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segunda-feira, 15 de outubro de 2018

O ININTELIGÍVEL PRESIDENTE DO GOVERNO REGIONAL DA MADEIRA


No plano político, cada vez mais, qualquer personagem com responsabilidades, mesmo os menos bem preparados, quando falam, devem ter noção do ricochete das palavras. É básico. No essencial, devem questionar-se, que fragilidades apresento susceptíveis de ser vítima das palavras ditas. É sinal de vulnerabilidade política, não sei se por uma angústia acumulada devido à pressão, não ter noção do escrutínio que a todo o momento é feito. Em circunstância alguma, por exemplo, um político deve dizer que estamos "preparados" para o Leslie ou outro qualquer furacão, antes ser, apenas, porta-voz dos relatórios fornecidos pelos especialistas da protecção civil. Por mais que seja feito, basta um olhar atento para as imagens devastadoras, ninguém está "preparado" para a violência de um furacão mesmo que o seu grau seja dos mais baixos. Da mesma forma, um político com responsabilidades de governo, sob pena de cair no ridículo, a propósito da recente remodelação ministerial na República, sobre a Saúde, diga que o País estava em uma "situação insustentável". É um tiro que vai, bate e faz um ricochete de morte. 

Das duas, uma, ou se trata de palavreado insensato ou julga que as pessoas são parvas, ou, ainda, estão no tempo que o povo engolia tudo o que vinha dos senhores e dos vários púlpitos! Passaram-se mais de quarenta anos, a comunicação social tornou-se mais profissional, as redes sociais multiplicaram a informação que cai em catadupa nos suportes tecnológicos a uma velocidade estonteante, mas ainda há quem pense que se a estratégia de ontem resultou no plano político, ela continuará a proporcionar os resultados eleitorais que desejam. Infantilidade.
Deixo o Leslie, porque já passou sem deixar marcas preocupantes, e fixo-me no sistema de saúde que não nos larga da mão. A "situação insustentável", com o dedo acusador à República, corresponde, mais ou menos, ao "roto a rir-se do esfarrapado". Não está aqui em causa o que de muito bom se faz, cá e lá, na concretização do direito constitucional à saúde, não está em causa, muitas vezes, o trabalho notável de todos os seus agentes que, com escassos recursos, respondem de forma eficaz. Está em causa, sim, a história do cobertor, que se mostra sempre curto quando abafa o pescoço e destapa os pés ou vice-versa! E aí, independentemente, da inversão de prioridades que, historicamente, o governo regional tem como marca de governação e, ainda, ser bem diferente, as necessidades para dez milhões comparativamente a uma população de 250.000 pessoas, mandaria a prudência, o respeito e sobretudo o saber-se olhar ao espelho, que se há sectores onde o governo regional AUTÓNOMO deveria estar caladinho, um deles é, exactamente, o da saúde. Em termos organizacionais e de prioridades a Madeira não é exemplo. E tanto assim é que, lá, mudaram um ministro, aqui, em três anos, mudaram três vezes de titular da pasta da saúde. E apesar disso os problemas continuam. A história do novo hospital, de lamentáveis avanços e recuos, tem dezoito anos e não é a questão central. Há muito e muito mais no interior do sistema. Ainda hoje o DN-Madeira dá conta que a "farmácia do hospital regista 37% da lista de artigos/medicamentos em falta. Isto é, faltam cerca de 900 em um universo de que se aproxima dos 2.500". Esta é uma fragilidade, quando se observa uma vaga gigantesca de subsídios e de obras em claro desrespeito pelas prioridades estruturais. E lá é que a "situação é insustentável". Sinceramente, já não há pachorra para suportar este tipo de política, como se o povo fosse uma cambada de mentecaptos. É o dizer mal por dizer, sem olhar às consequências das palavras.
Ilustração: DN-Madeira - 1ª página da edição de hoje.

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