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terça-feira, 31 de dezembro de 2024

2025


Alerta o provérbio: "De boas intenções está o inferno cheio". As "passas" engolidas, antes ou depois das badaladas que anunciam o novo ano, alinhadas uma por cada mês do ano, valem zero. Amanhã, já poucos se lembrarão das promessas ou dos desejos, pensados no meio da alegria, beijos e abraços, elevando na mão um Moët & Chandon ou um qualquer outro baratinho para fazer a vez. O fogo multicolor em cascata esmorecerá, a noite ficará negra e no lento acordar, estremunhado pelos vapores da véspera, sua excelência a rotina ditará a sua lei. A do mais forte, quero eu dizer.



É a lei do inferno, onde de nada valerão todas as boas intenções, umas mais familiares ditadas no alpendre do fogo, outras, na solenidade da Missa de Acção de Graças, onde também a Palavra pouco vale em função da práxis antecipadamente definida para Janeiro fora pelos ditos "donos disto tudo". 

O inferno é aqui, é real e convive ao nosso lado, todos os dias, azucrinando a vida sobretudo a dos mais vulneráveis. Os diabinhos que por aí andam, a solo ou em grupo, continuarão a atazanar, a molestar, a incendiar tensões sociais e a se divertirem, perante a impotência de quem podia ou devia assumir um audível grito libertador das muitas cangas, doce e inteligentemente colocadas. 

Contentam-se com frases sem o sentido da realidade: "(...) que não venha pior" e que "Deus nos ajude"! Palavras ditas e repetidas, que saem boca fora com a humildade de quem as profere, eu sei, só que tem sido sempre pior e Deus não tem ajudado. Nem tinha de ajudar, obviamente. É a comunidade ferida pelos algozes da vida moderna, os que atormentam e tornam a vida árdua e desequilibrada, disfarçados em enfeitados discursos, é essa comunidade que devia ser a obreira de uma nova ordem em todos os sectores, áreas e domínios da actividade política, económica, financeira, social, cultural e até religiosa. Só que não pode, por iliteracias diversas, também por comodismo, dependências, oportunismo, medo e um certo jeito para o desenrascanço, daí lhe reste empurrar as soluções para depois, talvez acreditando num qualquer "pai natal" inspirador e doador.

Ora, 2025 tem tudo para não ser um ano esperançoso, portanto, de nada valerão as "milagreiras passas". Olhemos para o mundo em acelerado declínio de princípios, valores, humanidade e responsabilidade; tenhamos presente as bombas que caem levando inocentes em guerras sem qualquer sentido e os incontáveis efeitos colaterais; face à descrença, tenhamos presente o crescimento dos agentes do populismo parasita; a corrupção geradora de arguidos e sentenças adiadas; os milhões de refugiados e migrantes; os ditadores que esmagam povos inteiros, mantendo-os amarrados ao círculo vicioso da pobreza; reflictamos sobre os países que já procuram "novos cemitérios como parte do seu planeamento de guerra" ou nas pessoas que estão a adquirir "bunkers" para autodefesa; o desenfreado negócio das armas e o poder do narcotráfico; a economia que tomou conta do exercício da política, subjugando-a e ditando a tal lei que meia dúzia impõe aos demais; uma União Europeia falida de referências políticas maiores e credíveis, nas quais se possa minimamente acreditar; olhemos, de passagem, para a banca conluiada, intencionalmente em rédea solta, explorando e roendo até ao tutano, nos juros e em taxas absolutamente pornográficas, não concedendo margem, entre outros, à esperança dos jovens à habitação; a fuga de jovens quadros para outros países; a proliferação de um mundo assimétrico, de riquíssimos e de pobres e paupérrimos; os crimes ambientais destruidores da vida; a violência doméstica causadora de tanta injustificável morte; a ânsia expansionista, a ganância e a vida dos outros que nada vale, quando atirada para as frentes de combate e morte anunciada; as palavras do Papa ou as do Secretário-Geral da ONU que ninguém escuta; tenhamos em atenção, dentro do país, os governos que continuam a cobrar injustificáveis impostos, mediocrizando a vida; estou a lembrar-me do ridículo imposto de selo, que tem origem em 24 de Dezembro de 1660, talvez como "prenda de Natal" ao povo; ou os insensatos valores, entre tantos e tantos outros, os do IMI que, depois de tudo ter sido pago, torna as famílias inquilinas de uma autarquia; ou, ainda, toda a carga fiscal que ronda os 38% ("Portugal parece ter-se tornado especialista em prolongar a agonia fiscal dos seus cidadãos. O mais recente relatório do Instituto Económico Molinari e os cálculos da consultora Ernst & Young revelam que, em 2023, os portugueses precisaram de seis meses e treze dias de trabalho apenas para suportar os encargos fiscais" - João Rodrigues Pestana, Economista, CNN); a sufocante situação fiscal que recai sobre o tecido empresarial e, juntando-se a tudo isto, sumariamente elencado ao correr do pensamento, a escola, transformada em armazém, castradora do pensamento livre e da cultura, onde, desde bem cedo, prevalece a resposta em detrimento da pergunta. Bem sabem por que assim a querem! Enfim... por aí fora, a lista de preocupações é longuíssima, agarradas umas às outras tal qual as cerejas. Até nuns míseros juros recebidos pelo investimento conservador num depósito a prazo, sorrateiramente, aparece o Estado e zás, passa para cá 28%! 

Pode a população aspirar a um ano de 2025 com alguma esperança? Sejamos claros: não pode. O ano será, obviamente, de enormes preocupações. A não ser que cada um tome nas suas mãos o sentido da mudança. Que não se acabrunhe, decida não ser objecto de vexame e de humilhação e rompa com todos quantos persistem na existência de um país (e de um mundo) com mais direitos que justiça. Por isso, e tanto que fica por escrever, não esperemos por grande coisa nas bodas de prata deste Século XXI. Resta-nos, individualmente, lutar pela SAÚDE, o maior bem, porque tudo o resto é uma significativa incógnita.    

Ilustração: Google Imagens.

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