Adsense

terça-feira, 25 de abril de 2023

"QUE PAPELÃO ESTA GENTE FEZ!"


Não respeito quem assim se comporta. Receber o Chefe de Estado de um país amigo e irmão e insultá-lo constitui uma manifestação de total mau gosto. De total ausência de Educação Básica. Feio, muito feio, seja qual for o posicionamento político que um qualquer grupo partidário possa ter. Para mim, que defendo a Democracia, a tolerância, o respeito e a responsabilidade, não encontro palavras para caracterizar o que vi na Assembleia da República, precisamente no dia que se comemora a LIBERDADE. E aquilo não teve nada a ver com a liberdade, mas com libertinagem. Hoje, perante outros, alguns envergonharam Portugal. Um dia triste.





sexta-feira, 21 de abril de 2023

25 de Abril - O contentamento e a angústia

 

E já lá vão quase cinquenta anos relativamente à data que marcou o fim de outro quase meio século de uma ditadura que se impôs feroz de forma crescente. Abril trouxe-nos o perfume da liberdade, da democracia, do voto universal e livre; trouxe-nos o combate à chocante pobreza, a inversão da emigração forçada e desqualificada, a luta contra os silêncios impostos, a perseguição, a prisão, a tortura, a clandestinidade, a incultura, as gravíssimas limitações no acesso à escola; Abril trouxe-nos a laicidade, um não à estúpida guerra colonial com as consequentes mortes, estropiados e mais de uma centena de milhar de doentes pós-traumáticos; Abril acabou com os tons negros fascizantes do exercício da política, o "orgulhosamente sós", a escravização da mulher, o controlo total da sociedade, os senhores e os outros, a colonia, o servilismo e o chapéu na mão de tantos de coluna vergada até ao joelho! 



Como cantou o José Mário Branco:

"(...) Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar (...)"

E devagar e, inicialmente, de forma muito conturbada, o que foi natural, o país foi saindo daquela escuridão que Manuel Alegre sintetizou:

"(...) Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio - é tudo o que tem
quem vive na servidão. (...)"

Até que Sophia de Mello Breyner, em 1974, poetizou:

"Esta madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo"

E dos escombros políticos, económicos, sociais e culturais fomos edificando um novo Portugal. E quem lá para trás lança um olhar, obviamente que só pode ter uma resposta: valeu a pena. Por isso, curvo-me perante os Homens e Mulheres que sacrificaram as suas vidas, que pagaram com a prisão, a tortura, a deportação e a morte o "atrevimento" de serem oposição a um regime déspota; curvo-me perante famílias inteiras que sofreram o drama de não poder ter nem dinheiro nem voz e curvo-me perante sucessivas gerações a quem lhes bloquearam os sonhos. São dignos do respeito de qualquer cidadão, mesmo daqueles que, não tendo vivido a castração da época, hoje olham em redor com alguma satisfação, mas sem a mínima noção desse tão próximo quanto longínquo passado.

Podíamos estar melhor. Sim, concordo. Em todos os sectores, áreas e domínios da vida. Mas nos três pilares, saúde, educação e segurança social, qualquer comparação com aquele tenebroso e tirano passado torna-se despida de sentido. Só quem viveu e sentiu as agruras, quem foi espezinhado e triturado pode ter uma leitura entre o antes e o depois. Porém, é verdade, continuamos com uma altíssima taxa de pobreza, continuamos assimétricos e muito dependentes, porque sobraram em políticos de circunstância o que nos faltou em estadistas; porque a gritaria e os escândalos políticos "institucionalizaram-se", porque se permitiu, trazendo à colação o eterno Zéca Afonso:

"No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas pela noite calada
Vêm em bandos com pés de veludo
Chupar o sangue fresco da manada

Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada (...)"

Hoje, o "chupar o sangue da manada", com outros contornos, é certo, é muito evidente. É a inversão das prioridades estruturais; a habitação que se tornou um pesadelo; o escandaloso, eu diria ignóbil assalto perpetrado pela banca; a provocação diária das grandes instituições que impõem o que querem e entendem em claro desprezo pela vida das pessoas; são os corporativismos, proteccionismos e jogos de favor de toda a espécie; é a repetida mentira dita de forma convincente; é a comunicação social que muitas vezes distorce, porque estão em causa a sobrevivência, as audiências ou porque seguem o pensamento do vértice estratégico; são os escândalos no interior da Igreja e a sua ausência de respeito pela Palavra; é a especulação à solta e o mundo económico-financeiro subterrâneo; são os magros salários e pensões que atiram muitos para a periferia social; é a constrangedora situação da Justiça e a falta dela em tempo aceitável; é a ausência de escrúpulos e de confiança na relação entre o Estado e os cidadãos; é a genérica falência de credibilidade e de notoriedade entre os eleitos; são estações de televisão vocacionadas para o zero, para a superficialidade e o embrutecimento; é a falta de senso na organização espacial do território, enfim, todos sabemos o que por aí anda. E à socapa estão a aparecer os vendilhões populistas, os autoritários, os falsos amigos do povo, os que têm, na manga, soluções para tudo, os tais que "com pés de veludo" gritam e tentam, também estes, a seu tempo, pacientemente, "comer tudo e nada deixar".

Atravessamos tempos difíceis, nos planos externo e interno. Faltam-nos referências e uma outra cultura política que influencie os cidadãos de uma forma positiva e persuasiva. Falta-nos representantes "limpos e inteiros". Falta-nos a Escola que está muito para além dos manuais. Faltam-nos professores que estimulem a pergunta e que eduquem muito para além das respostas exigidas nos testes. Falta-nos um desassossego diário perante as inquietações. Falta-nos pessoas que governem e não se fixem nos "casos do dia". Falta-nos princípios, valores, ética e cultura. Falta-nos pensamento estratégico e respeito pelos princípios do desenvolvimento. Falta-nos sentir o País para além do futebol. Falta-nos o desafio das mentalidades. Falta-nos conquistar a felicidade e não a falsa felicidade que nos vendem!

Que regressem, pois, as canções de Abril. Ou relembremos, para já, contextualizando-a nos tempos que correm, a "Tourada", de Ary dos Santos, cantada por Fernando Tordo (1973):

"(...) Com bandarilhas de esperança
Afugentamos a fera
Estamos na praça
Da Primavera

Nós vamos pegar o mundo
Pelos cornos da desgraça
E fazermos da tristeza
Graça (...)"

Ilustração: Google Imagens.

segunda-feira, 17 de abril de 2023

O manguito


Por
Miguel Sousa Tavares, 
in Expresso, 
14/04/2023 -  A Estátua de Sal


Um artista plástico resolveu fazer a milionésima réplica do manguito do Zé Povinho, de Rafael Bordalo Pinheiro, com dois metros de altura, e colocá-la em frente ao Palácio de Belém, como sinal do “descontentamento dos portugueses pelo desgoverno do país”. Antecipando a sua remoção pelos serviços camarários, Marcelo mandou recolher o manguito e colocá-lo nos jardins do palácio, onde ficará para exposição pública, contemplação presidencial ou ambos os fins. Fez mal. O mesmo Presidente que no início do seu mandato teve a lucidez de pôr a sua popularidade ao serviço do combate ao populismo, não pode agora descer à rua para trazer o populismo para dentro do palácio. Se também ele está descontente com o desgoverno do país, se está farto das brincadeiras dos boys socialistas e impaciente com a falta de alternativas eleitorais de curto prazo, tem outras maneiras mais sérias e adequadas de o expressar (e que, aliás, não se coíbe de usar abundantemente), sem necessidade de cair na demagogia do manguito. Até porque convém perceber de que falamos a tal propósito.



Rafael Bordalo Pinheiro deu berço ao seu Zé Povinho e respectivo manguito na revista “A Lanterna Mágica”, em 1875. É extraordinário, mas eloquente, que, passados quase 150 anos, o imaginário nacional ainda continue a ver na figura do Zé Povinho e no seu gesto de desafio ao poder e aos poderosos um símbolo de virtudes patrióticas e de subtil resistência contra os abusos. Contudo, o próprio Rafael Bordalo Pinheiro tinha caracterizado assim o Zé Povinho: “Resignado perante a corrupção e a injustiça, ajoelhado pela carga dos impostos e ignorante das grandes questões, o Zé Povinho olha para um lado e para o outro e fica como sempre... na mesma.” Ou seja, os 150 anos de glorificação não passam de um embuste: o Zé Povinho não é um herói, é um cobarde. O seu manguito não é feito na cara dos poderosos, mas nas suas costas, quando não o estão a ver; ele não se revolta, conforma-se; é mandrião e ocioso; ignorante mas presumido; invejoso e não lutador; acomodado, dissimulado, maledicente. Mas não admira que este embuste tenha perdurado até hoje e que o mito do Zé Povinho, herói do povo, se mantenha vivo: as redes sociais, as caixas de comentários dos jornais estão pejadas de Zé Povinhos com estas mesmíssimas características e cuja única diferença para o original é não estarem ajoelhados pela carga dos impostos pela simples razão de que, regra geral, não pagam impostos, vivem dos impostos que os outros pagam.

2 A seu tempo, no Governo PSD/CDS, fui contra a privatização da TAP, porque nunca acreditei que ela não poderia receber uma ajuda de 200 ou 300 milhões do Estado para resolver problemas de tesouraria e encerrar a ruinosa subsidiária de manutenção do Brasil, mantida pelas mesmas razões de delicadezas e subserviências diplomáticas pelas quais ainda hoje mantemos o ridículo Acordo Ortográfico. Mas posto que o Governo do PS e da extrema-esquerda resolveram ‘patrioticamente’ renacionalizar a TAP, e que, quando sobreveio a pandemia, dispensaram os accionistas privados de qualquer esforço de refinanciamento da companhia, até lhes pagando para se irem embora, aproveitando para ficarem donos daquilo tudo e conseguirem da tal Comissão Europeia, que antes não autorizara nem 200 milhões de financiamento público, uma injecção de €3,2 mil milhões, depois de terem confiado os destinos da TAP e do nosso dinheiro a essa jovem vedeta socialista que se gabava de ser capaz de pôr os credores da nossa dívida externa a tremer de medo, Pedro Nuno Santos — alguém que nunca tinha tido de viver de um salário ‘civil’ ou de pagar um salário —, e depois de ele, após nove meses de scouting, ter desencantado para CEO da TAP uma francesa que tinha como currículo a falência de uma companhia de aviação regional inglesa e que obviamente não só não falava uma palavra de português como falava e fala um inglês típico, talvez, da Guiana Francesa, a minha fé no futuro da TAP acabou de vez. Cheirou-me a desastre e o desastre é uma evidência: hoje, da bela companhia que outrora nos orgulhava, não resta nada. Já não dou mais para o peditório da companhia de bandeira, do hub de Lisboa (ou de Beja ou de Santarém?), para a ligação com os PALOP ou o abraço aos emigrantes. Qualquer outra companhia fará isso melhor e mais barato do que a TAP. E dos €3,2 mil milhões é claro que não veremos de volta nem um euro. O desastre é inominável, mas era previsível e foi anunciado. Tal como com a CP, a única coisa que a decência manda é saber como pôr fim a este pesadelo. Ter vergonha perante os utentes, pedir perdão de joelhos aos contribuintes.

A CPI à TAP, tal como também era mais do que previsível, não se vai ocupar de nada disto. PS, PSD e CDS, os actores principais desta pública vilania, estão e vão entreter-se com um lavar de roupa suja partidária que serve para pôr a nu toda a imensa mediocridade de toda aquela gentalha — governantes, gestores, advogados, intermediários e outros abutres desgarrados —, mas que em nada contribui para ajudar a resolver o essencial: como nos podemos livrar da TAP com um mínimo de dignidade, de danos controlados e de futuro garantido para os seus trabalhadores, a única mais-valia daquela empresa.

Os 150 anos de glorificação não passam de um embuste: 
o Zé Povinho não é um herói, é um cobarde

A “verdade doa a quem doer”, de que fala António Costa, a verdade de toda esta suja realidade, não é novidade para ninguém. Mesmo a ‘escandalizada’ imprensa que faz de cada nova ‘revelação’ um inesgotável tema de notícia, de debate, de inflamados editoriais, há muito que sabe ou suspeita que é assim que as coisas acontecem nesse mundinho dos cursus honorum da política, onde os jovens saem das juventudes partidárias, frequentam aqueles cursos de Verão onde os seniores lhes vão pregar umas lições de como subir no partido servindo a pátria, e daí vão para assessores do grupo parlamentar e depois, em o partido chegando ao poder, é sempre a subir: vereador municipal, secretário de gabinete, adjunto de ministro, chefe de gabinete, secretário de Estado. E um dia, sem nunca, sequer, terem gerido a sua assembleia de condóminos, veem-se, deslumbrados, a dar ordens à CEO da TAP, a mandar adiar voos para agradar ao Presidente ou a arbitrar indemnizações de meio milhão com o dinheiro dos contribuintes, e à noite, antes de adormecerem, gabam-se à mulher dos seus feitos do dia e mandam um WhatsApp ao ministro: “Tudo tratado na TAP. Agora, vou-te mandar um draft do discurso contra o capitalismo predador.”

3 Isto somos nós. De um lado, temos o Zé Povinho, que habita nas redes sociais, suspira pelo Chega e alimenta o Chega. O Chega e o Zé Povinho são a face da mesma moeda, o pior que temos: o português da inveja em vez da competitividade, do bota-abaixo generalizado, do boato em vez dos factos, do insulto em lugar da discussão de ideias, da nostalgia por uma ditadura como forma de nivelar todos na mediocridade. Do outro lado, temos os filhos bastardos da democracia, o lúmpen partidário dos carreiristas que não conhecem outro modo de vida senão à sombra da protecção do Estado capturado pelo partido. E aí, louvam-se de pergaminhos que não têm e invocam uma legitimidade que não lhes pertence. Decerto que temos de ser governados por alguém e decerto que ainda não se inventou melhor fórmula de o ser do que por quem ganha eleições livres, organizando-se em partidos políticos que representam diferentes formas de pensar a sociedade e diferentes programas de Governo. Mas as eleições não esgotam tudo, elas são um meio mas não um fim em si mesmo. Não esgotam, nem as obrigações dos governantes nem as do Zé Povinho. Num país a sério os governantes, por mais mal tratados que se sintam, têm, acima de tudo, uma noção de serviço público, e o Zé Povinho, por mais injustiçado que se ache, não tem orgulho na sua ignorância nem se contenta em fazer manguitos nas costas daqueles que considera poderosos. A mim, que desde os 15 anos me considero um social-democrata, o que me custa não é chegar a pagar 48% de IRS dos meus rendimentos de trabalho. Países sociais-democratas, como a Dinamarca, chegam a cobrar 60%. Com duas grandes diferenças: cobram isso a milionários, não à classe média, e, em contrapartida, os serviços públicos são grátis e de excelência. Enquanto aqui, os professores do ensino público batem recordes de baixas e de dias de greve e estão todos ‘desmotivados’, excepto quando aparecem a manifestar-se felizes na televisão; os médicos do SNS bateram recordes de baixa durante a pandemia e depois e, assim que acabam de se formar à custa de dezenas de milhares de euros pagos pelos contribuintes, correm a servir no sector privado; os funcionários judiciais fazem greves de três meses paralisando os tribunais e os conselheiros do Tribunal Constitucional não conseguem sequer cooptar quem substitua os que terminaram o mandato; a querida ‘ferrovia’, exclusivo do transporte ferroviário, transformou-se num insulto sindical feito a centenas de milhares de utentes.

Mas mandamos tanques para a Ucrânia, enquanto nada mais funciona nas Forças Armadas, condecoramos bombeiros por apagarem fogos, enquanto os aviões e os helicópteros estão fora de serviço, e estamos embevecidos a seguir a novela da TAP para descobrir quem vai apunhalar quem amanhã e quem vamos levar ao cadafalso depois de amanhã, em lugar de procurar saber para que serviram os €3,2 mil milhões que lá pusemos e se ainda há alguma salvação para aquilo. Não admira: quanto é que você, Zé Povinho, deu para a TAP?

PS: Outra coisa que começa a cheirar a desastre anunciado é a escolha do local para o novo aeroporto de Lisboa pela tal Comissão Técnica Independente. A avaliar pelo entusiasmo com que a sua presidente acolhe todas as sugestões de locais e até as incentiva, mesmo que o tal futuro aeroporto de Lisboa fique a 90, 150 ou 200 km de Lisboa, isto, na hipótese benigna, vai acabar em anedota. E por isso, ainda dentro do prazo das sugestões e com legitimidade igual aos demais, venho por este meio sugerir para o futuro aeroporto de Lisboa a localização que me fica mais à mão: Moncarapacho. À consideração.

Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia

sábado, 15 de abril de 2023

Para onde caminhamos


Basta uma carta anónima, um habilidoso desvirtuamento dos factos, uma publicação e, de um momento para o outro, um sujeito vê a sua notoriedade, credibilidade e reputação mergulhadas no lamaçal. Não me refiro a pessoas e situações em curso nos tribunais, arguidos que são e que terão de justificar a sua total ou parcial inocência. Compete ao órgão de soberania condenar ou absolver. Refiro-me a outras situações que me causam repulsa.



É o caso do Dr. Carlos Pereira, Deputado na Assembleia da República. Foi um mero "avalista" perante a Caixa Geral de Depósitos, de um empréstimo a uma empresa; a empresa não conseguiu cumprir as obrigações contratualizadas; mais tarde, o "avalista" foi chamado a suportar os encargos; seguiu-se uma naturalíssima negociação entre as partes; a dívida foi paga e a Caixa Geral de Depósitos, finalmente, veio dizer que foi ressarcida do empréstimo feito e que não existiu qualquer perdão de dívida ou favorecimento. A considerar tudo o que li, não recai qualquer mancha sobre o "avalista". Mas não, é de nula importância o nome dos empresários, nem me interessa conhecer, mas, publicamente, afundaram o político a coberto do anonimato.

Mas voltemos ao início. Ser "avalista" constitui uma situação absolutamente natural e normal. O próprio governo regional é avalista e existe legislação sobre esta matéria. Daí as perguntas: para onde caminhamos? Quem o fez e com que intenção o fez? A alegada "denúncia" terá partido da Madeira, em ano de legislativas regionais? Não sei!

Não apreciei a posição do Presidente do PS-Madeira, Dr. Sérgio Gonçalves, porque, não se inteirando, enquadrou a situação que, em síntese, apenas denuncia que o PS continua a apregoar uma solidariedade para fora que não tem correspondência no interior da sua instituição política. Lamentável.

Junta-se a isto, indirectamente, a reunião com a CEO da TAP. Que eu saiba (e já foi confirmado) e porque participei em várias comissões de inquérito, é normal acontecerem encontros com as entidades visadas, para que os Deputados se inteirem e cruzem a informação disponível, solicitando-a ou apenas para questionar e escutar. Um Deputado não pode nem deve guiar-se pela comunicação social. Trata de aprofundar o conhecimento sobre uma dada matéria. Há quem não o faça e prefira ir pelos "casos do dia" do que é publicado. Depois, em sede de Comissão de Inquérito Parlamentar (CPI) a história é outra. Munido de dados o Deputado é capaz de ir ao fundo das questões, porque está municiado de informações fundamentais. Por outro lado, a tal reunião ocorreu três meses antes da Comissão de Inquérito. Nessa altura nem havia aprovação da CPI. E segundo se sabe tratou-se de uma reunião normal para a qual o Dr. Carlos Pereira foi convocado e a CEO da TAP participou porque assim entendeu. O grupo parlamentar do PS não a convidou muito menos o Deputado. Não se tratou de um qualquer ensaio para a audição e ela própria assumiu isso. Foi uma reunião para partilha de informação.

Sou Amigo do Dr. Carlos Pereira desde o tempo que trabalhámos juntos. É um Homem íntegro, um político de mão cheia, sou capaz de dizer que não vejo ninguém na Região com mais capacidade e sustentabilidade nas políticas económica e financeira. Ele sabe do que fala, é profundo, não diz disparates, não anda ao sabor dos interesses políticos de circunstância, não se esconde por detrás da sebe, antes fala cara na cara, estuda os dossiês como ninguém e tem um discurso fluente. Foi ele, recordo, que quando o governo regional apontava para uma dívida de 1 000 milhões, depois, a muito custo, 2 000 milhões, ele assumiu que a realidade era outra: 6,3 mil milhões. Caiu o "Carmo e a Trindade" e foi preciso o ex-Ministro das Finanças, Dr. Vítor Gaspar (PSD), confirmar e dizer que "a situação da Madeira era insustentável". Na sequência disso, com dados, escreveu o livro "A Herança - saiba como o governo da Madeira escondeu a dívida", onde em 316 páginas justificou, com dados oficiais o seu pensamento. Ninguém o contestou.

Preocupa-me o Amigo e a sua família e sobretudo esta mórbida vontade de espezinhar quem tem valor. Por aqui e um pouco por todo o lado. Há uma ânsia em afastar pessoas e esquece-se que, tarde ou cedo, tudo isto poderá ficar entregue à mediocridade. Não vou por aí. Quero ser governado pela competência e pela transparência.

Ilustração: Google Imagens

sexta-feira, 14 de abril de 2023

ABU DHABI - PALÁCIO PRESIDENCIAL


UM PALÁCIO
ABSOLUTAMENTE FASCINANTE


"Qasr Al Watan é um dos mais importantes edifícios dos Emirados Árabes Unidos. Construído entre 2010 e 2017 para hospedar dignitários e líderes, o palácio presidencial possui mais de 1 milhão de metros quadrados de intrincados trabalhos em pedra, além de diversos elementos decorativos no estilo da era Mughal. “Qasr” significa “palácio” em árabe e “Al Watan” significa “a pátria” e, portanto, a tradução seria “Palácio da Pátria”.

Em 2020, o Palácio Presidencial Qasr Al Watan foi nomeado para o World Travel Awards como a principal atração turística cultural no Oriente Médio." https://viajonarios.com/qasr-al-watan/

Partilho-o convosco com os desejos de um excelente fim-de-semana.

Vídeo: Arquivo pessoal

sexta-feira, 7 de abril de 2023

Páscoa... para que não se fique pelos ovinhos, amêndoas, cabritinho e coelhinhos

 

Tenho muita dificuldade em abordar o tema Páscoa, explico, porque os anos, centenas de anos já passaram e "desespero" por uma verdadeira "passagem" que venha ao encontro das minhas preocupações e controladas angústias. Os rituais sucedem-se onde são, meticulosamente, dissecados, pela enésima vez, os passos, as palavras, o assassinato e a Ressurreição daquele Homem que, acredito, em síntese, quis uma Terra de paz, concórdia, tolerância, amor e fraternidade. Porém, a Páscoa não acontece! A "passagem", significado primeiro daquela palavra, não acontece!



E a verdadeira Libertação dos Povos não acontece. Pelo contrário, os sinais com os quais nos confrontamos apontam exactamente no sentido oposto: guerras, desenfreada corrida aos armamentos, mortes, fome, pobreza, incontroláveis depressões, milhões em fuga, refugiados aos magotes, fundamentalismos religiosos, destruição do planeta por diversas vias, assimetrias sociais que constrangem, eu sei lá o que o vaguear dos nossos olhos conseguem ver e interpretar. Os sinais de "passagem" para um novo tempo acaba por ser apenas uma miragem. A celebração da "passagem da morte para a vida", do espezinhamento para a dignidade dos povos, infelizmente, não acontece. E, no entanto, os rituais permanecem na esperança que, um dia, talvez por "imposição" Divina, a Páscoa aconteça. Uma insanável contradição!

Por isso mesmo distingo dois campos: por um lado, o da justificável celebração da memória; por outro, o caminhar no sentido de um novo mundo gerador de paz e respeito total pelo ser humano. A celebração da memória, com aqueles ou outros contornos, à luz da Igreja, faz sentido. Quem sou eu para dizer o contrário? Agora, não me parece que seja por aí que qualquer "passagem libertadora" aconteça. Ela poderá acontecer, passo a passo, se o Homem que aqui habita olhar para si próprio e tomar consciência que as mudanças de rumo poderão se tornar realidade, a partir dele próprio e não por uma outra qualquer inspiração. A desejável "passagem" tem, por isso, uma natureza eminentemente política. É aos senhores que manuseiam os cordelinhos políticos do mundo que compete as grandes mudanças de paradigma político, económico, financeiro, cultural e social que venham a determinar a transição, a tal Páscoa (passagem) que liberte o Homem das amarras em que se encontra globalmente envolvido. 

É ao exercício da política que o Homem deve exigir a verdadeira Páscoa. Aos que traficam influências, aos que produzem leis protectoras, aos que corrompem, aos especuladores, aos que apenas olham para os seus interesses, aos insensíveis que não conseguem perceber as desigualdades, aos promotores e financiadores da morte através dos conflitos armados, aos que não têm coragem para travar o jogo sujo da banca exploradora, aos ditadores, aos imperialistas, por aí fora, é a esses que o Homem deve exigir, no plano da democracia, a "passagem" para um novo tempo. À Igreja compete-lhe a permanente denúncia em defesa da Palavra.

E porquê? Para que a Páscoa não se fique pelos ovinhos, amêndoas, cabritinho e coelhinhos.

Ilustração: Google Imagens.

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Parabéns Doutor Edgar Silva por mais um passo no conhecimento


Desde há muitos anos, 1993, por aí, criámos uma salutar empatia. Apesar de não convivermos, isto é, de sermos pessoas que diariamente se cruzam, a nossa proximidade acaba por ser enorme. Nutro por ele uma grande consideração e respeito sobretudo a dois níveis: primeiro, pela sua inegável luta, com sacrifício pessoal, é preciso dizê-lo, quando desde sempre se colocou ao lado dos "descamisados" da vida. As periferias sociais sempre foram uma preocupação maior e isso, aos olhos de algumas hierarquias, foi sempre visto com desconfiança. Pouco se ralou e continuou; em segundo lugar, pela sua cultura, pelo Homem que sabe produzir as sínteses necessárias no cruzamento dos caminhos e nelas mergulhar e defender. Basta ler os livros que publicou ou passar os olhos pelo seu currículo de vida. Quem não se lembra, entre outros, dos projectos Arco, MAC (escola aberta), a luta contra a exploração sexual e o trabalho infantil!



Aquando da minha passagem pela Assembleia Legislativa, não me lembro de uma única vez, uma proposta minha, sobretudo no sector da Educação, tenha sido chumbada pela sua bancada. Sempre foi sensível aos argumentos de um Sistema Educativo ancorado num pensamento que nada tinha de partidário, mas de visão sobre o futuro. Não esqueço essas suas atitudes que muito me orgulhavam.

O agora Doutor Edgar Silva, depois do grau de Mestre em Teologia Sistemática, atingiu o mais alto grau da formação académica com uma tese "Vendaval de Utopias" - do catolicismo social ao compromisso político em Portugal (1965/1976). Desconheço os traços gerais da sua Tese, mas esta expressão, "vendaval de utopias" trouxe-me logo ao pensamento o diálogo entre o cineasta Fernando Biri e o ilustre escritor e pensador Eduardo Galeano: a utopia está no horizonte. Dou dez passos e o horizonte distancia-se dez passos; dou cem passos e o horizonte distancia-se cem passos. Para que serve, então, a utopia? Serve exactamente para isso, para caminhar.

Parabéns meu Caro Amigo, continue com as exigências das múltiplas utopias face a um Mundo turbulento, assimétrico e de pornográfica pobreza.

Ilustração: Google Imagens.

terça-feira, 4 de abril de 2023

O motor económico da Europa em risco de gripar


Por
02 Abril 2023

Estima-se que, em cada ano, deixam a Alemanha cerca de 180.000 altos quadros e empresários que ajudam a desqualificar a sociedade alemã pelos múltiplos efeitos no funcionamento da economia do país.



Um artigo de Rainer Zitelmann, publicado no “Contrepoint” (26/03/2023), é muito pouco abonatório da saúde da economia alemã, sob vários ângulos de análise.

Certamente, o nome do autor diz-nos pouco. Mas trata-se de um historiador alemão, politólogo, investigador, sociólogo e um conferencista de renome, participante e organizador de seminários sobretudo para empresários em todo o mundo, em países tão diferentes como a China, Vietname, EUA, Alemanha, Brasil, Chile, França …, pago com certeza a peso de ouro, autor de um livro recente a publicar para já em 30 países, que se intitula “Em Defesa do Capitalismo”.

O artigo alerta para um problema crítico, a Emigração de quadros empresários jovens, na sua maioria à volta dos 40 anos, experientes e bem-sucedidos na profissão.

Conta-nos o autor que a taxa de Emigração na Alemanha neste tipo de quadros empresariais é a terceira mais elevada das 38 principais nações mais industrializadas, pormenorizando ainda que 3/4 destes emigrantes têm diploma universitário.

Até os países mais avançados e de melhor nível de vida deixam “fugir” os seus quadros. Afinal, não é só Portugal que deixa escapar muitos quadros de que tanto precisa, sobretudo da área da saúde.

Um problema que dá que pensar

Este artigo reflecte, de forma ligeira embora, o sentir dos conferencistas de dois seminários por ele realizados em Berlim. No primeiro, os participantes eram na sua maioria empresários de diferentes sectores económicos onde destaca um comerciante de vinhos, um grande fabricante de brinquedos e um outro ainda a trabalhar na energia.

Face à pergunta de quem já tinha colocado a si próprio deixar o país para exercer a actividade num outro, diz que ficou chocado, quando quase todos levantaram o braço.

Dias depois, no outro seminário, também predominantemente de empresários e na sequência do anterior, “Plano B – e se a Alemanha bater contra o muro”?

Um agricultor declarou: “Os políticos não têm qualquer ideia do que é a agricultura”. Todos os dias nos aborrecem com regulamentos e mais regulamentos, cada um mais absurdo que o anterior. “Já os aturei o suficiente”. Agora estou a preparar-me para sair para outro sítio, onde possa trabalhar.

Desagrado e desencanto sem dúvida. Se se poderá generalizar, é uma outra questão! Mas, não deixa de ser um alarme de que algo anda mal. Mas, comenta, nem todos os empresários vão deixar o país, mesmo aqueles que têm muita vontade de o fazer.

Há muitas barreiras à saída, a complicar uma tomada de decisão. Há um “muro fiscal”, que coloca graves impedimentos. Os alemães têm bem mais experiência de outros muros, mais físicos, que se viam!

Segundo o autor do artigo, quando o empresário deixa o seu país é tratado, como se tivesse vendido a sua empresa ou as suas acções e realizado “um lucro” que, de facto, não existiu e sobre ele é taxado.

E ainda acentua. “Este imposto tornou-se mais rigoroso para os alemães que se mudam para países da UE”. Não queria acreditar. Fui à procura de informação e encontrei referências várias a este “muro fiscal” na imprensa europeia. Não aos procedimentos em pormenor.

Pergunto-me. Este procedimento é compatível com as normas comunitárias ou a Alemanha é tão dominante que se isenta a ela própria das regras comuns?!

Presentemente, cerca de 3,8 milhões de alemães vivem fora da Europa, correspondendo a uma taxa de emigração de 5,1%. Estima-se que, em cada ano, deixam a Alemanha cerca de 180.000 altos quadros e empresários que ajudam a desqualificar a sociedade alemã pelos múltiplos efeitos no funcionamento da economia do país.

Uma imigração muito menos qualificada ocorre em sentido inverso para postos de trabalho de base ou de nível intermédio, atraída muitas vezes sobretudo pela protecção social existente no país. Por outro lado, um estudo da OCDE indica que a Alemanha pratica a carga tributária e social, mais alta do mundo.

O autor defende que não são apenas as condições económicas que fazem os alemães deixarem o país e aponta um indicador deveras curioso, o da inveja social, em que, por acaso, a Alemanha se posiciona em segundo lugar, sendo a França o primeiro e em terceiro a China, entre os 30 que entram para o cálculo de comparação. Este indicador é determinado através do diferencial entre níveis de rendimentos.

As empresas

A situação a nível de empresas não é menos dramática. E neste quadro são tidos em conta múltiplos aspectos, com relevo para a burocracia do Estado, a elevada regulamentação e o custo dos factores de produção, onde a energia assume um peso determinante.

A BASF, a maior empresa química do Mundo, fez deslocalizar para a China, muito recentemente, parte de suas produções e justifica que o fez por excesso de regulamentação, demasiada burocracia e os elevados custos de energia que lhe retiram a competitividade e a todo o sector do ramo implantado na Alemanha.

O CEO da BASF argumenta que não foi a guerra da Ucrânia que afectou os custos da energia, pois os empresários alemães já a pagavam, muito antes da guerra, 50% mais elevada que nos EUA. Em seu entender, foi a errada política energética (EnergieWende) de responsabilidade de Merkel que começou a arrasar a indústria alemã.

O tipo de transição energética protagonizada pelo governo alemão, nos últimos doze meses, vem afundar ainda mais a indústria a prazo, porque não é tecnicamente credível para a descarbonização da sociedade e entende que o mecanismo de formação dos preços da electricidade tem de ser reformulado.

Concluindo, a energia é um tema basilar para a Europa, onde a Alemanha tem demasiadas culpas do caos em que se encontra. E insisto, sem um entendimento na mudança de rumo, não só o motor da economia europeia gripa bem como arrastará toda a União a uma situação crítica. E da Comissão nada a esperar para melhor, pois segue a voz do dono.

E sobre a energia, até o primeiro-ministro português se pronunciou sobre a ineficácia das medidas recentes avançadas pela Comissão Europeia.

Mas, se a UE continuar incapaz de resolver o problema da energia em profundidade, como até aqui, as eventuais medidas que se tomem ao nível de país ou por grupos de países-membros só poderão ampliar ainda mais a falta de coesão comunitária.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

domingo, 2 de abril de 2023

II ENCONTRO BANDOLINS DE MACHICO - MADEIRA



II ENCONTRO DE BANDOLINS DE MACHICO
PADRE JOSÉ MARTINS JÚNIOR

Foi uma noite de emoções muito fortes. A música tem esse condão, toca-nos fundo, desde a sua sua beleza ao relaxamento que provoca. Basta que se goste das sonoridades e nos deixemos embalar na harmonia. Foi isso que eu senti. Parabéns à Câmara Municipal de Machico por este II Encontro de Bandolins.

Uma palavra para a excelência da orquestra bandolinística ribeirabravense e para o exemplar e emotivo desempenho do Duo Norberto Gonçalves da Cruz e Jorge Vidal. Um momento sublime.

Mas não é o espectáculo propriamente dito que aqui me traz. É outra a história. Tal como há livros e textos intemporais, ontem, uma vez mais, concluí que o Padre José Martins Júnior é uma daquelas figuras que jamais a História da Madeira apagará. Todos nós, tarde ou cedo, desaparecemos do palco da vida. Porém, a obra fica, neste caso, imortal. Ao contrário das obras físicas, ainda há dias, por aí foram destacadas 500 obras lançadas pelo governo, o Padre José Martins Júnior tem, ao longo da sua vida, uma só obra quase concluída: a da celebração do ser humano. Aos 84 anos continua, através da música, da poesia, da excelência dos seus textos, da humildade, das reflexões que produz, da lucidez, da racionalidade do pensamento e da sua abertura ao mundo, juntando a sua voz aos muitos desconfortos sentidos, que tornam a pobreza numa paisagem, aos 84 continua, dizia eu, a celebrar a VIDA, enquanto outros apenas "obram".

Não pelo facto de ser seu Amigo, dos nossos diálogos terem o tempero saboroso que o prazer da escuta proporciona, mas por aquilo que ele realmente é. Já aqui o disse uma outra vez que as suas preocupações com o ser humano não são dali, do vale de Machico, da Ribeira Seca, mas de toda a Madeira, de todo o País, porque é uma voz para o Mundo. Que bom seria que as vozes se multiplicassem e produzissem efeitos! Ainda ontem, subtilmente, no dia do miserável e tenebroso ataque a Bucha (fez um ano), pediu que todos, de pé, escutassem o Hino da Ucrânia.

Ele é um Homem atento, um Ser Humano excepcional que não morrerá, apesar de alguns ares enviesados que lhe deitam. Sobretudo os que confundem o exercício da política, pelos interesses que defendem, com a "honestidade intelectual, pedra angular do discurso ético" - Louis M. Guenin.

Convido-vos a seguir este excerto do espectáculo de ontem.

Vídeo: Arquivo próprio