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segunda-feira, 8 de abril de 2013

EDUCAÇÃO DESPORTIVA ESCOLAR (IV) - O ASSOCIATIVISMO


A Educação Física deve dar lugar à disciplina de Educação Desportiva, com os respectivos programas e metodologias desenvolvidos na própria escola. A actividade de Complemento Curricular deve centrar-se no Clube Escola. É esse clube que deverá desenvolver a actividade dos vários departamentos de modalidade e organizar os respectivos quadros competitivos internos de acordo com a capacidade de oferta do estabelecimento de ensino. A organização externa deverá contemplar as associações desportivas concelhias escolares, em número de quatro: norte: S. Vicente, Porto Moniz e Santana;  sul: Funchal, C. Lobos, Porto Santo; leste: Santa Cruz e Machico; oeste: Ribeira Brava, Ponta do Sol e Calheta. Num primeiro momento, os clubes escolares deverão competir em função dos quadros organizados pelas associações concelhias. Os quadros regionais defendo que devam ser organizados pela Federação Regional do Desporto Escolar. Esta a estrutura que, sustendo, deverá assentar a organização do desporto escolar. Fica, neste pressuposto, impedida a participação do clube escolar no associativismo federado. Evidentemente, no desenvolvimento deste raciocínio de base, colocam-se outras questões, por exemplo, a participação simultânea de atletas nos dois sectores: no sistema educativo e no sistema desportivo. São questões de pormenor que no interesse da uma profícua interface entre os dois sistemas deverão ser equacionados.


É de uma profunda inconsistência e de um atroz desconhecimento histórico a proposta equacionada no decorrer de uma reunião do Conselho Desportivo Regional da Madeira, já tem uns anos, durante a qual muitos conselheiros terão defendido a "criação de um único sistema desportivo que integrasse a área federada e a escolar num único quadro competitivo". Ora, basta conhecer o processo que vem desde os primeiros anos do Século XX, as características da fase a partir de 1936 da responsabilidade da Organização Nacional da Mocidade Portuguesa e, ainda, toda a complexa legislação publicada pós 1974, plena de burocracias e de imobilismo, bem como a pobreza dos programas dos governos constitucionais, para qualquer pessoa opor-se a uma proposta daquela natureza. Interessa também perceber o porquê de, durante anos, o Desporto Escolar ter deambulado, inconsequentemente, entre os Sistemas Educativo e o Desportivo e daí retirar as respectivas ilações. Hoje, porém, é claro que o DE, por múltiplas e consistentes razões, tem o seu espaço próprio no âmbito do Sistema Educativo, enquanto actividade de complemento curricular. A interface com o Sistema Desportivo e com a sociedade em geral não só é possível como desejável, mas nunca subordinada a uma lógica em que ele fique refém dos interesses dos diversos e, nalguns casos, perversos lóbis que se movimentam no desporto. A viabilização da proposta dos citados conselheiros equivaleria, estou seguro, tal como aconteceu no passado, à completa destruição de um subsistema de fundamental importância para o desenvolvimento do desporto. O que se reclama é, de facto, a assumpção do desporto educativo escolar de natureza curricular e um outro sentido organizacional das actividades de complemento curricular, ambas sujeitas ao trabalho com rigor que implica, necessariamente, a apresentação de resultados intermédios e finais por parte dos profissionais envolvidos. O que o DE não pode ser, genericamente, é um refúgio profissional de uma Educação Física decadente e sem futuro ou um instrumento mais ao serviço dos adultos (para resolverem os seus problemas, inclusive, horários de trabalho) do que das necessidades educativas dos jovens.
Como desenvolvi nos textos anteriores, a Educação Física deve dar lugar à disciplina de Educação Desportiva, com os respectivos programas e metodologias desenvolvidos na própria escola. A actividade de Complemento Curricular deve centrar-se no Clube Escola. É esse clube que deverá desenvolver a actividade dos vários departamentos de modalidade e organizar os respectivos quadros competitivos internos de acordo com a capacidade de oferta do estabelecimento de ensino. A organização externa, essa, deverá contemplar as associações desportivas concelhias escolares, em número de quatro: norte: S. Vicente, Porto Moniz e Santana;  sul: Funchal, C. Lobos, Porto Santo; leste: Santa Cruz e Machico; oeste: Ribeira Brava, Ponta do Sol e Calheta. Num primeiro momento, os clubes escolares deverão competir em função dos quadros organizados pelas associações concelhias. Os quadros regionais, segundo momento, defendo que devem ser organizados pela Federação Regional do Desporto Escolar. Esta a estrutura que, sustendo, deverá assentar a organização do desporto escolar. Fica, neste pressuposto, impedida a participação do clube escolar no associativismo federado. Evidentemente, no desenvolvimento deste raciocínio de base, colocam-se outras questões, por exemplo, a participação simultânea de atletas nos dois sectores: no sistema educativo e no sistema desportivo. São questões de pormenor que deverão ser equacionados no interesse da uma profícua interface entre os dois sistemas .
Uma outra questão que se coloca ao associativismo desportivo escolar é a composição dos "corpos gerentes" do clube desportivo escolar. Sugiro que tais funções devam ser assumidas pelos alunos com a supervisão dos professores. Por aí se garantirá a formação primária dos futuros dirigentes desportivos, quer no pensamento sobre a actividade desportiva, quer no da formação de árbitros e de outros juízes, quer no que concerne à organização geral dos quadros competitivos e todos os recursos necessários ao funcionamento do clube e/ou associação.
Uma aposta nesta estrutura obviamente que exige financiamento. O desporto escolar não pode ser um parente pobre. Tem que ter substanciais meios e esses devem advir dos recursos financeiros, actualmente entregues ao associativismo federado, para desenvolver uma tarefa que deve pertencer à escola. O desporto federado visa a qualidade e nunca a quantidade. Ora, de uma coisa todos podemos estar certos: se se mantiver a mesma estrutura não podemos esperar por outros resultados que não os do passado. E esses resultados são, globalmente, decepcionantes apesar do esforço das escolas, dos docentes e do gabinete que organiza a competição desportiva escolar. Há, portanto, um caminho a desbravar, uma discussão a ser feita, com inteligência e com entusiasmo. O meu posicionamento constitui, apenas, um ponto de partida.
Ilustração: Google Imagens.

sábado, 6 de abril de 2013

EDUCAÇÃO DESPORTIVA ESCOLAR (II) - A QUESTÃO DAS TURMAS MISTAS


Ao iniciar o actual segundo ciclo do Ensino Básico não fazem sentido as turmas mistas nas aulas de Educação Desportiva nem a manutenção de uma actividade generalista e, por razões várias, normalmente repetitiva ao longo dos anos. Os interesses e motivações dos alunos (e dos professores, obviamente) são diferentes, tendencialmente os estádios de maturação dos sexos não é igual e, no plano da prática desportiva competitiva formal, não existem modalidades desportivas mistas. De resto, o que actualmente se passa não favorece a coeducação. Num sentido lato a coeducação tem múltiplas vertentes. Não está em causa o indiscutível direito do Homem e da Mulher crescerem juntos, em igualdade e liberdade. Não se trata da defesa de uma segregação de sexos. O que está em causa é uma questão específica no campo da aprendizagem, isto é, de respeito pelo factor heterogéneo, daí resultando: a defesa do princípio que o processo educacional deve ser igual para todos; o pluralismo no sentido do reconhecimento que a população escolar é diferenciada e valorizada por cada sexo e cultura; finalmente, um problema de justiça, que assume que todos os rapazes e raparigas são parecidos e diferentes. As diferenças devem ser identificadas e consideradas. Um crescente número de países, depois de alguns anos de experiência, acabaram por regressar ao modelo inicial, como foi o caso da Austrália, narrado por MacDonald (1989), sobretudo «para acabar com as desvantagens das raparigas nas classes mistas».


Na sequência do meu texto de ontem, parafraseando Carlos Fuentes, citado por Toffler (1984), impõe-se questionarmo-nos se "estamos a morrer ou a nascer?" Melhor dizendo, numa aproximação a este contexto, se a Educação Física está a morrer ou a renascer? Trata-se de uma questão essencial, isto é, se a tendência é aferrolhar esta área de desempenho educativo ou, pelo contrário, libertá-la dando largas à imaginação criando uma Educação Desportiva geradora de felicidade para quem a pratica e recompensadora para quem a orienta no plano da plena satisfação profissional. É este o dilema perante o qual a Escola e as instituições políticas estão confrontadas. É caso para interrogar: por que razão os jovens terão de se subordinar, tal como ontem, a programas estandardizados e desadequados, que pouco ou nada têm a ver com a sua maneira de ser e com as suas expectativas? Programas baseados numa taxonomia discutível, repetitiva, desmotivadora e discordante das necessidades do seu corpo, da sua saúde, da sua inteligência e da sua cultura? Porquê estarem sujeitos à estandardização que nega, a partir de um determinado estádio, o direito à opção e à livre escolha? Programas que os agridem em regimes de co-educação, que são de uma chocante artificialidade e que não respeitam a estrutura da cadência da organização do tempo da sociedade actual? Há, sustentamos, pertinência nestas questões. Elas derivam da prática. É por isso que considero ser necessário avançar para um paradigma organizacional que contrarie as lógicas do passado, em uma incessante busca de soluções personalizadas à medida de cada comunidade, de cada escola e de cada jovem. Os tempos são outros. Hoje vive-se o factor E na feliz expressão de Joel Makower: Estado, Educação, Eficiência, Excelência, Ecologia, Eficácia e Economia. E das duas uma: ou criamos uma energia colectiva para gerar o salto para o futuro ou confinar-nos-emos às consequências derivadas da passividade, da acomodação e do oportunismo. A Escola está no meio da turbulência e de nada lhe valerá resistir à mudança, simplesmente porque tudo está a ser posto em causa e reequacionado de novo. No desporto, também. Só por aí, através de uma nova mentalidade, poder-se-á, no futuro, dispor de uma população que o assuma e o pratique como bem cultural.
Todavia, a mudança sempre incomodou consciências adormecidas por anos a fio de rotinas. E se é normal que tal aconteça, também é normal que surjam momentos em que se agitem ideias, em que se troquem opiniões e em que se divulguem experiências, de forma a que tudo possa ser reequacionado de novo. Para que tudo possa renascer. Por isso, questionar, hoje, a Educação Física é, antes de mais, criar as condições para que ela possa renascer. Trata-se de um trabalho a ser partilhado por todos, dos professores aos políticos, sem dogmas, sem preconceitos e sem ideias preconcebidas, já que aquilo que está em jogo deverá ultrapassar clivagens de opinião. Todas são bem-vindas. Um projecto portador de futuro constrói-se na diversidade das ideias e no pluralismo das opiniões. Um posicionamento destes relega, portanto, o isolamento por ausência de debate. Porque o isolamento apenas conduz à repetição das soluções do passado. Tal como afirmou Mark Twain: "Para aqueles que têm apenas um martelo como ferramenta, todos os problemas parecem pregos". É por isso que se impõe uma cruzada de criatividade a caminho de novas soluções concordantes com o sentido das mudanças. Porque hoje as palavras-chave multiplicam-se: ruptura, mudança, competência, previsão, estratégia, gestão, reengenharia, excelência, criatividade, inovação, sinergia, comunicação, internet etc., quantas palavras por aí andam que, na sua essência, exprimem que o Mundo passa por duas revoluções, tal como salientou Don Tapscott: "as das tecnologias da informação e a das técnicas de gestão". Elas são fonte de conhecimento e daí que as escolas que souberem explorar as potencialidades de cada uma serão, certamente, as mais bem sucedidas. 
É exactamente este aspecto que aqui me traz na sequência do que acompanhei através do programa "Interesse Público", da RTP-Madeira, onde se falou da organização do desporto escolar. Tenho uma posição divergente do que ouvi, particularmente, no que concerne às dinâmicas do clube escolar. Penso que seria fastidioso para quem ler estas linhas o desenvolvimento, pormenorizado, de todas as etapas organizacionais e programáticas. Daí que prefira distribuir por vários textos aquilo que define o meu posicionamento estratégico visando o futuro. Hoje, ocupar-me-ei de três aspectos essenciais, um dos quais de relevante importância: as turmas mistas na Educação Física. 
01. Na sequência do texto de ontem julgo necessário eliminar a Educação Física, criando, em sua substituição uma disciplina curricular designada por Educação Desportiva. Embora as bases do sistema educativo constituam reserva absoluta da Assembleia da República (infelizmente, o governo regional, nas sucessivas revisões da Constituição da República, não teve capacidade para alterar o princípio de reserva absoluta para reserva relativa), portanto, sendo a alteração da designação complexa, pouco importará, para já, a designação que entendo não corresponder ao tempo que estamos a viver, mas sim a focalização da atenção na organização e no conteúdo programático. 
02. A oferta educativa deve corresponder à capacidade de cada estabelecimento de educação e de ensino no que diz respeito aos recursos materiais e humanos. E neste aspecto, sustento, que a cada grupo disciplinar e em cada estabelecimento deverá competir a elaboração dos itens e o respectivo desenvolvimento programático. Não faz qualquer sentido que sejam entidades fechadas em gabinetes, desfasadas da realidade, a imporem programas e metodologias. No âmbito da autonomia, administração e gestão de cada estabelecimento de ensino, de acordo com o seu paradigma organizacional, projecto educativo e, ainda, com os recursos humanos e materiais que dispõe, deverão ser os professores os responsáveis pela elaboração dos objectivos, programas e metodologias, no pleno respeito pela segmentação de interesses existente no seio da comunidade escolar. Aliás, a responsabilização dos recursos humanos é determinante nas mudanças a operar. A Escola morre na sua dinâmica interna quando apenas é executora de decisões ou de programas que não têm em conta as realidades locais. Ela cresce, anima-se e produz resultados quando é co-responsabilizada e quando sente que é poder. Este poder aqui entendido como a capacidade de criação de respostas adequadas ao desafio da diversidade. Nada mais é desmotivador e esgotante numa escola do que assistir a reuniões improdutivas, que não trazem nada de novo, sentir que há baixos padrões de qualidade, que não existe uma atmosfera de pertença, que sobressai a má comunicação, a hostilidade entre grupos, os atritos interpessoais e a proliferação de procedimentos meramente burocráticos.
03. Eliminação das turmas mistas especificamente nesta área de intervenção educativa. Ao iniciar o actual segundo ciclo do Ensino Básico não fazem sentido as turmas mistas nas aulas de Educação Desportiva nem a manutenção de uma actividade generalista e, por razões várias, normalmente repetitiva ao longo dos anos. Os interesses e motivações dos alunos (e dos professores, obviamente) são diferentes, tendencialmente os estádios de maturação dos sexos não é igual e, no plano da prática desportiva competitiva formal, não existem modalidades desportivas mistas. De resto, o que actualmente se passa não favorece a coeducação. Num sentido lato a coeducação tem múltiplas vertentes. Não está em causa o indiscutível direito do Homem e da Mulher crescerem juntos, em igualdade e liberdade. Não se trata da defesa de uma segregação de sexos. O que está em causa é uma questão específica no campo da aprendizagem, isto é, de respeito pelo factor heterogéneo, daí resultando: a defesa do princípio que o processo educacional deve ser igual para todos; o pluralismo no sentido do reconhecimento que a população escolar é diferenciada e valorizada por cada sexo e cultura; finalmente, um problema de justiça, que assume que todos os rapazes e raparigas são parecidos e diferentes. As diferenças devem ser identificadas e consideradas. Um crescente número de países, depois de alguns anos de experiência, acabaram por regressar ao modelo inicial, como foi o caso da Austrália, narrado por MacDonald (1989), sobretudo «para acabar com as desvantagens das raparigas nas classes mistas». Um outro exemplo, vem de Berlim, onde um estudo empreendido por Ide Krausse demonstrou que, em 598 alunos interrogados, a esmagadora maioria rejeitou a coeducação nas aulas de Educação Física. Penso também que, tal como afirma J. Evans (1989) no seu livro "Equality and opportunity in the physical education curriculum", que só a mudança de organização no interior das escolas poderá dar "acesso a actividades comuns. Mas essa mudança para ter êxito terá de ser suportada por uma profunda alteração curricular e pedagógica".
Ilustração: Google Imagens.