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domingo, 30 de setembro de 2012

UMA OFENSA AOS EMPRESÁRIOS


As manifestações constituem um indicador de grave insatisfação e os analistas, desde economistas, representantes do associativismo, professores universitários até aos jornalistas, são genericamente unânimes em condenar esta contínua busca pela austeridade junto dos que pouco ou nada têm, rapando o tacho como se alguma coisa ainda houvesse para rapar. Basta um mínimo de atenção para tudo quanto vão dizendo e escrevendo, para nos aquilatarmos da verdadeira situação de um governo de quem nada se espera. Está moribundo, a olhar para ontem, sem um mínimo de capacidade para gerar alguma confiança e benefício da dúvida. Cada dia que se passa é sensível o pesadelo para quem governa e para quem sofre com as suas atitudes marcadamente ideológicas. O País afunda-se e pasmo, ou se calhar não, com a indiferença do Senhor Presidente da República. O recuo na TSU foi uma aspirina contra uma dor sentida no meio de outras dores. O seu efeito passou pouco depois, pelo que se deduz que não é com aspirinas ou pensos rápidos que se cura uma infecção generalizada que paralisa e impede a vida. Neste quadro, pergunto, de que está à espera o Senhor Presidente da República quando este "doente" está, pelas más políticas impostas por uma direita retrógrada, insensível e em ajuste de contas com o passado, ligado à máquina da sobrevivência, ela própria castradora da esperança?
 
 
Há pessoas que não sabem o que é viver
com o salário mínimo ou com uma pensão!
Parece-me óbvio que este governo da República , como sói dizer-se, "está feito num oito". Não acerta quer através dos seus ministros, quer através dos seus assessores ou colaboradores na implementação das suas políticas. Assisto aos debates que vão acontecendo e não descubro vivalma que não teça considerações muito negativas na apreciação global ao trabalho político. Aliás, os indicadores económicos e não só vindos a público testemunham, claramente, o descalabro e o desacerto. Estamos pior do que estávamos e, depois desta continuada receita de austeridade, dizem, ficaremos ainda mais pobres e sem futuro. As manifestações constituem um indicador de grave insatisfação e os analistas, desde economistas, representantes do associativismo, professores universitários até aos jornalistas, são genericamente unânimes em condenar esta contínua busca pela austeridade junto dos que pouco ou nada têm, rapando o tacho como se alguma coisa ainda houvesse para rapar. Basta um mínimo de atenção para tudo quanto vão dizendo e escrevendo, para nos aquilatarmos da verdadeira situação de um governo de quem nada se espera. Está moribundo, a olhar para ontem, sem um mínimo de capacidade para gerar alguma confiança e benefício da dúvida. Cada dia que se passa é sensível o pesadelo para quem governa e para quem sofre com as suas atitudes marcadamente ideológicas. O País afunda-se e pasmo, ou se calhar não, com a indiferença do Senhor Presidente da República. O recuo na TSU foi uma aspirina contra uma dor sentida no meio de outras dores. O seu efeito passou pouco depois, pelo que se deduz que não é com aspirinas ou pensos rápidos que se cura uma infecção generalizada que paralisa e impede a vida. Neste quadro, pergunto, de que está à espera o Senhor Presidente da República quando este "doente" está, pelas más políticas impostas por uma direita retrógrada, insensível e em ajuste de contas com o passado, ligado à máquina da sobrevivência, ela própria castradora da esperança?
Mas como vinha a dizer, sendo sensível o desnorte, não existe remodelação governamental que sustenha o peso das políticas impostas. Dúvido, até, que alguém de valor e com sensibilidade se disponibilize para integrar um quadro ministerial, qual barco com rombos e adornado pela água que o fará naufragar. Como se isto não bastasse, com pouca inteligência política, o responsável pelas privatizações, o Dr. António Borges (PSD), um dos tais que não pertence ao elenco ministerial mas que actua como se fosse, sobre a TSU veio dizer: “(...) que a medida é extremamente inteligente, acho que é. Que os empresários que se apresentaram contra a medida são completamente ignorantes, não passariam do primeiro ano do meu curso na faculdade, isso não tenham dúvidas”. Cego e surdo, teimoso que nem sei o quê, não conseguiu fazer um esforço para ouvir outras vozes da sociedade e, numa inaudita declaração expôs o governo ao ridículo e os empresários a uma avaliação que, de todo, não merecem, face às dificuldades que enfrentam. Curiosamente, no mesmo dia, na habitual coluna de opinião no New York Times, intitulada esta semana de "A loucura da austeridade na Europa", o Nobel das Ciências Económicas, Paul Krugman, defendia que as medidas de austeridade levadas a cabo por países como a Grécia, Espanha ou Portugal "foram demasiado longe" (...) "Muitos analistas sugerem que os cidadãos de Espanha e da Grécia estão apenas a adiar o inevitável, ao protestarem contra os sacrifícios que devem, de facto, ser feitos. Mas a verdade é que estes cidadãos estão certos. Mais austeridade não serve nenhum propósito. Os verdadeiros intervenientes irracionais são os políticos, alegadamente sérios, que exigem cada vez mais sacrifícios" (...) "O que a opinião pública destes países está, de facto, a dizer é que chegaram ao limite: com a taxa de desemprego em níveis idênticos ao da Grande Depressão, a austeridade já foi longe demais." Questiona, então, Paul Krugman: "Porquê as exigências de mais sacrifícios?" (texto lido e transcrito, em parte, do Jornal de Negócios).
Ora, é caso para perguntar: afinal, quem é o ignorante? E quem não passaria de ano se fosse aluno? Parece-me óbvio que se trata de uma cegueira ideológica do Dr. António Borges e não de um conhecimento científico experimentado. 
Ilustração: Google Imagens.

sábado, 29 de setembro de 2012

POR AQUI, TAMBÉM EXISTEM CORONÉIS. O CACAU É QUE É OUTRO!


Coronel Ramiro: "Tem não. Vocemecê é forasteiro. É que nem vento que vem, passa e vai embora. Eu sou da terra onde se planta o cacau. Sou daqui. Vocemecê é de lugar nenhum".
Dr. Mundinho: "Engana-se Coronel. Eu vim para fincar raízes. Como uma semente que cai na terra, germina, vira árvore, árvore nova, coronel, que traz bons frutos. Já as árvores velhas secam, caiem".
Coronel Ramiro: "Vocemecê tem a ousadia de dizer que vou cair? Procure saber: tudo aqui nesta cidade depende de mim".
 
 
António Fagundes no papel
de Cor. Ramiro Bastos.
Por aqui também existem
alguns coronéis!
Trinta anos depois de Gabriela ter chegado à televisão, a novela baseada na obra do notável Jorge Amado, esta versão, produzida pela Globo, está a permitir um reavivar da memória de um trabalho que, ao tempo, apaixonou Portugal inteiro. Anteontem segui um capítulo. Voltei atrás e, pacientemente, transcrevi uma parte que considerei de uma flagrante oportunidade. Afinal, também por aqui, existem alguns coronéis!
A cena passa-se no baile da Associação Comercial. Envolve vários personagens, desde coronéis, à neta do Coronel Ramiro Bastos (o homem forte da cidade, Intendente de Ilhéus, e que todos temem) Jerusa, a neta de Ramiro Bastos e o Dr. Mundinho, recém chegado à cidade, opositor político de Ramiro Bastos. A parte que aqui transcrevo, naturalmente, com algumas omissões de transcrição, refere-se à apresentação de Jerusa ao Dr. Mundinho que Ramiro Bastos, à distância, vê e não gosta.
Jerusa: "Fiz alguma coisa de errado?"
Coronel Ramiro: "Fez. Falou com este homem que é meu desafecto. Tocou onde não devia. Vá, vá, vá... (...)"
Acompanhante de Jerusa: "Venha, venha Jerusa. Obedeça ao seu avô".
Coronel Ramiro: "Dr. Mundinho, eu não quero o nome da minha neta Jerusa na sua boca. E você aí doutor teve o atrevimento de apresentar este homem para a minha neta?"
Doutor: "Os senhores têm desavenças na política e nos negócios, mas eu acredito que podemos conviver".
Coronel Ramiro: "Nos bons tempos este homem nem estaria aqui. E se o cabra ousasse seria posto para fora a pontapé".
Dr. Mundinho: "Coronel Ramiro Bastos, até agora eu ouvi quieto em respeito pela sua idade, mas por favor não me ofenda. Tenho tanto direito de estar aqui quanto o senhor".
Coronel Ramiro: "Tem não. Vocemecê é forasteiro. É que nem um vento que vem, passa e vai embora. Eu sou da terra onde se planta o cacau. Sou daqui. Vocemecê é de lugar nenhum".
Dr. Mundinho: "Engana-se Coronel. Eu vim para fincar raízes. Como uma semente que cai na terra, germina, vira árvore, árvore nova, coronel, que traz bons frutos. Já as árvores velhas secam, caiem".
Coronel Ramiro: "Vocemecê tem a ousadia de dizer que vou cair? Procure saber: tudo aqui nesta cidade depende de mim".
Dr. Mundinho: "É por causa do senhor que o progresso não chega aqui".
Coronel Ramiro: (rindo para os outros coronéis) "Quer tomar o meu lugar. É para rir. O povo acredita na minha pessoa, vota em mim e em quem eu mandar".
Dr. Mundinho: "O povo vai abrir os olhos, coronel, e nesse dia o senhor vai perder e o progresso vai dar o seu lugar. (...) Despeço-me, mas há uma coisa que eu admiro.
Coronel Ramiro: "(olhando para os outros) "Agora vai dizer que me admira".
Dr. Mundinho: "Tem uma linda neta, coronel. Um encanto para os olhos. Até mais ver". (Despede-se, passa pela neta e cumprimenta-a).
Coronel Ramiro: "Que ousadia. Noutro tempo eu abria o bucho deste cabra mesmo".
Outro Coronel: "Os tempos mudaram".
Outro Coronel: " Mudaram para pior. Se for preciso jagunço tenho lá um".
Coronel Ramiro: "Não é preciso (...) não vou me preocupar com moleque que acabou de chegar".
Outro Coronel: "Ele foi cumprimentar a sua neta".
Coronel Ramiro: "Não posso negar que ele tem colhão. Mas não se atreva a cortejar a minha neta Jerusa. Aí vai ser assunto de família. Isso sim, a gente resolve com sangue".
Achei interessantíssimo este diálogo de implicações políticas onde a neta Jerusa apenas constitui um pretexto. Dei comigo a segui-lo e a contextualizá-lo na vida política da Madeira. Aqui também há vários "coronéis" (o cacau é que é outro) e há um que desempenha o papel de Ramiro Bastos: "O povo acredita na minha pessoa, vota em mim e em quem eu mandar". Nem mais. Só que há também "coronéis" a dizer que "Os tempos mudaram". O Ramiro da novela ameaça com sangue (quando a "família" for posta em causa - eu diria, em aproximação à Região, a "máfia boazinha" for posta em causa). Aqui, em 1975, também houve bombas e sangue! Sem querer ser pejorativo, porque se trata de calão, apenas utilizando a palavra de Ramiro Bastos, aqui também há gente de "colhão"!
Ilustração: Google imagens.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A REPRESENTAÇÃO DA REPÚBLICA NA MADEIRA TEM DE SER POLITICAMENTE INDEPENDENTE


Não está aqui em causa a figura do Juiz Conselheiro Irineu Barreto que, institucionalmente, respeito. Não está em causa a pessoa, melhor dizendo, mas o político, a sua função e, neste caso, as atitudes e os eventuais deslizes. Isso é que me preocupa. O exercício da política a este nível não pode "cheirar" a falta de independência. Se, obviamente, não me parece correcto pôr em causa a competência, já as atitudes, do ponto de vista político, podem demonstrar falta de independência e isso, repito, na apreciação política, é fatal. A um Representante da República não se espera que esteja com A ou com B, mas que seja frontal e isento, custe o que custar e doa a quem doer. Se doer para o lado do governo, pois bem, deve ser esse o lado que o Senhor Representante melhor deve dormir. E se do Presidente da República já nada se espera relativamente à Madeira, o Representante, embora indicado por ele, não deve parecer uma sua fotocópia, num momento que é preciso que alguém se constitua como garantia de estabilidade e da correcção dos desvarios políticos.

 
 
O Senhor Representante da República para a Madeira está a deixar um rasto de falta de confiança e independência política junto dos operadores político-partidários. É esta a síntese do que ouço nos meus diálogos com vários intervenientes parlamentares. Afora outras situações, num curto espaço de tempo, pela segunda vez, as suas apreciações a diplomas da Assembleia suscitam-me preocupação. A primeira foi com o projecto de Decreto Legislativo Regional, da autoria do PS-Madeira, que visou devolver aos trabalhadores da ANAM (reformados) o valor correspondente a um desconto de 2% sobre os seus salários (ler aqui e aqui). O projecto foi aprovado na Assembleia, com muitas reticências do PSD, o Representante da República, teve dúvidas sobre a sua constitucionalidade, remeteu-o para o Tribunal Constitucional e este acabou por dar razão à proposta do PS. Agora, foi com o Estatuto da Carreira Docente, da autoria do governo PSD, aprovado na Assembleia, apenas com os votos do PSD e abstenção do CDS, mandado publicar, sem pestanejar, pelo Representante da República. O PS entendeu existir inconstitucionalidades e pediu que o Tribunal Constitucional se prenunciasse. O resultado da apreciação surgiu agora. Segundo me apercebo terá que ser um grupo de deputados na Assembleia da República a solicitar a fiscalização do citado diploma, porque tal propósito está, lamentavelmente, vedado aos partidos com representação na Madeira. Para já o problema mantém-se, isto é, o Representante da República deixou passar, mas a probabilidade de uma ou mais inconstitucionalidades, a ver vamos, não se apagaram. Isto é, em resumo, um diploma do PSD mandou para publicação e um diploma do PS remeteu-o para o TC. Em um caso há dúvidas e, no outro, claramente, perdeu.
Ora bem, não é que o Representante não possa enganar-se. Todos nós nos enganamos. Ninguém está isento de cometer um erro, neste caso, de apreciação jurídico-constitucional. Mas começam a subsistir dúvidas a mais. "Errar é humano", é certo, mas dir-se-á que o Senhor Representante está a ser humano demais! Duas situações, ainda por cima com o mesmo partido político, acaba por gerar falta de confiança junto das estruturas políticas representativas. Por mais que assim não se queira pensar. E isso não é bom para o normal relacionamento institucional, o qual deve assentar na total e irrepreensível independência política. Dúvidas desta natureza acabam por criar um ambiente de pé atrás que conduz à pergunta: para que serve o lugar de Representante da República? É que já temos instabilidade que chegue na Região para, ainda por cima, na instituição que deveria ser estabilizadora e de garantia, os operadores políticos olharem também com olhos enviesados. E esses olhos existem, não apenas face às situações a que me reporto.
Não está aqui em causa a figura do Juiz Conselheiro Irineu Barreto que, institucionalmente, respeito. Não está em causa a pessoa, melhor dizendo, mas o político, a sua função e, neste caso, as atitudes e os eventuais deslizes. Isso é que me preocupa. O exercício da política a este nível não pode "cheirar" a falta de independência. Se, obviamente, não me parece correcto pôr em causa a competência (jurídica), já as atitudes, do ponto de vista político, podem demonstrar falta de independência e isso, repito, na política, é fatal. A um Representante da República não se espera que esteja com A ou com B, mas que seja frontal e isento, custe o que custar e doa a quem doer. Se doer para o lado do governo, pois bem, deve ser esse o lado que o Senhor Representante melhor deve dormir. E se do Presidente da República já nada se espera relativamente à Madeira, o Representante, embora indicado por ele, não deve parecer uma sua fotocópia, num momento que é preciso que alguém se constitua como garantia de estabilidade e da correcção dos desvarios políticos.
Mas a história do Estatuto da Carreira Docente e a alegada inconstitucionalidade agora detectada tem, a meu ver, uma outra leitura. A da teimosia de um Secretário Regional da Educação (e da maioria política) que, tendo na Assembleia, um projecto de Decreto Legislativo Regional, da autoria do PS, substancialmente mais completo e portador de futuro, não o quis debater em conjunto para que dali saísse um documento abrangente e com escassas margens de possibilidade de ser considerado com ilegalidades e/ou inconstitucionalidades. Preferiram, aliás como sempre, seguir o caminho do pensamento único, do quero, posso e mando, e o resultado aí está: para além de um péssimo documento na sua estrutura global, tudo leva a crer que incorre em inconstitucionalidades perfeitamente evitáveis. Ora, enquanto esta gentinha não for posta a andar, este Estatuto continuará, na Assembleia Legislativa, todos os anos, por um ou outro motivo. Chega de teimosia e de incompetência.
Ilustração: Google Imagens.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

LIGAÇÕES AÉREAS: LIBERALIZAÇÃO SEM CONCORRÊNCIA.

UM GOVERNO SEM BÚSSOLA E UM PRESIDENTE QUE SE GUIA PELAS ESTRELAS


Inevitavelmente, o Presidente da República será arrastado neste turbilhão desintegrador. Anda, há muito, a aparar o jogo, em negociações por detrás da cortina, como se as cúpulas de ambos os partidos fossem meninos de coro. Não são. Há muitos interesses pessoais e de grupo em jogo e, como diz Daniel Oliveira, "(...) os portugueses compreenderão que o problema de quem os governa não é apenas de incompetência e fanatismo. É acreditarem que no memorando da troika está a solução e não o problema (...)". E disso, penso eu, já estão a aperceber-se, se considerarmos aquele milhão de pessoas que a 15 de Setembro veio para a rua dizer BASTA. Só o Presidente é que não vê que é suicidário o caminho que este governo está a percorrer. Também por incompetência e, porventura, por fanatismo ideológico e partidário. Tivemos um "corta fitas", o Almirante Américo Tomás, hoje temos um civil que descerra placas e pouco mais do que isso.

 
A pressão exercida pelo povo, melhor dizendo, pelos "piegas", parafraseando a expressão de Passos Coelho, deixou a bússola do governo completamente descontrolada. TSU, sim, TSU, não; subsídios de férias e de Natal só para 2018, subsídios de férias e de Natal (uma parte) já no próximo ano, enfim, duas entre outras situações que provam que este é um governo de amadores que nem para levar a água ao seu moinho consegue. O governo e os partidos da coligação que, por mais que tentem disfarçar, manifestam olhares enviesados um para o outro. O tal "Conselho de Coordenação da Coligação" (CCC) constitui um penso rápido numa ferida profunda que não conseguem controlar. Leio uma peça dos jornalistas Filipe Costa, Ângela Silva e Alberto Frias (Expresso): "(...) nas cúpulas laranja do Executivo há quem deixe um aviso: "o que ainda temos de fazer é avassalador e não é certo que o CDS queira ficar colado ao que aí vem". Do ponto de vista centrista, a questão é ao contrário: "o que há para fazer é duríssimo e impopular, mas terá de ser feito pelo lado certo - os cortes na despesa - e não pela solução de sempre, de inventar mais impostos". Daqui se pode deduzir que aquele CCC não é mais que um penso que disfarça e atenua a dor entre parceiros, mas que continuará a sangrar até ao momento da ruptura completa. Leio que há ministros que querem uma remodelação imediata e o primeiro-ministro não; leio que o CDS/PP duvida das contas de Gaspar. Ora, quando isto está a acontecer só pode existir uma leitura: não se entendem e, tarde ou cedo, o acordo "nupcial" será desfeito, até porque o CDS, que na coligação funciona como bengalinha, tendo eleições autárquicas no próximo ano, com uma última sondagem a lhe dar uns escassos 7%, atrás de todos os outros, certamente que saltará do barco, numa tentativa de se demarcar da loucura suicida do partido maioritário no governo.
Inevitavelmente, o Presidente da República será arrastado neste turbilhão desintegrador. Anda, há muito, a aparar o jogo, em negociações por detrás da cortina, como se as cúpulas de ambos os partidos fossem meninos de coro. Não são. Há muitos interesses pessoais e de grupo em jogo e, como diz Daniel Oliveira, "(...) os portugueses compreenderão que o problema de quem os governa não é apenas de incompetência e fanatismo. É acreditarem que no memorando da troika está a solução e não o problema (...)". E disso, penso eu, já estão a aperceber-se, se considerarmos aquele milhão de pessoas que a 15 de Setembro veio para a rua dizer BASTA. Só o Presidente da República é que não vê que é suicidário o caminho que este governo está a percorrer. Também por incompetência e, porventura, por fanatismo ideológico e partidário. Aliás, não existe uma grande diferença, a não ser na proporção dos espaços de intervenção, sobre a sua mudez relativamente ao que há anos se passa na Madeira e o seu comportamento com o desnorte governativo nacional. Tivemos um "corta fitas", o Almirante Américo Tomás, hoje temos um civil que descerra placas e pouco mais do que isso. E o país afunda-se e a região, à sua dimensão, apodrece às mãos de governantes de política fraudulenta. Confrontamo-nos com um governo sem bússola e com um presidente que teima em guiar-se pelas estrelas. Diria Cavaco Silva: por precaução e prudência. As únicas palavras que, repetidamente, diz. É por isso que milhares, para não dizer milhões de portugueses, estão fartos deste senhor.
E a propósito aqui deixo parte de uma opinião do Jornalista e economista Camilo Lourenço - Jornal de Negócios: "(...) O que se passou nas últimas semanas (péssima comunicação do governo mais o "golpe de Estado" patrocinado pelo Presidente, que tornaram possível governar a partir da rua) coloca-nos numa situação mais complicada do que parece. Só nós não estamos a perceber. Mas lá fora há quem não esteja tão distraído: veja-se a "Lex Column" do "FT" de ontem ("Portugal - failing to stay the course - country combines some of the worst aspects of Greece and Ireland"), que diz que o Governo recuou com receio das manifestações. Hummm!!! (...) Isto vai correr mal".
Eu diria que só quem não está a perceber é o Presidente!
Ilustração: Google Imagens.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

MAIS UMA QUEIXA-CRIME


Se, perante as declarações do cidadão vereador, ditas em abstrato e, portanto, sem destinatários, ser-lhe-á movida, segundo li, uma queixa-crime, imaginemos se a Madeira era independente! Não sei se não teria uma espécie de "gulag" do Poiso para cima. Ainda por cima, quando desejam ter, por aqui, sistema de Justiça próprio.

  
Está a arder!
Façamos um esforço. Puxemos pela imaginação. O que certos não fariam se esta terra fosse independente. Isto a propósito do cruzamento de duas situações: 1ª as declarações que escutei sobre as lutas pela "independência" na Catalunha, no País Basco, na Escócia, entre outros espaços, onde assumem que vão estar atentos; 2º as declarações de um vereador que, legitimamente, se mostrou contra as obras que decorrem no aterro a leste do cais da cidade do Funchal.
Se, perante as declarações do cidadão vereador, ditas em abstrato e, portanto, sem destinatários, ser-lhe-á movida, segundo li, uma queixa-crime, imaginemos se a Madeira era independente! Não sei se não teria uma espécie de "gulag" do Poiso para cima. Ainda por cima, quando desejam ter, por aqui, sistema de Justiça próprio.
Tudo isto me dá a entender que há gente de cabeça completamente à nora e, perdidos a velas e a remos, toca a pressionar, através da ameaça ridícula, todos quantos tenham uma opinião diferente. Mas são estas mesmas pessoas que não levantam a imunidade parlamentar quando são chamados a Tribunal, nem vão à Assembleia Legislativa quando chamados! Interessante.
Melhor seria, das duas, uma: ou que se fossem embora, deixassem de "chatear", ou, então, no caso em apreço, longe dos gabinetes de produção à medida (porque são políticos) dessem a voz aos homens e mulheres de ciência (que não são de aviário), para que fiquem salvaguardos todas as implicações futuras das medidas tomadas hoje.
Decididamente, não tomam juízo!
Ilustração: Google Imagens.

É RÉU, NÃO VÍTIMA


É a anulação da TSU que abrirá uma janela de esperança aos aflitos empresários e aos 23.000 desempregados que os sucessivos governos PSD produziram? E se falasse de sidra e deixasse os disparates? Mais: "o povo não pode ser mais sacrificado". Essa é boa! Quem o conduziu ao altar do sacrifício? Quem é que determinou a política económica e educativa? Quem é que apostou, prioritariamente, no cimento e no alcatrão e não no conhecimento gerador de desenvolvimento? Quem apostou, sistematicamente, no controlo da sociedade através da subsidiodependência associativa e não só? E se falasse de sidra e deixasse os disparates?
 
 
A propósito do comunicado do Conselho de Estado, disse o Dr. Alberto João Jardim: "(...) Foi um sinal de esperança", simplesmente porque "o povo não pode ser mais sacrificado". Havia que "(...) parar com coisas que estavam mal (…)". Declarações, no Santo da Serra, que considero não terem sido consequência da sidra. Vamos lá por partes: um "sinal de esperança"? Mas onde é que o presidente vê esperança, a partir da anulação da TSU que, com toda a certeza, será substituída por outras medidas de equivalente roubo? Esperança para quem? Para os madeirenses? Que esperança pode existir para este povo que, por exclusiva culpa de quem o governou durante 36 anos, se vê completamente triturado pela degradação económica, financeira, social e cultural? É a anulação da TSU que abrirá uma janela de esperança aos aflitos empresários e aos 23.000 desempregados que os sucessivos governos PSD produziram? E se falasse de sidra e deixasse os disparates? Mais: "o povo não pode ser mais sacrificado". Essa é boa! Quem o conduziu ao altar do sacrifício? Quem é que determinou a política económica e educativa? Quem é que apostou, prioritariamente, no cimento e no alcatrão e não no conhecimento gerador de desenvolvimento? Quem apostou, sistematicamente, no controlo da sociedade através da subsidiodependência associativa e não só? E se falasse de sidra e deixasse os disparates? Mais: "parar com coisas que estavam mal (...)". Essa é boa! Com tanta obra (muito "obra" o senhor presidente!), pública e notoriamente, considerada desfasada das necessidades e da realidade conjuntural da Região, com que lata fala de "coisas que estavam mal"? O Conselho de Estado sugeriu travar a obra no aterro em função da miséria que por aí vai? Será por falta de um espelhinho que o leva a produzir declarações daquelas? Se é, há sempre ao virar da esquina uma loja chinesa. Faça o favor.
Ilustração: Google Imagens.
NOTA
Opinião da minha autoria publicada na edição de hoje do DN-Madeira

terça-feira, 25 de setembro de 2012

O SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO APRENDEU DEPRESSA!


Oh senhor secretário e ex-sindicalista, ter calotes desde 2011 (telefones) e denunciá-los é ser alarmista? Oh, senhor secretário vá brincar com quem quiser, mas não com os jornalistas nem com os professores, nem com os pais, nem com os sindicatos que não lhe fazem vénia. A um político em funções governativas, mesmo que não esteja, exige-se dignidade, verdade e total assumpção das responsabilidades.
 
 
Está à sua frente, mas nega, ou melhor, é preto, bem preto, mas diz ser cinzento; entra pelos olhos adentro de qualquer cidadão, mas para o secretário não é bem assim, vamos resolver, pois que se trata de uma ou outra situação pontual. Ontem, uma vez mais, confrontado com o corte, nas escolas, dos telefones da rede fixa, falou de uns indivíduos "alarmistas". Oh senhor secretário e ex-sindicalista, ter calotes desde 2011 e denunciá-los é ser alarmista? Ter piscinas por todo o lado fechadas, porque não há dinheiro para o combustível, impedindo a regular utilização pelas escolas e pelo associativismo, é ser alarmista? Ter um calote de cerca de seis milhões de euros aos professores, desde 2008, professores que ascenderam na carreira por mérito próprio e que estão a ser pagos pela categoria anterior, é ser alarmista? Não ter dinheiro para visitas de estudo é ser alarmista? Ter as reprografias sem papel e toner, com os professores a fazerem das tripas coração para manterem as aparências, é ser alarmista? Ter cantinas com sucessivas dificuldades de funcionamento, por uma ou outra razão, é ser alarmista? Ter pobreza na escola e uma portaria da acção social penalizadora é ser alarmista? Não ter dinheiro para o papel higiénico ou para pagar os calotes aos fornecedores e, particularmente, as facturas de energia e água é ser alarmista? Oh, senhor secretário vá brincar com quem quiser, mas não com os jornalistas nem com os professores, nem com os pais, nem com os sindicatos que não lhe fazem vénia. A um político em funções governativas, mesmo que não esteja, exige-se dignidade, verdade e total assumpção das responsabilidades. E quando o político sente que não tem ombros para esta carga e/ou capacidade para gerir um sector do qual dependemos como de pão para a boca, o melhor que tem a fazer não é aguardar por uma eventual remodelação, mas sair, regressar à sala de aulas e, qual reciclagem, viver o dia-a-dia dos professores e das escolas. Para mim isto é limpinho. Não aceito é que me venham, perante as evidências e os testemunhos, ouvir que todos os que analisam e que se posicionam são alarmistas. E o pior disto tudo é que o Secretário sabe onde está o dinheiro para satisfazer as necessidades do sistema educativo.
Mas, já que fala de situações alarmistas, hoje ficarei por aqui, todavia, brevemente, regressarei com outros dados. Esteja atento, senhor secretário. Toda a gente percebe que aprendeu depressa a lengalenga do PSD e do seu "chefe", mas não pense que os outros são todos mentecaptos.
Ilustração: Google Imagens.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

SEM TRABALHO, SEM SUBSÍDIO E SEM VIDA!


Li o texto e várias vezes levantei os olhos para fixar-me nas expressivas fotos que acompanham o trabalho jornalístico. Constrange e deixa com um nó na garganta qualquer pessoa com um mínimo de sentimento. Bruno já fez tudo na vida, sublinha a jornalista: "fui auxiliar de acção médica, trabalhei numa fábrica, fui operário da construção civil, pintor, ajudante de distribuição, empregado de mesa, vigilante... e outras coisas". Muitas vezes sem contrato. Pagavam-lhe a dinheiro e sem recibo. Vive em casa dos pais, com € 36,00 do abono de família da filha. A história de um outro casal, desempregados, com três filhos: "não pagamos a renda há seis meses". Vivem com € 282,00, provenientes do abono de família e de € 177,00 do Rendimento Social de Inserção. Já venderam tudo o que poderia ter algum valor. Ao ler este texto que apenas traduz uma ínfima parte dos dramas que, de forma galopante, atinge milhões de portugueses, senti a martelar a cabeça a estúpida frase do Ministro da Administração Interna, Miguel Macedo (PSD): Portugal não pode ser "um país de muitas cigarras e poucas formigas". Disse, para dentro, um palavrão.

  
E diz o Presidente do Governo
Regional que o Conselho de Estado
constituiu uma "esperança"
"Sem trabalho, sem subsídio e sem vida" é o título de um trabalho da jornalista Joana Pereira Bastos, no último semanário Expresso. O texto começa assim: "Isabel toma banho de água fria, Regina e Luís deixaram  de conseguir pagar a renda há seis meses, Bruno já nem vai à rua beber café. Estão desempregados, mas não recebem apoio. Sem rendimentos dependem exclusivamente de familiares ou de instituições de solidariedade para sobreviverem. E estão longe se ser caso raro. Até são a maioria: 57% dos quase 827.000 desempregados contabilizados pelo Instituto Nacional de Estatística não recebem subsídio de desemprego. Contas feitas cerca de 470.000 portugueses estão nesta situação (...)".
A leitura atenta das duas páginas (20 e 21), são dramáticas. Li o texto e várias vezes levantei os olhos para fixar-me nas expressivas fotos que acompanham o trabalho jornalístico. Constrange e deixa com um nó na garganta qualquer pessoa com um mínimo de sentimento. Bruno já fez tudo na vida, sublinha a jornalista: "fui auxiliar de acção médica, trabalhei numa fábrica, fui operário da construção civil, pintor, ajudante de distribuição, empregado de mesa, vigilante... e outras coisas". Muitas vezes sem contrato. Pagavam-lhe a dinheiro e sem recibo. Vive em casa dos pais, com € 36,00 do abono de família da filha. A história de um outro casal, desempregados, com três filhos: "não pagamos a renda há seis meses".  Vivem com € 282,00, provenientes do abono de família e de € 177,00 do Rendimento Social de Inserção. Já venderam tudo o que poderia ter algum valor.
Ao ler este texto que apenas traduz uma ínfima parte dos dramas que, de forma galopante, atinge milhões de portugueses, senti a martelar a cabeça a estúpida frase do Ministro da Administração Interna, Miguel Macedo: Portugal não pode ser "um país de muitas cigarras e poucas formigas". Disse, para dentro, um palavrão. Que lata, que insensibilidade, que ausência de conhecimento do país real, que falta de humanidade, como se este povo, na sua maioria não fosse um povo trabalhador, como se a desgraça que temos em mãos pudesse ser obra dos trabalhadores, dos mais humildes à classe social dita média, como se tivessem sido eles os tais que viveram acima das suas possibilidades. O ministro foi assobiado e nem tempo teve para descerrar a lápide à entrada do quartel de bombeiros. Se lá estivesse teria feito coro com os manifestantes. Ele e outros deste governo, pergunto, que princípios e valores defendem, de onde vieram e para onde vão? Sinceramente, um nojo.
E se lá é assim, por aqui, torna-se quase impossível escrever sobre esta gente que nos governa e se governa há 36 anos. Já foi tudo denunciado, afora o que se esconde nos dossiês classificados de reservado ou secreto. Por mais voltas que se dê à imaginação, olho para este naipe de governantes e sinto espelhado nos seus rostos a mentira, a falta de vergonha, a incapacidade, a intolerância, o apego ao poder, a gestão dos interesses pessoais e de grupo partidário. Rua, deve ser a palavra de ordem.
Ilustração: Semanário Expresso. Foto de Tiago Miranda.

domingo, 23 de setembro de 2012

A FÚRIA PRIVATIZADORA. É APROVEITAR ENQUANTO ISTO NÃO MUDA!


Aquilo que Miguel Sousa Tavares designa por "A Grande Conspiração". E dá um exemplo: "(...) Quando o candidato Mitt Romney à presidência dos Estados Unidos é filmado numa conversa entre os seus, a dizer que não se preocupará com 47% dos americanos que votam Obama, porque se imaginam vítimas e apenas querem viver dependentes do Estado, não estamos perante uma das suas habituais asneiras, mas sim perante aquilo que é o pensamento profundo da extrema-direita económica americana, cujos filhos dilectos agora nos governam, depois de terem tomado o poder no PSD (...)". É exactamente isto que se passa em Portugal onde o governo não olha a meios para atingir os seus fins. É mais troikiano que a própria troika. Apupos, um milhão na rua, gente a chorar nas reportagens das várias televisões, dez mil frente ao Palácio de Belém, bom, dizem eles, "temos de conviver com isso" e mais, como sublinhou Passos Coelho na Comissão Política do PSD: "precisamos de estabilidade à prova de bala". De que estabilidade fala e quais os verdadeiros objectivos dessa estabilidade interna, quando o povo está na rua, porque não suporta tanta carga fiscal e tanto corte? Passos pensa que engana quem? O caminho desta direita matreira, retrógrada, desumana tem os dias contados.

 
TAP, Aeroportos e Navegação Aérea (ANA), RTP, Águas de Portugal (por enquanto a empresa de resíduos... lá chegarão ao resto), CTT, CP Carga, Caixa Geral de Depósitos, EDP, REN e outras que, certamente, vêm a caminho, enquadram-se na fúria privatizadora deste governo PSD/CDS-PP. É aproveitar enquanto o povo não os põe a andar. A ideia que prevalece é a de acelerar todos os processos. Faz parte da ideologia dominante, só não explicam é que sendo bom para o privado, por que motivo não o será para o sector público?
Não sou fundamentalista nestas e em outras matérias. Como, com um grande humor, um amigo de longa data me diz, "não vou ao ponto de nacionalizar o papel higiénico", agora, há sectores estruturantes que o Estado não deve abrir mão. Privatizar, entre outros, a Caixa Geral de Depósitos? A RTP? Bom, no caso da RTP, razão tem a Jornalista Clara Ferreira Alves que, no Expresso desta semana assume: "(...) o que o Relvas quer, talvez inteligentemente aconselhado por figuras Kremlinescas como Dias Loureiro (um intermediário não institucional em negócios de venda de media portugueses a Angola, segundo os jornais) é um canal de televisão. Quando o tiver, com os angolanos ou quem meter lá os milhões, Relvas sabe que atingiu o pináculo do poder pessoal. E negocial. E que o governo, todos os governos, lhe virão comer à mão (...)". É por isso que este pseudo-licenciado em qualquer coisa, protegido de Passos Coelho, diz só ir embora do governo quando terminar o processo de privatização da RTP. Este é o caso da estação pública, porque prevista na Constituição da República, onde são descarados os interesses que se movem, mas há, com toda a certeza, em todos os outros domínios. Por uma questão ideológica, mas também por uma questão de interesse empresarial. Melhor dizendo, pelos milhões que podem gerar. "Relvas não é o génio, apenas o intermediário num país à venda", remata a citada Jornalista. Nem mais.
É fartar vilanagem, é encher até abarrotar até porque o dinheiro não tem pátria. Ele circula, anda por aí e no caso de todos os relvas portugueses, tanto podem viver aqui, como no Brasil ou em Angola! Entretanto, depois de sugarem, depois de servidos, o tal portuguesismo pretensamente sentido através daquele pin com a bandeira portuguesa que os governantes usam na lapela do casaco, podem e serão substituídos por outros pin's! Não gosto e, por isso, evito escrever certas palavras, mas situações desta natureza são um nojo. Sobretudo porque sinto que Portugal está a ser vendido aos bocados, uma coutada para este e uma outra para aquele. Pelo meio vamos ficando mais pobres, mais dependentes, mais entregues aos interesses estrangeiros animados por uma ideologia reles e sem pingo de humanismo. Aquilo que Miguel Sousa Tavares designa por "A Grande Conspiração". E dá um exemplo: "(...) Quando o candidato Mitt Romney à presidência dos Estados Unidos é filmado numa conversa entre os seus, a dizer que não se preocupará com 47% dos americanos que votam Obama, porque se imaginam vítimas e apenas querem viver dependentes do Estado, não estamos perante uma das suas habituais asneiras, mas sim perante aquilo que é o pensamento profundo da extrema-direita económica americana, cujos filhos dilectos agora nos governam, depois de terem tomado o poder no PSD (...)". É exactamente isto que se passa em Portugal onde o governo não olha a meios para atingir os seus fins. É mais troikiano que a própria troika.
Apupos, um milhão na rua, gente a chorar nas reportagens das várias televisões, dez mil frente ao Palácio de Belém, bom, dizem eles, "temos de conviver com isso" e mais, como sublinhou Passos Coelho na Comissão Política do PSD: "precisamos de estabilidade à prova de bala" (Expreso, pág. 6). De que estabilidade fala e quais os verdadeiros objectivos dessa estabilidade interna, quando o povo está na rua, porque não suporta tanta carga fiscal e tanto corte? Passos pensa que engana quem?
O caminho desta direita matreira, retrógrada, desumana tem os dias contados. Não há acordo inter-partidário que salve esta coligação. Nem remodelação governamental que atenue a dor sentida pelos portugueses. Outubro está a chegar e a avaliar pelo actual quadro de desconfortos sem fim à vista, não me sobejam dúvidas que a pressão acabará por conduzir o País para uma clarificação. Ninguém vai aceitar, tal como sublinha Miguel Sousa Tavares, que se concretize o objectivo de Passos Coelho "(...) e do seu quinteto de terroristas económicos que querem mudar o paradigma económico mesmo que para tal tenham de destruir o País, como estão a fazer".
Ilustração: Google Imagens.

sábado, 22 de setembro de 2012

BEM PODERIA SAIR DE BELÉM QUE NÃO SENTIRÍAMOS A FALTA!


Só ele não vê, fiel ao seu posicionamento ideológico, que este povo está a rebentar pelas costuras, que a angústia cresce todos os dias, que existe uma claríssima ausência de esperança e que a situação tem de ser travada, no sentido do País pagar o que deve, mas à custa de cortes em sectores e áreas despesistas de um Estado monstro que nada acrescenta de riqueza. Nunca à custa de quem já pouco ou nada tem, de quem chora por não ter que dar aos filhos, não só para a alimentação, mas também para a sua formação, à custa de uma juventude cujo futuro está na incerteza da emigração, à custa do descarado roubo aos reformados e pensionistas, à custa de gente que a partir dos 35 anos é considerada "velha" para um emprego, à custa de tanta gente obrigada a trabalhar a três euros e tal à hora e quadros bem qualificados a quinhentos euros por mês. Estamos perante uma situação de desastre. A TSU foi apenas mais uma decisão no sentido do empobrecimento. E as outras? Todas as outras?


Estiveram oito horas no Conselho de Estado.
Poderiam estar dezasseis...
 pois com esta figura o resultado seria o mesmo.
"Só o Parlamento pode aprovar impostos, só o Parlamento pode aprovar o Orçamento", disse o Presidente da República. Não disse que jurou cumprir e fazer cumprir a Constituição e que é o garante do regular funcionamento das instituições. O que ontem assumiu é conversa de treta, pois qualquer cidadão, mesmo aquele menos escolarizado e familiarizado com a "coisa pública" sabe que é na Assembleia da República que o Orçamento de Estado e restantes leis são aprovadas. O que não significa que tudo não tenha de passar pelo seu crivo. Ora, com costumeiras intervenções daquela natureza, bem poderíamos tirar este senhor de Belém que não se notaria a sua falta. É tudo menos o Presidente de todos nós! O Presidente que funcione como último reduto de confiança. Num momento que precisamos de um político de mão cheia, temos um político com uma mão cheia de nada. Um Presidente intermitente, jogador de palavras, que se refugia, que se diz "prudente" e "cauteloso" para que dali nada saia. Um Presidente que sorri de si mesmo, incapaz de ajudar ou mesmo colocar isto nos eixos. Cruzo-me com pessoas, abordamos as questões de actualidade política e tudo vai bater ao mesmo: "ele que nos desampare a loja", dizia-me um amigo.
Ouvi as suas declarações antes do Conselho de Estado de ontem. Para mim é um desespero escutar a sua continuada lengalenga. Disse pensar que a "eventualidade" de uma crise política "está ultrapassada" (...) que "seria dramático para Portugal se juntássemos às dificuldades de financiamento externo uma crise política" (...) que "a estabilidade política é essencial para Portugal" e, finalmente, a treta do costume "por isso, compreendam que eu seja ponderado, cuidadoso na utilização das palavras". Ora, crise política "ultrapassada", duvido, quando este governo está ferido de morte; entre uma "crise política e dar cabo dos portugueses, sinceramente, prefiro a primeira com aquela responsabilidade que os portugueses, apesar de apertados, há meses que aceitam, tolerantemente; "ser ponderado e cuidadoso" não o inibe de tomar atitudes públicas. Portanto, concluo, com esta primeira figura do Estado, vamos continuar a "empobrecer", quando está aos olhos de todos que este continua a ser o caminho do desastre. Só ele não vê, fiel ao seu posicionamento ideológico, que este povo está a rebentar pelas costuras, que a angústia cresce todos os dias, que existe uma claríssima ausência de esperança e que a situação tem de ser travada, no sentido do País pagar o que deve, mas à custa de cortes em sectores e áreas despesistas de um Estado monstro que nada acrescenta de riqueza. Nunca à custa de quem já pouco ou nada tem, de quem chora por não ter que dar aos filhos, não só para a alimentação, mas também para a sua formação, à custa de uma juventude cujo futuro está na incerteza da emigração, à custa do descarado roubo aos reformados e pensionistas, à custa de gente que a partir dos 35 anos é considerada "velha" para um emprego, à custa de tanta gente obrigada a trabalhar a três euros e tal à hora e quadros bem qualificados a quinhentos euros por mês.
Estamos perante uma situação de desastre. A TSU foi apenas mais uma decisão no sentido do empobrecimento. E as outras? Todas as outras?
Sinto uma incontida revolta, tal como ouvi da boca do General Ramalho Eanes, "pelos meus filhos e pelos filhos dos outros". Só aquela primeira figura do Estado, fazendo o jogo de uma direita ideologicamente repelente, não vê nem toma uma atitude. Antes apara o jogo de um grupo politicamente mafioso, reles e insensível, cúmplice de uma rede internacional. Continuo a dizer que isto vai dar chatice. Se vai!
Ilustração: Google Imagens.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

CUIDADO COM O QUE SE DIZ: A REALIDADE DO SISTEMA EDUCATIVO É BEM DIFERENTE


Não é só o problema das comunicações, é a factura da água e energia eléctrica com muitos meses de atraso, as facturas, algumas com vários anos, que fazem desesperar os fornecedores, os sobressaltos constantes nas cantinas (ainda ontem foi dado conta da Francisco Franco), o dramatismo vivido nas reprografias, a limitação do número de testes de avaliação de conhecimentos por falta de papel e toner e a pouca-vergonha nos cortes da acção social educativa. Mais, ainda, algum Colega poderá esquecer, por exemplo, algumas normas do caricato Estatuto da Carreira Docente, o aberrante sistema de avaliação de desempenho que querem impor, a trapaça que é a autonomia dos estabelecimentos de educação e ensino, a péssima estrutura da rede escolar, repito, os saldos negativos de vários anos que transitam e que coarctam a concretização dos projectos educativos, o que andam a fazer com a educação especial, a vergonhosa dispensa de professores a coberto da grosseira mentira da diminuição de alunos, a dívida de seis milhões de euros aos professores com tempo de serviço e avaliação positiva, a subjugação a tudo o que vem do Ministério da Educação desvirtuando a capacidade autonómica da Região, a burocracia que a todos inferniza, a não contagem do tempo de serviço congelado (28 meses) para efeitos de reposicionamento na carreira, ao contrário do que aconteceu nos Açores, enfim, até o próprio orçamento da Região que não respeita a prioridade da Educação sobre os demais sectores? Alguém poderá esquecer ou ignorar tudo isto? Esquecer que o governo faz o possível por ignorar as reivindicações apresentadas pelos representantes dos professores, protelando reuniões e apresentado as situações numa política de facto consumado?


Em nada me são estranhos certos comportamentos. São consequência de muitos anos, quase quarenta, afora outro meio século de total obscurantismo. As situações ambientais vão criando névoas que bastas vezes impedem, por um lado, de ver e testemunhar a realidade, por outro, conduzem a uma subordinação à teoria do facto consumado, de um certo fatalismo, pois sempre foi assim, dizem. Não há que dramatizar, ouvi. O que interessa é "arregaçar as mangas", não para tocar nas feridas que sangram, não para resolver os problemas de fundo, mas para remediar. Criam-se, assim, inclusive na opinião pública, biombos que impedem a solução dos problemas. Estou em crer que tal acontece, muitas vezes, por algum voluntarismo primário irreflectido, como um dia me disse o meu Amigo Professor João Coutinho, a propósito das atitudes de alguns professores que parecem dizer: "em verdade vos digo que não acredito no que digo". Escorregam, assim, nessa atitude de adoçar uma pílula verdadeiramente amarga, que não atenua a dor nem traz futuro. Aquilo que é dramático é transmitido como uma situação quase normal, ultrapassável, naturalmente, claro, com o apoio de quem governa, que, aliás, tem feito um bom trabalho, escutei, não com estas palavras, mas outras semelhantes.
Eu sei que ninguém gosta de mostrar os cantos a esta casa educativa com problemas e carências de toda a ordem. A teoria de "pobres mas remediados" fez o seu caminho, desde há muito, desde António de Oliveira Salazar, o ditador que governou mais de 40 anos (há quem queira bater este recorde), um homem que apregoava a sua pobreza, chegando a afirmar que "um povo que tenha a coragem de ser pobre é um povo invencível". Deixou-nos um legado de analfabetismo que, ainda hoje, pagamos. Ora, quando não se quer ver a realidade, quando não se procuram as causas e, com frontalidade, chamamos os bois pelo seu nome, os que assim se comportam, docemente e de sorriso rasgado, acabam por estar a laborar no erro de manter situações de prognóstico catastrófico. Um exemplo: posso dizer que os professores são o alicerce do sistema educativo (e são) e que todos estão empenhados em suprir as dificuldades (e estão), mas não posso assumir como facto consumado que, faltando, na escola, o sistema de comunicações (telefones), os professores e outros, resolvem o problema com os seus telemóveis. Se é assim com as comunicações, como não será no resto! Sendo este um mero e talvez pequeno exemplo no contexto de tantos problemas mais graves, entrar por aí, por uma solução que não é correcta, oferece-se uma imagem distorcida e de apagador de responsabilidades sobre quem tem o dever de manter o sistema a funcionar correctamente.
Mas não é só o problema das comunicações, é a factura da água e energia eléctrica com muitos meses de atraso, as facturas, algumas com vários anos, que fazem desesperar os fornecedores gerais, os sobressaltos constantes nas cantinas (ainda ontem foi dado conta do que se está a passar na Francisco Franco), o dramatismo vivido nas reprografias, a limitação do número de testes de avaliação de conhecimentos dos alunos por falta de papel e toner, a pouca-vergonha, em tempo de carências e de desemprego, nos cortes da acção social educativa. Mais, ainda, pergunto, se algum Colega poderá esquecer algumas normas do caricato Estatuto da Carreira Docente, o aberrante sistema de avaliação de desempenho que querem impor, a trapaça que é a autonomia dos estabelecimentos de educação e ensino e tudo o que diz respeito ao "fundo escolar", a péssima estrutura da rede escolar, repito, os saldos negativos de vários anos que transitam e que coarctam a concretização dos projectos educativos, o que andam a fazer com a educação especial, a vergonhosa dispensa de professores a coberto da grosseira mentira da diminuição de alunos, o aumento do número de alunos por turma, a indisciplina e uma certa violência que cresce, a dívida de seis milhões de euros aos professores com tempo de serviço e avaliação positiva, a subjugação a tudo o que vem do Ministério da Educação desvirtuando a capacidade autonómica da Região, a burocracia que a todos inferniza e que o digam desde os gestores aos Directores de Turma, a não contagem do tempo de serviço congelado (28 meses) para efeitos de reposicionamento na carreira, ao contrário do que aconteceu nos Açores (e continua o congelamento), enfim, até o próprio orçamento da Região que não respeita a prioridade da Educação sobre os demais sectores? Alguém poderá esquecer ou ignorar tudo isto? Alguém poderá esquecer que o governo faz o possível por ignorar as reivindicações apresentadas pelos representantes dos professores, protelando reuniões e apresentado as situações numa política de facto consumado? Pode algum professor pintar de tons primaveris o que é negro?
Como há dias escrevi no jornal do meu sindicato (SPM), são maldades a mais feitas aos professores, maldades sempre de sorriso aberto, sempre com palmadinhas nas costas, mas sempre de uma forma implacável, isto é, comam e calem-se. É por isso que entendo que toda a classe deve acordar de uma espécie de coma profundo, de um deixa andar como se nada estivesse a acontecer. Quanto mais deixarem, mais avançarão. Hoje, nem os efectivos estão seguros, que todos se lembrem! É tempo de acordar e de demonstrar que os professores não têm medo. O sistema educativo é demasiado importante para ser partidarizado (politizado, sim), para ficar enclausurado numa secretaria dominada por meia-dúzia de pessoas, algumas que nunca foram professores na vida, enquanto outros se agacham e pedem para não "dramatizar".
A minha experiência de vida diz-me que eles são implacáveis. Falam docemente, cumprimentam com elegância, desfazem-se em circunstanciais elogios, mostram-se diferentes, mas aquilo que apresentam na montra não corresponde ao que escondem no armazém. Conjugam os verbos reconhecer, prometer, adiar e esquecer em todos os tempos e modos e regressam ao primeiro para segui-los pela mesma ordem. Sempre foram assim, porque está no seu adn político passarem por cordeiros. Daí que, este ano lectivo esteja, uma vez mais, marcado pelo sinal mais do desastre, do contínuo abandono e pelo insucesso. Os indicadores são evidentes, não são meus, mas do Instituto Nacional de Estatística. Negá-los ou esbatê-los penso não constituir o melhor caminho. Não contem comigo para essa farsa.
Ilustração: Google Imagens.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

CERCO AO PALÁCIO? E PORQUE NÃO UM POUCO MAIS ACIMA?


O simbolismo do Palácio de S. Lourenço é do tipo timex, não adianta nem atrasa. Interessante seria ver o "vigia da quinta", na expressão do Padre Martins Júnior, frente à "sua propriedade", sentado com os manifestantes, empunhando um qualquer cartaz contra si próprio! Ele não disse que gostaria de se manifestar? Ora aí tem uma oportunidade. Errado é ajudá-lo a desviar as atenções como se ele tivesse sido o Presidente da Junta Geral do Distrito (designação anterior a 1974), portanto, uma figura mandada de fora para administrar o território, sem responsabilidades no quadro da Autonomia. Ele é Presidente do Governo e líder de um partido que teve maioria absoluta na Assembleia durante todos estes anos. Desviar as atenções é aplaudi-lo, mesmo que essa não seja a intenção dos organizadores, desviar as atenções é passar uma esponja sobre as responsabilidades governativas, de onde derivaram 23.000 desempregados, pobreza e falências. Apesar de ele ser presidente do segundo órgão de governo próprio, toda a gente sabe que ele dominou e controlou a Assembleia como quis e entendeu, daí a sua total responsabilidade pelo desastre económico, financeiro, social e cultural. Se tempo houve para gozar e retirar dividendos políticos com as "paletes" de euros que aqui chegaram, também há um tempo para avaliar e pedir responsabilidades. Chegou o momento, tardiamente, mas chegou.
 
 
Neste momento todas as manifestações são importantes, legítimas e oportunas. No Palácio de S. Lourenço, na marina do Lugar de Baixo, frente ao Paço Episcopal, nas piscinas sem actividade, no fórum de Machico, eu sei lá, lugares emblemáticos não faltam. Uns pelo silêncio ensurdecedor, outros pelo despesismo sem freio e outros, ainda, porque atacam o coração do sistema. Sinceramente, preferia que não se desviassem as atenções. O Palácio de S. Lourenço é isso mesmo, um palácio. Politicamente, não é nada. Os militares cumprem ali a sua função enquanto não encontram outro espaço, que tarda; ali, a "República" pura e simplesmente não existe, tal como o Presidente da República é uma figura decorativa. Julgo que a demonstração da angústia colectiva seria melhor testemunhada na Quinta das Angústias, outrora por ali ter sido um cemitério, hoje "habitado" pelo coveiro da Autonomia. Se há quem tenha responsabilidades em todo este processo é o seu inquilino. As angústias do povo moram, de facto, na Quinta das Angústias!
O simbolismo do Palácio de S. Lourenço é do tipo timex, não adianta nem atrasa. Interessante seria ver o "vigia da quinta", na expressão do Padre Martins Júnior, frente à "sua" propriedade, sentado com os manifestantes, empunhando um qualquer cartaz contra si próprio! Ele não disse que gostaria de se manifestar? Ora aí tem uma oportunidade. Errado é ajudá-lo a desviar as atenções como se ele tivesse sido o Presidente da Junta Geral do Distrito (designação anterior a 1974), portanto, uma figura mandada de fora para administrar o território, sem responsabilidades no quadro da Autonomia. Ele é Presidente do Governo e líder de um partido que teve maioria absoluta na Assembleia durante todos estes anos. Desviar as atenções é aplaudi-lo, mesmo que essa não seja a intenção dos organizadores, desviar as atenções é passar uma esponja sobre as responsabilidades governativas, de onde derivaram 23.000 desempregados, pobreza e falências. Apesar de ele ser presidente do segundo órgão de governo próprio, toda a gente sabe que ele dominou e controlou a Assembleia como quis e entendeu, daí a sua total responsabilidade pelo desastre económico, financeiro, social e cultural. Se tempo houve para gozar e retirar dividendos políticos com as "paletes" de euros que aqui chegaram, também há um tempo para avaliar e pedir responsabilidades. Chegou o momento, tardiamente, mas chegou.
Aliás, ontem, aquela entrevista na RTP1 nem comentário merece. Assistia-a junto de um grupo de amigos. Nota final: zero! Nada de novo, repetitiva, sem uma ideia e, a espaços, muito consentânea com o "bem prega frei Tomás", isto é, críticas para lá, mas erros e "rabos de palha" políticos por aqui aos montes. Se dúvidas ainda alguém tivesse na perspectiva de vir para a rua e manifestar-se contra esta figura, a entrevista de ontem clarificou tal necessidade. É tempo de nos deixar em paz, de ir escrever as memórias, segundo apercebi-me com o título "os malucos que eu conheci". Escreva, mas, primeiro, (re)leia "Jardim, a grande fraude!" Poderá chegar à conclusão que ele próprio faz parte dos "malucos" políticos.
Ilustração: Google Imagens.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

É TEMPO DE ENDIREITAR A GIBA!


Alguém perceberá esta teimosa opção que está muito para além de resolver o problema da foz das ribeiras face ao tempo de chuvas que (oxalá) se aproxima? Alguém compreenderá, mesmo contra a voz de tantos especialistas, que as carências mais básicas da população estejam em risco em função de um homem que vê no cimento a "droga" da sua acção governativa? Com um povo à rasca, revoltado, encostado à parede, em sofrimento, sem dinheiro para resolver os problemas mais imediatos, será que alguém compreende este desnorte e esta incapacidade de negociar os recursos financeiros disponíveis no sentido de uma aplicação mais oportuna e racional? O povo quer lá saber se o dinheiro vem da "Lei de Meios" ou se estas obras se enquadram na luta pelo poder interno do PSD... Ora, se ele quer brincar com o dinheiro, brinque com o dele, desbarate-o como quiser e entender, mas não à custa de todos os outros. A luta contra este homem parece-me irreversível. Sairá da cena política pela força do povo e do seu voto e ficará na História como o coveiro da Autonomia.
 
 
Quando os graffitis e outras mensagens começam a ameaçar quem governa, deveria, até por uma questão de bom senso do(s) visado(s), tomar consciência do pior que vem a caminho. Depois de 36 anos de regabofe, de mil e um enganos, de substancial controlo da sociedade por todos os meios e feitios, qualquer pessoa sensata, com um mínimo de lucidez, saberia interpretar os crescentes sinais de contestação e colocar-se a milhas. Por agora as palavras de ordem são, fundamentalmente, dirigidas à dupla Coelho/Portas, não tardarão as manifestações dirigidas ao auto-declarado "Único Importante". Mas, como pedir sensatez a quem nunca o teve? Sensatez perante o desenvolvimento sustentável, os históricos desequilíbrios sociais, a defesa da democracia e da concomitante liberdade, sensatez no diálogo e na concertação? Não se pode pedir a uma pessoa aquilo que ela não pode ou não quer dar, por razões de mentalidade e interesse político? Alguém, por exemplo, pode aceitar que sendo o bolo financeiro "disponível!" tão reduzido e sendo pública e notória a fragilidade social, galopante e irreversível nos tempos mais próximos, existindo fome e desemprego, que ali, na avenida, como se o cofre estivesse a abarrotar, estejam a despejar muitos milhões que tanta falta fazem em vários sectores mobilizadores da economia que não se esgota na construção civil? Alguém perceberá esta teimosa opção que está muito para além de resolver o problema da foz das ribeiras face ao tempo de chuvas que (oxalá) se aproxima? Alguém compreenderá, mesmo contra a voz de tantos especialistas, que as carências mais básicas da população estejam em risco em função de um homem que vê no cimento a "droga" da sua acção governativa?
Com um povo à rasca, revoltado, encostado à parede, em sofrimento, sem dinheiro para resolver os problemas mais imediatos, será que alguém compreende este desnorte e esta incapacidade de negociar os recursos financeiros disponíveis no sentido de uma aplicação mais oportuna e racional? O povo quer lá saber se o dinheiro vem da "Lei de Meios" ou se estas obras se enquadram na luta pelo poder interno do PSD, onde o "chefe" pretende fazer no concelho do Funchal uma obra para poder, no momento certo, chamar de incompetente o seu adversário interno. Mais, ainda, alguém concederá o benefício da dúvida sobre a importância da obra, com inauguração agendada para 2015 (percebe-se), quando o défice nas contas acumula-se, quando não há dinheiro sequer para pagar a dívida contraída ao longo de muitos anos?
Ora, se ele quer brincar com o dinheiro, brinque com o dele, desbarate-o como quiser e entender, mas não à custa de todos os outros. A luta contra este homem parece-me irreversível. Sairá da cena política pela força do povo e do seu voto e ficará na História como o coveiro da Autonomia. Desesperadamente, hoje, mais do que nunca, vai a todas, inaugura desde caminhos com meia-dúzia de metros a estabelecimentos comerciais. Interessa-lhe falar, dizer coisas, atacar os outros, manter a supremacia discursiva, gerar a dúvida, convencer-se da sua verdade fechando os olhos à realidade circundante. As mensagens deixadas nas paredes são, pensará, obra da oposição política radical. E, certamente, não são. Estou mais próximo de terem origem no povo esmifrado até ao tutano, daquele povo que ainda Sábado passado saiu à rua contra a vilania de poderes sem pingo de humanismo.
Não gostaria de assistir a momentos de maior tensão social, mas isso implicará que os mentores da tragédia disso tenham consciência, porém, denunciam que não estão preparados para se afastarem por iniciativa própria. Perderam a noção do tempo e das suas capacidades. E quando isto acontece, apesar da tolerância do povo muito atreito à curvatura do baile pesado, um dia endireitará a giba e, olhos nos olhos, enfrentará quem o enganou durante anos.
NOTA FINAL
O artigo de opinião do UI, se àquilo se pode designar por "artigo de opinião", publicado na edição de ontem do JM, um jornal pago por todos os madeirenses, parece-me claro quanto ao seu desnorte e apego ao poder. A propósito das eleições internas, em tom dramático, o homem escreve:
"(...) Resta-me um apelo pessoal. Em nome do que juntos temos vivido, conseguido e triunfado ao longo destes trinta e vários anos, peço que me ajudem a derrotar esta tentativa de uns oportunistas destruir o PSD/Madeira. Peço que paguem a quota de 2011, para assim poderem votar os que já tenham um ano de inscrição no Partido. Não vamos pagar as quotas de alguém. Farão eles, que têm grandes manobras financeiras por detrás".
Ilustração: Arquivo próprio e Fénix do Atlântico.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

MAIS ESCOLA, NÃO, OBRIGADO. SIM A UMA MELHOR ESCOLA.


A partir de hoje, parece-me óbvio, todos os professores vão dirigir as suas preocupações para os tais exames, como se esse fosse o caminho mais seguro e de bom senso no sentido da melhoria do processo ensino-aprendizagem. A partir de hoje o que interessa não é de onde vêm, que natureza têm as suas famílias, mas condicionar a resposta à provável pergunta que constará do exame. Não há tempo para o porquê e para quê, para a descoberta, para a vivência, para ler, debater e libertar-se para o futuro, para a autonomia e gosto pelo conhecimento, para o domínio das competências básicas interiorizadas que não se esgotam no Português e na Matemática, para a cultura, enfim, para a criação de um lastro fundamental onde podem ser erigidas as colunas do conhecimento poderoso. A partir de hoje, grosso modo, começará o "treino intensivo", convencidos que estão que, por aí, acabará aquilo que designam por "facilitismo". O ano lectivo termina em finais de Junho, mas os exames acontecem um mês e meio antes. O "treino intensivo" tem prova marcada e, por paradoxal que pareça, depois do exame, então sim, a escola tentará ser escola nas restantes semanas.
 
A professora, porque o sistema assim exige, no quadro da sua responsabilidade profissional, pede aos pais que venham buscar os filhos aí por volta das 17:30 horas, pois quer com eles ficar mais meia-hora todos os dias, isto é, mais duas horas e meia por semana, dez horas por mês, aí umas duzentas e cinquenta horas até Maio! Fora os "trabalhos de casa", julgo eu. É que, este ano, lá para Maio, os alunos do 4º ano, têm exame e há que "prepará-los".
Ora, dei comigo a reflectir que, no meu tempo, também ficávamos mais um tempinho porque o exame de admissão à fase seguinte dos estudos era eliminatório. Os "bons" iam para o Liceu e os outros que passassem no exame, à rasquinha, para a Escola Comercial e Industrial. Dos restantes todos conhecemos a história. Isto no tempo que tínhamos setenta e tal por cento de analfabetos. Mesmo assim, os "doutos" senhores do Estado Novo entendiam que era pelo exame, na antiga folha de "papel almaço" (e com prova oral) que se preparava o futuro. O que fica desse tempo histórico é que não prepararam nada, antes, filtraram e condicionaram o futuro de milhões, ao ponto de, em Abril de 1974, ser monumental o défice relativamente a todos os outros países. Ainda hoje pagamos por isso.
Vem, agora, o Ministro Nuno Crato (PSD) eliminar disciplinas e impor o regresso dos exames em contraciclo com a generalidade dos países da Europa. Diz o Ministro que, no 1º ciclo vale, apenas, 30% da avaliação global, pois, digo eu, mas não deixando de ser um exame, pergunta-se, então, para que serve? Para aferir conhecimentos? Bom, para isso, cada escola, através de provas de aferição, no quadro da avaliação contínua, concluía do aproveitamento global dos alunos (numa perspectiva formativa e de interesse para o professor e para o aluno), que não apenas no Português e na Matemática. Na lógica do Ministro, os 30% servem, sejamos claros, para ajudar a aprovar ou a reprovar. A excluir e não a incluir. Se já estamos com altíssimas e impensáveis taxas de insucesso e abandono, doravante, pior será, até consequência da malfadada crise geradora de muitos desconfortos familiares. Ponto final.
A partir de hoje, parece-me óbvio, todos os professores vão dirigir as suas preocupações para os tais exames, como se esse fosse o caminho mais seguro e de bom senso no sentido da melhoria do processo ensino-aprendizagem. A partir de hoje o que interessa não é de onde vêm, que natureza têm as suas famílias, como é que a escola pode esbater as diferenças, mas condicionar a resposta à provável pergunta que constará do exame. Não há tempo para o porquê e para quê, para a descoberta, para a vivência, para ler, debater e libertar-se para o futuro, para a autonomia e gosto pelo conhecimento, para o domínio das competências básicas interiorizadas que não se esgotam no Português e na Matemática, para a cultura, enfim, para a criação de um lastro fundamental onde podem ser erigidas as colunas do conhecimento poderoso. A partir de hoje, grosso modo, começará o "treino intensivo", convencidos que estão que, por aí, acabará aquilo que designam por "facilitismo". O ano lectivo termina em finais de Junho, mas os exames acontecem um mês e meio antes. O "treino intensivo" tem prova marcada e, por paradoxal que pareça, depois do exame, então sim, a escola tentará ser escola nas restantes semanas.
A escola, nestes quatro primeiros anos poderia e deveria marcar a diferença, pois, poderia, mas isso exigiria outras cabeças e outros posicionamentos. Nuno Crato, quando andava pelo "Plano Inclinado" da SIC, chegou a preconizar a "implosão" do Ministério. Não só não o implodiu como reforçou o edifício educativo com novas estacas. A este propósito, li, em tempos, uma entrevista do meu Amigo Professor Doutor Domingos Fernandes, também Licenciado em Matemática, tal como o Ministro Crato, distinguido com o Prémio Sebastião e Silva pelo melhor manual de Matemática para o Ensino Básico (2004), Doutor em Educação pela Universidade do Texas (Filosofia da Educação), relativamente à escola poder marcar a diferença. Nessa entrevista assumiu:
"(...) As escolas podem fazer a diferença se trabalharem realmente de forma diferente: se reinventarem o currículo; se usarem procedimentos de avaliação orientados para melhorar as aprendizagens dos alunos e não exclusivamente para os classificar; se usarem tarefas mais adequadas e mais interessantes para os alunos... hoje é quase perigoso falar em tarefas interessantes, porque as pessoas pensam que é facilitismo... Mas quando nós dizemos tarefas que tenham significado e sejam interessantes para as pessoas, não significa tarefas fáceis; significa tarefas bem escolhidas, em que as pessoas vão pôr o seu empenho máximo. Portanto, é nesta perspectiva de elevar o nível, digamos, que a escola pode fazer a diferença. As escolas e os professores podem fazer a diferença. Podem e devem (...)".
Só que uma dimensão destas implicaria reinventar a escola e o currículo. Reinventá-la na sua concepção e organização. E essa reinvenção não passa pelos "treinos intensivos" tendo em vista um qualquer "ranking" que, ilusoriamente, coloque em destaque o ministro. Não é por essa via e não é pela via de mais escola que teremos sucesso, mais inclusão e menos abandono. O caminho de uma melhor escola é muito mais seguro. O problema é que os professores têm de se subordinar a esta estrutura de escola, até porque o seu processo de avaliação de desempenho e progressão na carreira está, concomitantemente, em causa. Eu diria que se trata de um círculo vicioso que, quer para alunos quer para professores, acefalamente, a hierarquia prefere, no caso dos professores, a classificação a uma cultura de desempenho; no caso dos alunos, a classificação a uma avaliação contínua com rigor e contextualizada, porque não há duas escolas e dois públicos iguais.
Coitadas destas crianças... que nem "sindicato" têm que lute pelos seus direitos, entre outros, o tempo para "jogar" (num sentido lato do termo) e para ser criança!
Ilustração: Google Imagens.