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sábado, 31 de agosto de 2013

ESTOU EM CRER QUE PAULO CAFÔFO SERÁ O PRÓXIMO PRESIDENTE DA CÂMARA DO FUNCHAL


"É um facto: Cafôfo tem tudo para cavalgar a onda popular que se esboça no panorama eleitoral funchalense. E ainda falta os partidos da coligação, em conjunto e a solo, colocarem no terreno atributos revelados em outras ocasiões, em certa parte premiados pelo eleitorado" - Luís Calisto, Jornalista. Trata-se de uma análise que subscrevo. Por partes: primeiro, há um evidente e crescente descontentamento com Alberto João Jardim. As suas atitudes, as constantes provocações, a forma como se desresponsabiliza dos actos da governação, parece-me óbvio que serão castigadas nas urnas; segundo, o candidato Bruno Pereira significa a continuidade do erro. Politicamente, o travestismo dificilmente passa. Aquilo que se é, no plano ideológico, claro, tarde ou cedo é percepcionado pelos eleitores. O Dr. Bruno Pereira esteve lá, incompatibilizou-se com Miguel Albuquerque e colocou-se ao lado de Jardim. Penso que essa atitude ser-lhe-á fatal. Na política não basta ser boa pessoa ou pessoa de bem, pois os comportamentos contam muito e acabam por definir o perfil do candidato; terceiro, trinta e sete anos de poder absoluto exige, naturalmente, que a mudança aconteça. As raízes tornaram-se grossas, profundas e a rede de interesses tentacular. Se, desta vez, tal não acontecer, então a população deixará de ter fundadas razões para se queixar. De resto, pergunto, onde se encontram os desempregados, os empresários, os professores, os engenheiros, os arquitectos, os reformados e pensionistas, enfim, tanta gente que anda a passar mal consequência de políticas tresloucadas?; quarto, a coligação PSD/CDS, na República, que tanto mal tem feito ao povo português, em geral, e, em particular, ao povo da Madeira, deverá ser entendida como uma extensão de interesses políticos a evitar; entre outros aspectos, finalmente, o PS, só, já obteve valores acima dos 28%, portanto, é lógico que a coligação "Mudança", formada por seis partidos, possa vir a atingir uma cifra que lhe garanta a vitória. Que será muito disputada, não tenho dúvidas! 


Da sondagem revelada ao início da noite de ontem pelo Expresso e a SIC fica claro que a presidência da Câmara Municipal do Funchal é uma questão em aberto. Segundo o estudo realizado pela Eurosondagem, o PSD, se as eleições fossem ontem, não teria maioria absoluta. Ficava-se, para já, com 36,4%, Paulo Cafôfo, líder da Coligação Mudança chegaria aos 28,8% e José Manuel Rodrigues teria cerca de 24,8%. Finalmente, a CDU teria 6,9% dos votos. Mas, com toda a certeza, estes não serão os resultados finais. O sentimento de mudança é de tal ordem que Bruno Pereira, o candidato indicado por Alberto João Jardim, dificilmente resistirá à pressão de Paulo Cafôfo. Sobre esta matéria li, esta manhã, um texto do Jornalista Luís Calisto com o qual me identifico: "(...) Falta um mês, praticamente, para o dia de votar. Cada força concorrente saberá que trunfos tem para puxar ainda. Porém, pelo que percebemos na vida real, cresce um sentimento favorável à novidade, à mudança. E "Mudança", na verdadeira acepção do termo, é a proposta pela coligação dos partidos de oposição - PS, BE, PTP, PND, MTP e PAN. Conhecemos muita gente do próprio PPD que não esconde uma simpatia em crescendo pela candidatura de Paulo Cafôfo. Notamo-lo desde que o cabeça-de-lista começou a dar-se a conhecer um pouco mais, em entrevistas e contactos directos com a população. Ainda aqui vamos. É um facto: Cafôfo tem tudo para cavalgar a onda popular que se esboça no panorama eleitoral funchalense. E ainda falta os partidos da coligação, em conjunto e a solo, colocarem no terreno atributos revelados em outras ocasiões, em certa parte premiados pelo eleitorado". 
Trata-se de uma análise que subscrevo. Por partes: primeiro, há um evidente e crescente descontentamento com Alberto João Jardim. As suas atitudes, as constantes provocações, a forma como se desresponsabiliza dos actos da governação, parece-me óbvio que serão castigadas nas urnas; segundo, o candidato Bruno Pereira significa a continuidade do erro. Politicamente, o travestismo dificilmente passa. Aquilo que se é, no plano ideológico, claro, tarde ou cedo é percepcionado pelos eleitores. O Dr. Bruno Pereira esteve lá, incompatibilizou-se com Miguel Albuquerque e colocou-se ao lado de Jardim. Penso que essa atitude ser-lhe-á fatal. Na política não basta ser boa pessoa ou pessoa de bem, pois os comportamentos contam muito e acabam por definir o perfil do candidato; terceiro, trinta e sete anos de poder absoluto exige, naturalmente, que a mudança aconteça. As raízes tornaram-se grossas, profundas e a rede de interesses tentacular. Se, desta vez, tal não acontecer, então a população deixará de ter fundadas razões para se queixar. De resto, pergunto, onde se encontram os desempregados, os empresários, os professores, os engenheiros, os arquitectos, os reformados e pensionistas, enfim, tanta gente que anda a passar mal consequência de políticas tresloucadas?; quarto, a coligação PSD/CDS, na República, que tanto mal tem feito ao povo português, em geral, e, em particular, ao povo da Madeira, deverá ser entendida como uma extensão de interesses políticos a evitar; entre outros aspectos, finalmente, o PS, só, já obteve valores acima dos 28%, portanto, parece-me óbvio que a coligação "Mudança", formada por seis partidos, possa vir a atingir uma cifra que lhe garanta a vitória. Que será muito disputada, não tenho dúvidas! 
Ora, perante este sumário de factos, o candidato Paulo Cafôfo, independente e apoiado por seis partidos, com um discurso propositivo, sensato, inteligente, de rigor e de esperança, parece-me natural que venha a superar o candidato do regime. O CDS, é minha opinião, que descerá significativamente. Não será fácil a luta entre Cafôfo e Bruno dada a desproporção de meios, mas que é possível a "Mudança" ganhar, é! Veremos. As próximas semanas serão determinantes.
Ilustração: Google Imagens.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

POLÍTICOS DE AVIÁRIO E FORA DA LEI


Portugal tem um governo fora da Lei. Estes senhores, muitos deles políticos de aviário, que da vida real pouco ou nada sabem, que ascenderam não pela via do mérito, das qualificações e do reconhecimento público, mas porque servem monumentais interesses que se jogam fora das fronteiras, têm a distinta lata de assumir que a Constituição da República é que está errada! Para os seus desígnios, obviamente que está. Só que foram eleitos jurando "por minha honra" cumprir "com lealdade as funções confiadas". Ora, essa lealdade assenta, sobretudo, no quadro da lei constitucional vigente e não no princípio que maioria absoluta significa poder absoluto. Para estes malvados a solução está no empobrecimento da maioria do povo, no recibo verde, no despedimento precário, no aumento das horas de trabalho, no não pagamento das horas extraordinárias (banco de horas), no eufemismo da requalificação que significa "vai morrer para longe", no programa de despedimentos sob a ilusão de uma mixuruca compensação financeira, na baixa dos salários, no roubo dos benefícios sociais, na sucessiva e gravosa carga de impostos e no rompimento dos compromissos assumidos com os reformados e pensionistas. Ainda bem que o Tribunal Constitucional, uma vez mais, não se mostrou pressionável. Conferiu a lei e ditou o Acórdão. Ponto final. 

Duas notas:

Primeira. A dívida total da Fundação Social-Democrata da Madeira, sem juros e outros custos, é de 26.326 euros e diz respeito a seis consumidores. As contas em dívida mais antigas são de Março de 2012, quase há um ano e meio, noticia o DN-Madeira de ontem. Nada que cause espanto. Se os mesmos que governam não respeitam os empresários que prestaram serviços, passará pela cabeça de alguém que assumam comportamentos correctos perante as autarquias que, politicamente, são da mesma cor política? Obviamente que não. Só que, agora, encontraram, face às tensas relações com a Câmara do Funchal, uma resistência que ajudou a desmascará-los. Entretanto, falta apurar quanto devem a outras instituições fornecedoras de bens e de serviços. E falta apurar, também, quanto devem os hospitais, estabelecimentos de educação e ensino e outros a quem a Câmara fornece e não recebe! Seria interessante apurar esses números. No caso da Fundação do PSD a situação é clamorosa. Devem uma pipa de massa e ainda recorrem ao Tribunal pelo corte no fornecimento, por tratar-se de uma "(...) atitude ilegal, arbitrária e de vingança a uma instituição que nada tem a ver com interesses políticos e ou partidários". Se um cidadão, pobre e sem vintém, que se atrase na liquidação de uma factura leva logo com juros de mora, o que é que a Fundação estava à espera? Que a Câmara perdoasse a dívida? Que os colocasse no rol das dívidas incobráveis?
Todos os dias cresce o nariz!
Segunda. Provadíssimo. Portugal tem um governo fora da Lei. Estes senhores, muitos deles políticos de aviário, que da vida real pouco ou nada sabem, que ascenderam não pela via do mérito, das qualificações e do reconhecimento público, mas porque servem monumentais interesses que se jogam fora das fronteiras, têm a distinta lata de assumir que a Constituição da República é que está errada! Para os seus desígnios, obviamente  que está. Só que foram eleitos jurando "por minha honra" cumprir "com lealdade as funções confiadas". Ora, essa lealdade assenta, sobretudo, no quadro da lei constitucional vigente e não no princípio que maioria absoluta significa poder absoluto. Para estes malvados a solução está no empobrecimento da maioria do povo, no recibo verde, no despedimento precário, no aumento das horas de trabalho, no não pagamento das horas extraordinárias (banco de horas), no eufemismo da requalificação que significa "vai morrer para longe", programa de despedimentos sob a ilusão de uma mixuruca compensação financeira, na baixa dos salários, no roubo dos benefícios sociais, na sucessiva e gravosa carga de impostos e no rompimento dos compromissos assumidos com os reformados e pensionistas. Ainda bem que o Tribunal Constitucional, uma vez mais, não se mostrou pressionável à patética intervenção vinda do Pontal. Conferiu a lei e ditou o Acórdão. Ponto final. 
Foram eleitos com um programa e com um discurso cheio de soluções. O povo não lhes concedeu um voto para fazerem o que lhes dá na real gana, para se submeterem aos interesses vindos de fora, mas para cumprirem o que prometeram. Se não sabem, ora bem, assumam-no e devolvam a palavra aos portugueses. 
Ilustração: Google Imagens.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

"DISPARATES DE LISBOA"


"Disparates de Lisboa" - disse. Como se Lisboa tivesse imposto o desordenamento do território, autorizado as obras, os endividamentos, os swaps, o "factoring", as ruinosas parcerias público-privadas, a subsidiodependência, as facturas escondidas, os favores à (e da) Igreja, a política de saúde e de educação, o Jornal da Madeira, enfim, Lisboa, quanto muito, foi culpada, isso sim, pela falta de democracia na Região e por ter engolido, desde o Presidente da República aos diversos governos, as sistemáticas bojardas que dele partiram. Haverá dúvidas?


Cruzei-me com um empresário com algumas dezenas de colaboradores à sua responsabilidade. Homem sereno, íntegro e extremamente preocupado com a situação económica e financeira da Madeira. Uma conversa demorada, amena e enriquecedora. A páginas tantas lamentou-se, dizendo que bastaria que o governo regional pagasse uma significativa parte dos trabalhos realizados e tudo estaria na normalidade, inclusive, não sentiria a angustiante necessidade de despedir. Ora, este é, se não o principal um dos maiores problemas da Madeira, o da sustentabilidade da sua economia e da concomitante empregabilidade. Mas o homem que diz que governa isto continua a repetir, vezes sem conta, que a culpa é da maçonaria e das sociedades secretas. Meteu-se-lhe isto na cabeça e nós temos que gramar esta repetida cantilena. Neste aspecto é portador da tecnologia de um relógio suíço. Repete e repete indiferente ao tempo. No Porto Santo, reclamou por mais Autonomia porque não está para aturar os "disparates de Lisboa".
Endividou a Região até ao tutano, serviu-se dos empresários, muitos, de boa-fé, concorreram, ganharam os concursos, prestaram os serviços e, agora, estão de mãos a abanar à espera que sua excelência tenha um gesto de sensibilidade política mandando pagar aquilo que a Região deve. Quer mais autonomia para quê? Para gastar à fartazana nas suas megalomanias que apenas servem os momentos de inauguração? O que têm a ver a Maçonaria e as sociedades secretas com o polvo de interesses que aqui estabeleceu e que desgraçou a Madeira com o selo da sua desastrosa governação? Este homem que diz governar a Região ainda não percebeu que não é vítima? Que a culpa é dele e de todos os outros, alguns pintados de fresco, que beberam e se vergaram durante anos à sua cartilha? Que a dupla austeridade tem raiz nos problemas que criou e que se uma mais alargada Autonomia não dispomos, antes hipotecou-a, é consequência da sua histórica incapacidade no plano negocial?
"Disparates de Lisboa" - disse. Como se Lisboa tivesse imposto o desordenamento do território, autorizado as obras, os endividamentos, os swaps, o "factoring", as ruinosas parcerias público-privadas, a subsidiodependência, as facturas escondidas, os favores à (e da) Igreja, a política de saúde e de educação, o Jornal da Madeira, enfim, Lisboa, quanto muito, foi culpada, isso sim, pela falta de democracia na Região e por ter engolido, desde o Presidente da República aos diversos governos, as sistemáticas bojardas que dele partiram. Haverá dúvidas?
Ilustração: Google Imagens.
Nota: Opinião da minha responsabilidade publicada na edição de hoje do DN-Madeira.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

NÃO O CONHEÇO, POR ISSO VOTO NELE!


Distante de qualquer envolvimento partidário, elejo a frase de Miguel Sá, lida na sua página do facebook, como a melhor desta campanha eleitoral autárquica. Diz Miguel Sá: "Eu voto Cafôfo porque eu não o conheço. Eu não voto nos outros porque já os conheço há demasiado tempo! Voto pela diferença e pela Mudança. Dou o benefício da dúvida". Excelente. Vota porque não o conhece, porque tudo o resto este eleitor domina, os passados e posicionamentos políticos. Considero aquela frase de Miguel Sá, no actual contexto político, de uma enorme inteligência. Ela significa que, enquanto eleitor, não embarca em tretas, não se deixa ir em figuras repetidas, preferindo conceder o "benefício da dúvida" ao novo, àquilo que pode trazer alguma esperança. E por que é que disto escrevo? Simplesmente porque cruzo-me com algumas pessoas que, talvez irreflectidamente, me dizem: "mas quem é o Paulo Cafôfo?". A minha resposta é sempre a mesma: leiam ou escutem o que a comunicação social vai divulgando, leiam os documentos que vos chega a casa, busquem na página de facebook, tentem inteirar-se do seu passado e das suas propostas. Tão fácil quanto isto. E se o digo é porque considero menos bem pensadas algumas atitudes, como se fosse possível ir a uma olaria produzir o candidato ideal, aquele que está de acordo com todas as virtudes que conceptualizamos de um candidato. 



No fundo porque os eleitores ao negarem uma alternativa de mudança, questionando os que livremente brotam da sociedade, implicitamente, estão a conceder o voto aos mesmos de sempre, àqueles que, por todas as esquinas, criticam por esta ou aqueloutra razão. A posição de Miguel Sá é assim clarinha como água bacteriologicamente pura. Miguel Sá não fica à espera da última moda para fazer um fato novo, antes aposta naquilo que existe, concede o benefício da dúvida, porque está farto que lhe imponham uma vestimenta da qual está farto de usar!
No meio disto, leio, por exemplo e a propósito, que Alberto João Jardim elogiou a obra feita pelos presidentes da Câmara do Funchal João Dantas e Virgílio Pereira. É por estas e muitas outras que a observação que os eleitores fazem dos políticos anda pela via da amargura! João Dantas saiu da Câmara do Funchal, em 1993, claramente empurrado por Alberto João Jardim (por algum motivo) e Virgílio Pereira que o substituiu nesse ano, aguentou oito meses e mandou Jardim às malvas, depois deste ter dito que um bom presidente é o que governa sem dinheiro. Virgílio andava aflito com as dívidas deixadas por João Dantas e Jardim não cumprira o que lhe tinha prometido ao nível da assistência financeira. Podem alguns dizer que se tratou de um bicada política em Miguel Albuquerque, pois, é uma hipótese, mas mesmo por aí, Miguel Sá tem razão, conhecendo-os de ginjeira, prefere apostar no desconhecido relativamente ao conhecido, porque está farto destes jogos de poder e da intriga caseira que nada adianta para que a população seja feliz. 
Mas há mais. Quando um presidente do governo regional, no Porto Santo, terra aflita, sem emprego, com empresários com o nó na garganta, famílias inteiras na pobreza ou dependentes como nunca, ao invés de fazer propostas sérias e portadores de alguma esperança, pelo contrário, inaugura divisórias subterrâneas para acomodação de contentores para deposição de resíduos, penso que está tudo dito. Politicamente, esta gentinha não serve, tem de ir embora. O lixo está primeiro que as pessoas e, neste contexto, disse: "mais uma vez, Porto Santo está na crista da onda e vai à frente"! Vai à frente de quê, pergunto. Uma situação que deveria ser da normalidade gestionária da autarquia presta-se a inaugurar com alguma pompa. Inaugurou o lixo! Só faltou a fanfarra. Deveria o presidente, talvez aqui sim, "inaugurar" a pobreza que criou e o desemprego que gerou. O Porto Santo poderia estar na crista da onda se a sua economia estivesse sustentável, se as famílias vivessem com menos dificuldades, se os jovens não tivessem de sair e não tivessem de enfrentar uma tripla austeridade criada por este tipo de políticos e de políticas. Como compreendo Miguel Sá!
Ilustração: FB de Miguel Sá.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

SE ASSIM FALA, DEVE PEDIR PERDÃO AO POVO!


Com que então... uma sociedade democrática tem o direito de cultivar a diferença! Com que então... todas as sociedades que se consentem viver na obsessão patológica de destruir pessoas por causa de pontos de vista diferentes... blá, blá, blá, blá...  são sociedades em auto destruição! Mas o que é que o autor de tais declarações, politicamente, tem feito ao longo de trinta e tal anos? Não tem sido exactamente o que agora anda a apregoar? Quantos, na diferença, foram atirados à "fogueira", quantos foram ostracizados, quantos foram vilipendiados na praça pública por terem opinião diferente, quantos foram atirados para a lama por apresentarem posições técnica e cientificamente correctas? Quantos? Reconhecimento democrático seria, esse sim, aceitar os homens e mulheres de ciência, aceitar os tais pontos de vista de todos aqueles que não comungam dos princípios, valores e projectos de quem governa. Reconhecimento democrático seria não chumbar por chumbar todos os projectos apresentados pela oposição na Assembleia Legislativa da Madeira. Reconhecimento democrático seria apresentar-se quinzenalmente na Assembleia para um debate sobre questões de oportunidade, cara a cara e olhos nos olhos, sem subterfúgios regimentais que impeçam o debate plural e as intervenções a solo. Reconhecimento democrático seria não gastar milhões no Jornal da Madeira e permitir que o mercado da comunicação social funcionasse livremente. Cultivar a diferença não pode nem deve ficar-se, portanto, pela retórica discursiva, no caso em apreço, no Dia da Cidade. O respeito pela diferença tem de ser diário, desde as pequenas às grandes atitudes, pois tudo o resto traz o cheiro da hipocrisia e gera repulsa.




Estive com esta "loja" fechada durante alguns dias. Por razões óbvias. A morte de um ente muito querido não só prostrou-me como seria insensato por aqui andar com reflexões de ordem política. Regresso, hoje, também porque o mar amainou e o barco da vida tem de continuar. Com memória!
Depois da "Grândola", "abaixo a mamadeira", "Jardim para a rua" e de dois vereadores (um do PSD e outro do PND) terem saído da sala em sinal de desprezo pelo presidente do governo regional da Madeira, questiono-me, uma vez mais, sobre o que conduz um homem a se querer manter na desengonçada cadeira do poder? Tem medo de quê? O que o atormenta e condiciona? O que esconde? É refém de quê? Se pergunto é porque não se trata de um propalado "amor à Madeira" (se tivesse amor a esta terra tinha interrompido as férias aquando dos incêndios) mas um significativo sinal que não sabe viver sem uma ida diária à Quinta Vigia (com humor já dizem ser mais centro de dia do que centro de decisão política), uns discursos de circunstância normalmente repetitivos e a transmissão do sentimento que deseja sair, mas por cima. A ideia que fica da sua proverbial lengalenga é que anda em busca de uma onda positiva que lhe garanta deixar o comando do navio em condições de navegabilidade, e com uma imagem de salvador que conduza a uma outra de eterno reconhecimento da população pela "obra feita". Só que isso não vai acontecer não só pela conjuntura económica e financeira, como pelo facto da República não perdoar parte da dívida, como pelo cansaço das pessoas que, de forma crescente, estão a formar a ideia de que foram, politicamente, enganadas. E quando isso acontece já não há nada a fazer. Pressuponho, por isso, e esta é apenas uma mera especulação política, que Jardim é refém dos interesses gerados à sua beira e que, politicamente, o povo e os partidos não sabem missa meia destes trinta e tal anos de poder. E talvez por isso lhe invada um sentimento de medo que outras verdades sejam conhecidas. É possível que sim. Só que a natureza é implacável. Ou pela via do voto ou pela via da lei da vida, tarde ou cedo, o fim da linha política chegará, inevitavelmente.
E vem isto a propósito da intervenção que o presidente do governo proferiu no Dia da Cidade do Funchal. Logo a abrir disse: "(...) Uma sociedade democrática tem o Direito de cultivar a diferença, de opor pontos de vista alternativos, até de inflamar discussões na diversidade dos temperamentos. Mas, sobretudo, tem a obrigação ética de saber mostrar Reconhecimento àqueles que serviram o Povo. Todas as sociedades que se consentem viver na obsessão patológica de destruir pessoas por causa de pontos de vista diferentes, que não são capazes de reconhecer quaisquer quotas de Mérito a quem trabalha para a comunidade, são sociedades em auto destruição". Sinceramente, se me tivessem contado talvez colocasse algumas reticências sobre estas declarações, talvez procurasse, primeiro, ler, para depois ter a certeza do que efectivamente foi dito. Li e aqui transcrevi. Só um pormenor: e aquela plateia aplaudiu, desde militares, à Igreja, passando por muita gente que deveria manter-se discreta. Ou não ouviram, ou qualquer coisa não bate certo!
Com que então... uma sociedade democrática tem o direito de cultivar a diferença! Com que então... todas as sociedades que se consentem viver na obsessão patológica de destruir pessoas por causa de pontos de vista diferentes... blá, blá, blá, blá...  são sociedades em auto destruição! Mas o que é que o autor de tais declarações, politicamente, tem feito ao longo de trinta e tal anos? Não tem sido exactamente o que agora anda a apregoar? Quantos, na diferença, foram atirados à "fogueira", quantos foram ostracizados, quantos foram vilipendiados na praça pública por terem opinião diferente, quantos foram atirados para a lama por apresentarem posições técnica e cientificamente correctas? Quantos? Reconhecimento democrático seria, esse sim, aceitar os homens e mulheres de ciência, aceitar os tais pontos de vista de todos aqueles que não comungam dos princípios, valores e projectos de quem governa. Reconhecimento democrático seria não chumbar por chumbar todos os projectos apresentados pela oposição na Assembleia Legislativa da Madeira. Reconhecimento democrático seria apresentar-se quinzenalmente na Assembleia para um debate sobre questões de oportunidade, cara a cara e olhos nos olhos, sem subterfúgios regimentais que impeçam o debate plural e as intervenções a solo. Reconhecimento democrático seria não gastar milhões no Jornal da Madeira e permitir que o mercado da comunicação social funcionasse livremente. Cultivar a diferença não pode nem deve ficar-se, portanto, pela retórica discursiva, no caso em apreço, no Dia da Cidade. O respeito pela diferença tem de ser diário, desde as pequenas às grandes atitudes, pois tudo o resto traz o cheiro da hipocrisia e gera repulsa. Mas se falou a verdade, então, peça desculpa por tudo quanto andou a fazer e a dizer.
Ilustração: Google Imagens.

domingo, 25 de agosto de 2013

A CELEBRAÇÃO DA VIDA E DA MORTE


Foi lindo, ver mais de uma trintena de embarcações, muitas engalanadas, cheias de amigos de calções e chinelos, perfiladas frente ao Jardim do Mar, com o “Stress Zero” no centro, a música, os sons da gaita-de-foles, o fogo-de-artifício, as palmas, a pequena urna de pedra descendo mar abaixo, os abraços e beijos da sentida despedida, as gargantas a chamar por “Testas…Testas”, as flores que encheram o espaço circundante e tantos jogando-se de imediato ao mar num gesto de indescritível sentimento de amizade, como que o abraçando e se divertindo com a figura que ali, fisicamente, já não estava, mas estava repousando lá no fundo! Depois, esse ror de amigos, já em terra, no Portinho do Jardim do Mar, confraternizando e mantendo viva a memória, tal como o Miguel sempre fazia com os seus amigos. Porque a vida é sempre um instante e a amizade não deve ser perdida. Verdadeiramente fantástico e emocionalmente indescritível, repito.


Ontem, mesmo em dia trágico, concederam-me a possibilidade de viver um dos momentos mais bonitos e sentidos da minha vida. É muito difícil descrever por palavras o turbilhão de emoções na despedida do meu querido Amigo e cunhado Miguel Jardim (carinhosamente conhecido por "Testas"). Momentos, repito, trágicos pelo desaparecimento físico de uma pessoa, mas inesquecíveis pela forma como tudo se processou. Momentos que, certamente, a todos proporcionou uma reflexão sobre a fugaz vida no contexto do tempo cósmico e a celebração do instante da morte. Se a vida deveria ser vivida como Miguel a construiu, a morte terrena também deveria ser, sem excepção, a manifestação do carinho de todos quantos tiveram a possibilidade de com ele viver e conviver. Uma vida cheia de amigos, sem ódios e sem rancores, oferecendo a camisa pelo outro, trabalhado duro, muito duro, mas gozando também os momentos de lazer, comedidamente, embora com enorme intensidade. Foi lindo, ver mais de uma trintena de embarcações, muitas engalanadas, cheias de amigos de calções e chinelos, perfiladas frente ao Jardim do Mar, com o “Stress Zero” no centro, a música, os sons da gaita-de-foles, o fogo-de-artifício, as palmas, a pequena urna de pedra descendo mar abaixo, os abraços e beijos da sentida despedida, as gargantas a chamar por “Testas…Testas”, as flores que encheram o espaço circundante e tantos jogando-se de imediato ao mar num gesto de indescritível sentimento de amizade, como que o abraçando e se divertindo com a figura que ali, fisicamente, já não estava, mas estava repousando lá no fundo! Depois, esse ror de amigos, já em terra, no Portinho do Jardim do Mar, confraternizando e mantendo viva a memória, tal como o Miguel sempre fazia com os seus amigos. Porque a vida é sempre um instante e a amizade não deve ser perdida. Verdadeiramente fantástico e emocionalmente indescritível, repito. 
Por extensão, esta cerimónia acabou por ser uma lição para reflectir em contraponto com a imagem que temos de um funeral. Ali, as emoções de profunda tristeza misturaram-se com a alegria, a cerimónia pesada de um cemitério, os cumprimentos de pesar junto aos da primeira fila, os terríveis sons dos passos no areão até à pavorosa descida à terra, deram lugar à explosão de cores, a um sentimento de profundíssima amizade em memória de um homem que não se esquece. Lindo. As convicções de cada um, sejam elas quais forem, integralmente respeitadas, a celebração da vida e da morte, essa foi diferente. Jamais esquecerei. Até sempre, MIGUEL.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

ADEUS MIGUEL





Até que me passe esta profunda dor pela morte do meu Amigo e cunhado Miguel Jardim, só regressarei a este espaço quando sentir força e disposição para o fazer. Um abraço.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

DIA DA CIDADE COM CHEIRO A PÓLVORA!


Discursos inócuos e com olhares políticos enviesados, com algum "omo - lava tudo", como pudesse ser passada uma esponja branqueadora sobre 37 anos de atentados vários, no ordenamento do território, na secundarização do planeamento, na suspensão do PDM, sempre que deu jeito, nos atentados ao património, na ausência de requalificação das zonas altas, no encolher de ombros relativamente à necessidade de um plano estratégico de ordenamento do comércio, nas cedências a lóbis, enfim, do meu ponto de vista, o Funchal, nos últimos vinte anos, perdeu uma oportunidade única de criar cidade. Em 1993 o actual presidente foi candidato sob o slogan “Funchal, de alto a baixo”. Esta mensagem pressuporia uma mudança radical na atitude de pensar a cidade. Por um lado, o slogan era o reconhecimento do desastre da governação autárquica nos dezassete anos anteriores, por outro, a esperança de um tempo de mudança na atitude política a começar pelas zonas altas. Nos primórdios dos anos 90 ainda era possível, agora, torna-se muito mais complicado, porque se perdeu o sentido de escala da cidade, cometeram-se erros grosseiros e os recursos financeiros são cada vez mais escassos. Aliás, tanto assim é que, quando a tragédia acontece a nu ficam todas as fragilidades desse "Funchal, de alto a baixo". De resto, uma sessão solene onde o Presidente do Governo ouviu a "Grândola", alguns vereadores voltaram-lhe as costas, ouviu-se "abaixo a mamadeira" e "Jardim para a rua". Significativo da necessidade de uma "MUDANÇA".


Uma cidade não se constrói com atitudes de maquilhagem, com cedências, porque fica mais bonitinho, mas com pensamento estratégico transversal e sectorialmente integrado, não apenas no plano urbanístico, mas em todos os outros planos de análise. O ordenamento do território foi secundarizado, o PDM suspenso em determinadas zonas, o planeamento geral e específico ignorado, o património muito pouco cuidado e as pessoas, as pessoas que deveriam ser o centro de onde deveriam partir as políticas, ficaram sempre para depois. 
Não se pode avaliar o resultado de uma política olhando apenas para o alargamento de uma acessibilidade, a legalização da habitação espontânea ou porque o centro está agradável. A cidade é muito mais do que qualquer atitude de cosmética. Eu diria que foi realizado o mais fácil e o estruturante, aquilo que permite bem-estar, qualidade de vida, segurança e futuro foi, sucessivamente, adiado ou mesmo ignorado. Aquilo que deveria ficar como marca indelével destes vinte anos não existe. A Câmara que deveria ter sido o motor que deveria puxar pela cidade, deixou-se ultrapassar pela pressão dos interesses, pelos lóbis sedentos de riqueza fácil, o que conduzirá a que os próximos responsáveis tenham de correr atrás do prejuízo. Corolário de políticas que não tiveram em conta as pessoas que a habitam, temos uma cidade sem alma, dividida, sem vida, dinamismo, apresentando-se morta a partir do final da tarde e aos fins-de-semana. 
Destes vinte anos fica-me a memória de quatro aspectos que me merecem elogio: o trabalho realizado na sequência do 20 de Fevereiro de 2010, no sentido de devolver a cidade ao que era. Em poucas semanas foi atenuada a angústia e devolvida a esperança; em segundo lugar, o investimento no parque habitacional; terceiro, o esforço realizado no sentido da renovação da rede de águas, evitando perdas que eram significativas. Um trabalho invisível, de pesados encargos, mas importante; quarto, o facto de ter batido o pé à Valor Ambiente, na defesa de uma gestão autónoma e menos dispendiosa. E se isto merece que seja reconhecido, falo também, pela negativa, de muito património que se perdeu ou que se deixou degradar. A lista é longa, quando uma cidade, a primeira fora da Europa, deveria impor-se pela sua singularidade, autenticidade, identidade e particularidades. 
Mas há outros domínios que merecem reflexão. Por exemplo a mobilidade na cidade. Não tanto nos fluxos horizontais aos concelhos limítrofes, onde se fixaram muitas centenas de famílias, mas nos movimentos pendulares e nos novos hábitos a aprender para circular e estacionar no interior da baixa funchalense. Levaram vários anos para concretizar o “estudo de mobilidade”, mas continua a não ser sensível uma estratégia. Assistiu-se a várias opções claramente experimentalistas e sucessivamente abandonadas por clara ausência de uma visão de conjunto e integrada. A falência do park & ride explica, entre outros, que a Câmara andou aos soluços e nunca assumiu uma estratégia integrada e articulada no tempo. Nesta área de intervenção está quase tudo por fazer. 
Lamento, por outro lado, a falta de coragem política na implementação de um plano estratégico de ordenamento do comércio. Era essencial e determinante. O problema não está no aumento dos percursos pedonais no centro do Funchal. Ainda bem que a cidade se tornou mais pedonal. O problema está na ausência de um Plano de Ordenamento do Comércio. Não é admissível, numa procura que sempre foi limitadíssima, condicionada pelo número de habitantes da Região, terem autorizado tantas superfícies comerciais ao ponto de, hoje, a proporção entre o comércio tradicional e as grandes superfícies que deveria ser de, aproximadamente, 50%, seja já de 1/3 para o comércio tradicional contra 2/3 das grandes superfícies. Acresce a esta oferta, superior à procura (há um estudo que demonstra que a Madeira tem uma oferta quatro vezes superior à população, pelo que basta fazer a proporção para o Funchal), uma degradação do poder de compra, a que não é alheia, por outro lado, a existência de milhares de pobres e a bola de neve da crise empresarial geradora de desemprego. Confrontamo-nos, hoje, com o encerramento de centenas de empresas, o despedimento de alguns milhares de empregados do comércio tradicional, onde, maioritariamente, os empregos eram estáveis. A Câmara tem a sua quota-parte de responsabilidades neste processo. 
Por outro lado, não é aceitável, porque a cidade são as pessoas que nela habitam, o crescimento de bolsas de pobreza. Que o combate não depende apenas da Câmara, obviamente que sim, mas não aceito que se tivessem passado tantos anos ignorando a necessidade de criação de condições visando a empregabilidade. 
Da mesma forma condeno a atitude passiva face ao Banco Alimentar Contra a Fome. Podiam ter assumido a disponibilização de um espaço para o seu funcionamento, para que pudessem iniciar, de forma independente dos poderes, político e religioso, a sua missão assistencialista. Uma autarquia tem o dever primeiro de olhar pelas pessoas, de entrar pelos becos, travessas, impasses e entradas, conhecer a realidade e denunciá-la junto do governo, ao mesmo tempo que deve assumir as suas responsabilidades políticas. 
Finalmente, a dívida da Câmara que já é superior a cem milhões de euros. Uma dívida comercial e financeira, preocupante, porque coloca em causa os pequenos e médios empresários. Tem sido um erro a Câmara dizer que tem capacidade de endividamento, pois tem, mas não pode esquecer-se que toda a dívida tem de ser paga e com juros. Não é que esteja falida, mas está impedida de ser promotora do desenvolvimento. 
Conclusão sumária: a cidade não pode ser uma coutada de uns poucos, mas na verdade é. A cidade não pode ser vendida aos bocados e aos interesses, mas na verdade foi. A cidade na baixa não basta estar "bonita" ("limpinha") por fora quando está corroída por dentro nos planos económico, social e cultural de “alto a baixo”. A cidade deveria ser hoje muito mais do que automóveis em circulação, intranquilidade, poluição visual e sonora, mas na verdade é. A cidade não deveria ser pobre (a população) mas na verdade é pelos desequilíbrios gerados no seu crescimento pela ausência de planeamento. A cidade não deveria desprezar um compromisso com o emprego, mas, infelizmente encolhe os ombros.
Pergunto:
"Por que raio são assim, que nem os bons exemplos de preservação e de respeito pela identidade são capazes de adoptar? Por que raio alguns políticos só vêem nos materiais de construção o desenvolvimento? Por que raio não entendem que cada vez menos as pessoas visitam as cidades onde tudo é igual às outras, no nosso caso, muitas vezes para pior? Por que raio não entendem que a "cimentização" da paisagem (a zona do Lido, por exemplo, está um descalabro) cada vez vende menos e a cultura, isto é, a identidade das cidades, cada vez vende mais? Por que raio não respeitam o sentido de escala da nossa cidade? Por que raio querem fazer de uma cidade pequena, implantada numa orografia complexa, um espaço de megalomanias sem sentido, sem alma, isto é, uma cidade cheia de coisas mas vazia de significado? Por que raio ainda não entenderam que as zonas altas da cidade não precisam, num primeiro momento, da oferta aos mais pobres, qual dádiva com os olhos postos no dia das eleições, de projectos, de telha, cimento, areia, blocos e ferro, antes precisam de ordenamento, planeamento e respeito pela dignidade e segurança das pessoas? Por que raio não pensam que se torna necessário dispor de um plano estratégico de ordenamento comercial? É difícil entender por que raio não entendem! Mas eu entendo, tal como tantos outros que se preocupam com a cidade".
Nota:
Neste Dia da Cidade, deixo, neste último parágrafo, o fragmento de um texto aqui publicado em 21.08.2009!
Ilustração: Google Imagens.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

A HIPOCRISIA DO SECRETÁRIO MANUEL ANTÓNIO


Confissão: gosto de escrever, mas não me apetece. Sinto um vazio e uma pressão que tem origem na acumulação de causas várias. Os incêndios, as vidas destroçadas de quem viu tudo, lutou e ficou a zero na contabilidade da vida. As lágrimas de desespero pela morte inesperada de um veículo desgovernado... não bastassem as agruras da vida, a pobreza geradora de pobreza, a limitação dos direitos sociais, o desemprego, a fuga para a emigração, os madeirenses que dormem nas ruas de Londres (e de outras cidades), os suicídios, a mão estendida à caridade, os discursos políticos ocos e despidos de sentimentos humanistas, a hipocrisia, enfim, tudo isto, nem com uma dose cavalar de um qualquer sedativo consegue adormecer a revolta. 


Quando existem milhares para pagar de expropriações, quando há dezenas à espera que atenuem as consequências do 20 de Fevereiro de 2010, quando a dívida da Região é assustadora e impagável, quando todos sabemos que o cofre está vazio, vem o secretário Manuel António Correia, com a força da falsidade das palavras dizer à população atingida pela tragédia: "(...) No âmbito específico das florestas e considerando que a maioria dos terrenos atingidos são de particulares, o Governo Regional, através da Secretaria Regional do Ambiente e dos Recursos Naturais, concederá apoio financeiro, aos proprietários e possuidores, no montante de 100% do investimento, para a realização dos investimentos necessários à recuperação das áreas florestais atingidas" (...) e que "elaborará, gratuitamente, os projectos florestais necessários para os promotores promoverem as respectivas candidaturas". 
Oxalá assim fosse, só que não será, mesmo com apoios comunitários. É uma vez mais o senhor milhões a falar, a prometer e a querer dar um sinal diário que ele é o senhor que se segue na cadeira do poder. Que gente! Basta olhar para trás, olhar para o comportamento político do governo, passar os olhos pela realidade que nos circunda, ter presente a marosca política no sentido de ganhar algum avanço entre os demais confrades para, facilmente, apercebermo-nos da hipocrisia, do teatrinho de má qualidade que estes actores andam a promover com o selo e o carimbo vindos do Porto Santo. Fico por aqui.
Ilustração: Google Imagens.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

JUSTIÇA PELAS PRÓPRIAS MÃOS


A questão que se coloca é esta: sendo punível o incentivo à violência (crimes contra a paz pública), o Ministério Público ficará de braços cruzados? Deixará passar uma situação destas, porque, enfim, saiu da boca de uma pessoa que evidencia constantes sinais de provocação, mas que não devem ser levados a sério? E se um outro qualquer cidadão entender levar longe a sugestão do presidente? Um atirou-lhe um copo de cerveja à cara e ficou a contas com a Justiça. E quem instiga passará em claro?


O Senhor Presidente do Governo Regional da Madeira, ainda em exercício de funções, definitivamente, deveria sair de cena, pelos seus próprios pés ou por uma de duas acções: através da pressão dos Órgãos de Soberania nacionais ou pela acção (pacífica) do próprio povo. As suas declarações no Porto Santo são lastimáveis. Não foi a primeira vez que falou de justiça pelas próprias mãos, repetiu e incentivou, em alto e bom som, aos madeirenses e portosantenses que descubram: "os terroristas incendiários e que os castigue porque quem os devia castigar, não sabe, nem tem competência para fazê-lo". Este é um claro incentivo à violência. Ora bem, que os pirómanos, identificados como tal, sejam punidos e bem punidos, não tenho a menor dúvida. Se se trata de doença psiquiátrica que sejam internados, tratados e acompanhados. E para tal existe a JUSTIÇA e os Tribunais que, para os governantes que não saibam, constituem "Órgão de Soberania". Ele pode tecer considerações políticas sobre a (in)capacidade da Justiça, pode lamentar que não seja célere, que não disponha de meios suficientes, não pode, isso não, sugerir que as pessoas façam justiça pelas próprias mãos. Não faltará muito tempo e sugerirá as brigadas de freguesia contra os "infiéis" oposicionistas, uma espécie de jiade madeirense, capaz de desenvolver uma "guerra santa" que salvaguarde os grandes e pequenos interesses políticos do regime jardinista. Estou, politicamente, a especular, é certo, mas também parece-me óbvio que se questione se este pedido do presidente do governo se estende aos "incendiários da política", os que colocaram 25.000 no desemprego, geraram uma legião de desempregados e pobreza por todo o lado? Ele terá reflectido que no meio de tantas agruras, de tantos constrangimentos, alguém poderá fazer justiça pelas próprias mãos junto daqueles que consideram ser os responsáveis pelo fogo que devora famílias inteiras? Cuidado com o que se diz, porque esta tem de ser uma terra de paz. A Madeira não pode ser um far west, uma terra sem lei do tipo "olho por olho, dente por dente". Cuidado, porque as palavras, por vezes, fazem ricochete.
Para além destas considerações a questão que se coloca é esta: sendo punível o incentivo à violência (crimes contra a paz pública), o Ministério Público ficará de braços cruzados? Deixará passar uma situação destas, porque, enfim, saiu da boca de uma pessoa que evidencia constantes sinais de provocação, mas que não devem ser levados a sério? E se um outro qualquer cidadão entender levar longe a sugestão do presidente? Um atirou-lhe um copo de cerveja à cara e ficou a contas com a Justiça. E quem instiga passará em claro?
Ilustração: Google Imagens.

domingo, 18 de agosto de 2013

DÁ QUE PENSAR


"Hoje a situação, em termos de carga humana e urbana, é preocupante, a mancha de óleo continua a crescer e a cortina verde a recuar. A meu ver, as medidas mais urgentes a pôr no terreno devem ser: conter a expansão, continuar o trabalho de reabilitação e requalificação, um banco de solos alternativo, acelerar o plano de reconversão florestal da cortina verde da cidade para uma floresta endémica, elaborar a Carta de Riscos contra incêndios e colocar a zona numa moratória de, pelo menos, cinco anos. Ao mesmo tempo, é preciso ver que numa zona com aquela orografia e características, o desenvolvimento do fogo, depois de deflagrado, é muito imprevisível, daí que a aposta na prevenção/limpeza, vigilância educação, etc, é uma questão decisiva para evitar males maiores, como felizmente não aconteceu nesta noite. Apliquemos os milhões da Cota 500, via megalómana e inútil, nestes planos".


Li na página de facebook do Engº Danilo Matos, um texto que deveria ser do conhecimento de muitos que por aí vão fazendo de conta que governam. Transcrevo-o pela sua importância. 
"Nos últimos três anos, o Funchal viveu situações extremamente dramáticas. Em 2010 com a aluvião e os incêndios nas serras e no Parque Ecológico e, em 2011, com os incêndios na Boa Nova e no Palheiro Ferreiro. Há governantes que continuam a acusar a Justiça e os pirómanos, porque querem esconder as causas; com isso temos de concordar que os verdadeiros pirómanos são eles. Em termos genéricos, as causas mais profundas estão na falta de um verdadeiro ordenamento do território. Em termos mais concretos temos de olhar para o anfiteatro da cidade de forma muito diferente.Temos de classificar as Zonas Altas e a Cortina Verde como Zonas de Risco, com tudo o que isso acarreta em termos de gestão urbanística. Julgo que um olhar sério sobre o que se passou esta noite leva-nos a essa necessidade,sob pena de virmos a assistir no futuro a situações gravíssimas. Em 1984 , como técnico da CMF, fiz parte de um gabinete, coordenado pelo Arqº Rafael Botelho, pai do anterior Plano Director da Cidade, onde analisámos, com base num inquérito local, a situação das Zonas Altas. Propusemos: conter a mancha de óleo urbana que subia o anfiteatro, requalificar a zona e criar um banco de solos para servir de alternativa a quem desejasse construir. Era preciso conter e requalificar aquela construção espontânea, que teve, como sabemos, alguns aspectos positivos no pós 25 de Abril. As medidas ficaram no papel e, mais tarde. em 1997, o PDM retomou-as e definiu um cordão limite de ocupação urbana , bem com uma série de propostas para a cortina verde da cidade. Nada disto foi feito e a Câmara, pelo contrário, continuou a facilitar, inclusive, elaborando projectos para os munícipes. Hoje a situação, em termos de carga humana e urbana, é preocupante, a mancha de óleo continua a crescer e a cortina verde a recuar. A meu ver, as medidas mais urgentes a pôr no terreno devem ser: conter a expansão, continuar o trabalho de reabilitação e requalificação, um banco de solos alternativo, acelerar o plano de reconversão florestal da cortina verde da cidade para uma floresta endémica, elaborar a Carta de Riscos contra incêndios e colocar a zona numa moratória de, pelo menos, cinco anos. Ao mesmo tempo, é preciso ver que numa zona com aquela orografia e características, o desenvolvimento do fogo, depois de deflagrado, é muito imprevisível, daí que a aposta na prevenção/limpeza, vigilância educação, etc, é uma questão decisiva para evitar males maiores, como felizmente não aconteceu nesta noite. Apliquemos os milhões da Cota 500, via megalómana e inútil, nestes planos. Os residentes nas Zonas Altas e no Funchal merecem. Finalmente, um pequeno pormenor, como é que, depois de declarado o Alerta Amarelo, a Protecção Civil não impediu o lançamento de foguetes no arraial do Monte, será que isso não tem a ver com o incêndio?

O MEU COMENTÁRIO


Assino por baixo. O drama é o Funchal e, de resto, toda a Região, infelizmente, ter sido bom pasto para os vários interesses em jogo por uma trupe que não olhou a meios para atingir os seus fins. E hoje o Funchal passou a ser também pasto mas de chamas favorecidas pelo sensível desordenamento. Qualquer pessoa, a partir do teu texto percebe que, em primeiro lugar, os espaços devem ser ordenados e infraestruturados e, só depois, devem surgir as habitações. Daí a tal necessidade de um grande banco de solos. Fizeram ao contrário, permitiram o crescimento, inclusive, o de natureza espontânea, fechando os olhos ao não autorizado, depois, viram-se na contingência de ter de levar a estrada, o saneamento, a energia eléctrica, a água e a recolha de resíduos. Tudo ao contrário. Natural, portanto, que venham agora pedir para as pessoas não estacionarem as viaturas para os veículos pesados dos bombeiros passarem. Não culpo as pessoas que procuraram resolver a sua situação habitacional, muitos com enormes sacrifícios, não perdoo aqueles que não souberam ter uma leitura correcta do espaço territorial. Por motivações diversas, inclusive, eleitorais, deixaram aquilo lá por cima sem regras e, cá em baixo, dividiram a cidade em coutadas de interesse. Entretanto, atacaram tudo e todos, engenheiros, arquitectos, professores universitários, organizações de defesa do ambiente, todos levaram de forma contundente com a palavra perversa que escondia outros interesses. Assisti à luta semanal, extremamente difícil, de tua Mulher Violante Saramago Matos quando comigo fomos vereadores na Câmara do Funchal, na sua atitude propositiva e de permanente chamada de atenção para as questões do ordenamento, do planeamento e para a capacidade de saber dizer não, mas apresentando alternativas. De que valeu ou de que tem valido essa luta de tantos, neste caso, por um Funchal de crescimento sustentável e de desenvolvimento assente em pressupostos adequados àquilo que um dia sugeriste: uma cidade atlântica, europeia e turística. E o problema é que muitos se agacharam e hoje aparecem aí a querer disputar lideranças diversas quando, por mais que abramos os olhos não descortinamos as diferenças. Quando, depois do que se passou na zona do Lido (toda a Estrada Monumental e toda aquela pavorosa densidade) o presidente do governo veio dizer que havia que sacrificar uma zona... foi aquela... ponto final, penso que está tudo dito. Nem ele nem outros foram capazes de perceber que aquela deveria ser uma zona de excelência. Quem permite o que ali foi construído, poderia e deveria ter, primeiro, estudado, ordenado, planeado e só depois autorizado no sentido da excelência. Se pensaram assim para uma zona tão sensível, pergunto, iriam ter posições estruturantes para as zonas altas? Estamos a pagar os erros e esses erros tornam-se genericamente mais visíveis quando se dão os desastres. De facto, Danilo, DÁ QUE PENSAR.
Ilustração: Arquivo próprio.

sábado, 17 de agosto de 2013

RESCALDO



Não é hora para grandes balanços face a esta nova tragédia que se abateu sobre o Funchal. Quem o fizer corre o risco de ser mal interpretado e tido como abutre da política. Não o quero fazer, por uma questão até de respeito pelas pessoas que perderam tudo ou quase tudo, e por todos aqueles, protecção civil, bombeiros, médicos, enfermeiros, forças de segurança e populares que tudo deram (e continuam) no sentido de atenuarem, esta sim, enorme facada nas costas dos funchalenses. Não deixo, porém, de deixar aqui registados dois aspectos que devem merecer reflexão: primeiro, continuamos a não aprender com a História, continuamos a aceitar que a vida de todos nós tem de ser vivida em permanente risco e continuamos, por extensão, a não querer ver que o desordenamento territorial favorece momentos de tragédia. Passaram-se mais de trinta anos a sugerir um "plano integrado de desenvolvimento para as zonas altas"; segundo, é-me difícil compreender que o Funchal estivesse a arder e que o "chefe" da Região não interrompesse as férias. Pelo contrário tivesse continuado a "tocar harpa" com um discurso oco e sem sentido quando resolveu atirar, uma vez mais, para a Justiça da República Portuguesa uma certa culpa, porque "continuamos a ter indícios de criminalidade nestas coisas". E as Forças Armadas até lhe disponibilizaram um avião para trazê-lo ao Funchal. Não que viesse ajudar a apagar os fogos, mas daria um sinal, no mínimo, de solidariedade para com as vítimas desta situação. Deixou tal responsabilidade ao seu colega de governo, o secretário regional dos Assuntos Sociais que tem a tutela da Protecção Civil. Deste, a única coisa que se ouviu foi a declaração patética para "todos, todos os madeirenses, evitarem fazer fogos, porque está vento e calor". Revoltante.
Como salientei, há muito para equacionar depois de mais esta tragédia. Ficará para depois, com a serenidade possível, depois de olharmos para o negro da paisagem e descomprimirmos a revolta. 
Ilustração: Arquivo próprio.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

UM BISPO DESCARRILADO - SE JARDIM É CULPADO, CARRILHO É CÚMPLICE


Não me parece difícil caracterizar o Senhor Bispo António Carrilho. Chegou, de sorriso largo, almoçou umas vezes no meio do Povo, no simpático Café Apolo e, rapidamente, o sorriso deu lugar a uma atitude fechada e preocupante. Aprendeu depressa o que os "poderosos" exigiam do seu múnus. É, hoje, um Bispo claramente descarrilado. A atitude perante o Padre José Luís Rodrigues envergonha a Diocese e espelha a sua dependência do poder político. Trata-se de uma situação de certa forma chocante, talvez porque Jardim não gosta das posições do Padre José Luís e, vai daí, o Bispo prefira ignorá-lo. O Senhor Bispo António Carrilho deveria situar-se acima, muito acima da pouca-vergonha do poder de alguns senhores. Deveria mostrar-se partidariamente independente, cortando os históricos cordões umbilicais e entregando-se à sua Missão, com poucas palavras de uma retórica que já não passa e mais actos consentâneos com a Palavra de Cristo. Ganharia o reconhecimento de todos, dos crentes e não crentes. Antes prefere o silêncio que compromete e a atitude que ofende os próprios católicos, portadores de uma ampla visão da importância da Igreja que não se confina ao discurso bafiento da caridadezinha!


Padre José Luís Rodrigues
Pároco de S. Roque e S. José (Funchal)


O Padre José Luís Rodrigues escreveu um livro: "Para que Serve Acreditar? O que a fé não deve ser". Enviou, como é absolutamente natural, um exemplar ao Papa Francisco. A resposta chegou: "(...) O Sumo Pontífice acolhe com paternal benevolência, a gentil oferta que lhe fez do seu livro", refere monsenhor Peter Wells, assessor do Papa, que prossegue com referências elogiosas ao livro e ao tema que aborda. Além da resposta, recebida na passada segunda-feira, com referências específicas ao trabalho do padre José Luís Rodrigues, também foram enviadas duas fotos do Papa Francisco (DN-Madeira). Enfim, o agradecimento e reconhecimento pela obra publicada veio de Roma, enquanto o silêncio foi a nota infelizmente dominante de quem está à frente da Igreja na Diocese do Funchal. Lamentável. Razão tem o Padre José Luís Rodrigues: "Não poderia ter-me chegado em mãos tão nobre elogio e tão insigne opinião autorizada sobre o humilde livro que escrevi e lancei para o público" (...) "Enquanto andarmos cheios de inveja e com desconfianças, a nossa Igreja (Diocese do Funchal) e a sociedade madeirense não avançam, ao contrário, andam para trás".
D. António Carrilho
Bispo do Funchal
Não me parece difícil caracterizar o Senhor Bispo António Carrilho. Chegou, de sorriso largo, almoçou umas vezes no meio do Povo, no simpático Café Apolo e, rapidamente, o sorriso deu lugar a uma atitude fechada e preocupante. Aprendeu depressa o que os "poderosos" exigiam do seu múnus. É, hoje, um Bispo claramente descarrilado. Esta atitude perante o Padre José Luís Rodrigues envergonha a Diocese e espelha a sua dependência do poder político. Trata-se de uma situação de certa forma chocante, talvez porque Jardim não gosta das posições do Padre José Luís e, vai daí, o Bispo prefira ignorá-lo. 
O  Senhor Bispo António Carrilho deveria situar-se acima, muito acima da pouca-vergonha do poder de alguns senhores. Deveria mostrar-se partidariamente independente, cortando os históricos cordões umbilicais e entregando-se à sua Missão, com poucas palavras de uma retórica que não passa e mais actos consentâneos com a Palavra de Cristo. Ganharia o reconhecimento de todos, dos crentes e não crentes. Antes prefere o silêncio que compromete e a atitude que ofende os próprios católicos portadores de uma ampla visão da importância da Igreja que não se confina ao discurso bafiento da caridadezinha como fatalidade!
A este propósito, em Junho de 2007, quando o Senhor Bispo António Carrilho chegou à Madeira, escrevi um texto, publicado no DN (29.06.2007) o qual subordinei ao título: "Carrilhar é preciso". Nessa opinião salientei uma passagem do Bispo Emérito de Setúbal D. Manuel Martins: "há uma diferença entre os que acreditam no que dizem e os que são meros funcionários da Igreja". Nem mais. Volto aqui a deixar esse texto, seis anos depois, simplesmente porque assisto ao descarrilamento da sociedade sem que alguém, com responsabilidades, vendo a pobreza, a miséria e o esbanjamento, mexa uma palha para colocar nos carris o desnorte político que por aí vai. Se Jardim é culpado, o Bispo Carrilho é cúmplice. 
"Terão passado despercebidas, ou talvez não, as sábias palavras de Dom Manuel da Silva Martins, Bispo Emérito de Setúbal: "(...) as alternâncias são sempre boas. Por muito boa que seja a pessoa que está, a partir de determinada altura alternar é bom. Já tive essa experiência na minha vida. Fui professor, saí, entrou outro, foi óptimo; fui vigário-geral, saí, entrou outro, foi óptimo; fui bispo em Setúbal, saí, entrou outro, foi óptimo. A alternância é magnífica a todos os níveis e em todos os sectores porque traz novidade, dá esperança, imprime outro ritmo de vida". Concordo, em absoluto. Não sei se, por detrás das palavras, Dom Manuel, recentemente condecorado com a Grã Cruz da Ordem de Cristo, pelos relevantes serviços prestados ao País, palavras aquelas ditas num determinado contexto, quis também deixar um subtil alerta à Igreja, aos políticos e à população da Madeira. Talvez. Estou em crer que houve ali uma espécie de bilhar às três tabelas. Até pela sua inteligência, argúcia, luta na defesa de princípios e valores, o Bispo vermelho como o apelidaram, porque nunca teve papas na língua, cidadão honorário de várias cidades e, entre outros, nome de uma escola de ensino secundário, do alto dos seus oitenta anos, com toda a experiência de vida e dos comportamentos dos homens, é bem possível que tivesse querido deixar essa mensagem colateral de "esperança" que poderá, no futuro, imprimir "outro ritmo de vida" aos madeirenses.
Dom Manuel Martins é um pastor da Igreja católica que me fascina pela clareza do raciocínio, pela doação, simplicidade, humildade e lição de vida ao serviço dos mais carentes, ofendidos e marginalizados. Outros, não reconhecidos pela Nação, porventura ficam na história insulana da pequenez dos favores e dos cúmplices silêncios junto do poder temporal, instituído, Deus bem sabe como, repetindo mofas ladainhas que já poucos as compram. Como bem disse Dom Manuel Martins há uma diferença entre os que acreditam no que dizem e os que são meros funcionários da Igreja. Na Madeira temos tido, infelizmente, personagens dessas que, digamos, cumprem, rigorosamente, o horário. Isto porque, quando se tratou e trata de tocar frontal e persistentemente nas feridas sociais que sangram; de conhecer esta laranja, aparentemente limpa e sumarenta mas amarga e corroída por dentro que, dia-a-dia, estraga todo o cesto; de despir as vestes clericais e meter-se nessa Madeira profunda que nasce à nossa ilharga com a tal mensagem de esperança; de sair do Paço ou do adro por lealdade e fidelidade à Palavra; de afrontar os poderes, pequenos ou grandes, colocando, serenamente, no seu verdadeiro lugar os jogadores do xadrez político, público e privado, que batem a mão no peito mas, por arrogância, luxúria, avareza e gula fazem xeque-mate à bondade e humildade de um povo... fugiram e fogem como o diabo da cruz. Convenhamos que o comportamento desejável e necessário na condução dos Homens neste conturbado tempo, um tempo do ter antes do ser, um tempo de falsas verdades, não tem sido apanágio de algumas figuras quando compaginadas com a atitude independente e marcadamente humanista do Bispo Emérito de Setúbal. 
D. Manuel Martins
Bispo Emérito de Setúbal
A Madeira já teve, também, nos longínquos anos de 1849/1858, um Bispo chamado Manuel Martins. Este de sobrenome Manso. Reza a História que governou o bispado madeirense no meio de graves convulsões clericais e sociais. Precisamente um quadro que, embora dissimuladamente, hoje se constata. Ora, a Região não precisa de mais um manso. Precisa de um que cante fora do coro, que desafine pelas suas tomadas de posição, que liberte o povo para a Palavra consequente desamarrada do jogo dos interesses políticos e da subserviência resultante do subsídio, aliás, como muitos, por esse mundo fora, o têm feito e que, por isso, embora criticados pela hierarquia, são merecedores do reconhecimento e veneração públicas. É difícil, então eu não sei! Mas também sei que a esperança de que fala Dom Manuel Martins, "a todos os níveis e em todos os sectores", políticos, sociais, económicos, culturais e até religiosos, constrói-se através da mudança de hábitos, da criatividade, da defesa da honestidade, da educação, da cultura, do abanar das consciências adormecidas e de chamar, educada e solenemente, nos momentos certos, os bois pelos nomes. A esperança nesta terra passa, também, por aí. Carrilar é preciso!"
O problema é que não há maneira!
Ilustração: Google Imagens.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

ENTRE O CÓNEGO MELO E O BISPO SANTANA...


É o Cónego Melo lá e o Bispo Francisco Santana (fora os outros) por aqui. Em Braga assistiu-se a um "conúbio" com os poderosos e amigos. E aqui, o que existiu e o que existe? A essência é a mesma. Veja-se, a título de mero exemplo, o que significam os silêncios sobre o Jornal da Madeira na manutenção da engrenagem política com "os poderosos e seus amigos"? Veja-se o que continuam a fazer ao Padre Martins Júnior com aquela repelente suspensão a divinis, onde nem o julgam em Tribunal Eclesiástico nem reconsideram o erro histórico e veja-se, ainda, a recente atitude displicente de D. António Carrilho face à do Vaticano relativamente ao livro do Padre José Luís Rodrigues. O formato em que assenta a protecção aos ditos poderosos com pés de barro é que é diferente, mais rafinée, como diria o presidente do governo regional.  Francisco Santana está, portanto, naquilo que é essencial, no mesmo patamar de Melo. Entre um e outro venha o diabo político e escolha. Por mim, não faz qualquer sentido aquele busto no largo do mesmo nome próximo ao hospital Dr. Nélio Ferraz Mendonça. O que fez o Bispo Santana para ali ter um busto em sua memória? Por ter perseguido os oposicionistas e aberto caminho às sucessivas vitórias do PSD-Madeira? Ter "mandado" votar no PSD? Se o busto se justifica por isso, por favor, façam como os bracarenses que não apoiam quem conviveu "mal com a democracia e com a liberdade". 


Em Braga a polémica está ao rubro. Muitos assumem que a estátua ao Cónego Melo, divide os bracarenses, pois que se trata de uma figura que foi um "exemplo de conúbio com os poderosos seus amigos. Nos favores e no negócio de influências residia o seu poder. Esta pretensa homenagem afronta a Memória e a Decência. Não respeita ninguém (...)", lê-se numa petição que circula online. Leio, ainda: "a colocação da estátua, mais não faz do que a apologia do ressentimento, a marca de água de quem sempre tem convivido mal com a democracia e a liberdade" (...) daí que tal estátua, há dez anos guardada em um armazém, "nunca suscitou o aplauso dos cidadãos, sendo muito significativo o facto de não ter sido acolhida com simpatia pela Igreja Católica". Ontem a petição já tinha sido subscrita por mais de 1.120 pessoas, que consideram que aquela homenagem "divide os cidadãos" e "reabre feridas antigas".
Bom, é o Cónego Melo lá e o Bispo Francisco Santana (fora os outros) por aqui. Sublinha-se, em Braga, a histórica existência de um "conúbio" com os poderosos e amigos. E aqui, o que existiu e o que existe? A essência é a mesma. Só que lá, na Cidade dos Arcebispos a história é outra, mexem-se porque têm leituras políticas mais democráticas. Aqui agacham-se. Aliás, o conhecido epíteto que classifica Braga como "Cidade dos Arcebispos" deve-se ao facto dos "detentores deste título eclesiástico terem sido senhores da cidade durante quase sete séculos. A Carta de Couto inicialmente concedida pelos condes portucalenses em 1112 e com poderes reforçados por D. Afonso Henriques, nas vésperas da decisiva batalha de S. Mamede em 1128, foi interrompida em 12 de Janeiro de 1402 para voltar a ser retomado sete décadas após, a 12 de Março de 1472. Desde aí, até 1792, os Arcebispos acumulavam a sua liderança religiosa, à gestão administrativa do termo de Braga, sobre o qual cobravam impostos e impunham as suas leis". Os tempos mudaram só o Cónego Melo não. Por aqui não cobram impostos mas continuam a ditar as suas subtis leis. Veja-se, a título de mero exemplo, o que significam os silêncios sobre o Jornal da Madeira na manutenção da engrenagem política com "os poderosos e seus amigos"? Veja-se o que continuam a fazer ao Padre Martins Júnior com aquela repelente suspensão a divinis, onde nem o julgam em Tribunal Eclesiástico nem reconsideram o erro histórico e veja-se, ainda, a recente atitude displicente de D. António Carrilho face à do Vaticano relativamente ao livro do Padre José Luís Rodrigues. O formato em que assenta a protecção aos ditos poderosos com pés de barro é que é diferente, mais rafinée, como diria o presidente do governo regional.  
Francisco Santana está, portanto, naquilo que é essencial, no mesmo patamar de Eduardo Melo. Entre um e outro venha o diabo político e escolha. Por mim, não faz qualquer sentido aquele busto no largo do mesmo nome próximo ao hospital Dr. Nélio Ferraz Mendonça. O que fez o Bispo Santana para ali ter um busto em sua memória? Por ter perseguido os oposicionistas e aberto caminho às sucessivas vitórias do PSD-Madeira? Ter "mandado" votar no PSD? Se o busto se justifica por isso, por favor, façam como os bracarenses que não apoiam quem conviveu "mal com a democracia e com a liberdade". 
Ilustração: Google Imagens.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

A GRANDE TRAPALHADA


E no meio desta trapalhada política a um mês e tal das eleições, surge a história dos Tribunais, as críticas porque este decidiu pela legitimidade e outros não. Para mim essa questão é pacífica. Se os políticos, em sede própria, no espaço onde a Lei foi produzida, não se entendem quanto ao espírito da Lei que aprovaram, será legítimo pedir aos juízes uniformidade no pensamento? Julgo que não. É por isso que existem Tribunais superiores que analisam as primeiras decisões. O Tribunal não está sujeito à concertação do pensamento. O juiz A julgo que não telefona ao juiz B para lhe perguntar "como é que vais decidir sobre a matéria Y". Por isso, não é de estranhar que sobre o mesmo assunto, sobre a questão "presidente de Câmara" ou "presidente da Câmara" existam interpretações díspares. Competirá, por isso, ao Tribunal Constitucional decidir sobre esta matéria. Estou convencido, mera convicção minha sem qualquer sustentabilidade jurídica, que, na dúvida, o Tribunal Constitucional viabilizará as diversas candidaturas, não deixando de recomendar à Assembleia da República uma posterior melhor clarificação. É possível que assim seja, da mesma forma que, talvez juridicamente mal comparado, ainda há tempos, apesar de ter considerado inconstitucional a suspensão dos subsídios de férias e de Natal, "com força obrigatória geral, por violação do princípio da igualdade, consagrado no artigo 13.º da Constituição da República Portuguesa, das normas constantes dos artigos 21.º e 25.º, da Lei n.º 64-B/2011, de 30 de Dezembro (Orçamento do Estado para 2012), quanto à limitação dos efeitos, o TC viria a reconhecer em tal Acórdão, que havia "interesse público de excepcional relevo que exigia que se restringisse os efeitos da declaração, não os aplicando aos subsídios férias e natal relativos ao ano 2012 (artigo 282.º/4 CRP). Todos estamos lembrados disso (Acórdão n.º 353/2012). É possível que a proximidade do acto eleitoral assim determine.


Que grande trapalhada vai por aí quanto à "legitimidade" de algumas candidaturas! Poucos entendem esta ausência de clarificação relativamente à possibilidade de um cidadão candidatar-se a uma outra autarquia após ter concretizado três mandatos. Podem, alguns, por mero tacticismo político, argumentar o que, eventualmente, estruturou o pensamento que emerge da lei. Do meu ponto de vista, à luz do que fui acompanhando ao longo de todo o tempo (anos) de debate sobre esta matéria, é que o que estava em causa era impedir, repito, impedir, que um determinado sujeito se pudesse candidatar à autarquia vizinha ou não, depois de doze anos à frente de um município. E ponto final. O resto é treta. Ser presidente de ou da Câmara não constitui uma profissão, mas sim um serviço público à comunidade. Não faz, por isso, qualquer sentido que um dado sujeito salte daqui para ali, aproveitando, sobretudo, a sua notoriedade pública. Doze anos é muito tempo, convenhamos. Tempo suficiente para ganhar vícios, ligações de dependência por favores prestados, como, aliás, disse Rui Rio, tempo suficiente para ganhar perniciosas rotinas e tempo para alimentar e engrossar raízes partidárias que se desviam dos verdadeiros interesses do povo eleitor.
Pode-se agora argumentar que os partidos, representados na Assembleia da República, tiveram tempo para clarificar a lei e não o fizeram, que os partidos deixaram o marfim correr por interesses aqui e ali, sendo essa a ideia que emerge, todavia, no essencial, o que me parece indigno é que um sujeito, conhecedor da finalidade da lei, se preste a dar o seu nome a uma candidatura após doze e mais anos de mandatos consecutivos. Isso é pior que todos os silêncios e interesseiras manobras partidárias, uma vez que que evidencia muitas sombras sobre as razões substantivas que conduzem os candidatos a se deixarem enredar por esses caminhos. Aprecio, por isso, a posição de Paulo Cafôfo, candidato pela "Mudança" no Funchal, que não teve reservas algumas em assumir que, caso os eleitores lhe garantam a confiança para governar o município do Funchal, não ocupará a cadeira de poder por tempo superior a dois mandatos. Estabeleceu oito anos como limite, menos quatro do que a actual lei confere. Considero, ao contrário de muitos outros que parece que nada mais sabem fazer do que ser presidente(!), uma atitude de grande dignidade e de desinteresse pelo poder a qualquer preço.
E no meio desta trapalhada política, a um mês e tal das eleições, surge a história dos Tribunais, as críticas porque este decidiu pela legitimidade e outros não. Para mim essa questão é pacífica. Se os políticos, em sede própria, no espaço onde a Lei foi produzida, não se entendem quanto ao espírito da Lei que aprovaram, será legítimo pedir aos juízes uniformidade no pensamento? Julgo que não. É por isso que existem Tribunais superiores que analisam as primeiras decisões. O Tribunal não está sujeito à concertação do pensamento. O juiz A julgo que não telefona ao juiz B para lhe perguntar "como é que vais decidir sobre a matéria Y". Por isso, não é de estranhar que sobre o mesmo assunto, sobre a questão "presidente de Câmara" ou "presidente da Câmara" existam interpretações díspares. Competirá, por isso, ao Tribunal Constitucional decidir sobre esta matéria. 
Estou convencido, mera convicção minha sem qualquer sustentabilidade jurídica, que, na dúvida, o Tribunal Constitucional viabilizará as diversas candidaturas, não deixando de recomendar à Assembleia da República uma melhor clarificação. É possível que assim seja, da mesma forma que, talvez juridicamente mal comparado, ainda há tempos, apesar de ter considerado inconstitucional a suspensão dos subsídios de férias e de Natal, "com força obrigatória geral, por violação do princípio da igualdade, consagrado no artigo 13.º da Constituição da República Portuguesa, das normas constantes dos artigos 21.º e 25.º, da Lei n.º 64-B/2011, de 30 de Dezembro (Orçamento do Estado para 2012), todavia, quanto à limitação dos efeitos, TC viria a reconhecer em tal Acórdão, que havia "interesse público de excepcional relevo que exigia que se restringisse os efeitos da declaração, não os aplicando aos subsídios férias e natal relativos ao ano 2012 (artigo 282.º/4 CRP). Todos estamos lembrados disso (Acórdão n.º 353/2012). Se esta comparação é possível, mesmo sem cabal fundamento jurídico, parece-me aceitável, pela proximidade do acto eleitoral, que o TC venha a se decidir pela viabilização. Veremos.
Ilustração: Google Imagens.