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terça-feira, 9 de outubro de 2018

DA AUSÊNCIA DE EXEMPLAR RIGOR


É meu entendimento que todo o País não deve vulgarizar o reconhecimento público. E assim, desde as Ordens Honoríficas do Estado ao Panteão Nacional, passando por esculturas, outros títulos honoríficos, patronos de serviços públicos até à própria toponímia, a todos os níveis, nacional, regional e local, os critérios devem ser extremamente rigorosos, de tal forma que, com patamares distintos de reconhecimento, não suscite qualquer dúvida ao comum dos cidadãos. Basta percorrer centros de saúde, escolas, ruas ou cerimónias do dia disto e daquilo, para que nos confrontemos com reconhecimentos públicos com um rasto de muitas dúvidas sobre as personagens glorificadas para a História. 


Rui Veloso cantou a notável e apropriada "Valsinha das Medalhas" a qual, muito embora específica de um determinado dia, pode aplicar-se a múltiplas situações: "Quem és tu, de onde vens? Conta-nos lá os teus feitos! Que eu nunca vi pátria assim... Pequena e com tantos peitos" (...) "Encosta o teu peito ao meu. Sente a comoção e chora. Ergue o olhar para o céu. Que a gente não se vai embora". É esta vulgarização que merece reparo, porque, mesmo ao lado, a memória pode fazer lembrar aquele nome das letras, das artes, da ciência, o defensor de causas humanitárias, enfim, pessoas que pela sua integridade, altruísmo, idoneidade, tolerância, princípios e valores democráticos e, obviamente, reputação social, sejam merecedoras de uma distinção entre os demais cidadãos, aliás, no quadro da perpetuação do exemplo. Quando se generaliza, banaliza-se! Deixa de ter valor. Quando se atribui uma alta distinção, valorizando um percurso, seja ele qual for, ignorando, por exemplo, os atropelos, as ofensas graves a pessoas e instituições, a falta de transparência, os silêncios ou a perseguição, é caso para cantar "conta-nos lá os teus feitos". O mérito e o exemplo não se medem por toneladas de cimento ou de asfalto, intencionalmente ignorando que, "quando há dinheiro empreiteiros não faltam". O merecimento deve trazer no seu bojo a possibilidade de um ensinamento para os outros e para o futuro. E isso implica rigorosos parâmetros de comparação entre o correto e o incorrecto, isto é, um balanço profundo e sensato à figura a distinguir. 
Ora, o que tenho vindo a constatar, desde há muito, é exactamente a ausência de critérios exigentes e inflexíveis, fazendo assim emergir, bastas vezes, razões, permitam-me uma mera analogia tecnológica, de "banda larga", cuja amplitude vai desde a amizade pessoal até aos que evidenciam um toque de natureza partidária. Por vezes, fica-me a sensação de uma troca de galhardetes, ao  jeito de deste-me algo, agora sou eu que retribuo. É mau para o prestígio das instituições quando entram por esses espaços menores. Alguns, conclui-se, mais tarde, que se tratou de um logro. São tantos os casos.
Ilustração: Google Imagens.

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