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quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Geração Z faz cair o regime das forças de esquerda no Nepal

 

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A interdição das plataformas digitais caiu mal e desencadeia a revolta da juventude, mas as grandes causas estavam acumuladas: as frustrações e as perspectivas de um não futuro.



1. O Nepal, com uma história bem diferente de um processo tradicional de independência, criou, em 1768, o Reino do Nepal, juntando e unificando territórios, formatando o Estado-Nação que ainda hoje vigora. Porém, só 155 anos depois, o governo britânico reconheceu formalmente (1923) a sua independência. Foi necessário, contudo, esperar pela Segunda Guerra Mundial para se iniciarem algumas pequenas alterações na orgânica obsoleta deste Estado-Nação.

A vida desta monarquia, que durou 240 anos, foi agitada, sobretudo, a partir da segunda metade do século XX, com períodos de guerra civil longos (onde a tendência rebelde maoista, como é conhecida, teve um papel de destaque), aliados a eleições multipartidárias, aqui e ali.

Maio 2008. Proclamação da República

2. O Nepal, com cerca de 30 milhões de habitantes é um país jovem, onde 2/3 da população tem menos de 34 anos. Um país ensanduichado entre os dois maiores colossos da demografia mundial, a China e a Índia, conhecido pela sua capital Katmandu – cidade cruzamento de vários povos e comércio – e uma das rotas de acesso ao Monte Evereste.

Certamente, menos conhecido por, desde a implantação da República, em 2008, ter vindo a ser governado por partidos da esquerda, regime que acaba de cair por uma revolta designada nos Media internacionais de revolta da juventude (geração Z) contra a interdição pelo Governo, em Junho de 2025, de 26 redes sociais, designadamente Facebook, Instagram, WhatsApp e Youtube, porque recusaram se submeter às leis nacionais, que exigiam o seu registo como empresas do país. Apenas 5 das 31 empresas existentes tinham aceite fazê-lo até 1 de Setembro, data para o cumprimento.

A revolta da Geração Z

3. Os jovens revoltam-se contra a interdição das plataformas digitais, alegando que 1/3 da população vive no exterior e as redes são o veículo de comunicação entre si e encaram a decisão do governo um atentado à liberdade de expressão.

Durante dias, a revolta traduziu-se em incêndios e ocupação de edifícios públicos, casas de políticos e manifestações de rua com elevado número de baixas mortais. O primeiro-ministro Sharma Oli (dirigente máximo do PC) é obrigado a demitir-se, o Parlamento dissolvido pelo Presidente Poudel do centro-esquerda e as forças armadas intervêm para manter a Ordem.

Depois de 3 dias de negociações de algum melindre entre Presidente do País, forças armadas e representantes da juventude revoltosa foi designada como primeira-ministra interina, a Presidente do supremo tribunal (Sushila Karki) com currículo político desalinhado dos partidos tradicionais. A juventude vê nela a pessoa certa para levar a cabo as eleições de 5 de Março 2026, marcadas pelo Presidente.

Causas da revolta

4. Na sociedade nepalesa, as distorções de desenvolvimento económico e social continuam muito chocantes, onde sobressai uma elite pouco numerosa, o que não abona a favor da governação do país pelas forças de esquerda, apesar do Nepal ter registado, no após República, avanços notáveis na área da escolaridade:

Taxa de alfabetização a ultrapassar 71%, quando era de 54% em 2001.
Ensino superior a acolher, em cada ano, mais de 400.000 estudantes.

Porém, estes avanços geraram um paradoxo. O mercado de trabalho formal só tem dimensão para absorver cerca de 40 000 trabalhadores/ano. Assim, uma elevada percentagem qualificada de jovens fica sem hipóteses de aceder a trabalho produtivo, ou seja, impedida de ascender socialmente. A sua janela de oportunidades foca-se no digital e na emigração.

No Nepal há mais de 17 milhões de nepaleses utentes do Facebook e cerca de 90% dos jovens conectados diariamente. As plataformas sociais são, assim, uma fuga para a falta de emprego e também para a concretização informal de pequenos negócios que sempre vão gerando algum rendimento que atenua o fraco nível de vida do país onde, segundo alguns dados, cada pessoa sobrevive, em média, com um dólar/dia.

A estrutura económica do país, segundo estimativas do Banco Mundial, com a agricultura a empregar 63% da totalidade das pessoas em idade activa, quando não gera mais de 24% do PIB; a indústria, por seu lado, a gerar cerca de 12% do PIB e os serviços (sectores formal e informal) 63%, é bem a imagem do que se referiu, pondo ao vivo as estruturas semifeudais de produção dominantes, impeditivas de qualquer progresso.

Se a isto se acrescentar o fluxo das receitas da diáspora que entraram no Nepal, em 2023, equivalendo a 27,6% do PIB, temos o quadro perfeito de um país muito atrasado em termos de desenvolvimento. Acentue-se que não é por falta de condições objectivas que o arranque económico ainda não se deu – pois, pelo menos no que toca a qualificação da população – um vector chave em qualquer processo de desenvolvimento, ela existe.

Algumas causas do insucesso

5. Desde a implantação da República, as forças comunistas (tendência maoista e PC do Nepal) batem-se entre si pelo controlo do aparelho do Estado e aí esgotam as suas energias.

A coligação entre o partido do Congresso/partido comunista do Nepal no poder nos anos mais recentes “cercou” os maoistas que até saíram vencedores nas eleições pós implantação da República e desenvolveu na sociedade nepalesa uma campanha anti-maoismo, levando-o a se aproximar sem sucesso da juventude urbana.

Por seu lado, o maoismo ia insinuando que o governo de coligação pouco fazia para combater a corrupção sobretudo de elementos com influência no poder e que se opõem a reformas que permitam abrir a economia à criação de riqueza em benefício da população.

A juventude, contudo, não aderiu a este trabalho de sapa dos dois lados, acusando os dois partidos de serem iguais, muito ineficazes em todas as frentes, incluindo o combate à corrupção e apontando o subdesenvolvimento, decorrente do desentendimento entre os partidos que perdiam o seu tempo a negociar arranjos interpartidários para continuarem no poder.

Em síntese, a juventude entende que o governo e os partidos falharam na resolução dos três grandes problemas do país:
Criação de emprego e estagnação económica
Combate firme à corrupção
Liberdade aos diferentes níveis.

A revolta como explosão

6. A violência que explode em princípios de Setembro é contra os políticos dos três partidos: Partido do Congresso e os dois partidos Comunistas (Maoismo e Partido comunista do Nepal). A rivalidade entre as forças comunistas foi sendo potenciada pelas sucessivas levas de regulamentação, saídas ao longo de 2024, sobre as redes. A interdição das plataformas digitais caiu mal e desencadeia a revolta da juventude, mas as grandes causas estavam acumuladas: as frustrações e as perspectivas de um não futuro.

Expectativas

7. Há expectativas por parte da juventude de que as eleições possam levar a um novo modelo de governo “livre de vínculos dos partidos tradicionais”. Defendem que essa liderança deve ser independente e escolhida na base da competência, integridade e qualificação”.

Apesar do consenso encontrado, teme-se que o país, em situação de graves conflitos que não estão afastados, possa cair para uma direita radical ou mergulhar numa instabilidade incontrolável. Contudo, há confiança na Primeira-ministra interina para levar o país a bom porto.

Notas finais:

i) Não existem números oficiais, mas uma associação de Nepaleses estima que residam 50 000 nepaleses em Portugal.

ii) Geração Z = nativos da era digital.

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Esclareçam...

 

Na gíria do futebol e não só, vezes várias ouve-se: "equipa que ganha não se mexe". É evidente que isto tem que se lhe diga, no entanto, arrasta consigo a ideia que a mudança radical de uma equipa pode não corresponder a um bom resultado. Se bem que, no exercício da política, os contornos sejam distintos porque ali, no tabuleiro do jogo partidário os interesses sejam múltiplos, sem grande esforço podemos, por aproximação àquela frase, especular sobre alguns aspectos que qualquer cidadão, atento às autárquicas, gostaria de tomar consciência.



E isto coloca-se sob a forma de perguntas. Aqui as deixo:

1. Que razões subjazem ao facto da equipa do PSD, no seu tronco central, ter sido completamente afastada? Todos têm o direito de assumir que não estão interessados em continuar, mas a verdade é que, pelo menos um se disponibilizou a assumir uma candidatura e, mais tarde, uma respeitada figura do partido veio falar que estaria em preparação uma "golpada", que terá levado a primeira figura, publicamente convidada para liderar a equipa concorrente, acabasse por abdicar da sua candidatura. O que estará por detrás de tudo isto, pergunto? "Golpada", qual? E a "limpeza" deveu-se a quê?

2. Acompanhei, pela comunicação social, ao longo dos últimos quatro anos, o trabalho de oposição feito pelos vereadores da "Confiança". Do Engº Miguel Silva Gouveia, que já foi presidente da Câmara, com quem falei, presencialmente, uma única vez, a ideia que retive, é que desempenhou uma tarefa de oposição consistente, permanente, educada no relacionamento político e com propostas de significativo alcance. Ele e a sua equipa não se perderam na baixa política. Pelo contrário. Mas, quando tudo levava a crer que estariam na primeira linha de recondução, eis que foram postos a andar, exactamente numa altura de clara fragilidade dos seus mais directos opositores. Também aqui seria interessante conhecer os meandros da história.

O pior de tudo isto é que, nem uma nem outra candidaturas têm uma proposta profundamente pensada para o Funchal. Enquanto cidadão sinto que andam atrás dos "casos do dia".

Ilustração: Google Imagens.