofLv4Pkl81ZU7ZGGLp3CDMsSlbHW_sHPdNYTN8y7y_vrMQ2iYTB5N45StUzpa45htqwO3GtoHWETgQlKwqBu0RkiFLND_-D50w5Bgx4hKhyphenhyphenTrd2TR7TbIaiDEcR7mx16llMcdo9Qe-4GIMmJl3oI72D7m_Y/s840/VOTO.webp" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="560" data-original-width="840" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPtYLHilUgHCN-c0XYmpJAtgzpoJs6t8KqXofLv4Pkl81ZU7ZGGLp3CDMsSlbHW_sHPdNYTN8y7y_vrMQ2iYTB5N45StUzpa45htqwO3GtoHWETgQlKwqBu0RkiFLND_-D50w5Bgx4hKhyphenhyphenTrd2TR7TbIaiDEcR7mx16llMcdo9Qe-4GIMmJl3oI72D7m_Y/w400-h266/VOTO.webp" width="400" /></a></div><p style="text-align: justify;"><b><i>Nos 50 anos de Abril, o Povo soberano, disse SIM aos extremismos de direita e àqueles que, com pezinhos de lã, defendem valores contrários ao desenvolvimento e bem-estar do Povo. Disse SIM à Procuradora Geral da República e ao Presidente da República. Disse SIM, fora de tempo, à mudança e à instabilidade governativa, quando os principais indicadores do país são favoráveis. Por aqui, continuou a dizer SIM a um partido publicamente em frangalhos e envolto em processo judicial. Nem um sinal de desagrado </i></b><b><i>relativamente a muitos aspectos da governação</i></b><b><i>. E, finalmente, disse SIM a</i></b><b><i>os comentadores de serviço. Portanto, está na altura dos comentadores "darem as suas notas" a esse mesmo Povo e de pedirem ao Presidente da República que descalce a bota.</i></b></p><p style="text-align: justify;"><b><i>Não foi para isto que o 25 de Abril aconteceu.</i></b></p>André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2883220740459702766.post-63066651553484590922024-03-07T14:01:00.001+00:002024-03-07T14:01:17.317+00:00"Comentarão" - o novo depósito de resíduos!<p> </p><h2 style="text-align: justify;"><b>Todos reconhecemos a influência dos meios de comunicação social no comportamento das pessoas. Acrescentam-se as redes sociais onde são despejados centenas de textos, uma grande parte sem rigor e fundamento. Até proliferam os perfis falsos. Se não existir uma segura apreciação do mundo que nos rodeia, cruzando a informação com a qual somos bombardeados, facilmente um sujeito sucumbe às meias-verdades e aos interesses que se escondem por detrás das palavras. Tudo depende da formação global e de cidadania de cada um, que está muito para além da mera qualificação académica.</b></h2><div><b><br /></b></div><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYCVNzeIVQp3hnS-CVeJ52mWCTOzgM7jbW8t1nDWTxsoicCfdftx5XROVW5gf8ZF49rKmdzmAXWJnHUS2QxRwBd75yH8vO4J2REDJV8zzXN9B7Y5RQIv4PMXMozsgy0HMZ4cmyRjfJOVFKsiV3HCy36QFp5GdNsWSDe4-5axIm4ZhU0htG20p_mkJQLpm_/s1440/MESA%20ELEITORAL.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="1440" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYCVNzeIVQp3hnS-CVeJ52mWCTOzgM7jbW8t1nDWTxsoicCfdftx5XROVW5gf8ZF49rKmdzmAXWJnHUS2QxRwBd75yH8vO4J2REDJV8zzXN9B7Y5RQIv4PMXMozsgy0HMZ4cmyRjfJOVFKsiV3HCy36QFp5GdNsWSDe4-5axIm4ZhU0htG20p_mkJQLpm_/w400-h266/MESA%20ELEITORAL.jpeg" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">Em tempo de eleições legislativas nacionais, o panorama, do meu ponto de vista, tem sido pavoroso. Não me refiro aos debates e visitas de campanha, mas aos comentários posteriores que são feitos, ao posicionamento das figuras que comentam e às sondagens que raramente acertam. Aquela designada por "tracking poll" (sondagem de acompanhamento) da TVI torna evidente o sentido que desejam dar à coisa.</div><p style="text-align: justify;"> Fico com a ideia que, segundo as linhas de orientação das estações, há um manifesto desejo de levar este ou aquele candidato ao colo.</p><p style="text-align: justify;">Assisto ao desfile de figuras que parece terem perdido a memória de quando estiveram em lugares de destaque na governação; vejo na <i>passerelle</i> televisiva, com total despudor, figuras que são membros do Conselho de Estado, comentadores residentes, de hora nobre, discursando ao lado de candidatos; jornalistas a se posicionarem, mesmo sem a necessidade de dizerem em quem vão votar, mas onde facilmente se percebe onde querem chegar e, até, apresentadores de programas, em discurso directo, como se fossem candidatos, a aconselhar com todas as letras o voto. Parece-me, até, que falou com teleponto, tal o pensamento que divulgou. Ainda esta manhã uma jovem repórter perguntava a um cidadão em quem iria votar! Acrescentou: não diga o partido, mas acha que tem de haver uma mudança? Enfim, perdeu-se a vergonha, o equilíbrio, o respeito e o bom-senso.</p><p style="text-align: justify;">Preferível seria que, com rigor profissional, cumprissem as suas tarefas, porém, mantendo o distanciamento necessário. Alguns, pressuponho, não sendo filiados em um qualquer partido, manifestam-se como se fossem. São "mais papistas que o papa". São aguerridos e moldam a cabeça de um cidadão menos bem informado. Até já dão notas à prestação dos candidatos. Bastas vezes dou comigo a reflectir se assisti ao mesmo debate ou declarações que um dado comentador. </p><p style="text-align: justify;">Deixem isso para os eleitores. Eles é que são soberanos na decisão. Não devem jogar, intencionalmente, com a ignorância de muitos eleitores e com a ausência de formação política. Já bastam as redes sociais! Nem de propósito, há pouco, na Antena 1, escutei o noticiário satírico <i>Portugalex</i>. No final ouvi, cito de cor: não jogue o comentador em qualquer sítio. Deposite-o no "<b>comentarão"</b>.</p><p style="text-align: justify;"><i><b>Ilustração: Google Imagens.</b></i></p>André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2883220740459702766.post-56130877626217499192024-03-03T12:43:00.000+00:002024-03-03T12:43:05.301+00:00E agora?<div style="text-align: justify;"><br /></div><h2 style="text-align: justify;"><b>Durante muitos anos, muitos mesmo, escutei os maiores ataques à oposição política regional: saco de gatos, impreparados, ausência de quadros para governar, obscuros interesses pessoais e de grupo, um rol extensíssimo de dislates, ofensas até pessoais extravasando o campo do debate político, amesquinhamento de figuras públicas na sede do parlamento regional, subtis ou descaradas perseguições, enfim, assisti a um pouco de tudo. De um lado estavam os senhores e, do outro, a "ralé" como foi dito em discurso directo.</b></h2><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2LKQK4kB1KwL1C0zb3pOPVPC2JG4lSCO1dnL9oeOcNCwPGMh44TrOUDBs461V5tbiQMsrof4VjA26Nr9G5sNkcpS3a-AGLTsXO0cC4IDIb5gK4xmL_3k7InAmEsijJQYFWZJeWn6Semd4m3g5CdcFOsGHIHnBCbzBX389LqukjPG3RnnXitiQ8hZsO0W0/s380/ENGOLIR%20O%20SAPO.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="380" height="316" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2LKQK4kB1KwL1C0zb3pOPVPC2JG4lSCO1dnL9oeOcNCwPGMh44TrOUDBs461V5tbiQMsrof4VjA26Nr9G5sNkcpS3a-AGLTsXO0cC4IDIb5gK4xmL_3k7InAmEsijJQYFWZJeWn6Semd4m3g5CdcFOsGHIHnBCbzBX389LqukjPG3RnnXitiQ8hZsO0W0/w400-h316/ENGOLIR%20O%20SAPO.jpg" width="400" /></a></div><br />Entretanto, como tudo na vida, porque tudo tem o seu tempo, a "criatura está a voltar-se contra o criador". Primeiro, foi a perda de uma maioria absolutíssima; depois, a necessidade de um acordo de incidência parlamentar; mais tarde, uma coligação; nos últimos tempos, alegadas suspeitas e constituição de arguidos políticos e de empresários; uma coligação que não terá continuidade; um líder que veio dizer que foram, politicamente, "despedidos sem justa causa"; um outro que se demite mas, afinal, quer continuar; uma eleição interna envolta em conflitos, onde parece não haver cola para tantos cacos face às posições públicas assumidas por diversos actores. Ora bem, lá diz a sabedoria popular que se "zangam as comadres, descobrem-se as verdades". A sensação que tenho é que a procissão ainda não saiu do adro, porque todos os dias há interessantes novidades!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E agora(?) é a pergunta. De facto, vive-se um tempo político que corresponde a "engolir o sapo". Já é muito difícil esconder a realidade.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ilustração: Google Imagens</div>André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2883220740459702766.post-29495843487586529682024-02-28T09:55:00.002+00:002024-02-28T09:55:57.511+00:00Escolha de sectores e tecnologias a apoiar<div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por</div><div style="text-align: justify;">João Abel de Freitas, </div><div style="text-align: justify;">Economista</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><h2 style="text-align: justify;"><b>Será que estabelecer uma boa política de desenvolvimento económico fere o papel do sector privado? Ou, como avançam outros, é lançar “um anátema” sobre as empresas?</b></h2><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrzI79LQ4lh-HuU5yQU7sb8fEv1K6H3C_BgFj_NQCHkMUg_lSK4YZuxX-0MaIAhIvPXYFudOXdqqwCALlzpsMMH1N4hGKzwsA7nnDxVtVMoP1zLrwcQ8epW3YmYHBJ_nPz80UK17GDFm8ywN_ByaoB3dz2Ad_82YT6O5WeJ7v9s_TFrAwJEiVg9OOCx-u4/s200/JO%C3%83O%20ABEL%20FREITAS%2002.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="200" data-original-width="200" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrzI79LQ4lh-HuU5yQU7sb8fEv1K6H3C_BgFj_NQCHkMUg_lSK4YZuxX-0MaIAhIvPXYFudOXdqqwCALlzpsMMH1N4hGKzwsA7nnDxVtVMoP1zLrwcQ8epW3YmYHBJ_nPz80UK17GDFm8ywN_ByaoB3dz2Ad_82YT6O5WeJ7v9s_TFrAwJEiVg9OOCx-u4/w320-h320/JO%C3%83O%20ABEL%20FREITAS%2002.jpg" width="320" /></a></div><br />O caso do PRR português</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) é um programa financiado pela União Europeia, com a finalidade de apoiar a recuperação económica e social dos países-membros, em virtude das “dificuldades causadas pela Covid 19”, cujo período de execução vai até finais de 2026.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Cada país elaborou e negociou o seu programa com os serviços da União Europeia, na base das linhas gerais definidas no instrumento de política comunitária Next Generation EU.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">1. Diria que o PRR e todos os outros Fundos merecem uma reflexão, não como um mero exercício intelectual, mas fundamentalmente pela ideia corrente na sociedade portuguesa, de que os fundos comunitários não têm respondido, até agora, ao lançamento de bases sólidas de transformação da economia, de que o País bem precisa, para criar riqueza a um nível bem diferente do que tem vindo a suceder.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Como em tudo na vida, não basta despejar dinheiro para resolver os problemas. Sem desígnios firmes e organização, não há mudanças concretas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em Fevereiro de 2023, reagindo a uma entrevista do ministro da economia, António Costa Silva, tido como o inspirador do PRR, escrevi aqui um artigo “como qualificar a matriz da economia portuguesa”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Nesse escrito dizia: “Continuo a defender uma estratégia com uma linha condutora, que aponte desígnios claros e uma mecânica de relacionamento eficaz entre os diversos actores intervenientes no processo”, acrescentando, ainda, que essa estratégia requeria focos de incidência precisos e em número reduzido.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Uma característica em que o PRR, com as suas 53 agendas mobilizadoras, falhou rotundamente. Em demasia as áreas de aplicação escolhidas pelo governo português, pelo que muitas ficaram com orçamentos diminutos. Veja-se a vizinha Espanha. Contemplou no seu PRR, apenas 11 agendas mobilizadoras. Que diferença!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><h2 style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: small;">Um número reduzido de áreas de investimento e tecnologias</span></b></h2><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">2. Pedro Nuno Santos no Congresso, no programa eleitoral e nos debates, quando o deixaram, enunciou as linhas fundamentais com que encara o futuro do País.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Na Economia, relevou duas linhas de força.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Linha número 1. A transformação do País tem de se apoiar na mudança da especialização da economia: “primeira e principal missão” afirmou. “Só com uma economia mais sofisticada, mais diversificada e complexa podemos produzir com maior valor acrescentado, pagar melhores salários e gerar receitas para gerar um Estado Social Avançado”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Linha número 2. A transformação da estrutura da economia tem de assentar num número reduzido de sectores e tecnologias a apoiar.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Complementa estas linhas de força referindo que é preciso mudar muito, no conteúdo e na forma. Uma demarcação do que se tem feito em Portugal, consignando ao Estado um papel importante de liderança no desenvolvimento económico e não apenas o de tapar remendos, aparecendo aqui e ali, a resolver problemas sem uma lógica dinâmica de enquadramento.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>As reacções não se fizeram esperar</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">3. Políticos e altos quadros da direita portuguesa têm produzido ataques políticos desajustados e numa linguagem pouco própria. Em alguns programas televisivos de opinião, conhecidos comentaristas tiveram o despudor de comparar esta posição “à planificação de estilo soviético”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Será que ao Estado português está vedado estabelecer uma estratégia com objectivos “arrojados” de transformação da economia e, como os recursos são sempre escassos, de os poder canalizar para aquelas áreas que, a prazo, permitem transformar a matriz económica existente? Será que estabelecer uma boa política de desenvolvimento económico fere o papel do sector privado? Ou, como avançam outros, é lançar “um anátema” sobre as empresas?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Quem reage, assim, sem olhar para experiências bem-sucedidas (até em Portugal) está a mostrar desconhecimento, ou má intenção ou então vergonha por não assumir claramente a redução do papel do Estado ao simbólico.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Desconhecimento. Não sabem da existência de uma série de países que nada têm de socialismo, como a Coreia do Sul ou os chamados “Tigres asiáticos”, que se pautaram por este modelo, em diferentes períodos da sua história, tendo atingido grande desenvolvimento socioeconómico e dotado os seus cidadãos de maior riqueza.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mas indo além. Desconhecem até as grandes orientações da UE quanto aos programas comunitários e outros específicos, onde se identificam áreas e tecnologias prioritárias. Demonstram que conhecem mal os documentos orientadores da União Europeia, onde alguns até ocuparam cargos importantes.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ou são mal-intencionados porque, deste modo, pretendem criar desinformação, sobretudo em tempo eleitoral, tentando impingir que este processo de construção de um novo modelo para a economia equivale a limitar o acesso aos fundos por parte das empresas privadas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Uma boa política precisa de ser bem desenhada. Tudo depende da forma como se elabora o modelo e dos métodos da sua implementação no terreno.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os fracos efeitos da aplicação dos Fundos na transformação da economia em todos os seus parâmetros, baixas produtividades, deficiências na comercialização, pouca integração economia/ciência/investigação… são devidos à não existência de uma boa política que fomente uma relação dinâmica entre os investimentos, contra investimentos desgarrados sem algo a ligá-los.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Como montar a estratégia e a escolha</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">4. A elaboração de uma política de desenvolvimento terá de assentar em conhecimento, experiência, competências e objectivos claros. Não é tarefa fácil com relevo para a sua posterior implementação, muito exigente na articulação entre actores.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por outro lado, exige uma nova filosofia de funcionamento do aparelho do Estado onde a competência prevaleça. Certamente, menos ministros e secretários de Estado e mais equipas de missão, determinadas e dinâmicas. Menos burocracia, maior poder de decisão, o que leva a novas formas de pensar a Administração Pública, o que, por sua vez, vai arrastar o próprio sector privado para formas mais audazes de planeamento e gestão.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não é um processo que se monte com facilidade e certamente os erros serão inevitáveis.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Um processo destes, complexo, é interessante até porque associa uma estratégia com uma reforma da administração pública concebida de forma diferente. Um dos principais “bloqueios” teóricos, diz-se, é o Ministério das Finanças. Quanto a mim, tem de existir e com peso político, mas a funcionar em novos moldes (um papel regulador e facilitador).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Será que Pedro Nuno Santos reúne essa capacidade?</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Avançou ideias inovadoras, embora me choque a sua visão teórica restrita na abordagem da energia.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A energia é, sem dúvida, uma das áreas determinantes, fundamentais, da mudança da matriz económica. Nenhuma referência à energia nuclear, contrariando até a recente decisão (6 de Fevereiro) da União Europeia que cria a Aliança Industrial Europeia de pequenos reactores nucleares (SMR), com efeitos previsíveis em aumentos de competitividade, cadeia de abastecimentos e mão-de-obra qualificada, é uma lacuna de peso.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os grandes partidos portugueses esqueceram-se de matéria tão importante nos seus programas. Ainda não descolaram da fase anterior da UE, comandada pela Alemanha, que continua, embora em perda, a repudiar o papel da energia nuclear como um dos elementos-chave de uma política energética soberana, de que a União Europeia tanto necessita. Num programa que se quer de mudança de especialização económica urge corrigir esta lacuna, sob pena de se perder o passo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i><b>O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.</b></i></div>André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2883220740459702766.post-8850037078663837112024-02-22T15:12:00.000+00:002024-02-22T15:12:02.449+00:00Absolvição<br /><h2 style="text-align: justify;"><b>A frase que fica: "Existem tragédias e fatalidades. Ocorreu uma queda de uma árvore como ocorreu o 20 de Fevereiro". Palavras da advogada de defesa, Drª Kátia Vieira, a propósito do acórdão que absolveu a Drª Idalina Perestrelo e o Engº Francisco Andrade no caso da queda da árvore (carvalho) que, no decorrer da festa do Monte, ceifou a vida a treze pessoas naquele maldito 15 de Agosto de 2017.</b></h2><div style="text-align: justify;"><br /></div><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoO9UnDkkJEj9Zukpj3H4yNAqp0E22vt3cU0kWBVJw_KbY_qOAiWchNVS7uP03FfmOZ3_SwIgpydO_B4mClS3IK9FlXQWeAaewH_L_lbfBPadssNyDvBSMfXkpuTfZ7BxLp19G4cxQzFy15RotYCmKx3zL_-tBAPmF2Sn9GDXkV06P2xM2xTRAvBp9yPmY/s474/%C3%81RVORE%20DO%20MONTE.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="267" data-original-width="474" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoO9UnDkkJEj9Zukpj3H4yNAqp0E22vt3cU0kWBVJw_KbY_qOAiWchNVS7uP03FfmOZ3_SwIgpydO_B4mClS3IK9FlXQWeAaewH_L_lbfBPadssNyDvBSMfXkpuTfZ7BxLp19G4cxQzFy15RotYCmKx3zL_-tBAPmF2Sn9GDXkV06P2xM2xTRAvBp9yPmY/w400-h225/%C3%81RVORE%20DO%20MONTE.jpg" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">Fico feliz pela decisão do Tribunal. Apenas lamento que tivessem sido necessários sete anos de sofrimento por parte dos responsáveis autárquicos para, finalmente, o Tribunal chegar a este Acórdão. Isto não coloca em causa um outro e óbvio sofrimento para as famílias das treze vítimas. Foi e continua a ser muito doloroso para todos. Da mesma forma que a comunidade madeirense continua curvada pela morte de dezenas de conterrâneos naquele outro fatídico 20 de Fevereiro. </div><p></p><p style="text-align: justify;">De facto, o acontecimento do Monte faz parte das tragédias, umas que podem ser evitadas ou atenuadas; outras, que acontecem sem uma responsabilidade directa do ser humano. Ali, pelo que acompanhei ao longo destes sete anos, não existiu incúria (vide as razões da absolvição, no Dnotícias de hoje, página 13). Da mesma forma que, em 2021, quase no mesmo local, outra árvore caiu desta feita sem consequências graves. </p><p style="text-align: justify;">Neste processo, lamento o extenso rol de leituras e comentários abusivos, alguns pretensamente técnicos, no sentido da condenação dos arguidos. O Tribunal não os considerou e ainda bem.</p><p style="text-align: justify;">Um abraço à Drª Idalina Perestrelo e ao Engº Francisco Andrade, figuras com um passado de luta em defesa do ambiente e que não mereciam passar por estes sete anos de "massacre" psicológico.</p><p style="text-align: justify;"><i><b>Ilustração: Google Imagens.</b></i></p>André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2883220740459702766.post-86195048635252165432024-02-21T14:38:00.000+00:002024-02-21T14:38:20.616+00:00Estar para o poder como a lapa para rocha<p> </p><h2 style="text-align: justify;"><b>Tudo isto está muito confuso. O que leio e ouço dá-me a entender que há políticos que transmitem a ideia que nem a si próprios se respeitam. Um dos casos é o do presidente do governo regional da Madeira, em gestão, que apresentou a sua demissão, por duas vezes, e que hoje volta a posicionar-se como candidato a presidente do governo, seja qual for a decisão do Senhor Presidente da República, em tempo constitucionalmente próprio.</b></h2><div><b><br /></b></div><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihodsS8DpaTwqhO0WIKn85lyH84v2nx1SG7ScREwa8_8IQ8Bnh78awGqIywSa0z276dGrbT5mEVIIy0Ivc-KwWe5qIIlrf2tG8M9RZdxeWfXN_ZrEGOEC8_kZ8w1R34K9t3KtE8THl-KZf_ah8CmOnXlDOtSl54t0nyUsvsjT6D3ODo3hZCVd3WobS9JuG/s474/CONFUS%C3%83O%2001.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="330" data-original-width="474" height="279" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihodsS8DpaTwqhO0WIKn85lyH84v2nx1SG7ScREwa8_8IQ8Bnh78awGqIywSa0z276dGrbT5mEVIIy0Ivc-KwWe5qIIlrf2tG8M9RZdxeWfXN_ZrEGOEC8_kZ8w1R34K9t3KtE8THl-KZf_ah8CmOnXlDOtSl54t0nyUsvsjT6D3ODo3hZCVd3WobS9JuG/w400-h279/CONFUS%C3%83O%2001.jpg" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">Não ligo sequer ao facto de ser arguido. Essa é apenas uma etapa processual que permite a sua defesa. Não foi julgado nem condenado e, por isso, é legítima a sua candidatura à liderança do seu partido e, por essa via, continuar a governar mesmo sem eleições. Trata-se de um problema de decisão interna. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">De qualquer forma, não estando em causa a legitimidade, tal facto não deixa de enquadrar uma extensa interrogação de base ética. O que estará por detrás daquele comportamento? </div><p></p><p style="text-align: justify;">Dirá o visado que leva trinta anos de exercício da política, durante os quais não corrompeu nem foi corrompido. Até conclusão do processo e trânsito em julgado, admito a sua total inocência. O "julgamento" popular pode ser um, a voz do Tribunal pode ser outra. Até aí tudo certo. O verdadeiro julgamento virá depois. O que já não me parece menos claro é, no plano político, a manifestação de uma postura que deixa passar uma tendencial ideia de estar agarrado ao poder. Há políticos que estão para o poder como a lapa para a rocha. Porquê, questiono! Quando o exercício da política constitui um serviço público à comunidade? </p><p style="text-align: justify;">E isto faz-me trazer à colação o que, durante anos, escutei: a tal lengalenga que os quadros políticos e técnicos estavam apenas de um lado, capturados ou não pelas circunstâncias advindas de um poder "duracel". Afinal, o que se deduz é o vazio, uma espécie de orfandade, pela ausência de figuras que assumam uma alternativa interna. É, no mínimo, esquisito. Se a esta primeira conclusão chego é, desde logo, pelas posições públicas de gradas figuras partidárias que têm vindo a publicar o que pensam. Registei: "Fingir que nada mudou e criar bolhas de ilusão só farão com que o embate com a realidade seja mais doloroso (...)" - Augusta Aguiar, ex-secretária regional dos Assuntos Sociais, edição de hoje do Dnotícias, pág. 26.</p><p style="text-align: justify;">Está tudo em polvorosa e, como se isto não bastasse, vá lá também saber-se o porquê, o presidente do segundo partido da coligação já declarou que está de saída. Outro que pegue no frágil leme.</p><p style="text-align: justify;">Aliás, a percepção que tenho deste quadro corresponde a uma inevitabilidade de um qualquer poder que se arraste anos a fio pelos corredores. Neste caso são 48 anos consecutivos. Inevitável, porque as pessoas acomodam-se, disfrutam dos lugares atribuídos como se se tratasse de um emprego para a vida, directa ou indirectamente fazem parte do jogo, criam cumplicidades, respeitam a "voz do dono", fazem por ignorar as leviandades políticas, vivem ou sobrevivem nas águas pantanosas, apenas mantendo a lealdade expressa na bandeirinha eleitoral, mas sempre atentas às peças que deambulam no tabuleiro. Parece-me óbvio, com receio do futuro próximo. </p><p style="text-align: justify;">A vida e vivência democráticas não são isto. Liberdade? Qual liberdade!</p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGykSON2VVDiPETIj7HR5F9pDtA0Xg6pRB8m0oPTYis1EbFfvE7tIgaoE_Au2592XVHzKgQ0Tt1dexNcXPquYcQqqN4Y5G8t5Xw7nxZUQLyL1drfFFfNWAP668rEHdheBnaaab4RABUsuSpvjDNFe3njD1RiaIMe9Z_3Y-fjZiCe-nPAc_-cHGDVW3sI8c/s320/CONFUS%C3%83O.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="213" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGykSON2VVDiPETIj7HR5F9pDtA0Xg6pRB8m0oPTYis1EbFfvE7tIgaoE_Au2592XVHzKgQ0Tt1dexNcXPquYcQqqN4Y5G8t5Xw7nxZUQLyL1drfFFfNWAP668rEHdheBnaaab4RABUsuSpvjDNFe3njD1RiaIMe9Z_3Y-fjZiCe-nPAc_-cHGDVW3sI8c/w266-h400/CONFUS%C3%83O.jpg" width="266" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Vou mais longe: a Câmara Municipal do Funchal carece, também, de legitimidade política. No plano exclusivamente formal, diz a Lei que assume a presidência o número dois da lista então candidata. Por aí, nada a dizer do ponto de vista da legalidade e da legitimidade formal. Mas, uma vez mais, a questão parece-me ser outra. É de natureza política.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A lista candidata foi liderada por uma figura que, entretanto, renunciou ao mandato. Foi ele e não qualquer outro que "arrastou" o eleitorado para a vitória. Qualquer um dos outros, de per si, se se tivesse candidatado à presidência, muitas dificuldades teria para vencer o acto eleitoral. Porque, não está em causa a credibilidade técnica, mas sim o facto de, politicamente, serem ilustres desconhecidos. Daí que a passagem de testemunho careça de legitimidade política.</div><p></p><p style="text-align: justify;">Pergunto-me, se estivesse em tal situação, de lugar secundário, convidado pelo líder da lista, o que faria? Não tenho a mínima dúvida que, no plano político, seria solidário com o convite que me tinha sido dirigido e, sugeriria uma renúncia em bloco. Não bastam as palavras de solidariedade, pois mais que as palavras valem as acções.</p><p style="text-align: justify;"><i><b>Ilustração: Google Imagens.</b></i></p>André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2883220740459702766.post-47103846407815771302024-02-16T10:31:00.001+00:002024-02-16T10:31:12.345+00:00O mundo agrícola europeu em convulsão<div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por</div><div style="text-align: justify;">João Abel de Freitas, </div><div style="text-align: justify;">Economista</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><h2 style="text-align: justify;"><b>A União não pode continuar a colocar os impostos dos europeus na PAC, exigindo produção de alta qualidade, e deixar as portas abertas à entrada de produtos que não cumpram as regras da UE.</b></h2><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhFjFeZcLF6IvrYOhyphenhyphenpvHTqqWYQWdWc9UncTNf0ko8zGBa-ydwt6EvB0EaNY-2z08xw-hCYK2HscJDkOg1_KLE5Zdk1pxVRc3V-4jsU40CZf7wi6J-Z2Dd1IiS9EHh3Y2zKp9yG0P5GjsIh-0D-mI0MxECb6qKjs2A2W4_ydgQvEIPQ_aTz3SHN9Lut_HF/s200/JO%C3%83O%20ABEL%20FREITAS%2002.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="200" data-original-width="200" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhFjFeZcLF6IvrYOhyphenhyphenpvHTqqWYQWdWc9UncTNf0ko8zGBa-ydwt6EvB0EaNY-2z08xw-hCYK2HscJDkOg1_KLE5Zdk1pxVRc3V-4jsU40CZf7wi6J-Z2Dd1IiS9EHh3Y2zKp9yG0P5GjsIh-0D-mI0MxECb6qKjs2A2W4_ydgQvEIPQ_aTz3SHN9Lut_HF/w320-h320/JO%C3%83O%20ABEL%20FREITAS%2002.jpg" width="320" /></a></div><br />A França tem sido o epicentro da revolta dos agricultores na União Europeia. Mas outros países europeus, em dias ou semanas diferentes ou por vezes coincidindo, não deixaram de mostrar o seu profundo descontentamento nas ruas com tractores, bloqueando estradas e ocupando espaços predefinidos em cidades como Bruxelas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O mundo agrícola convive mal com a perda, ao longo dos anos, do seu estatuto social e de quebra de rendimentos continuados. Em muitas outras profissões, esta situação é também uma constante, sendo difícil encontrar as razões desta tendência. Será que mudanças de paradigma nas sociedades explicarão tudo isto?!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por outro lado, problemas específicos nos diversos países ajudaram a acelerar este descontentamento global. Foi o fuelóleo na Alemanha, os cereais ucranianos na Polónia e Roménia, a água, os cortes e os atrasos burocráticos na entrega de subsídios em Portugal.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>A grande questão é Bruxelas</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Como gritava uma jovem no meio de uma coluna de tractores que tentava encaminhar-se para os edifícios do Parlamento Europeu “temos de atacar o coração do sistema”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Sim, o “coração do sistema” é a Política Agrícola Comum, definida em Bruxelas em contínua deriva pelo menos desde 2010, criando confusão com regulamentação excessiva a toda a linha e grandes dificuldades aos agricultores europeus, com rendimentos cada vez mais reduzidos, baixa de preços ocorrida pela concorrência desleal de produtos importados que não cumprem as regras da União, em qualidade e ambiente, mas entram no espaço comunitário, na base de acordos ou de favor (isenções tarifárias desde a primavera de 2022 dos produtos agrícolas ucranianos).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Regulamentação excessiva</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A regulamentação excessiva é uma praga da União Europeia em todos os domínios. Quando não se tem nada para fazer, ou seja, onde falta uma política sólida de desenvolvimento, produz-se regulamentação sobre regulamentação. É assim em tudo, na energia, nas tecnologias, na inteligência artificial (IA)… em tudo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A propósito da IA, há dias li no L’Express (11/12/2023) uma blague humorística pouco abonatória da União Europeia, que circula há algum tempo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">IA: L’ Europe entre enfin dans la course. “Nos EUA, eles têm a GAFA. Na China, a BATX. Nós temos o GDPR”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Dando nome às siglas. Os Estados Unidos têm campeões de tecnologia (Google, Apple, Facebook e Amazon). A China também (Baidu, Alibaba, Tarant e Xiaomi). A Europa, para seu consolo, tem a Regulamentação de Dados. Aliás, a UE é um espanto. Avançou com um regulamento sobre IA, quando não tem uma empresa de IA “digna” desse nome, pelo menos em termos de comparação com a China e EUA. Surrealista!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Muitos peritos atribuem a esse grau excessivo de regulamentação falhas estratégicas nas políticas europeias e acentuam a inoperância/incapacidade da União Europeia na conjugação de ideias de fundo entre os países e entre empresas de diferentes países para ganhos de dimensão no mercado mundial.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Retornando ao mundo agrícola</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O mundo rural aparenta, embora com um pico neste ou naquele país, uma certa acalmia, decorrente das decisões tomadas, umas pela Comissão Europeia e outras a nível de cada país. Mas umas e outras são de curto prazo e várias até de caracter transitório.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Duas medidas de curto prazo foram tomadas por Bruxelas, respondendo a exigências importantes dos agricultores europeus:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">⦁ A “derrogação parcial” da obrigatoriedade do pousio imposta, a nível europeu, em condições rejeitadas pelos agricultores.</div><div style="text-align: justify;">⦁ As medidas de salvaguarda para as importações ucranianas e a suspensão das negociações do acordo UE-Mercosul, aliviando assim a concorrência desleal.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ursula von der Leyen também veio prometer a redução da carga administrativa da PAC, sem, no entanto, especificar em que consiste. Certamente, ainda estará a pensar na regulamentação necessária!</div><div style="text-align: justify;">A nível de países, foram tomadas medidas específicas como a suspensão do imposto sobre o gasóleo não rodoviário, a concessão de alguns subsídios temporários, etc. Mas Bruxelas ficou em péssima situação e dirigentes de países como a França contribuíram em muito para tal.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A comunicação social europeia escreveu que Macron “curvou” Bruxelas, o que não deixa de ser um pouco verdadeiro, pelo menos em duas frentes: no que toca ao acordo em discussão com o Mercosul e na política ecológica ao fazer passar a mensagem aos agricultores de que o inimigo é a ecologia, ao falar da necessidade de adaptação da política europeia sobre “alterações climáticas”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Os problemas de fundo permanecem</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Esta crise assumiu características mais alargadas. Era normal, aqui e ali, uma crise ou outra, a nível sectorial ou regional, no leite, ovos, cereais, vinho, carne, etc.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Esta vem globalizada. Todos os sectores apanhados pelo aumento dos preços dos factores de produção e respectivos impactos nos custos dos produtos, a relação entre os produtores agrícolas e distribuidores a deteriorar-se, de forma que a produção designadamente as unidades familiares e as de menor dimensão entraram mesmo em perda real de rendimentos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Tudo em crise, menos um pequeno número, ou seja, as grandes explorações agrícolas, as grandes transformadoras de produtos agrícolas e as grandes cadeias de distribuição que levam uma grossa maquia dos subsídios do orçamento comunitário da PAC que corresponde a cerca de 1/3 do da União Europeia.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">As questões de fundo permanecem, assim, e outras novas foram espoletadas ou agudizaram-se como o conflito entre o mundo agrícola e os ambientalistas através de slogans por vezes rudes. Na Alemanha lia-se: “pelo bem da pátria, vamos expulsar os ambientalistas do país”. Estas palavras constavam de cartazes apostos em tractores nas manifestações de Janeiro. Considerar os ambientalistas, a bête-noir dos agricultores, assume um carácter ainda muito acintoso, uma vez que os Verdes fazem parte da coligação governamental. Portanto, a questão de fundo permanece.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>O que queremos da agricultura europeia? Esta é a pergunta chave</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A União não pode continuar a colocar os impostos dos europeus na PAC, exigindo produção de alta qualidade, e deixar as portas abertas à entrada de produtos que não cumpram as regras da UE.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Este é, com toda a razão, o cavalo de batalha dos agricultores. É a própria União a negar-se a si própria ao promover a concorrência desleal consigo própria, a alimentar as grandes cadeias de distribuição e as transformadoras, afundando assim o mundo rural.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mudanças profundas se impõem a vários níveis, uma nova filosofia para a PAC, para que se lance uma agricultura competitiva, sustentável e dinâmica, com elevado impacto no PIB, nas exportações e redução das importações para que o mundo rural se tranquilize e possa se agigantar, sustentado em bases sólidas de trabalho. Só, deste modo, se poderá caminhar para uma pacificação sustentada e para a soberania alimentar.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Muitos passos e muita negociação séria são precisos para se chegar ao fundo das questões e, a partir daí, erguer a estratégia. Menos burocracia, menos regulamentação e muito mais planeamento estratégico.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b><i>O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.</i></b></div>André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2883220740459702766.post-73798626654671509452024-02-12T19:29:00.005+00:002024-02-12T20:32:34.173+00:00"Lavagem cerebral"<br /><h2 style="text-align: justify;"><b>Um grande Amigo, um dia, nos longos diálogos noite fora, abordando a esquerda e a direita política, disse-me: sabe, a esquerda política, aquela que defende princípios e valores democráticos, é muito idealista, sonhadora e vê o mundo e as pessoas impolutas, transparentes, raramente vê a trapaça do jogo e até, por isso mesmo, muitas vezes deixa-se encantar, resvalando de tolerância em tolerância; ao contrário da direita política que tem uma história milenar, que a tornou muito paciente, serena, matreira, encantadora e sedutora. Paciente porque sabe como desenhar o labirinto para chegar ao poder e como, onde e quando deixar bem disfarçados os alçapões. </b></h2><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjBpam7Y1k2NBdZFV4_7nKL8m9d4iOD9u_tm1F48SQk5VQiYeprqOWWNYJFPBglKl_BhtOLmPEa_tCyZqGos6LPV9fEQ_cWVd9KTojl5phN6oY0gdqm0FJU20gdQWCdso9Vof-c22xL_WmTioOELchrEIakiBPPlC7-zSFpQcbvq2Rqel5jEcPMwXEVzLC/s640/LAVAGEM%20CEREBRAL.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="336" data-original-width="640" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjBpam7Y1k2NBdZFV4_7nKL8m9d4iOD9u_tm1F48SQk5VQiYeprqOWWNYJFPBglKl_BhtOLmPEa_tCyZqGos6LPV9fEQ_cWVd9KTojl5phN6oY0gdqm0FJU20gdQWCdso9Vof-c22xL_WmTioOELchrEIakiBPPlC7-zSFpQcbvq2Rqel5jEcPMwXEVzLC/w400-h210/LAVAGEM%20CEREBRAL.jpg" width="400" /></a></div><br />Ainda ontem, o humorista Ricardo Araújo Pereira salientava o facto de atribuírem 12/13 minutos a cada candidato nos debates que estão a ocorrer, acrescentando que, logo de seguida, o espectador fica confrontado com intermináveis minutos de comentadores e jornalistas. Acrescento: que até atribuem notas à prestação daqueles que poderão vir a representar o Povo na Assembleia da República. Não deixa de ser curiosa esta ambiguidade de tratamento entre quem define estratégias políticas e os outros! Engana-se quem pensa que isto não tem um significado mais profundo e, subtilmente, escondido, onde dominam, também, os interesses empresariais.</div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No meio disto, há Conselheiros de Estado que são comentadores, analistas que aparecem em duas cadeiras separadas por escassos minutos: ora na situação de apaniguados de uma determinada força política e, logo mais, como analistas da "coisa" que está em causa. Jornalistas, também, de tez severa para com os convidados, dando a entender com as suas intervenções (não perguntas) o lado em que se situam.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">É evidente que o exercício da Democracia exige que todos tenham direito à palavra. É nos diversos posicionamentos que elaboramos ou nos estribamos numa opinião compaginada com a nossa própria história. O que já não me parece razoável e defensável é a tendência para que não se deixe ao Povo a capacidade de, livremente, ouvir e escolher os caminhos que entendem ser os melhores. Neste quadro, parece-me óbvia a orientação para, prioritariamente, colocar cidadãos escolhidos a dedo, que entram casa adentro, para, serena, pacientemente e sem contraditório, venderem o seu peixe de acordo com os seus posicionamentos políticos. </div><br /><div style="text-align: justify;">É claro que todos nós transportamos heranças conceptuais desde a família que habitámos, ao que lemos, à cultura que nos enformou, ao leque e interesses de grupo, inclusive, até a própria ausência de informação adequada. Somos um pouco de tudo isso. O que eu rejeito é que tentem, com descarada intenção, "comer as papas na cabeça", algumas vezes trapaceando, outras, confundindo no sentido de imporem o seu pensamento. Já há alguns anos que é assim. E está cada vez pior. Pacientemente, repito, vão tecendo a teia pouco se ralando que entre as sondagens e os resultados eleitorais a diferença os coloca seriamente em causa. Mas continuam o seu percurso de encantadores de serpentes. Felizes ficam quando acabam por levar a água ao seu moinho.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ora bem, no respeito por uns e outros, pelos políticos e pelos comentadores, bom seria que, sobretudo as estações de televisão, optassem pelo distanciamento, deixando ao Povo a capacidade de escutar e decidir. </div>André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2883220740459702766.post-74943022786588059042024-02-07T12:23:00.000+00:002024-02-07T12:23:20.689+00:00A casa dos inúteis<p> </p><h2 style="text-align: justify;"><b>A história do programa "Big Brother" tem, segundo li, cerca de vinte e quatro anos de emissão. Mais de 70 países, em todos os continentes, reproduzem o "reality show". Nunca me predispus a assistir a um episódio. Para mim é reles demais. Mas, esta semana, antes das notícias das 20 horas, espreitei uns quinze minutos, se tanto. De resto, inevitavelmente, todos os dias por lá passo, mas o controlo remoto livra-me daquele, para mim, desprezível espectáculo. Uma série de indivíduos numa casa-prisão de luxo, dizem que se trata da "mais vigiada do país", cuja função é alimentar-se, dizerem disparates, mor das vezes demonstrarem uma manifesta ignorância, incompatibilizarem-se, realizarem umas tarefas infantis e a tudo aquilo os mentores designam por "jogo". Talvez seja o jogo da inutilidade e da estupidificação em horário nobre.</b></h2><div><b><br /></b></div><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAJE0Rua7mst56lrsJbsZGfhMfvcD_bNkpZpdQQqP8udlIMzMv_pUfbifXEwvIWfkllFjsA2P1iqUapktKZOSuTXIaAGPMib7TyWLYoSzeCdBYhl4chA8cTamSoCAnk8seZTXcmObrwAurl5NnL4XGNFuFmkFaSP3DxptasaqLoBtyhZZxh_6E0KM49spl/s1280/bigbrother.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAJE0Rua7mst56lrsJbsZGfhMfvcD_bNkpZpdQQqP8udlIMzMv_pUfbifXEwvIWfkllFjsA2P1iqUapktKZOSuTXIaAGPMib7TyWLYoSzeCdBYhl4chA8cTamSoCAnk8seZTXcmObrwAurl5NnL4XGNFuFmkFaSP3DxptasaqLoBtyhZZxh_6E0KM49spl/w400-h225/bigbrother.jpg" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">Mas, certamente, proporciona dinheiro aos promotores e algum a quem se presta a viver situações de embrutecimento. Quem vencer o "jogo da inutilidade" leva € 100 000,00 para casa. No meio daquilo, uns apresentadores e comentadores aumentam o volume do nada, ajudam a bestialização dos "convidados famosos" e do povo que assiste, com um palavreado que, espremido, vale zero. A ideia que fica é a de que quanto pior melhor para as audiências. Quanto mais gritos, acusações, lágrimas e lençóis que esbatem outras cenas, melhor. Uma grande parte do povo gosta e alimenta o espectáculo através das votações. </div><p></p><div style="text-align: justify;">Ao longo da visualização lembrei-me da frase tantas vezes dita por Artur Albarran: "o drama, o horror, a tragédia". Ora, tudo aquilo é, para mim, cómico, patético, desgraçado, bizarro e medonho. Não tem ponta por onde se lhe pegue, ou melhor, talvez sirva para estudo das causas que se escondem a montante e se aquilatar do grau de cognição e da sanidade dos intervenientes.</div><p style="text-align: justify;">Li esta manhã que um sujeito que por lá passou, a propósito da desistência de um concorrente, terá dito: "O melhor jogador de sempre acaba de desistir, porque Portugal não tem maturidade para enfrentar um jogador que dorme a pensar no que vai fazer no dia seguinte (…)". Está tudo dito. </p><p style="text-align: justify;">Umberto Eco (1983) sobre "A transparência perdida" escreveu sobre a paleotelevisão e a neotelevisão, esta onde sobressaem a desregulação e a ausência de bom senso, tomando conta da televisão e influenciando o mapeamento dos formatos da oferta televisiva. Mas, a par do que se vê, entre a tristeza de um big brother e de outros programas das televisões generalistas, questiono-me sobre as substanciais diferenças. Sinto que se está a nivelar por baixo.</p><p style="text-align: justify;"><i><b>Ilustração: Google Imagens.</b></i></p>André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2883220740459702766.post-13134347558666806252024-02-02T18:46:00.001+00:002024-02-02T19:14:23.703+00:00Por favor, não nos tratem por desmiolados<p><br /></p><h2 style="text-align: justify;"><b>Deixo para depois as questões relacionadas com as investigações em curso. Se valer a pena, claro! Rejeito as opiniões a partir de uma mancheia de "achismos" que por aí andam. Entendo que o tempo ditará a complexidade das responsabilidades de cada um, directa ou indirectamente envolvidos. Poderá levar anos, sabe-se que, infelizmente, é assim, e, por isso, todo o tipo de especulações, como se fôssemos investigadores e profundos conhecedores do processo e até juízes, do meu ponto de vista deve assentar num redobrado cuidado na prudência das leituras.</b></h2><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqm0D3PXnvhZdw0CAZzhfWS_jTnkkkDFxeKYbu27XW1QxEReVK2RQ1mjQHfhS0lOFSXJQ7eQvqX-dZHr2280O9vQ9pzMiaxRxdci71UrJOxkKdkGXd4jVPREuuK5URDsX7_uNBJqauPJfj-WICtPfVxqmn8xghuIWj0_QimGhnH_Zs8RT1SOdVcavYqWKG/s358/DESILUS%C3%83O.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="358" data-original-width="336" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqm0D3PXnvhZdw0CAZzhfWS_jTnkkkDFxeKYbu27XW1QxEReVK2RQ1mjQHfhS0lOFSXJQ7eQvqX-dZHr2280O9vQ9pzMiaxRxdci71UrJOxkKdkGXd4jVPREuuK5URDsX7_uNBJqauPJfj-WICtPfVxqmn8xghuIWj0_QimGhnH_Zs8RT1SOdVcavYqWKG/s320/DESILUS%C3%83O.png" width="300" /></a></div><br />Uma coisa foi a sistemática denúncia em sede de Assembleia Legislativa e autarquias, às quais se juntou a "vox populi" que, durante tantas dezenas de anos, alimentou a desconfiança na condução dos processos políticos; outra é, perante a realidade que se vive, tecer comentários específicos, julgando, antecipadamente, sem a correspondente prova, condenação e o trânsito em julgado. Não vou por aí. Prefiro que a Justiça faça o seu caminho, conjugado com o que (e bem) escreveu Miguel Sousa Tavares na edição de hoje do Expresso:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><h3 style="text-align: justify;">"Quando a Justiça não apenas consente mas ainda se conforta em ver os julgamentos que lhe cabe fazer serem feitos previamente na praça pública, ela e nós estamos a caminho do desastre".</h3><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Adiante. Não sou, porém, alheio às questões de natureza política. Com a devida atenção escutei o anúncio de demissões, acompanhei o essencial das audições junto do Senhor Representante da República, a "estranha" posição do parceiro de coligação (CDS), as "anfíbias" posições do PAN, a insossa postura assumida pelo Senhor Presidente da República em dois ou três momentos, a total secundarização dos deputados na Assembleia Legislativa, o pensamento de variadíssimos comentadores políticos, o que disseram os representantes dos vários partidos políticos e, ainda, a palavra de vários Professores de Direito Constitucional. Conjugando tudo o que escutei com as declarações proferidas no final da comissão regional do PSD, é-me sensível um total paradoxo entre os factos (formal e ético) e a posição da maioria, uma vez que, para ela, bastará apresentar um nome para líder, a formação de um "novo" governo, provavelmente com o mesmo programa e, assim, "tudo como dantes, no quartel de Abrantes".</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Enquanto cidadão não me revejo nisto. O que, ainda ontem, escutei da boca dos Constitucionalistas leva-me a dizer que, todos os dias, alguns tentam pôr em causa a Constituição da República, juntando ilusórias peças no sentido da sua própria sobrevivência política. A confusão instalou-se e todos os dias são atiradas novas achas para a fogueira. Ora bem, não é o Orçamento Regional que está em causa, mas a LEGITIMIDADE para governar. E essa legitimidade, face às gravosas circunstâncias políticas, só pode advir de um novo acto eleitoral. Porque a luta do actual governo, ferido que se encontra no plano político, está para a sua continuidade, como a boia está para um náufrago.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Que haja bom senso, desprendimento político, respeito pela Constituição e pela leitura política que o Povo faz em cada momento, que não existem insubstituíveis, que a Democracia deve ser respeitada nos planos formal e prático e que a humildade de qualquer servidor da "coisa pública" deve estar acima dos interesses pessoais ou de grupo. De resto, o exercício da política não é um emprego, mas um serviço público à comunidade. Ah, já agora, que o Senhor Presidente da República diga, abertamente, o que pensa e como pensa solucionar este problema político.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O resto, as questões da Justiça, que fiquem para depois.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i><b>Ilustração: Google Imagens.</b></i></div>André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2883220740459702766.post-67701368663093452482024-01-29T10:03:00.003+00:002024-01-29T10:03:32.938+00:00Desinformação e Desigualdade, palavras-chave no Fórum Davos 2024<div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por</div><div style="text-align: justify;">João Abel de Freitas, </div><div style="text-align: justify;">Economista</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><h2 style="text-align: justify;"><b>Com as novas tecnologias de informação e agora com a Inteligência Artificial, a velocidade de circulação da desinformação quase não encontra limitações tecnológicas. Uma questão-chave para o ano em curso, rico na ida às urnas.</b></h2><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihC8f6KL9OIi3ctH1TjY6Otnzk6QHCwIjGiscvHYFZulFt55cfQYz-aQBiKQPVMGateH0RKqJRZfQgXljqifCweL6KqDtMT8EEjuQVo8SmoLH205qWWTVjEkObqHZ_yLR3Yus6CsnIJGjjPnFqKTYGg232pMLx9W9NG9gWM3vU5Hxota_pdlr0CC7HOExa/s200/JO%C3%83O%20ABEL%20FREITAS%2002.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="200" data-original-width="200" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihC8f6KL9OIi3ctH1TjY6Otnzk6QHCwIjGiscvHYFZulFt55cfQYz-aQBiKQPVMGateH0RKqJRZfQgXljqifCweL6KqDtMT8EEjuQVo8SmoLH205qWWTVjEkObqHZ_yLR3Yus6CsnIJGjjPnFqKTYGg232pMLx9W9NG9gWM3vU5Hxota_pdlr0CC7HOExa/w320-h320/JO%C3%83O%20ABEL%20FREITAS%2002.jpg" width="320" /></a></div><br />No Fórum de Davos deste ano, que se realizou na Suíça de 16 a 19 de Janeiro, circularam dois relatórios perfeitamente distintos em tudo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">1. O relatório anual do Fórum Económico Mundial de Davos – The global risks report 2024 19th Edition, Insight Report – distribuído um pouco antes, a 10 de Janeiro, debruça-se sobre os riscos potenciais que poderão afectar as sociedades globalmente, distinguindo entre o curto (dois anos) e o médio/longo prazo (dez anos), onde a Desinformação aparece como risco de primeira linha.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Este relatório foi elaborado na base de um painel de 1400 personalidades (peritos, cientistas, representantes da sociedade civil, dirigentes políticos e empresariais) a quem foram colocadas uma série de questões sobre os riscos globais, para os próximos anos, arrumadas segundo cinco áreas: economia, ambiente, geopolítica, sociedade, tecnologia.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">2. O relatório da OXFAM – Le rapport Multinationales et Inegalités 2024 – distribuído no Fórum de Davos, versa a Desigualdade, em duplo sentido, a economia e a pegada de carbono.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A OXFAM é uma ONG, sem fins lucrativos, que confedera múltiplas organizações a nível de vários países e se articula em parceria com muitas entidades. Nasceu em 1942, no Reino Unido, na sequência de uma grande crise alimentar, com a finalidade de encontrar soluções para os problemas da desigualdade, injustiça e pobreza. Para isso, utiliza campanhas, programas de desenvolvimento e acções de emergência em situações concretas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Neste relatório, surgem duas conclusões globais, com uma actualidade gritante e profundo significado:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">⦁ As cinco pessoas mais ricas do mundo viram a sua riqueza duplicar desde 2020, enquanto mais de metade da população mundial, cerca de cinco mil milhões de habitantes, em idêntico período, viram a sua riqueza decrescer;</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">⦁ A pegada de carbono das pessoas mais ricas é duas a três vezes maior do que se pensava.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>A Desinformação</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">3. O relatório do Fórum Económico Mundial evidencia, pela primeira vez, a ameaça crucial do papel da desinformação.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Numa noção simples, a desinformação consiste no uso de um conjunto de técnicas e práticas de comunicação e de informação de massas, com o propósito de influenciar de forma determinante a opinião pública, utilizando dados falsos, escondendo ou falsificando factos. Um processo de manipulação do pensamento e acção das pessoas, tendo em vista fins concretos como o enviesamento de resultados eleitorais.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com as novas tecnologias de informação e agora ainda com a Inteligência Artificial (IA), a velocidade de circulação da desinformação quase não encontra limitações tecnológicas. Uma questão-chave para o ano em curso, rico na ida às urnas, em muitas partes do Mundo, quer a nível local, nacional ou por blocos de países como serão as eleições de Junho da União Europeia.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Portugal, em 2024, não escapa a nenhum deste tipo de eleições. Marca presença em eleições regionais – Açores (e a Madeira?), nacionais – Legislativas e Europeias. Só escapam mesmo as Presidenciais.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mas muitos são os países (76 ao todo neste momento, mais a União Europeia) em que os eleitores serão chamados a se pronunciar. Países dos maiores em população, como o Bangladesh, Índia, Indonésia, México, Paquistão, Reino Unido, Rússia vão a votos e quase no final do ano os EUA. Se todas as eleições têm o seu peso, as dos EUA terão uma importância relevante, pois podem trazer ajustes profundos na configuração da geopolítica mundial.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O Fórum Económico de Davos prestou grande atenção a esta situação, aliás, na base do relatório antes referido que aponta a desinformação como um dos maiores riscos para a humanidade: “o uso generalizado da desinformação e as ferramentas para disseminá-la podem minar a legitimidade dos governos eleitos”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O Fórum de Davos não se cingiu apenas a esta temática da desinformação, até porque o tema central foi o de “reconstruir a confiança” num Mundo marcado por conflitos, guerras e crises bem diversas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Difícil em situação tão complexa, restituir confiança aos povos e até me permito ter sérias dúvidas de que muitos dos presentes estariam seriamente apostados nisso, pois em todos estes encontros, muitas presenças se devem a um jogo e a um aproveitamento de “negócios” de todo o género, nomeadamente políticos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A crise mundial é de facto profunda, complexa e perigosa e, em certos domínios, como o ambiente, segundo vários cientistas o referem, os riscos podem estar a aproximar-se de “um ponto de não retorno”. Neste sentido, até acredito numa aproximação muito global ao reconhecimento do problema em teoria.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Já quanto às medidas de ataque nada de comum. Aqui, entram os interesses económicos, os negócios e a apropriação da riqueza. Basta olhar para o campo da energia, onde os desentendimentos são o dia a dia. Jogadas com os preços, nada na realização das metas de descarbonização nem mesmo para aqueles que as juram defender (veja-se a reactivação das centrais a carvão na Alemanha).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">É o caos e não um esforço de conjugação para, de facto, reduzir os riscos climáticos, hoje no topo dos riscos globais, com as situações climáticas extremas a sucederem-se, as secas rigorosas, os incêndios, a perda da biodiversidade.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>A Desigualdade</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">4. O relatório da OXFAM apresenta no resumo inicial um quadro com a quantificação das desigualdades, bem mais expressivas na economia e no social que no ambiente.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não uso os indicadores na sua globalidade. Seleccionei aqueles que, embora em número reduzido, me parecem dar uma visão bem clara das desigualdades que caracterizam o Mundo de hoje.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Fixemos estes dados:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">⦁ Se cada uma das cinco pessoas mais ricas do Planeta gastasse um milhão de dólares por dia, precisaria de 476 anos para esgotar a sua fortuna;</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">⦁ À escala planetária, os homens possuem 105 mil milhares de milhões de dólares a mais que as mulheres, ou seja, uma diferença equivalente a quatro vezes a economia dos EUA;</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">⦁ 1% dos mais ricos do Planeta possuem 43% de todos os activos financeiros mundiais;</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">⦁ 1% dos mais ricos do Planeta emitem tanto carbono como os 2/3 mais pobres da Humanidade.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Estes quatro indicadores não podem deixar-nos insensíveis perante a vida.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>A terminar</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">5. Assinale-se a tese defendida no discurso em Davos do ultraliberal Javier Milei, presidente da Argentina. “A justiça social não é justa, nem contribui para o bem-estar geral”, acompanhada de um acrescento: “a redistribuição não é o caminho para resolver as desigualdades”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Se a estas afirmações/teses de Milei se juntar a carta de 250 multimilionários, também defensores do capitalismo como Milei que, mais uma vez se dirigiram aos líderes mundiais, reclamando que querem pagar mais impostos a fim de combater as desigualdades, a cacofonia em Davos fica perfeita.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os liberais portugueses têm de se decidir se fazem campanha eleitoral na linha de Milei ou na linha dos 260 ultra-ricos que defendem o aumento de impostos para si próprios, na linha da OXFAM que defende uma maior taxação das grandes fortunas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i><b>O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.</b></i></div>André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2883220740459702766.post-68052935397322360812024-01-25T14:18:00.000+00:002024-01-25T14:18:22.864+00:00Uma "líder autocrática" que usa o BCE como "trampolim": funcionários do banco central falam mal (e muito mal) de Lagarde<br /><i><b>Por<br />CNN/TVI notícias</b></i><div><br /><br /></div><div><a aria-label="Christine Lagarde (EPA)" class="image_switchModeLinkContainer" data-t="{"n":"destination","t":14,"b":1,"c.t":14}" href="https://www.msn.com/pt-pt/noticias/ultimas/uma-l%C3%ADder-autocr%C3%A1tica-que-usa-o-bce-como-trampolim-funcion%C3%A1rios-do-banco-central-falam-mal-e-muito-mal-de-lagarde/ar-BB1h8SZP?ocid=msedgntp&pc=U531&cvid=ab1c9c6c8ddd4fdea0c9af401509f158&ei=88&fullscreen=true#image=2" style="display: inline !important; font-family: "Segoe UI", "Segoe UI Midlevel", sans-serif; font-size: 17px; position: absolute; right: 16px; top: 16px; z-index: 1;" target="_self" title="Ecrã inteiro"><br /></a><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7J5ohCfJYmkG5z75vFL1Bp2PqI7LmmXT8DmSAYxqFozeMKGyvySN1DM8QDCWHUfnc8N8NWQjb7zinRLXp8svmJgVR5z1ZZTrap_IHHoEyarbf3CX2Tmb8MKqXTI8wDUVKyJJkI7n5wRCWWk_shUlISqolNRMxPhEh8KTj0T4PuSBNKMmSOQ03gBUe5MNq/s1000/CHRISTINE%20LAGARDE%2001.webp" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="701" data-original-width="1000" height="280" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7J5ohCfJYmkG5z75vFL1Bp2PqI7LmmXT8DmSAYxqFozeMKGyvySN1DM8QDCWHUfnc8N8NWQjb7zinRLXp8svmJgVR5z1ZZTrap_IHHoEyarbf3CX2Tmb8MKqXTI8wDUVKyJJkI7n5wRCWWk_shUlISqolNRMxPhEh8KTj0T4PuSBNKMmSOQ03gBUe5MNq/w400-h280/CHRISTINE%20LAGARDE%2001.webp" width="400" /></a></div><br />Christine Lagarde assumiu a presidência do Banco Central Europeu em novembro de 2019 mas ainda não convenceu os funcionários do banco central, a avaliar pelos resultados de um inquérito aos trabalhadores do BCE. De acordo com o <a href="https://www.politico.eu/article/christine-lagarde-makes-poor-european-central-bank-staff-survey/">POLITICO</a>, que diz ter tido acesso aos resultados do inquérito, a maioria (50,6%) dos inquiridos classificou os primeiros quatro anos do mandato de Lagarde como "mau" ou "muito mau".</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O inquérito, que contou com a participação de 1.159 dos cerca de 4.500 funcionários do BCE, revela uma insatisfação generalizada com a gestão da ex-presidente do Fundo Monetário Internacional, acusando-a de se envolver demasiado nas questões políticas, descurando as preocupações económicas, nomeadamente <a href="https://cnnportugal.iol.pt/bce/christine-lagarde/o-que-vai-acontecer-aos-juros-so-ha-uma-certeza-as-subidas-pararam-mas-ainda-e-cedo-para-o-bce-se-comprometer-com-descida-de-taxas/20231214/657a025fd34e371fc0baeae9">a subida galopante da inflação</a>, e de utilizar o BCE como "trampolim" para regressar à política.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><h3 style="text-align: center;"><b>“Mario Draghi estava lá para o BCE enquanto o BCE parece estar lá para Christine Lagarde”, comparou um funcionário do banco central, citado pelo POLITICO, que assinala o desfasamento entre Lagarde e o seu antecessor, o ex-primeiro-ministro italiano. De acordo com a mesma fonte, na altura em que dirigia o banco central, apenas menos um em cada dez inquiridos classificou Mario Draghi como "muito mau" ou "mau", em contraste com 55% dos inquiridos que classificaram o seu desempenho como "muito bom" ou "excelente".</b></h3><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Entre as respostas dos inquiridos, o POLITICO salienta um dado que considera “preocupante”: o facto de mais de metade dos funcionários admitirem que o BCE poderá não ser capaz de assegurar o regresso à estabilidade dos preços. Um dos funcionários inquiridos acusa o banco central de se “concentrar em temas que ultrapassam as suas competências, num período em que a inflação atingiu o nível mais elevado da história da União Europeia". Outros salientam o facto de o BCE ter tomado partido no conflito armado entre Israel e o Hamas ou denunciam as viagens "excessivas" de Lagarde para fins não relacionados com as atividades do banco central.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ainda em comparação com o seu antecessor, o POLITICO assinala o facto de Lagarde ter tido uma classificação muito pior do que Mario Draghi em relação às questões internas, com quase três quartos dos inquiridos a manifestarem descontentamento com as condições de trabalho e salariais, nomeadamente o facto de os aumentos salariais não acompanharem a subida da inflação.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><h3 style="text-align: center;"><b>“Christine Lagarde é geralmente apontada como uma líder autocrática que não atua necessariamente de acordo com os valores que proclama”, refere-se num relatório do IPSO, o maior regulador independente da imprensa no Reino Unido. De acordo com o POLITICO, o relatório sublinha a insatisfação dos trabalhadores com a aparente dualidade de critérios de Christine Lagarde, apontando como exemplo o facto de encorajar os funcionários a falarem, mas depois repreender os mesmos se partilharem abertamente as suas preocupações.</b></h3><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O POLITICO assinala ainda um outro dado “surpreendente” relacionado com o facto de nem os funcionários do sexo masculino nem os do sexo masculino estarem satisfeitos com os esforços de Lagarde em matéria de diversidade, com ambos os sexos a preferirem as políticas do seu antecessor, que introduziu pela primeira vez quotas de género no banco central. Embora a maioria tenha concordado com os objetivos quando Draghi levantou a questão, a implementação dos mesmos critérios por Lagarde é descrita como “contraditória e discriminatória”. "As questões de género dividiram seriamente o pessoal", observou um dos inquiridos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Confrontada com estes resultados, uma porta-voz do BCE disse ao POLITICO que as respostas não correspondem à verdade e lembra que a conjuntura atual exigiu outras responsabilidades à presidente do banco central. “A presidente e o conselho de administração estão totalmente focados no seu mandato e implementaram políticas para responder a eventos sem precedentes nos últimos anos, como a pandemia e os conflitos em curso.”</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Apesar do descontentamento geral, os resultados mostram que Lagarde conta com o apoio dos funcionários em alguns domínios em específico, como o facto de incluir a proteção ambiental no mandato do BCE.</div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i><b>Ilustração: Google Imagens</b></i></div>André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2883220740459702766.post-37309345987259054142024-01-23T10:12:00.001+00:002024-01-23T10:12:38.001+00:00Conflitos funcionais e disfuncionais<div><br /></div><h2 style="text-align: justify;"><b>Sobretudo as organizações de natureza política são muito sensíveis às análises que lhes são feitas. Sempre que alguém tece um comentário, referencia uma visão sobre um qualquer assunto ou projecto, abespinham-se e tratam logo de menosprezar fechando-se no seu casulo. Mor das vezes atacam sem serenidade, arrastando consigo alguma comunicação social que tanto aprecia "fazer sangue". Existe uma cultura nesse sentido que peca por uma ausência de pensamento sobre as dinâmicas organizacionais.</b></h2><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigTWeGg3YppcT9RR3CQMe3xI6z9PboFxqJ6px3o9HQp7vdgpZd0z7VLZxdemqyJcnAWPNgwWLOVDDH4lKIC2Bcbh4KofwRLY_3dHxwnT7zHSQ6yYskl46juzBB7bZChZev7aUzooI2gCIgMVz1S8j8G-EtsFbpofNPIP5C8zJycIZ73G3zPe7uXPluxQa8/s400/PUZZLE.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="207" data-original-width="400" height="208" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigTWeGg3YppcT9RR3CQMe3xI6z9PboFxqJ6px3o9HQp7vdgpZd0z7VLZxdemqyJcnAWPNgwWLOVDDH4lKIC2Bcbh4KofwRLY_3dHxwnT7zHSQ6yYskl46juzBB7bZChZev7aUzooI2gCIgMVz1S8j8G-EtsFbpofNPIP5C8zJycIZ73G3zPe7uXPluxQa8/w400-h208/PUZZLE.jpg" width="400" /></a></div><br />Há um livro de Spencer Johnson, "Quem mexeu no meu queijo", que narra uma fantástica parábola, labiríntica, sobre a analogia entre os ratos em busca dos deliciosos queijos, com a vida real, mormente a corrida ao emprego, ao dinheiro, a afirmação pessoal, enfim tudo o que é desejável. Em síntese, tal como os ratos na busca do queijo, as pessoas também correm atrás dos "queijos" da vida! Há, claramente, uma semelhança com a baixa política.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ninguém se atreva a mexer no seu queijo. Quando isso acontece o caldo entorna-se. No exercício da política muitos são aqueles que andam atrás do seu pedaço de queijo. Por diversas razões, não importa enunciá-las. E tudo começa muito antes da eleição, através da "contagem das espingardas" (os meus apoiantes e os outros), movendo influências e prometendo bons queijos para todos. Uma vez instalados no seu habitat, a serenidade tendencialmente apaga-se, o espírito organizacional de mudança emudece e guardar o seu espaço e o seu queijo tornam-se objectivos fundamentais. Facilmente se esquecem do dia que, solenemente, assumiram ser "homem de consensos e de diálogo".</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não devia ser assim, mas é o que é! Temos de surfar nas ondas da realidade. Trago também em memória a metáfora de Arthur Schopenhauer (1788/1860) sobre o dilema dos porcos-espinhos, que se "empurravam uns contra os outros para se defenderem do frio e do medo". Magoando-se, claro, pelos espinhos de uns com os outros, o que levou Alfredo Carneiro, editor do netmundi.org (2018), a narrar que "as necessidades sociais (...) impulsionam os "homens porcos-espinhos" a se reunirem, apenas para se repelirem devido às inúmeras características espinhosas e desagradáveis de suas naturezas. A distância moderada que os homens finalmente descobrem é a condição necessária para que a convivência seja tolerada (...)". Acentuo: "distância moderada" ou, melhor sublinhando, <i><b>distância tolerada</b></i>! </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Numa aproximação ao exercício da política, eu diria que a prática tem muito de comparável com a história dos ratos e porcos-espinhos. Seria sensato, bom para as comunidades, para a sã convivência dos membros e o cumprimento da finalidade e missão das organizações, atender às características e diferenças dos membros, percebendo que em todas elas, as de natureza política, as empresariais e outras, vivem e afirmam-se pela importância do conflito. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Desde que o conflito tenha uma natureza funcional, ele acaba por ser determinante na evolução das organizações. O pensamento único, a subjugação ou o medo da própria sombra, esses não. Discordar, dentro da organização ou fora dela é, portanto, saudavelmente necessário quando a dissonância é gizada numa dimensão inteligente. Muito diferente é o conflito disfuncional, aquele que percorre qualquer um dos sentidos: do topo da pirâmide organizacional (o vértice estratégico) para os membros de base, ou desta para o topo. É desgastante e ruinoso quando o topo assume ou imagina que outros estão a tentar roubar-lhes o queijo. Por aí demonstram a sua própria fragilidade; da mesma forma, que se torna nefasto quando o centro operacional (os membros de base) geram desajustadas e complexas situações que vão corroendo, intencionalmente, a finalidade e a missão de uma dada organização. É por isso que são necessários líderes e não chefes!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não esqueçamos que vivemos numa era de conflitos em todas as áreas da vida. Nas organizações também. Onde existem pessoas existem conflitos de ideias, de valores, de convicções, de estilos e de padrões. São aspectos que não podem ser evitados sob pena de anularem as ideias e a própria criatividade. Evitar pode significar gerar uma atmosfera de insegurança. Portanto, só resta saber gerir os conflitos, transformando os desacordos em oportunidades visando a melhoria do desempenho. E isso significa criar um clima adequadamente aberto, o que faz com que se utilizem os talentos e os recursos de cada pessoa. Negá-los, apenas porque sim, porque não existe empatia, constitui um grave erro estratégico.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Isto é conceptualmente básico. Na política ter-se a sensação que alguém deseja roubar o queijo, e que, por isso, necessário se torna proceder à morte do rato, eu diria que tal coloca em causa o êxito organizacional. O topo da hierarquia deve sobretudo procurar a homeostasia, isto é, um equilíbrio dinâmico entre as partes do sistema. É um problema de escuta e não de tentar saber quem anda a querer mexer no seu queijo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b><i>Ilustração: Google Imagens</i></b></div>André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2883220740459702766.post-90957962905480459572024-01-18T09:42:00.000+00:002024-01-18T09:42:31.800+00:00Os silêncios e os deveres de cidadania<p> </p><h2 style="text-align: justify;"><b>Tem muitos anos quando adquiri um equipamento de áudio da marca "Marantz". O slogan cativou-me: "Só o silêncio é mais puro". De facto, hoje, mais do que nunca, gosto do silêncio porque nele descubro a ordem das coisas por onde o pensamento navega e, assim sendo, sinto-o terapêutico nesta absurda loucura na qual vivemos, sem que a possamos travar. O silêncio é puro e, para mim, introspectivo. No silêncio encontro o som do pensamento!</b></h2><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinFbqShC1dpXbSt9I0YheFJ_vU3j23qtv8BO2kDO7fKvYlZX2OifW_V-xBtMy8d6I8k6a2qEiLIhD_2jeLAXSd4ilUh7gxsdN_D6P-9yhKNcRDAML3Iolb90FzDKkGXZlFqqVDln6X7xwqyVpHJiTGSwDdnEaPf96wzCM42MtMyYilqFnngHwBXtq87xVb/s960/SIL%C3%8ANCIO%2001.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="960" height="209" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinFbqShC1dpXbSt9I0YheFJ_vU3j23qtv8BO2kDO7fKvYlZX2OifW_V-xBtMy8d6I8k6a2qEiLIhD_2jeLAXSd4ilUh7gxsdN_D6P-9yhKNcRDAML3Iolb90FzDKkGXZlFqqVDln6X7xwqyVpHJiTGSwDdnEaPf96wzCM42MtMyYilqFnngHwBXtq87xVb/w400-h209/SIL%C3%8ANCIO%2001.jpg" width="400" /></a></div><br />É esse silêncio que me faz reflectir, analisar e decompor aquilo que se passa debaixo dos meus olhos de cidadão actor/espectador. Nesse vaivém dos pensamentos, questiono e descubro as respostas que deixo a maturar. Nunca publico de supetão seja o que for. O impulso raramente traz adequados retornos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mas há outros tipos de silêncio com os quais não consigo conviver. Marinado um determinado assunto, nunca me resguardo no silêncio, embora sempre de acordo com um antigo provérbio chinês que enuncia: "a palavra é prata, o silêncio é ouro." Por isso, quando escrevo, tomo por princípio que não se trata de uma verdade (única, a minha), mas que estou a ser honesto com a minha verdade. Porque há verdades e a minha é apenas uma! Não aprecio, no quadro de uma cidadania activa, o silêncio interesseiro e manobrador, por razões diversas e porque, entre tantas colateralidades, pode fazer melindrar este ou aquele, esta ou aquela instituição. O respeito pelos outros é uma coisa; bem diferente é deixar-se ficar pelas águas mornas ou nos pântanos de conveniência.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><h3 style="text-align: center;"><b>Ora bem, ao escrever sobre o Deputado Dr. Carlos Pereira e o assassinato político que lhe foi feito em directo, posicionei-me em defesa da qualidade técnica e política de quem sinto que, cabalmente, me representa. Não o fiz no quadro da Amizade pessoal que é elevadíssima. Eu sei distinguir entre o que são os valores narrados na "Carta de Princípios", neste caso do partido socialista, o trabalho realizado pelo Deputado e a amizade pessoal relativamente ao protagonista político em causa. Num dos pratos da balança coloco essa "carta de princípios" com a qual me identifico; no outro, a prática política obviamente sujeita a múltiplos olhares e interpretações. Este posicionamento constitui, para mim, o fermento da democracia. A existência de opiniões divergentes, não significa que elas sejam contra, por exemplo, uma sustentada alternativa à governação, tampouco à intenção de gerar fracturas partidárias internas com repercussões mediáticas. Se assim não se interpreta é porque, infelizmente, alguns passam ao lado dos direitos de cidadania, como se vivêssemos numa democratura. E daí os saneamentos.</b></h3><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">São estes tipos de silêncio que me incomodam. Eu diria que existe e persiste um bloqueio de natureza cultural na vida e vivência democráticas. São sensíveis a teoria do rebanho e a da exclusão compulsiva de quem não entra, atempadamente e de cabeça baixa, no curral. A democracia não se funda nesse princípio de "quem não está comigo contra mim está". Isso é próprio de mentes pouco sadias, eu diria, perversamente oportunistas. E eu sinto-me um cidadão não militante partidário, mas que transporta uma "carta de princípios" políticos da qual não abdico. Assistir à violação desses princípios e aos assassinatos políticos apenas porque não se gosta, embrulham-me a tolerância do meu estômago provocando uma acidez cujo refluxo é a escrita. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Há, portanto, silêncios que me são extraordinariamente úteis e outros que repudio. Ademais, sou um cidadão de pensamento livre. Quem não gosta de gente assim, que ponha na roda do prato e continue o banquete das aparências. Mas não se esqueça que quem está a pagar a factura somos todos nós.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i><b>Ilustração: Google Imagens.</b></i></div>André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2883220740459702766.post-70970697998136434302024-01-17T08:00:00.001+00:002024-01-17T08:00:00.135+00:00Terras raras, energias renováveis: uma nova dependência da União Europeia?<br /><b><i>Por</i></b><div><b><i>João Abel de Freitas, </i></b></div><div><b><i>Economista</i></b><br /><br /><h2 style="text-align: left;"><b>A transição energética e ecológica precisa de ser repensada e, no caso das renováveis, começa na mina. Caso contrário, não passa de uma grande falácia em termos ambientais.</b></h2><br /><b><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjusnwsjXDFdKUsB5gsr5gmn2gwG84PTdDe4OchiaX2cOpI_i49YxEuP5JwwJVNOD5WZVt1L90zO79Zh-6lAdSNRtDlI5Nk2YfMKCYB7fMulIhjZXxWFpR1Ohyh3X_ubMiU0dKu6Y2ipGyl0bDKMHei9Vzl-Hrl5ffFNXvWLEv5mp4rephRe14ayBpsmJ_2/s200/JO%C3%83O%20ABEL%20FREITAS%2002.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="200" data-original-width="200" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjusnwsjXDFdKUsB5gsr5gmn2gwG84PTdDe4OchiaX2cOpI_i49YxEuP5JwwJVNOD5WZVt1L90zO79Zh-6lAdSNRtDlI5Nk2YfMKCYB7fMulIhjZXxWFpR1Ohyh3X_ubMiU0dKu6Y2ipGyl0bDKMHei9Vzl-Hrl5ffFNXvWLEv5mp4rephRe14ayBpsmJ_2/w320-h320/JO%C3%83O%20ABEL%20FREITAS%2002.jpg" width="320" /></a></div><br />A importância da China</b><br /><br /><div style="text-align: justify;">1. Alguma imprensa europeia ligada à temática da energia noticiou, nos dias de Natal, que Pequim passou a colocar sérios obstáculos/proibição em situações específicas à exportação das tecnologias de mineração e tratamento das Terras Raras.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Esta decisão da China vem criar problemas agora e de futuro nomeadamente à União Europeia que é altamente dependente da importação de metais críticos, em que as terras raras se enquadram e, sobretudo, dificultar o desenvolvimento de fileiras industriais nestas áreas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Esta posição em nada contribui para relações normais diplomáticas, políticas, económicas. É preciso construir uma nova diplomacia europeia para assegurar relacionamentos credíveis (comerciais e de investimento) de longo prazo com a China.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Neste momento, funciona um impasse de contrapartida, com a Europa em perda maior até porque age sem autonomia. Nada, na Europa, em áreas críticas, se aprova sem a supervisão americana. Exemplos, casos Huawei, chips, tecnologias, etc. Esta a resposta de Pequim, bem ciente dos efeitos na desindustrialização. Mas é o ditado “amor, com amor se paga” a funcionar.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E fica espaço à pergunta. Alguém beneficia com estas guerras económicas? A curto prazo, só prejuízo. A longo, depende de quem melhor se apetrechar para reagir com vantagem. E não me parece que vá ser a Europa!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><b><div style="text-align: justify;"><b>Terras Raras</b></div></b><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">2. Por Terras Raras entende-se um conjunto de 17 metais existentes na crosta terrestre, devidamente identificados, pelas tecnologias actuais, muitas vezes associados a elementos radioactivos, como o urânio e o tório.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O valor das terras raras decorre da sua aplicação, depois de devidamente transformadas em produtos, em vários sectores das tecnologias verdes como baterias para veículos eléctricos, equipamentos eólicos e fotovoltaicos, equipamentos de toda a ordem para a economia digital (computadores, telemóveis, smartphones, etc.) e até equipamentos de defesa. Neste contexto, a sua exploração assume um elevado grau de sensibilidade.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A distribuição geográfica das reservas conhecidas de Terras Raras apresenta-se muito concentrada com predomínio para a China (60%), República Democrática do Congo e em muito menor grau Austrália e EUA.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A China é um quase monopólio na exportação de terras raras, cobalto e lítio (cerca de 90% das importações da Europa) e não tenciona partilhar esta situação a não ser em moldes por si negociados. Pelo contrário, até está a investir no reforço desse domínio no mercado mundial através de importações ou de investimentos no exterior quer na mineração, mas também na refinação e consórcios industriais como as baterias.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Quanto ao lítio, recentemente, foram identificadas, nos EUA, jazidas potencialmente importantes, embora com graus de risco de exploração ainda por afinar.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><b><div style="text-align: justify;"><b>Lei das Matérias-Primas Estratégicas</b></div></b><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">3. A Comissão Europeia apresentou, em Março de 2023, uma proposta de Lei dos Metais Críticos, no sentido de intensificar os seus esforços para garantir o acesso futuro a minérios como o lítio e o cobalto na tentativa de minorar a sua dependência do exterior e em especial da China.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Se esta lei vai ser bem-sucedida é outro problema porque avança com muito atraso como acentua Georges Rickeles, director associado do Centro de Políticas Europeias (EPC), ao afirmar: “acho que é muito claro que a China está estrategicamente preparada para a próxima economia mineira. Está preparada para a transição verde e para a era zero das emissões líquidas. E a Europa não”. Admite mesmo um atraso europeu de, no mínimo, 15 anos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Esta lei aprovada no dia 7 de Dezembro 2023 pelo Parlamento Europeu (PE) integra uma lista de 16 matérias-primas estratégicas e visa conseguir um contributo diferenciado da UE até 2030 de 10% na mineração própria, 40% no processamento e 15% na reciclagem.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No entanto, para além dos atrasos tecnológicos constatados face à China, que tem de longe a liderança mundial nestas matérias, como é costume na União Europeia, o grande problema que entrava o avanço é o da falta de meios financeiros atribuídos. E aqui surge sempre a divisão. Nada de comum em dinheiros. Dinheiro em conjunto nunca. Eurobonds ou coisa semelhante é um termo banido do léxico da UE, apesar do PE ter apontado para um Fundo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Outro aspecto de discórdia é a aceitação dos projectos comunitários pelas populações locais, preocupadas com os efeitos ambientais e sociais da exploração dos recursos. O caso do lítio em Portugal é um exemplo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><b><div style="text-align: justify;"><b>Uma situação típica do Ocidente</b></div></b><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">4. Recuando alguns decénios, a situação da China no mundo não era a de domínio tecnológico nestas áreas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os EUA e mesmo a Europa mantinham uma posição relevante nas matérias-primas estratégicas. Só que as questões ambientais começaram a ganhar relevo e a cedência fácil dos políticos europeus apoiaram a deslocalização da mineração para outras paragens. Fácil enviar o “lixo” para o mundo subdesenvolvido num processo de forma negligente ou pouco inteligente.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Tanto assim é que os efeitos desta política são hoje contestados. Rolf Kubi, director administrativo da Eurominas (associação empresarial) não deixa de se exprimir da seguinte forma: “Afinal, os painéis solares ou as turbinas eólicas não devem produzir apenas electricidade verde, mas também precisam de ser feitas de matérias-primas verdes”. E afinal a mineração das matérias-primas tem pouco de verde. É mesmo poluente.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><b><div style="text-align: justify;"><b>A Europa a caminho de uma segunda dependência energética?</b></div></b><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">5. O domínio da política energética anterior de influência alemã (Energiewende) levou à dependência do gás russo que se conhece. Parece que nada ensinou, estando a Europa a deslisar de forma leviana para uma outra dependência, a dos metais críticos e estratégicos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não será de parar para pensar e agir diferente?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ninguém advoga o abandono das energias renováveis e, por conseguinte, a solução para os metais críticos merece reflexão profunda, no sentido de se chegar a uma estratégia sustentada de colmatar as necessidades da Europa. Mas será que é uma questão resolúvel sem o estabelecimento de uma estratégia energética comum?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não estarão a ser ultrapassadas as capacidades instaladas em renováveis com todos os inconvenientes que isso acarreta, designadamente a dependência não resolvida antes apontada, mas ainda dificultando a entrada de outras fontes de energia mais seguras e de baixo carbono?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A UE, apesar de ter dado alguns passos, ainda não foi capaz de conjugar todas as fontes de energia de baixo carbono, em especial definindo o papel concreto da nuclear que é, sem dúvida, a que reúne condições para menos dependência ao nível da União Europeia. Esse equacionamento requer um novo sistema produtivo industrial e mudanças profundas ao nível da formação.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A energia é uma pedra basilar em toda a sociedade porque se liga a tudo. Sem energia voltaríamos à idade da pedra e com a energia no estado presente, em que 80% é de raiz fóssil, o aquecimento global com todos os efeitos que já vamos conhecendo começa a tornar o Planeta inabitável em várias zonas que rapidamente se vão estendendo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A transição energética e ecológica (baixo carbono) precisa de ser repensada e, no caso das renováveis, começa na mina. Caso contrário, não passa de uma grande falácia em termos ambientais. Quase tudo a reequacionar e de forma urgente. Porque não aproveitar as eleições que aí vêm para ponderar estes aspectos fortes de uma nova civilização em Portugal e na Europa? Estamos numa altura de mudança.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><b><div style="text-align: justify;"><b><i>O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.</i></b></div></b></div>André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2883220740459702766.post-3600502737157110302024-01-15T18:06:00.001+00:002024-01-15T19:11:52.632+00:00Só tem um nome: saneamento!<div><br /></div><h2 style="text-align: justify;"><b>Não dou por mal empregado o tempo que, no quadro de uma cidadania activa, ofereci ao Partido Socialista. Foram muitos anos, onde aprendi com pessoas de indiscutível valor, com o povo de todos os concelhos, onde mergulhei na política real e percebi todo o seu <i>bas-fond e</i> onde trabalhei e contactei pessoas de elevada credibilidade e notoriedade política e social. Foram anos de sucessivas angústias sobretudo porque o eleitorado fez sempre as escolhas que entendeu fazer. Afastei-me dessa luta e, hoje, nem militante sou. Valha a verdade, por aproximação a uma velha história vivida, também "meliante" nunca fui.</b></h2><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjm0DVAOz_fvKBf-fsURltIshZY4ierVMnIeDKmbuWRhjM38el7XoVJyD-1kKOP-5Ge9qfb4yoIKD_OgL2yuVYAbzcZnsetg-NtnO4Nl-pjbcKi-YLx6HujIw9FGULXsKV911LE4gBtE4yxaGMUcRVb9GjwZzvV__T_Tsp1HJv0nSRHmrjDAv-33E8mc7oR/s960/CARLOS%20PEREIRA.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="960" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjm0DVAOz_fvKBf-fsURltIshZY4ierVMnIeDKmbuWRhjM38el7XoVJyD-1kKOP-5Ge9qfb4yoIKD_OgL2yuVYAbzcZnsetg-NtnO4Nl-pjbcKi-YLx6HujIw9FGULXsKV911LE4gBtE4yxaGMUcRVb9GjwZzvV__T_Tsp1HJv0nSRHmrjDAv-33E8mc7oR/w400-h266/CARLOS%20PEREIRA.jpg" width="400" /></a></div><br />Tenho plena consciência que nem sempre estive bem, nem os grupos que integrei, com erros e estratégias que vieram, nos actos eleitorais, mostrar-se desadequados. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mas desse longo percurso, dois aspectos foram, para mim e muitos com quem privei, absolutamente fundamentais: 1º que a participação política constitui um serviço público à comunidade, nunca um emprego; 2º a defesa da qualidade em detrimento da mediocridade. Infelizmente, dois princípios que desde há muito venho a verificar um contínuo resvalar para um pantanoso espaço de mentira, aldrabice, jogos de pequeno poder, falsas unidades e descarado oportunismo. Num processo destes os melhores acabam sempre por serem afastados. Melhor dizendo, saneados. Ou, subtilmente, afastam-se porque se sentem a mais. Há uma "inteligência" subterrânea que se baseia no "quem não está comigo contra mim está" ou na lógica de "agora somos nós". Não é caso específico do PS, sublinho. No poder regional hegemónico, só por o serem é que não se notam as gravíssimas fragilidades e contradições.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><h3 style="text-align: center;"><b>Por que falo disto, perguntar-me-ão? Porque, enquanto cidadão, fiquei perplexo quando assisti, em directo, ao saneamento de um dos melhores políticos madeirenses de sempre, como cabeça de lista nas próximas eleições legislativas nacionais. O Dr. Carlos Pereira, por aquilo que tem sido na defesa da Região, pela sua extraordinária competência em sectores vitais da sociedade é muito mais respeitado entre os seus pares na Assembleia da República do que propriamente entre os que por aqui andam. Não se chega a Vice-Presidente da bancada do Partido Socialista na Assembleia da República sem um passado de reconhecido mérito. Mas é esse mérito que não é tido em conta. Porque fala, porque diz o que pensa, porque entre a qualidade e a mediocridade escolhe a primeira, logo há quem lhe "faça a folha". É triste e vergonhoso!</b></h3><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Aquele anúncio saneador (não foi o primeiro) ao terminar o Congresso foi de muito mau gosto. Não era o local apropriado, pelo que teve um significado político maior. Ininteligível. Mas analisando bem as coisas, situação que muito me constrange, não podia esperar melhor. O discurso foi indigente, cheio de generalidades e de banalidades; a história claramente apagada a avaliar pelas presenças; e, quanto ao futuro, um profundíssimo deserto de ideias no contraponto com "48 anos de partido único". Não era o momento para ler um putativo programa de governo, mas de marcar o terreno da alternativa, mostrando a existência de pessoas (quadros) e as concomitantes linhas de actuação ao encontro de uma sociedade de pensamento livre, não dependente, equilibrada e culta. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Isto preocupa-me enquanto cidadão. Resta-me continuar a votar, enquanto dever de cidadania. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i><b>Ilustração: Google Imagens.</b></i></div>André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2883220740459702766.post-71472155242836549562024-01-13T15:08:00.002+00:002024-01-13T15:08:45.960+00:00A agonia feia do PSD<div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div style="text-align: justify;"><b><i>Por</i></b></div><div style="text-align: justify;"><b><i>Miguel Sousa Tavares</i></b></div><div style="text-align: justify;"><b><i>Expresso</i></b></div><div style="text-align: justify;"><b><i><br /></i></b></div><h2 style="text-align: justify;">Eis a dura realidade: disse mais Pedro Nuno Santos em 20 minutos de discurso sobre políticas alternativas e preocupações de futuro do que o PSD em oito anos</h2><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikHv6dZK4RgpNshIna-0h0-Z2HRSFyQyVN6wYAbfVleg36PV7b40NL72AJ0nATYpM0Sfbw6TjpLFxTmPFevIAMOi0eJ4OIhHB91Zzdp1Iup1LyK0_Le_da5P1VuEkf2nI_HrCE6RD4WhOWlqaEoC_n_NkK9hl4P-eErgMmI6xsHDSOcWIudf5T9KjH1pDC/s433/MIGUEL%20SOUSA%20TAVARES%2001.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="350" data-original-width="433" height="259" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikHv6dZK4RgpNshIna-0h0-Z2HRSFyQyVN6wYAbfVleg36PV7b40NL72AJ0nATYpM0Sfbw6TjpLFxTmPFevIAMOi0eJ4OIhHB91Zzdp1Iup1LyK0_Le_da5P1VuEkf2nI_HrCE6RD4WhOWlqaEoC_n_NkK9hl4P-eErgMmI6xsHDSOcWIudf5T9KjH1pDC/s320/MIGUEL%20SOUSA%20TAVARES%2001.png" width="320" /></a></div><br />O PSD está fora do Governo há oito anos e, dizem as sondagens e a percepção política, muito provavelmente vai continuar fora depois de 10 de Março. É demasiado para um partido que, mais do que qualquer ideologia identitária, mais do que qualquer filiação numa família política, tem, na sua natureza e no seu historial, a conquista do poder, a governação do país, como objectivo principal. Ao contrário do PS, do PCP e mesmo do CDS, o PSD não tem parentesco reconhecido nem fidelidade ideológica reconhecível. Alguém disse um dia que o PSD era o mais português dos partidos portugueses, com uma penetração social, etária e geográfica onde se podiam acolher todos os eleitores. Um partido nascido não para preencher um espaço político vazio mas para apresentar uma agenda essencialmente centrada na resolução de problemas concretos e apostado numa boa governação. Isso fez dele desde sempre um partido vocacionado para governar ou a alternativa real e permanente ao poder do PS: esteja no Governo ou na oposição, a mensagem-chave do PSD foi sempre essa — a alternativa. Foi isso que fez o sucesso eleitoral — para muitos então inviável — da AD de Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Gonçalo Ribeiro Telles. Num contexto histórico em que parecia só haver uma solução à esquerda — com a esquerda civil e militar — e com uma Constituição que reclamava de qualquer Governo um “caminho para o socialismo”, a AD soube romper com o colete de forças estabelecido e impor-se como uma alternativa — no campo político, no campo económico e na vontade de transformação do país. Subscreva-se ou não o ideário político e o caminho seguido então, a AD de 1979 foi uma revolução dentro do regime. E a saúde da nossa democracia teria sido bem pior sem essa revolução.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mas passaram-se muitos anos desde então. Olhamos para os homens e mulheres da AD de então — como poderíamos olhar para a composição da Assembleia da República à época — e, para aqueles que se lembram, é impressionante e assustadora a comparação. Mas esse não é um problema específico do PSD nem sua culpa exclusiva: o nível dos agentes políticos de hoje, quer em qualidade quer em quantidade, é infinitamente pior do que foi na década seguinte ao 25 de Abril e genericamente pior do que foi daí em diante. Várias razões contribuíram para isso, mas nenhuma tanto quanto o sentimento popular de eterna desconfiança, de suspeição permanente e mesmo de pura e deslocada inveja. Da imprensa à justiça, dos jornais aos cafés, os políticos são hoje vistos quase como assaltantes do poder, alguém que, por definição, está ali não para servir o país mas a eles próprios, agarrados a lugares cheios de mordomias e vencimentos altíssimos — uma extraordinária mentira que nenhuma maioria parlamentar se atreve a desfazer. Se, por um lado, me pergunto muitas vezes quem é que ainda quer fazer carreira política ou governar o país, por outro lado, pergunto-me também se os portugueses gostariam antes de viver sem Governo nem políticos eleitos, em democracia directa, legitimada nas redes sociais.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Todos foram, pois, desertados dos melhores: dos melhores quadros, dos melhores deputados, dos melhores governantes. Mas o PSD, talvez porque, sendo um partido de poder, há tempo demais está afastado dele, parece ter sido mais abandonado do que todos os outros. Basta comparar a AD de então com a agora ressuscitada nominalmente: Montenegro é, obviamente, uma sombra de Sá Carneiro, e não é por o invocar todas as manhãs que o seu espírito o iluminará; Nuno Melo não se compara a um Amaro da Costa ou Lucas Pires, e, tendo sido um bom deputado na AR, preferiu depois o conforto de Bruxelas do que o desconforto da travessia do deserto, na oposição — aliás, como Paulo Rangel, que preferiu abdicar de um futuro que parecia brilhante no PSD para se acolher também a Bruxelas, onde, tal como Nuno Melo, apenas se distinguiu por fazer política interna à distância no Parlamento Europeu, ambos tão obcecados na sua raiva aos governos do PS daqui que por vezes nem se davam conta de que era o país que atacavam e não o seu Governo; e, enfim, Gonçalo da Câmara Pereira, que Montenegro se lembrou de ir buscar ao baú de memórias do PPM, comparado com Gonçalo Ribeiro Telles, não passa de um artista de variedades. Não é apenas por culpas alheias e razões comuns a todos que o PSD viu afastar-se tanta gente de valor, como Jorge Moreira da Silva, para citar apenas um caso gritante de desperdício. Não é por acaso que, no recente congresso ou na apresentação da nova AD, o PSD tenha recorrido aos que considera glórias do seu passado longínquo ou mais próximo, para os exibir nas primeiras filas. Porque, na ausência de outros que o país reconheça, o partido propõe-se enfrentar o futuro com a gente do passado — não para governar, porque já estão reformados, mas para avivar memórias que têm por boas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Esse é outro ponto: porque não tem ideias para o presente nem qualquer visão de futuro, o PSD vive a invocar memórias. E, às vezes, desastradamente: ao contrário do que quer imaginar, o país não guarda boas memórias de Cavaco Silva — basta recordar os índices de popularidade com que saiu de Belém e o imenso suspiro de alívio que se escutou então, desde Alfândega da Fé até à ilha do Corvo. E os portugueses também não guardam, ao contrário do que eles supõem, gratas memórias do Governo de Passos Coelho: uma coisa é a simpatia de que ele, pessoalmente, gozava ou a justiça histórica de reconhecer que teve de governar com o programa da troika e toda a brutalidade que isso implicava; outra coisa foi a sua aposta de ir ainda “além da troika”, de empobrecer todos gloriosamente, as centenas de milhares de despedidos, as empresas falidas, todas as jóias da Coroa vendidas ao desbarato, um aeroporto transformado em palco de famílias destroçadas, despedindo-se dos jovens, que abandonavam “a sua zona de conforto”. Ninguém quer reviver esses tempos, e o PSD tem obrigação de ter qualquer coisa de infinitamente diferente e melhor para propor.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mas, justamente, e esse é o ponto essencial: não tem. É inacreditável como é que um partido que esteve oito anos na oposição, que disse e repetiu estar pronto para governar em qualquer altura, afinal não está. Não tem um “Governo-Sombra” ou alguém que se tenha destacado em qualquer área de modo a podermos adivinhar como será um Governo seu; não tem nenhum esboço de programa de Governo que permita comparar alternativas para cada sector ou para cada problema; não tem sequer uma meia dúzia de ideias claras para o futuro do país que possam levar os eleitores a perceber a diferença. Na oposição, o PSD passou a vida a denunciar os “casos e casinhos” que atormentaram o Governo, mas a isso pareceu ter-se resumido toda a sua oposição: fora dos “casos e casinhos” alheios, o partido nunca lançou um caso, uma causa, uma proposta de solução própria para problemas concretos. E mesmo agora, em plena campanha eleitoral, toda esta AD, inspirada em Montenegro, acha que lhe basta atacar o PS e a sua governação para seduzir os eleitores. Que lhe basta reclamar do caos na Saúde, da falta de professores nas aulas ou da falta de casas no mercado, sem ter de apresentar alternativas ou soluções próprias. E mesmo naquelas áreas em que historicamente o PSD e a antiga AD se destacaram e lideraram, como no Ambiente, não há hoje nada senão memórias. Ribeiro Telles, Carlos Pimenta, Macário Correia, todos eles lançaram as bases de uma política ambiental visionária, que o tempo e os interesses foram depois corroendo aos poucos. Mas que é hoje mais premente que nunca, com a transformação energética, as políticas de descarbonização, as opções agrícolas e urbanísticas, num quadro de uma dramática falta de água. Tudo preocupações a que os socialistas sempre foram e continuam alheios e indiferentes e que, todavia, em termos eleitorais, poderiam marcar uma diferença e atrair eleitorado jovem ou esclarecido. Mas este é apenas um exemplo daquilo que o PSD podia ter estado a fazer e não fez para se apresentar ao país como uma alternativa real. Eis a dura realidade: disse mais Pedro Nuno Santos em 20 minutos de discurso sobre políticas alternativas e preocupações de futuro do que o PSD em oito anos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia</div>André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2883220740459702766.post-88253023571098010332024-01-08T18:04:00.004+00:002024-01-08T18:04:51.799+00:002024<p> </p><h2 style="text-align: justify;"><b>Depois da "festa" a realidade. Após uma certa embriaguez que as circunstâncias, rotineiramente, a todos envolve, Janeiro fora regressamos à sequência do dia-a-dia, para a maioria, à lamúria das insuficiências que o Natal, de uma ou outra maneira, esbateu. Já aqui escrevi sobre a minha contida desilusão face ao caminho tortuoso, esburacado e minado que os senhores do mundo nos obrigam a trilhar. Vive-se um tempo de descrença e de pavor, de ausência de referências que nos embalem para as palavras "acreditar e esperança", que rejeite seres mais dados ao conflito do que ao sentimento humanista. E o conflito não está apenas nas guerras! Utopia, dir-me-ão! Só que a utopia é um caminho que se faz de sobressalto cívico, nunca de silêncios. A utopia, como dizia Pirri a Galeano, está lá, ao longe, por isso serve para caminhar. Por isso, caminhemos.</b></h2><div><b><br /></b></div><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5MtltsYe2zDg9sl4ajydCbfw5zy3UanlylTuPjlVYaFlPISgCZ0Hw2cycJoNVZrHt_sFbpj2G6WblvbZnVmLat5957rNXtf-3dia3jI9JagWvsjYq-HqXN7Aa-1-gqB7pQkMmhU222jq5zx-vvafKgEttZa23zR1SyDQdXRuanPi9dtqCySHlvpMvDfE4/s1280/PALAVRA%20DENTRO%20DA%20PALAVRA%20ESCOLA.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5MtltsYe2zDg9sl4ajydCbfw5zy3UanlylTuPjlVYaFlPISgCZ0Hw2cycJoNVZrHt_sFbpj2G6WblvbZnVmLat5957rNXtf-3dia3jI9JagWvsjYq-HqXN7Aa-1-gqB7pQkMmhU222jq5zx-vvafKgEttZa23zR1SyDQdXRuanPi9dtqCySHlvpMvDfE4/w400-h225/PALAVRA%20DENTRO%20DA%20PALAVRA%20ESCOLA.jpg" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">Há muitos silêncios por aí. Há muitas colunas vergadas pela obediência, muitas dependências intencionalmente criadas, muitos braços caídos e muitas silenciosas lágrimas vertidas por mil e uma razões. E o silêncio mata, lenta mas seguramente, a sociedade. A ausência de pensamento sobre tudo quanto nos rodeia, a capacidade de perceber, interpretar e de cruzar a(s) realidade(s), a insuficiência de sentido crítico joga sempre a favor daqueles que, na esteira de José Régio, vendem o seu produto:</div><p></p><i><b>"Vem por aqui" — dizem-me alguns com olhos doces,<br />Estendendo-me os braços, e seguros<br />De que seria bom se eu os ouvisse<br />Quando me dizem: "vem por aqui"!<br />Eu olho-os com olhos lassos,<br />(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)<br />E cruzo os braços,<br />E nunca vou por ali...<br /></b></i><b><i>(...)"</i></b><br /><p style="text-align: justify;">É essa consciência e esse sobressalto que desejaria assistir, paulatinamente, em 2024. Tudo menos a gritaria de comentadores travestidos de qualquer coisa e de uma comunicação social descredibilizada porque sempre atrás do anormal. </p><p style="text-align: justify;">Difícil, eu sei. No ano dos 50 de Abril, onde a verdadeira Escola pouco deu na perspectiva de seres humanos conscientemente libertos através de uma superior qualidade da mente, não será demais augurar que os professores se soltem da rigidez do manual, no quadro de uma formação global, eu diria cultural, que jamais pode ser conseguida através do ciclo de verbos: debitar, fixar, responder, avaliar, passar ou chumbar. A aprendizagem da vida não está nos manuais da escola, é muito mais complexa, e repetir o passado apenas poderá conduzir à mentalidade que, genericamente, nos caracteriza e, aos poucos, à morte da Democracia. Aliás, por todo o lado, é sensível o assalto aos mais elementares direitos humanos. Sempre através da caça do descontentamento e das concomitantes palavras doces e olhares inocentes que não traduzem as intenções mais profundas.</p><p style="text-align: justify;">Bom 2024!</p>André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2883220740459702766.post-88011442002546993972023-12-28T16:06:00.000+00:002023-12-28T16:06:02.863+00:00Nuclear e energias fósseis<br />Por<br /><a href="https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/author/joao-abel-freitas-economista/">João Abel de Freitas, </a><br /><a href="https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/author/joao-abel-freitas-economista/">Economista</a><div><br /><h2 style="text-align: justify;"><b>A energia nuclear é reconhecida, pela primeira vez, como fazendo parte da solução na luta contra o aquecimento global num documento final de uma COP. Um marco importante e um resultado merecido pelas diplomacias dos EUA e França. </b></h2><br /><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQDg5mG7L9h3SbP25FrBOe5ldoOi0V9Nj7yB8K3o08sCCOQQPxlaAWc4Jdtd1V4oZZsg5sjk1hPd0JJI26IIM1skmaj31-Ivzqu_HFxT8mM3wdqeva1wzWhF5AUGQCCu5cu6ZLHtLvJmk8MoxIOyVl4F91Q_SWf2R6OwU39wFZH7zUofHRXKHqMtkNjuhM/s200/JO%C3%83O%20ABEL%20FREITAS%2002.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="200" data-original-width="200" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQDg5mG7L9h3SbP25FrBOe5ldoOi0V9Nj7yB8K3o08sCCOQQPxlaAWc4Jdtd1V4oZZsg5sjk1hPd0JJI26IIM1skmaj31-Ivzqu_HFxT8mM3wdqeva1wzWhF5AUGQCCu5cu6ZLHtLvJmk8MoxIOyVl4F91Q_SWf2R6OwU39wFZH7zUofHRXKHqMtkNjuhM/w320-h320/JO%C3%83O%20ABEL%20FREITAS%2002.jpg" width="320" /></a></div><br />A COP28 aprovou por unanimidade uma declaração final que aponta para a “transição dos combustíveis fosseis nos sistemas energéticos, de forma justa, ordenada e equitativa, acelerando a acção nesta década crucial, de forma a alcançar a neutralidade carbónica, em linha com as recomendações científicas” e, pela primeira vez, o papel da energia nuclear no clima é reconhecido oficialmente nesse mesmo documento.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><b><div style="text-align: justify;"><b>A COP28 e as suas falácias</b></div></b><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">1. O abandono dos combustíveis fosseis…! Palavras a tilintarem agradavelmente e com a aparência de boas medidas, só que não passam de meras falácias, direi mesmo, de um embuste, pois se situam em contradição perfeita com as práticas em curso, em que somas enormes de dinheiro estão a ser investidas no gás natural, petróleo e carvão, mesmo nos países signatários.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O presente de Natal chegou, num belo embrulho, mas oco por dentro! Repito, sem radicalismos. Estamos perante um documento aprovado na COP 28 que semeia ilusões, um verdadeiro logro no que toca às energias de origem fóssil.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Dois ou três exemplos entre muitos. A Chevron, um dos grandes grupos mundiais de energia, especialmente petróleo, com sede nos EUA, avança com 53 mil milhões de dólares na aquisição de uma empresa especializada em fracking. O fracking, como se sabe, é uma técnica de perfuração para exploração de gás de xisto que contamina os lençóis freáticos, consome elevada quantidade de água, produz elevada quantidade de gás de estufa e está provado que, em certas circunstâncias, pode desencadear efeitos sísmicos e doenças graves como o cancro.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A ExxonMobil <a href="https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/nuclear-e-energias-fosseis/#_ftn1">[1]</a> também está a perfurar os subsolos do Canadá e Austrália na procura de gás e petróleo de xisto, prevendo investir, só na Austrália, a quantia de 50.000 milhões de dólares e não nos podemos esquecer que o governo do Reino Unido já manifestou por várias vezes, recentemente, a intenção de reiniciar as perfurações no Mar do Norte para a exploração de petróleo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A tudo isto há a juntar os milhões e milhões de subsídios que, no Mundo, são concedidos, sob todas as formas, para que estes grandes grupos energéticos continuem a explorar os combustíveis fósseis e ainda que esses grupos pensam o petróleo e o gás com futuro a muito longo prazo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Nada disto é compatível com a declaração subscrita apesar do pouco que diz.</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">2. Os combustíveis fósseis continuam a representar 82% do consumo mundial de energia primária e, em 2023, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), foi atingido o pico máximo de consumo de carvão no Mundo e para 2024 antevê-se um recorde na produção de petróleo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O aumento do consumo de carvão está centrado na Ásia onde a Índia e a Indonésia apresentam crescimentos acima de 8% e a China, o maior consumidor mundial com taxas de crescimento da ordem dos 4,9%, embora com um programa a prazo entre renováveis e nuclear para ir substituindo as centrais a carvão. A Índia, pelo contrário, tem grandes projectos para continuar a implantar centrais a carvão.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Acrescente-se que este ramalhete fica perfeito quando o ministro alemão das finanças tem vindo a solicitar, a nível da UE, o abandono da meta de eliminação gradual do carvão até 2030, porque a Alemanha não consegue desligar as suas centrais a carvão, entre elas as 26 que accionou, aquando da crise do gás russo, usando linhite, em muitas delas, um tipo de carvão de fraca qualidade, mais nocivo em termos de gás com efeito de estufa.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">3. Há quem tenha uma visão mais suave e se dê por muito satisfeito porque o acordo acrescentou ao carvão que já vinha de antes, o petróleo e o gás natural, apesar de tudo ter ficado no vago e sem qualquer carácter de obrigatoriedade.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E o mais grave é que embora alguns, eventualmente bem-intencionados em avançar, não tinham argumentos porque faltavam as medidas sustentadas para implementar essa substituição.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O que é que significa anunciar o triplicar das energias renováveis até 2050, como se afirmou? Como se faz no terreno? Nada esboçado. Portugal também alinhou nessa onda. Imagino algumas autoestradas portuguesas ocupadas por painéis fotovoltaicos!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>O papel da energia nuclear contra o aquecimento global finalmente reconhecido</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">4. Pela primeira vez, a energia nuclear é reconhecida como fazendo parte da solução na luta contra o aquecimento global num documento final de uma COP.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em minha opinião, é um dos poucos passos positivos a realçar na COP28. Um marco importante e um resultado merecido pelas diplomacias dos EUA e França, que há anos trabalham para passar esta ideia nos grandes eventos internacionais e, finalmente, conseguiram o registo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Macron (presidente de França) e John Kerry (representante americano à conferência) tiveram intervenções frontais na COP28 sobre a nuclear, afirmando este último: “a realidade é que não podemos alcançar a neutralidade de carbono até 2050 sem a nuclear”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Também 22 países na COP 28 se pronunciaram pela nuclear, mas caíram na armadilha de imitar os defensores das renováveis afirmando que vão triplicar a capacidade existente até 2050, também sem projectos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Este registo sobre a energia nuclear é importante, mas não podemos deixar de anotar que nos documentos oficiais continua a ser secundarizada na linguagem e por ausência face às renováveis. Ainda não lhe é concedida a maioridade nem o lugar que deve, no mínimo, situar-se em plano de igualdade.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Sabemos bem o porquê desta discriminação. Ainda continua desmedida a influência das grandes organizações ambientalistas tradicionais (tipo multinacionais do poder!) que não levam em conta os avanços da ciência</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>As dúvidas/desconfiança nas COP</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">5. Mais de uma vez tenho colocado dúvidas sobre estas Cimeiras que duram duas semanas quando não mais, reúnem uma variedade de pessoas e organizações de interesses muito antagónicos (autoridades governamentais, cientistas, representantes da sociedade civil dos países membros da Convenção – Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima) com o fim mítico de debater causas e efeitos das mudanças climáticas e encontrar soluções para as mesmas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">As diferentes dúvidas persistem. Desde as que apontam estarmos perante um “teatro enganador”, “um palco de vaidades”, pouca “fundamentação” técnica e cada um com a sua, e sobretudo uma dúvida de fundo tremenda: Não será que as COP são mais uma “plataforma de cartelização” de interesses a nível mundial e não propriamente um encontro para os fins nobres que dizem defender?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Infelizmente, à medida que vou fazendo leituras sobre as COP aprofunda-se esta minha dúvida. Isto é válido também para as grandes organizações ambientalistas. Felizmente nesta COP28 participou um grupo de 70 jovens de forma organizada que iam às mesas questionar as “sumidades” e algumas até merecem esta designação sobre certas matérias entre elas a energia nuclear.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Esta forma de participar merece uma elevada nota positiva. Talvez com participações deste tipo se revolucione o funcionamento e se rompa a plataforma de cartelização dos interesses reinantes nas COP e se promova o objectivo que uma das jovens organizadoras referiu que é as pessoas se interrogarem. Será que “eu sei o suficiente para me posicionar em relação à energia nuclear e seu papel no clima?”. Ora, esta mesma questão deve ser colocada para as energias renováveis.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b><i>O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.</i></b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;"><a href="https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/nuclear-e-energias-fosseis/#_ftnref1">[1]</a> Anuncia perfuração na bacia do Namibe (fronteira Angola/Namíbia) para o último trimestre de 2024 para ensaio de exploração petrolífera de médio e longo prazo (Expansão 18-12-2023).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div></div>André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2883220740459702766.post-81838236284311145072023-12-28T16:00:00.003+00:002023-12-28T16:00:27.224+00:00A vingança serve-se fria, a coerência prova-se quente<div class="separator"><div style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEiMox8TO0oI0S_XZN9k_BpP4KxYBOCzq86GArMwMbk4VGdB6zeX65kGJfw9COYHKhQD3pP2PBG_BBqa0b4Ib58420_pQqspcK632y3jr4xjcD185vrRaOdne-0oaOCFPPJs4bRT0FpqVfzaZkNmTjaAiJt5PBUOMJiRj9OvQR8juV779hISg9reHvrX-9krGZzn9StSfEpF2bSAEbM5P-U-=s0-d-e1-ft" /></div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i><b>Por</b></i></div> <div style="text-align: justify;"><i><b>Miguel Sousa Tavares, </b></i></div><div style="text-align: justify;"><i><b>in Expresso, </b></i></div><div style="text-align: justify;"><i><b>15/12/2023</b></i></div><div style="text-align: justify;"><i><b> <a href="https://estatuadesal.com/">A Estátua de Sal</a></b></i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em pouco mais de uma hora de entrevista televisiva, António Costa mostrou por que razão todos os outros parecem terceiras escolhas ao pé dele: os candidatos a substituírem-no à frente do PS já este fim-de-semana e os candidatos a substituírem-no à frente do Governo em 10 de Março. Nenhum está tão preparado como ele, nenhum está tão à-vontade em qualquer assunto, nenhum deixa transparecer idêntica segurança discursiva. Se estivesse minimamente bem aconselhado, Luís Montenegro não se deixaria arrastar para a tradicional armadilha do comentário imediato à entrevista de Costa, onde apenas pode largar meia dúzia de frases feitas, sem conteúdo que o justifique e numa presença fugidia que desqualifica o estatuto de um candidato a primeiro-ministro. E, porque a vingança se serve fria, um homem “magoado” não perdoou. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A Lucília Gago retirou-lhe o argumento de que não foi o seu célebre parágrafo que o levou à demissão: foi, sim, garantiu ele, e da próxima vez a sra. procuradora-geral que investigue bem primeiro antes de disparar para matar. Para Marcelo ficou reservado o recado fatal: já que o Presidente sobrepôs a sua vontade à vontade do partido maioritário, à opinião de constitucionalistas, ao aval do Conselho de Estado e, claramente, ao entendimento da generalidade dos portugueses, espera-se então que tenha para apresentar ao país, em 11 de Março, uma solução mais estável do que aquela que derrubou. Sem ironia, disse ele. Ficou claro que António Costa vai andar por aí nos próximos meses, a assombrar a campanha eleitoral do PSD, se não mesmo a humilhar a do candidato do PS.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">2 Em tempos houve um presidente de um clube de futebol, o Vitória de Guimarães, que cunhou uma frase para a História: disse ele que, no futebol, o que hoje é verdade amanhã pode ser mentira. Faltava quem a aplicasse à política, mas João Costa, o ainda ministro da Educação, acaba de o fazer implicitamente. Depois de dois penosos anos a resistir à reivindicação dos sindicatos dos professores no que resta da recuperação do tempo congelado para progressões durante o período da troika, embora tenha cedido em muitas outras coisas, ei-lo que veio agora dizer que, afinal, será possível atender a isso num futuro Governo PS. Justificação: uma coisa é o João Costa ministro do Governo de António Costa; coisa bem diferente é o João Costa cidadão socialista e apoiante de Pedro Nuno Santos à frente de um futuro novo Governo PS. Como já aqui escrevi, o que mais me impressiona nesta história nem sequer é o encargo financeiro, que, tornado extensível a toda a Função Pública, representará um encargo extra permanente cujo valor ninguém conseguiu estimar ainda. O que mais me impressiona é pensar que quem foi à falência em 2008 foi o Estado, mas todos pagámos duramente essa falência. E, enquanto se reclama a justiça de restituir o que os trabalhadores do Estado perderam então, não há uma palavra, por comparação, para todos os outros que não trabalhavam para o Estado, que não tiveram responsabilidade alguma na falência deste, mas que a pagaram com o “brutal aumento de impostos”, os cortes salariais, o despedimento ou a emigração forçada.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">3 E, entretanto, os resultados do PISA vieram revelar o inevitável. Se todos os países da OCDE recuaram nas aprendizagens dos anos considerados devido à pandemia, Portugal recuou mais do que todos, e esse recuo começou antes dos anos covid. Razões: a abolição de exames e a ausência de aulas. Reagindo, incomodado, Mário Nogueira veio questionar “para que serve o PISA e o que avalia?”, para depois fornecer a resposta: “O PISA não avalia a qualidade da educação, mas o desempenho dos alunos em provas de Matemática, Leitura e Ciências.” Ou seja, avalia o essencial: o que aprenderam os alunos na escola, coisa que para Mário Nogueira é “limitar o papel da escola ao domínio do conhecimento”. Pois, como ouvimos gritar abundantemente, “os professores a lutar também estão a ensinar”. Mas não, pelos vistos, a ensinar Português, Matemática ou Ciências, disciplinas em que a escola pública entrega mais tarde às universidades verdadeiros analfabetos funcionais, oportunamente dispensados dessa coisa discriminatória que são os exames, em benefício então da tal “qualidade da educação” — onde, aí sim, parece que somos campeões.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">4 Para o “grupo de trabalho” do PSD que vai estudar o que a Comissão Técnica Independente (CTI) estudou durante um ano para a localização do possível futuro aeroporto de Lisboa, Luís Montenegro escolheu para o presidir Miguel Pinto Luz, um indisfarçado adversário da solução Alcochete — assim se garantindo a “isenção” que, tarde e a más horas, o PSD descobriu que faltaria à CTI. Mas escolheu também para o integrar um advogado do partido que, se bem percebi, tem um mandato claro: “descobrir” se a solução Alcochete tem o apoio da concessionária ANA/Vinci — isto é, se ela está disposta a pagá-la. Mas se, como já se tornou bem claro, a Vinci apenas quiser gastar 700 mil euros num aeroporto no Montijo, fazendo um centro comercial a que chamará terminal na pista que já lá está, então o PSD alinhará com a Vinci e passará também a defender o Montijo, não obstante todos os contras apontados no relatório da Comissão Técnica Independente. Entre o interesse público e o interesse do concessionário, o PSD tratou já de deixar claro de que lado está. Se percebi bem, se é mesmo disto que se trata, só não percebo porque vão perder mais tempo a camuflar uma opção já feita com um suposto grupo de trabalho.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">5 As sondagens dizem que a Iniciativa Liberal vai subir nas urnas, o que explica a vontade do partido em não alinhar em coligações prévias. Tenho dificuldade em entender essa subida eleitoral, à luz da prestação da IL sob a direcção de Rui Rocha. Internamente, ele tem espalhado dissidências e abandonos, acumulando fama de uma liderança fechada na figura do presidente. O mesmo sucede no Chega, mas o Chega é partido de um só homem, que topa-a-tudo, ao contrário da IL, que nasceu como um partido de quadros. E, quanto ao líder, ele é uma sombra do seu antecessor. Onde João Cotrim de Figueiredo transmitia uma imagem de desprendimento, mundo, sentido de humor e imaginação, Rui Rocha é um rosto permanentemente fechado e crispado, agressivo, de mal com todos, disparando para todos os lados, sem sentido nem oportunidade: a imagem oposta de um liberal, na vida e na política. João Cotrim tinha um discurso claro e fluido: sabíamos o que pensava, mesmo quando o que pensava era abertamente injusto ou absurdo. De Rui Rocha não conhecemos o pensamento, mas pior do que isso: fica-se com a sensação de que ele esconde o essencial.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">6 A COP28 terminou com um acordo que dizem “histórico”: atingir a neutralidade carbónica até 2050. Depois de grandes discussões em busca das palavras que a todos contentassem, não ficou expressamente escrita a proibição da exploração de combustíveis fósseis até 2050, mas sim “uma transição para o seu abandono”, o que não é a mesma coisa. Um leitor do “Observador” comentou imediatamente que “aposto que vai pesar no nosso bolso”. Pois vai, tal como a cura de uma doença terminal não se faz sem custos. Na verdade, não são só os produtores de petróleo os maus da fita: quantos de nós, nas nossas vidas de todos os dias, estamos preparados para abdicar já de um modo de vida fundado numa energia que nos habituámos a ter facilmente disponível há um século? E em Portugal, onde, por exemplo, uma cegueira irresponsável apostou no desmantelamento do transporte ferroviário em benefício do rodoviário e muitos querem ainda apostar num aeroporto para o futuro vocacionado para voos de médio curso, estes 26 anos que restam, se levados a sério, vão ser brutais.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia</div><div style="text-align: justify;"><br /></div>André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2883220740459702766.post-8558628145386540552023-12-16T10:19:00.000+00:002023-12-16T10:19:08.902+00:00Natal<p> </p><h2 style="text-align: justify;"><b>Mais um ano! Ou menos um no conta-quilómetros da vida. E lá vêm os choradinhos da solidariedade, da tolerância, do amor, da fraternidade, as missas do parto, os adros cheios de vida, de "parideiras" e vinho-e-alhos, a azáfama dos bolos de mel, licores e doçaria, o presépio e a árvore de Natal, as limpezas e a decoração das habitações, a iluminação dos espaços públicos, as canções e melodias da época, os almoços e jantares, a noite do mercado, a família, as crianças, as prendas, a placa central e tantas outras, o circo e as animações estonteantes, até ao ribombar dos foguetes que tornam o céu multicolor de esperanças mil, as passas, o champanhe e as promessas de sermos diferentes e melhores. O habitual. </b></h2><div><b><br /></b></div><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2j1S3N5Z4cv3V7k5_5g4SX2kBV9ytF2-UtyT_b4Dy7BIzI9SRGG5cZuGMIpdESzN1uLRhevvvdjV3SXiTDd5HoGawscPGCl2c6yX4d-DeJEB3V2-y5Uz4haOK_9iiJVTCYqVbBd6rKuMlHghOI15fBDbELiyF5ZqkwyAFv28B2_55UptBBp9iUSn_96Mv/s800/DSC08999.JPG" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="504" data-original-width="800" height="253" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2j1S3N5Z4cv3V7k5_5g4SX2kBV9ytF2-UtyT_b4Dy7BIzI9SRGG5cZuGMIpdESzN1uLRhevvvdjV3SXiTDd5HoGawscPGCl2c6yX4d-DeJEB3V2-y5Uz4haOK_9iiJVTCYqVbBd6rKuMlHghOI15fBDbELiyF5ZqkwyAFv28B2_55UptBBp9iUSn_96Mv/w400-h253/DSC08999.JPG" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">Ano após ano o mesmo de sempre. Oiço falar da magia do Natal, mas não percebo bem se falam de puros rituais assentes em crenças ou de um período que, podendo ser aquilo que é, devia consubstanciar-se, sobretudo, nessa magia das palavras portadoras de futuro que traduzem a Mensagem de quem, naquele dia, nasceu (não me interessa a veracidade da data). </div><p></p><p style="text-align: justify;">Passo bem sem passas e promessas vãs, sem rezas públicas de Avé-Marias e Padres-Nossos, sem Missas não interiorizadas, mas não passo sem uma reflexão diária sobre a missão do ser humano, a contínua leitura do Homem no Mundo tendo por base a Palavra contextualizada com a vida. </p><p style="text-align: justify;">De que valem tantos, de cabisbaixo, talvez envergonhados, obrigados pela função, em "acção de graças" (!), baterem no peito, andarem por aí a desejar uns aos outros os votos de Bom Natal se eles próprios não conseguem renascer da sua prática muitas vezes egoísta e dolosa para com os semelhantes! Dispenso essa hipocrisia pública de salão e tapete vermelho num ritual que não acrescenta; prescindo e assobio para o lado, aquando da gritaria, muitas vezes ofensiva, do palavreado de meias-verdades escutadas nos hemiciclos; recuso a mentira que dá jeito, em todos os sectores, áreas e domínios, quando para isso se torna necessário violentar a consciência, dobrando a cerviz ao ponto do nariz aproximar-se dos joelhos; furto-me às aparências quando facilmente se percebe o oco que são e porque são; mando para longe a cultura do ter distante do ser e, facilmente, confesso, expludo para comigo próprio, perante a insensibilidade, os desequilíbrios sociais, todas as pobrezas e explorações que correm frente aos nossos olhos de espectadores. Condói-me a brutalidade das guerras, os imperialismos e a incapacidade para o diálogo dos seres dotados de inteligência; magoa-me a desenfreada corrupção através de uma louca corrida pelo dinheiro fácil, a falência dos princípios e valores, a miséria de milhares de milhões num planeta rico, em contraponto com o facto de, só na última década, 1% ter arrecadado quase metade de toda a nova riqueza gerada; revolta-me a substantiva indiferença e hipocrisia perante quem não tem tecto, oferecendo-lhes, como se essa fosse a solução, a caridade de uma refeição de Natal e uns quantos agasalhos. Para o ano, cá estaremos!</p><p style="text-align: justify;">O Natal é assim. Acaba por ser um ponto de chegada e jamais um ponto de partida para uma vida renovada e alicerçada na dignidade de um projecto, individual e colectivo, com futuro. Se, finalmente, despertássemos para o seu significado mais profundo, outro galo cantaria nas Missas e outro nascimento aconteceria nas sociedades. Porém, a sofisticada engrenagem política, económica, financeira, religiosa e cultural não o permite. Vive-se numa permanente ilusão que faz adoecer e mata. Mas a plebe lá vai aguentando, esticando o magro salário, porque o biscate e a economia paralela equilibram e, lá para diante, na reforma, logo se verá; o trabalho deixou de significar resposta às necessidades básicas e, por isso, as juntas, casas do povo, associações e paróquias colmatam o sentimento depressivo da vida onde tantas famílias agonizam. Um terço da população é pobre ou está em risco de pobreza! E o círculo vicioso mantém-se porque a pobreza tendencial e paulatinamente eterniza-se.</p><p style="text-align: justify;">Inclusão e esbatimento das assimetrias? Uma ova! Iludem-se os que julgam que a escola constitui o tal "elevador social" e a fuga aos constrangimentos da vida imposta. Se esta escola servisse a mudança, reflictamos, passados quase 50 anos de Abril, em que patamar a população devia estar? Que melhorou, obviamente que sim. Pelo menos para meia-dúzia! Que não resolveu a panóplia de direitos humanos, obviamente que não. A escola é aquilo que é, desrespeitosa para os talentos, vocações, interesses pessoais e para a cultura, simplesmente porque interessa que assim seja. Uma população culta, aquela que rejeita amestramentos, sabe muito mais do que as respostas às questões do manual. Os políticos reconhecem, obviamente que sim, que ela se torna potencialmente perigosa, porque pode transportar os elementos fundamentais da liberdade de pensamento e acção. Por mais perverso que possa parecer há que alimentar a nata e, subtilmente, deixar os restantes na dependência, discursando e enaltecendo, sempre, qual paradoxo, o sentido da inclusão! É o que temos na frente dos nossos olhos.</p><p style="text-align: justify;">Seja como for, porque os rituais também fazem parte da vida, sendo tão bom vivê-los, neste Natal estou a repeti-los todos, sem deixar absorver-me pelas situações convencionais e superficiais. Trago em memória o Filósofo Ortega y Gasset "Eu sou eu e a minha circunstância, e se não a salvo a ela, não me salvo a mim"</p><p style="text-align: justify;">FELIZ NATAL para todos e desculpem-me o desabafo arrancado das entranhas e onde tanto ficou por dizer.</p><p style="text-align: justify;"><i><b>Ilustração: Arquivo próprio, em casa.</b></i></p>André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2883220740459702766.post-66203456611631819512023-12-11T16:04:00.004+00:002023-12-11T16:10:32.269+00:00No Funchal, uma cabeleireira quer escrever um livro<div class="separator"><br /><b><i>Por<br />João Abel de Freitas<br />Economista</i></b><br /><br /><h2 style="text-align: justify;"><b>Da Madeira para Portugal, à boleia do nuclear. Neste momento, a maioria na Europa é pró-energia nuclear. Em 27 estados-membros, há 16 países que constituíram no início deste ano a chamada Aliança Nuclear Europeia.</b></h2><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtrawuo31rgpW9Yj9acyGkvBfFnFKveuOt0tjUaGF7E89Q7KSf2vrUkTDBjWzbNmwVOc9oSj-FFI6MwTx1hoUD6L_MIOy8-QOreHJtbZZ7l58-6cFcnGfIiUCp9oZY8n4jPbtnXg00OTY2m3bsgAft5HxWF3hGRBDrJsb-PxJ3SohH7m4K0gYn_V4Pu45j/s200/JO%C3%83O%20ABEL%20FREITAS%2002.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="200" data-original-width="200" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtrawuo31rgpW9Yj9acyGkvBfFnFKveuOt0tjUaGF7E89Q7KSf2vrUkTDBjWzbNmwVOc9oSj-FFI6MwTx1hoUD6L_MIOy8-QOreHJtbZZ7l58-6cFcnGfIiUCp9oZY8n4jPbtnXg00OTY2m3bsgAft5HxWF3hGRBDrJsb-PxJ3SohH7m4K0gYn_V4Pu45j/w320-h320/JO%C3%83O%20ABEL%20FREITAS%2002.jpg" width="320" /></a></div><br />Estive na Madeira para o lançamento do livro A Energia na União Europeia/Política Errática e de Conflito e a comunicação social andou por perto.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">1. No dia do lançamento, segunda-feira 27 de novembro, aproximei-me da tabacaria junto ao café Apolo, em frente à Sé, para comprar um jornal da Região.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Uma senhora em amena conversa com a vendedora dos jornais olha para mim e diz: Este senhor que é madeirense, mas não vive cá, vai lançar hoje um livro na Reitoria da Universidade. Ouvi e perguntei como sabe. E ela, vi-o no telejornal e até sei o seu nome. Uns segundos de conversa e digo mas pode lá ir. Ai, não posso, sou cabeleireira e tenho de estar no salão. E logo a seguir… também quero fazer um livro.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Sabe, dizia-me ela, sei muito da vida do Funchal. Dos amores e desamores, das doenças complicadas, das depressões das pessoas, das pessoas que pelas razões mais absurdas da vida a que por vezes não vão ligando nenhuma, mas que as mudam tanto que desaparecem e quando voltam são outras, de feições, de humor, até na forma de pensar. Muitas perderam as suas posses, o seu dinheiro… e, depois, as dificuldades de vida… e, quando têm filhos é de facto uma não vida.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ainda perguntei, mas não vai identificar nenhuma cliente, pois não. Muito pronta, não, isso nunca. É só a vida das pessoas que conta, muito pesada, mesmo para aquelas que andam aparentemente sempre bem, que disfarçam, mas lá no fundo, sente-se…</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A conversa mudou, entretanto, e começou a dizer que gostava imenso da Madeira, do mar, que ia nadar quase todos os dias e que já tinha ido naquele dia. Até fiquei surpreendido pois era tão cedo. Pensei para mim. Gosta mesmo. E não há dúvida estava ali toda morena!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ainda lhe disse avance com o livro. E ela diz-me, vou pedir apoio a um amigo. Espero que não desista. Pareceu-me uma pessoa decidida e com garra. Simpatizei naturalmente com a senhora e fiquei com muita curiosidade à espera do livro. Sem dúvida, temas sociais em aberto, escondidos, de grande impacto e muita dor.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>A energia na União Europeia – política errática e de conflito</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">2. O livro foi lançado nessa tarde na Reitoria e, para além da muito boa e clara intervenção do apresentador do livro, o meu colega de Liceu, Eng. Bruno Brazão, um técnico que, nos seus inícios de carreira, trabalhou na Junta de Energia Nuclear (JEN) mais concretamente no LFEN em Sacavém, onde havia um reactor de investigação, o debate alargou-se aos participantes e de forma bem viva.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">É preciso dizer que havia uns certos ingredientes e curiosidade sobre o tema da Energia, suscitados por uma chamada de primeira página no Diário de Notícias: “Madeira deve apostar na energia nuclear”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O livro não aborda a problemática da energia na Madeira, mas na entrevista a jornalista Tânia Cova chamou a questão da energia nuclear à nossa troca de ideias da seguinte maneira: “De que forma esta política errática e de conflito está a afectar Portugal? E a Madeira, sabendo que é objectivo do Governo Regional atingir 50% de energia a partir de fontes renováveis a partir de 2025”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E a resposta foi fluindo: “Esta situação na Madeira tem de ser bem pensada, na medida em que não acredito muito que as renováveis sejam a solução. Vai depender dos projectos que houver para a Madeira [entenda-se, em termos de procura de energia].</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Coloco mais a hipótese, mas isto teria de ser muito bem trabalhado, com alguma fundamentação, de uma aposta na [energia] nuclear. Portugal não tem essa posição, mas pode vir a ter. Porque não pensar num reactor de pequena dimensão? Até porque na questão das renováveis há muitas variáveis. Vejamos o exemplo da energia hídrica em que cada vez chove menos e torna-se uma energia muito intermitente.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não me refiro a um projecto para amanhã. Sugeria que fosse pensado com equipas especializadas. Equipas que não existem neste momento em Portugal. Já existiram. Lembro que, antes do 25 de Abril, Portugal chegou a ter um reactor experimental, mas após o 25 de Abril este foi mais ou menos abandonado. Foi um erro no meu entender.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não é fácil captar pessoas especializadas para esta área. É preciso experiência. O programa francês a dez anos vai precisar de 100.000 técnicos. A Suécia que também tem um dos maiores programas de energia nuclear da Europa tem vindo a apostar na formação.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Neste momento, a maioria na Europa é pró-energia nuclear. Em 27 estados-membros, há 16 países que constituíram no início deste ano a chamada Aliança Nuclear Europeia. Mais recentemente, [dia 7 de Novembro], a Comissão Europeia anunciou que estabelecerá uma Aliança Industrial dedicada aos pequenos reactores modulares (SMR) que arrancará em inícios de 2024. O anúncio foi feito pela Comissária Europeia para a Energia, Kadri Simson”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>A que se destina a Aliança Industrial dedicada aos SMR?</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">3. Esta iniciativa da Comissão Europeia dedicada aos pequenos reactores (SMR) visa três objectivos: centrar-se na aceleração destas tecnologias de carbono zero, na montagem de uma cadeia de abastecimentos da UE e na formação de mão de obra especializada com o fim de numa década implantar SMR.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No seu discurso de abertura no evento onde anuncia a criação da Aliança Industrial [Small Modular Reactor Partnership], Kadri Simson afirma: “as apostas da concorrência mundial são elevadas e é importante que mantenhamos a liderança tecnológica e industrial europeia no domínio nuclear”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Para além de algumas dúvidas/certezas de que a UE não esteja na liderança da energia nuclear civil, esta decisão da Comissão é muito importante e pode, finalmente, ser o princípio de uma futura política energética na União.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Esta iniciativa não agradou o grupo de países antinuclear e, temos a certeza de que, na medida do possível, a Alemanha embora “em perda de terreno” não deixará de tentar barrar ao nível da UE alguns avanços nesta matéria ou pelo menos atrasá-los o mais possível.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>A COP28</b></div><div style="text-align: justify;"><b>Finalmente, uma boa notícia desta COP.</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A energia nuclear, pela primeira vez numa COP, rompe a “clandestinidade” e é tratada, em alto e bom som, quer pelo presidente Macron, quer pelo enviado especial do governo dos EUA, John Kerry, como tendo um lugar próprio e decisivo nas tecnologias de carbono zero e sem a qual os objectivos de combate às alterações climáticas jamais serão atingidos. Tudo isto afirmado na COP28 é de uma importância extrema, para além de 22 países terem manifestado a ideia (um tanto quanto irrealista, por dificuldades técnicas e de recursos humanos), de triplicar a capacidade nuclear instalada até 2050. Mas, atenção, nada de grandes entusiasmos. Foi apenas um pequeno passo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Finalmente, é de assinalar que John Biden e Xi Jinping não estão presentes nesta Cimeira do Clima que termina amanhã, dia 12 de dezembro, no Dubai. No entanto, pouco antes, encontraram-se em Nova Iorque onde acordaram um protocolo de cooperação onde o clima é contemplado. E, a terminar, fico na incerteza de quem vai tomar a dianteira, se a energia nuclear se o livro.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i><b>O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.</b></i></div></div>André Escórciohttp://www.blogger.com/profile/07157906668341573363noreply@blogger.com0